Questão de Tempo escrita por Sailor Marco


Capítulo 2
Eu nunca...




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Quando Daniel subiu os dois degraus para entrar em seu quarto, o mundo voltou a fazer sentido novamente.

Victor estava lá dentro com a cara fechada, desfazendo sua mala em cima da cama, ainda usando aquele casaco rosa desbotado.

Era um chalé simples e pequeno exatamente como Daniel se lembrava, todo feito de madeira. Duas camas de solteiro encostadas cada uma em um canto, dois criados mudos entre elas, embaixo de uma janela quadrada grande demais para ser pequena, e pequena demais para ser grande. Na parede oposta havia uma poltrona simples, uma pequena escrivaninha e a porta para o banheiro. Nada luxuoso, mas era perfeito.

Ao ouvir a porta se abrir, Victor virou-se sorrindo, e ao perceber que era Daniel deixou a carranca tomar conta de seu rosto novamente.

Eles não eram em nada parecidos. Daniel estava feliz com seus cabelos e olhos castanhos, e era o tipo de pessoa, que ao terminar de usar um rolo de fita adesiva dobraria a ponta no final, para que a próxima pessoa não precisasse se matar para achá-la. Já Victor não se importaria em nada, caso alguém como Daniel dobrasse a ponta do durex para ele, e largaria o rolo de qualquer jeito, mais querendo que a próxima pessoa a usá-lo fosse se fuder. E se colocássemos os dois lado a lado, Victor seria poucos centímetros mais baixo que Daniel, mas ainda assim seria dele que você teria receio de chegar perto no corredor da escola.

Não que Daniel as vezes sentia medo dele, mas era algo em sua expressão que não te dá muita vontade de se aproximar e tentar perguntar sobre o clima.

Percebendo que estava a muito tempo parado no mesmo lugar, Daniel entrou no chalé e bateu a porta atrás de si, como se não se importasse. Levou sua mala até a cama vaga e se preparou mentalmente para desfazer tudo aquilo.

– Sério? - Disse Victor depois de alguns segundos encarando Daniel abrir a mala - Achei que o simpático Daniel fosse melhor do que isso.

Dani levantou a cabeça na direção de Victor e devolveu seu olhar de desprezo.

– O que você quer? - ele perguntou.

– Nada, não. - Victor voltou a cavar em sua mala. Dani pensou ter visto uma garrafa de vidro lá dentro mas ele logo a cobriu com uma peça de roupa aleatória. Aquilo era bebida alcoolica? - Só achei que você com todo esse estilo de vida meio monge budista benfeitor fosse pelo menos me dar um oi.

Começando a ficar com raiva, Daniel respirou fundo e voltou sua atenção para a mala em cima da cama.

– Todas as vezes que eu tentei de dar oi - Daniel começou a falar baixo, porém a raiva contida visível em sua voz - ou você não me respondeu, ou me deu um corte ridículo. Por que te daria oi agora?

Victor não respondeu e soltou um risinho sem humor.

– Foi o que eu pensei. - Conclui Daniel, semicerrando os olhos

Alguns bons minutos se passaram até que os garotos terminassem de organizar suas malas, tirando dela o que acharam necessário e colocando algumas coisas em cima da escrivaninha ou de seus respectivos criados mudos. Nenhuma palavra foi proferida durante o processo. Victor foi o primeiro a terminar e se permitiu deitar por um momento. Ele começou a cantarolar uma música do Linkin Park que Daniel reconheceu como uma de suas preferidas, mas não se permitiu ficar contente. Naquele momento só estava achando a canção estúpida.

Victor terminou de cantarolar aquela musica e conseguiu cantarolar mais outra até que Daniel terminasse com sua mala.

Cansado, ele sentou-se na cama e afundou a cabeça nas mãos, sem se importar se Victor o estava encarando ou não. As crianças chegariam no próximo dia, o que significava que naquela noite eles teriam a típica festa da fogueira dos monitores. Não era nada demais; uma clareira no meio do bosque do acampamento, com uma fogueira, comida, doces e a última chance de falar besteiras, antes que os pequenos chegassem. Alguns monitores levavam poucas garrafas de bebida alcoolica, e Daniel se perguntou se Victor levaria aquela que estava escondida entre suas roupas.

Provavelmente não. Ele era menor de idade, e mesmo podendo participar da fogueira, seria punido caso aparecesse com uma garrafa daquelas.

Após um suspiro, Daniel levantou a cabeça e começou a se perguntar se devia mesmo ir ou não na fogueira. Ele queria muito ir, para garantir que não perderia nada caso algo polêmico acontecesse. Mas outra parte de sua cabeça estava dizendo que aquilo era perda de tempo e ele devia simplesmente ficar na cabine e dormir.

Dani percebeu que estava encarando Victor quando ele levantou uma sobrancelha.

–Uh, Daniel.

– Não. - ele disse a primeira coisa que veio em mente. - Quero dizer, ahn, por que seu moletom é rosa?

Victor olhou para baixo, analisando sua blusa.

– Ele é? - perguntou com raiva.

– Sim. Isso com certeza é rosa.

– Oh. Que porra? - Victor disse, meio surpreso - Isso é mesmo rosa.

– Pensei que você já soubesse disso.

– Ah não, cara. Esse costumava ser minha blusa vermelha preferida. Acho que nunca percebi que a cor foi sumindo.

– Daniel percebeu que aquela era a conversa mais humana e normal que eles haviam tido em, não sei. Oito anos, talvez. Ele se sentiu mal de repente.

– De qualquer modo, fica bem legal em você. - disse Daniel. Ele logo apressou-se em se corrigir - Quero dizer, - as narinas inflando, Por que eu diria algo tão idiota? - o casaco é bem legal.

Victor deu um sorriso torto, esse sendo seu próprio modo de agradecer pelo casaco.

– Espero que essa não seja mais uma tentativa de virarmos amigos. - ele disse. A voz arrogante novamente.

Daniel ainda estava espantando por eles terem conseguido realizar uma conversa normal e não se deixou ficar bravo pela última cortada, apesar de não insistir com o diálogo.

– Mas então. - Victor começou a dizer, apoiando suas costas na parede da cama para poder olhar Daniel, que estava surpreso por ter sido ele a continuar a conversa. - Não estou dizendo que nós precisamos mudar nossa situação atual, nem nada. Tanto que isso seria bem irritante de se realizar.

Daniel concordou mentalmente.

– Mas eu quero muito ser o monitor preferido dessas porras de criança para ganhar uma nota boa. Então tenta não me irritar muito lá fora, que eu prometo que também vou tentar não ser tão irritante. - Então pelo menos ele tinha a noção de que era irritante. - Aqui na cabine não precisa fingir que gosta de mim, porque eu também não vou me esforçar pra sorrir pra você. Só fica no seu canto que eu fico no meu. Fechado?

Daniel demorou alguns segundos para processar tudo aquilo.

– Essa foi a coisa mais inteligente que já ouvi sair da sua boca em todos esses anos.

– Então isso é um acordo?

– Acredito que sim.

– E você também vai na fogueira?

– Vou.

– Legal.

– Legal.

***

Quando os dois saíram do chalé Lana estava com o punho levantado, prestes a bater na porta. Vanessa parada atrás dela, desinteressada.

– Ah, - disse Lana - Olá, meninos.

Victor passou por ela sem dizer nada e foi andando na frente com Vanessa, em silêncio. Daniel estampou um sorriso confiante para Lana e pôs a mão em seu ombro.

– Viu o que eu passo há oito anos?

– Cale a boca - Lana empurrou a mão de Daniel e fechou a porta do chalé ela mesma. - Já disse que você também não é inocente nessa história.

Daniel ainda estava com raiva, e com vontade de socar Victor. Mas não conseguiu parar de sorrir enquanto caminhava devagar com Lana, alguns metros atrás de Victor e Vanessa. Os dois pareciam dois vampiros solitários andando em silêncio na escuridão, a não ser pelo casaco rosa de Victor, que não era nada vampiresco.

– E ai? - Lana bateu o ombro no braço de Daniel - Como foi lá? Quando cheguei na porta não estava ouvindo ninguém matando ninguém. Grande progresso, certo?

Daniel queria contar o que havia acontecido, mas nunca no mundo iria dizer em voz alta que Victor não era de todo um cuzão. Principalmente para Lana. E ele ainda era um cuzão. Só havia demonstrado um pouco de humanidade e pensamento lógico.

– Foi normal.

– Não. Não foi normal - Lana fitou Daniel, acusativa - Se tivesse sido normal você estaria todo bravinho e reclamando sem parar sobre Victor.

– Não aconteceu nada - Daniel suspirou cansado, sem querer explicar - nós só chegamos a um acordo de quase-paz, onde eu fico na minha, ele fica na dele, e nós cuidamos das crianças.

– Isso quer dizer que vocês conversaram?

– Não exatamente.

– Então o que? - ela perguntou sarcasticamente - chegaram a um acordo de quase-paz utilizando suas lanternas para se comunicarem em Código Morse?

– Talvez.

Mas ele duvidava que Victor soubesse sequer dizer o que era o Código Morse.

Logo eles haviam chegado na fogueira e praticamente todos os monitores já estavam lá. Os alunos do primeiro ano num bolinho, os voluntários do terceiro em outro, rindo mais a vontade, e um ou dois professores espalhados por ai, conversando com a equipe do acampamento. A fogueira naquele ano estava maior do que no anterior, e isso deixou Daniel feliz.

Havia uma mesa ali no canto com algumas besteiras como batata chips e pequenos sanduíches, copos plásticos e garrafas de refrigerante.

Victor e Vanessa estavam sentados em um canto, quietos.

– Olha - disse Lana. - Nós temos duas opções.

– Daniel desviou o olhar para ela, curioso.

– Como os dois soturnos ali provavelmente não vão querer conversar com a gente, o que automaticamente elimina a possibilidade de formarmos a panelinha de alunos do segundo ano, - ela fez uma pausa e sussurrou para o céu odeio vocês, se referindo a Luce e Guilherme - ou nós tentamos socializar com os alunos dos outros anos, ou vamos socializar com os professores.

Daniel ponderou por alguns segundos.

– Ou a terceira opção.

– Que seria?

– Comida.

– Comida. - Lana repetiu decidida, e os dois foram andando até a mesa.

Cada um pegou um copo, encheu de refrigerante e ficaram alguns minutos se entupindo de sanduíches. Quando eles resolveram pegar outro copo para encher de batatas, Lana cutucou Dani.

– Mas agora falando sério. Com quem nós vamos ficar hoje.

– Os professores não.

– Isso é óbvio.

Então os dois começaram a olhar em volta, como se estivessem caçando alguém.

– Os alunos do primeiro ano são legais - disse Lana - Mas os do terceiro são mais bonitos.

– Os alunos do terceiro são legais - respondeu Daniel - mas os do primeiro são mais sociáveis.

– Faz sentido. Mas os alunos do terceiro são mais engraçados.

– E os do primeiro são menos difíceis de puxar conversa.

– Os do terceiro provavelmente tem alcool.

– Amo polêmica. - Dani deu um risinho de canto e eles foram andando hesitantes até a rodinha dos alunos do terceiro.

De longe ele podia ver os quatro amigos rindo de algo que eles logo iriam descobrir e se sentiu um pouco oprimido de ir até lá. Ele nunca havia realmente interagido com aquelas pessoas. Apenas um oi ou um pequeno bom dia na escola, e até na temporada anterior do acampamento, mas nada mais profundo. Não que ele tivesse medo de conhecer pessoas novas e começar um diálogo. Mas eram alunos mais velhos. Isso sempre o incomodou um pouco. Nunca se sabe se eles irão lançar uma onda de superioridade sobre você.

Eram duas garotas, Sasha e Julia, e dois garotos, Marcos e Nathan. Não havia uma regra estabelecida dizendo que os quatro alunos de cada série deviam ser necessariamente dois meninos e duas meninas, mas parecia que todas as salas gostavam de seguir essa regra silenciosa.

Sasha, essa menina mais baixinha que o normal com o cabelo loiro em um rabo de cavalo desleixado foi a primeira a perceber Daniel e Lana indo naquela direção.

O grupo logo ficou em silêncio e se virou para ver quem estava vindo e Daniel pensou fudeu, eles vão nos mandar embora, mas Marcos sorriu e abriu espaço para que eles se juntassem a eles.

– E aí? - aquele era Nathan. Com a franja grande demais e bermuda de surfista.

– Tudo bem? - Lana respondeu - Podemos ficar aqui com vocês?

– E precisa pedir permissão? - Julia riu e seu cabelo escuro caiu na frente do rosto.

Uma onde de alívio invadiu Daniel naquele momento. Ele nunca imaginaria que aquele grupo de pessoas com quem ele nunca havia falado fosse tão receptivo e amigável. Se ele soubesse daquilo certamente teria ido conversar com eles antes. Ele se cobrou de agradecer Lana mais tarde mas quando virou-se para amiga, ela o estava encarando com uma cara de Eu disse.

Independente do que ela havia dito, eles não pareciam estar portando qualquer tipo de alcool.

Dani ainda estava com aquela parte que preferia ter ficado na cabine e dormir martelando em sua cabeça, portanto não participou tanto da conversa como Lana, mas ouvia a tudo atento e conseguiu rir nos momentos certos. Eles eram bem engraçados.

Apesar de toda a diversão naquela rodinha de pessoas, Dani sentia seus olhos movendo-se constantemente para onde Victor e Vanessa estavam. Provavelmente para garantir que eles não fizessem alguma merda, ou apenas por curiosidade, para ver caso Victor tirasse aquela garrafa de bebida do nada e a dividisse com a garota. Mas eles só estavam conversando baixinho, tentando manter aquelas aparências de alunos da detenção que não queriam estar ali -- mesmo com Dani percebendo que eles não estavam tão incomodados assim de vir para o acampamento, e se pegou sorrindo quando os dois desistiram daquela droga de aparência e começaram a rir de algum comentário interno.

Naquele ponto, Lana e os outros já estavam discutindo sobre a interação entre os anos ali no acampamento e argumentando porque eles quase nunca se misturaram. Até que alguém perguntou porque eles haviam resolvido se misturar com eles, e Lana apontou para Victor e Vanessa, dizendo que eles não pareciam muito abertos a conversar.

– Oh, ou, ou, ou - Sasha começou a bater palminhas. Seria um gesto normal, e até fofo vindo de alguém como ela, se o sorriso malicioso em seus lábios não quebrasse tão ilusão - Tive uma ideia.

Daniel ficou preocupado.

– Diz ai - Nathan sorriu, se divertindo.

– Eles não querem conversar, certo? - um ou outro sacudiu a cabeça afirmativamente, incluindo Lana. - Mas e se jogássemos um jogo? Um jogo não é uma conversa.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, mantendo a expectativa, e Julia perguntou:

– Que jogo?

– Eu nunca - Sasha começou a dizer e deixou a frase pairando no ar dramaticamente, até que Daniel percebeu que aquele era o nome do jogo.

Ele já havia ouvido falar desse jogo mas não se lembrava exatamente como funcionava. Ele só sabia que aquilo ia ser divertido, e até, quem sabe, um pouquinho polêmico. (Polêmica era uma palavra tão ridícula para ele, mas ele achava engraçado usá-la quando possível).

E foi então que o álcool apareceu.

Os quatro trocaram olhares entre si com sorrisos ansiosos e Sasha anunciou que iria chamar os outros alunos para jogar, o que incluía os do primeiro ano. Aquela era a maior confraternização entre salas que Daniel havia visto em dois anos de acampamento.

Os professores provavelmente nem se preocupariam com aquilo e pensariam que era apenas uma rodinha de sobrevivência contra adultos. Eles estariam muito ocupados bebendo com a equipe do acampamento para perceber que os alunos também bebiam. E antes que Daniel pudesse se dar conta já havia um circulo perfeito de adolescentes sentados a sua volta, e quando Victor e Vanessa se juntaram a eles, exatamente ao seu lado oposto do círculo, Julia e Nathan começaram a bater palmas e comemorar.

– Ok, todos nós já sabemos como jogar, certo? - perguntou Marcos, enquanto enchia seu copo discretamente com o que parecia ser vodka. Ele passou a garrafa para a próxima pessoa do círculo, que encheu seu copo também.

Infelizmente Daniel havia lembrado exatamente de como aquilo funcionava e se perguntou se era tarde demais para sair da roda. Ele olhou para Lana e ela o reprimiu com o olhar, sabendo exatamente no que ele estava pensando.

Todos concordaram, demonstrando que também sabiam como o jogo funcionava, e uma vez que todos estavam com seus copos cheios, Marco começou o jogo.

– Eu nunca me masturbei em público.

Alguém aparece com um eu nunca. Se você realmente nunca fez o que foi dito apenas diz que não, e se já fez, toma um gole do seu copo.

Marcos e Nathan deram um gole, uma garota do primeiro ano também, o que deixou Daniel assutado. Não que ele nunca tivesse feito aquilo também, mas ainda era muito cedo para aparecer com histórias pessoais como desculpas para beber um pouco. E antes que pudesse perceber ele virou-se para frente, curioso para ver qual seria a ação de Victor e Vanessa. Nada.

Marcos cutucou Daniel, avisando que era sua vez, sendo ele o próximo na ordem do círculo.

– Ahn... Eu nunca... é...

Todos o encaravam com expectativa, menos Victor, com sua carranca usual.

– Eu nunca comi um pacote inteiro de jujubas.

A maioria do círculo soltou um ah de decepção misturado com raiva e Marcos socou o braço de Daniel de leve. Dani virou-se para ele que estava com uma cara medonha, mas logo tomou um gole de seu copo e começou a rir.

Lana era a próxima, e parecia já estar com a jogada pronta.

– Eu nunca transei com ninguém.

Dani também não bebeu nessa rodada, mas realmente nunca havia feito sexo. Nathan e Julia deram um gole quase ao mesmo e Daniel ficou com vontade de rir, incapaz de não imaginar o porque daquilo. Dani foi correndo os olhos pelas pessoas e lá estava Vanessa dando um gole, e Victor quieto.

Ao lado de Lana estava a menina do primeiro ano que já havia se masturbado em público. Seu nome era Mariana

– Certo... eu nunca cheguei na segunda base com alguém do mesmo sexo.

– Você poderia definir suas bases, por favor? - perguntou Sasha.

– Segunda base é mão. Terceira é boca.

– Obrigada - ela respondeu e então deu um gole em seu copo, seguida de Julia, e um Marcos e um Nathan meio envergonhados. Daniel sorriu.

Um minuto de silêncio se estendeu entre eles, esperando que mais alguém desse um gole, e quando o menino ao lado de Mariana estava prestes a fazer sua jogada Victor deu um gole discreto.

O rosto de Daniel esquentou.

Quando o amigo de Mariana faz sua jogada Daniel deu um gole sem se importar com o que era. Felizmente não era nada muito pesado então ninguém se importou com o fato de ele ter bebido. Seria muito ruim beber afirmando que já havia ficado com a professora de matemática.

Era a vez de Vanessa.

– Eu nunca fiz sexo na escola. - disse ela, curiosa.

Ao contrario do que Dani esperava, os alunos do terceiro ano nem moveram seus copos, o que o deixou aliviado. Eles tinham um pouco de bom senso pelo menos. Ele estava tão concentrado em ver qual seria a ação de Sasha que se assustou quando Vanessa perguntou:

– Victor?

– Olha. Não foi culpa minha, ok? Foi ideia dela, e eu estava num daqueles dias que - Victor fez uma pausa, suspirando - Testosterona, tá? Ela tava acumulada e eu não me arrependo de nada.

A roda inteira começou a rir, e para não parecer estranho Dani deu uma risadinha forçada também. Não era justo que alguém estúpido como Victor estivesse se dando tão bem na vida e ele na seca.

A fogueira estava iluminando o rosto de Victor de um jeito estranho, fazendo-o parecer mais inocente do que realmente era. Lana diria que ele estava fofo. Mas Daniel não era Lana. Ele ainda o odiava apesar de tudo, e não foi animação que ele sentiu quando chegou a vez de Victor jogar.

– Eu nunca fiz sexo por telefone. - disse ele, com uma sobrancelha levantada e uma curva divertida na boca.

– Espera - Daniel se surpreendeu ao perceber que era ele falando. Ele achou certo culpar os poucos goles de álcool. - E por mensagem conta?

Victor deu um sorriso maldoso e concordou com a cabeça.

Dessa vez todos na roda deram um gole e Marcos começou a rir. Ele e Nathan eram os que mais haviam bebido.

Eles jogaram por mais algumas rodadas, a roda diminuindo cada vez mais, conforme a pressão das perguntas foi aumentando.

Em certo momento Marcos havia surgido com mais uma garrafa de vodka, para encher seu copo e o de Nathan e Daniel se sentiu meio envergonhado ao ter de pedir para encherem o seu também.

– De onde eles estão tirando essas garrafas? - perguntou Lana - Eu nem vi onde eles haviam escondido a primeira. Muito menos essa.

Aquela era o tipo de frase que Daniel sabia que não precisava responder, então ficou feliz ao perceber que podia só dar uma risadinha e que tudo ia ficar bem.

Agora só havia ele, Lana, Marcos, Nathan, Sasha e Victor na roda. Os seis devidamente afetados pelo álcool, interagindo mais entre si. Até Victor estava um pouco mais solto e menos cuzão. Sasha começou a rir, chamando os outros para apertarem a roda e se sentou ao lado de Lana, de modo que Victor ficasse novamente de frente para Daniel.

Dani havia ficado desconfortável com isso. O ódio mútuo era o que ele culpava por tal reação, mas isso ainda não explicava o porque de seu estômago ter ficado tão quente de repente. Victor disse algo, e virou-se para ele.

– Desculpa - Daniel chacoalhou a cabeça. - O que foi?

– Eu disse - respondeu Victor - Eu nunca peguei ninguém na floresta, a noite.

E ficou encarando Daniel por um tempo longo demais, como se um esperasse que o outro bebesse um gole. Lana então começou a rir e deu um gole no copo. Dani desviou o olhar de Victor e começou a rir também, lembrando de como Lana não só havia pegado Guilherme naquela floresta ano passado, como também ele os havia pegado em flagrante.

Victor observou Lana ser a única a dar um gole e deu uma daquelas suas risadinhas sem humor.

– Algo que eu sempre quis fazer - ele disse distraído, encarando o chão.

Marcos soltou um bocejo alto demais e se levantou.

– É isso aí, gente. - todos se viraram para o olhar - podem continuar o jogo se quiserem mas esse cara aqui vai dormir.

– Nathan - Sasha disse, atraindo a atenção da pequena roda - vai com ele. Você sabe que ele tá bêbado demais para ir até lá sem mijar nas árvores.

Nathan também havia bebido tanto quanto Marcos, mas parecia estar mais sóbrio do que o amigo. Sasha também se levantou, e ao olhar em volta, Dani percebeu que não eram só eles. Os professorem também estavam começando a se dispersar, e estava decidido que não ficaria jogando aquele jogo idiota só com Lana e Victor.

– Bem - disse ele - Acho que isso é um sinal pra gente ir também.

Dani estava se dirigindo a Lana, mas Victor levantou-se também. Os três foram andando juntos até os chalés, despedindo-se da garota quando chegaram perto de sua cabine, e continuaram seu caminho em silêncio.

Chegaram em sua cabine, abriram a porta, deitaram-se e apagaram a luz.

Alguns minutos de silêncio se passaram até que Victor se pronunciou. O alcool falando por ele, provavelmente.

– Boa noite, Daniel.

Mas Dani não respondeu.


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