Era madrugada e Hermione ainda não havia conseguido dormir. Ouvia as gotas de chuva baterem em sua janela, e nem assim conseguia relaxar o suficiente para fechar os olhos e apagar, mesmo que quisesse muito. Não dormia bem há várias noites graças ao nervosismo em relação a festa da filha, e tudo o que pedia a Merlin eram algumas horas de sono  ― de preferência, sem sonhos.
Tentava fechar os olhos e adormecer pela vigésima vez quando um trovão ressoou no céu, e a morena já se preparava para sair da cama. Ouviu Rose chamar pela mãe e em instantes já estava no quarto da pequena, bem ao lado do seu. Sorriu ao encontrar a filha puxando as cobertas até a cabeça e foi até ela, acendendo o abajur ao lado da cama.
― Oi, meu amor.  ― a garota focava em sorrir e tranquilizar a filha, que mesmo sonolenta demonstrava medo.  ― É só chuva, não precisa se preocupar.
As duas ficaram ali por longos minutos, a ruivinha ainda se assustando com os trovões e relâmpagos no céu e Hermione fazendo carinho na filha, tentando ajudá ―la a voltar a dormir, e nenhuma delas havia reparado a chegada de Fred na porta do quarto, que mesmo sonolento e com o cabelo ruivo completamente bagunçado, sorria com o que via. Estavam em silêncio por um tempo e Hermione estava quase certa de que a pequena já voltara a dormir quando sentiu seu coração parar ao ouvir a pergunta da filha:
― Mamãe, agora que o papai está aqui você vai me deixar também?   ― a morena sentiu uma imensa vontade de chorar antes de responder a pergunta, tentando controlar os próprios nervos.
― Meu amor.  ― a voz de Hermione falhou, e ela sentia um nó na garganta, que, se é que isso era possível, se dirigia ao coração.  ― Nunca mais pense esse tipo de coisa, tudo bem?  ― ela chegou mais perto de Rose, tentando sorrir e fazendo o cérebro trabalhar para achar um jeito de explicar tudo para a pequena.  ― O papai nunca deixou você, nós tivemos alguns... Problemas, e é por isso que ele não visitava você, mas ele sempre amou muito você, okay? Nós dois amamos muito você, e nunca vamos te deixar, filha. Nunca.
― Promete, mamãe?  ― a ruivinha perguntou, apertando ainda mais o coração da garota.
―  Juro de dedinho.  ― as duas sorriram e Hermione abraçou a filha, respirando fundo.  ― O que acha de dormir comigo essa noite?
― O papai também pode?  ― a ruiva perguntou, olhando esperançosa para a mãe,  estendendo os braços para ganhar colo.
― Eu acho que ele já está dormindo....
― Mas ele está aqui na porta, mamãe! ― Rose disse, assustando a morena, que sentiu o corpo tremer ao saber que Fred havia presenciado sua conversa com a filha.
Sentiu a garganta trancar outra vez e a vontade de chorar voltar, e se xingou mentalmente por estar tão descontrolada nesse momento. Tentou acalmar o coração e pensou por rápidos segundos, e mesmo sabendo que se arrependeria por um bom tempo, colocou um sorriso no rosto e brincou:
― Eu não durmo no meio!

...

Não demorou muito para a pequena voltar a dormir abraçada em Fred, que depois de muita insistência de Rose, aceitara dormir no meio. Ele nem ao menos sabia o motivo de ter aceitado passar a noite ali, mesmo sabendo o quão estranho seria para ele e Hermione, que mal se falavam, se não fosse pela filha, embora soubessem o porquê.
Fred sabia que não deveria ter beijado a garota, estava de casamento marcado e as coisas eram mais complicadas do que pareciam entre eles, mas quando se tratava de Hermione, nunca teve controle de si mesmo. Ela despertava algo que o rapaz não sabia explicar e muito menos controlar, e embora não tivesse certeza se gostava desse sentimento ou não, mais uma vez se deixara sentir. O beijo havia sido satisfatório para os dois, que sentiam mais falta um do outro que o orgulho permitiria admitir, e nenhum dos dois sabia dizer quando foi que as coisas se tornaram tão complicadas, mas, embora negassem mais que tudo, ainda gostavam um do outro muito mais do que imaginavam.
Um trovão ressoou do lado de fora e Fred ouviu Hermione suspirar ao seu lado. O rapaz sorriu, lembrando do medo da garota e sussurrou seu nome, assustando ―a. A morena virou para o ex lentamente, deitando de lado.
― O que houve?  ― ela perguntou, encarando Fred.
― Você ainda consegue me surpreender, sabia?  ― Fred sorriu.
― Como assim?
― Lá no quarto, com Rose. Três anos atrás era eu quem te acalmava em noites assim.  ― os dois riram baixinho, lembrando de algumas vezes que Hermione invadia o quarto do ruivo por causa das tempestades.  ― Estou orgulhoso por saber que superou esse medo.  ― Fred brincou.
― Primeiramente, não tinha medo. Só não gostava de trovões, é diferente. E ainda não gosto, na verdade, mas Rose não precisa saber disso.
― Claro que não.  ― o rapaz abriu ainda mais o sorriso, passando o braço livre ao redor de Hermione, que sentiu o coração acelerar.  ― O lado bom é que eu ainda posso fazer isso.    ― completou, puxando a garota para mais perto, aconchegando ―a em seu peito.
― Fred, nós não...
― Eu te fiz uma promessa, Mione. E fiquei em dívida com você por três anos, está na hora de recuperar o tempo perdido, não acha?!
― Fred, não...
― Por favor, Hermione. Uma última vez.
A garota respirou fundo, ignorando o olhar do ruivo, assim como todo e qualquer pensamento ou grito de sua consciência e sanidade mental. Sabia que se arrependeria por isso, mas o arrependimento seria maior se não o fizesse, então simplesmente fechou os olhos e se acomodou no peito de Fred, relaxando. Recebeu um beijo na testa e, antes que percebesse, pegou no sono sentindo o cheiro do perfume que, na maior parte do tempo, era a causa de sua insônia.

...

―É por isso que eu adoro o inverno.

―Por quê?

―Porque, além de ser ótimo para ficar em casa sem fazer nada, chove bastante e é frio.

―Eu ainda não sei onde quer chegar, Fred. ― Hermione o olhava, tentando ignorar a tempestade que jorrava do céu do lado de fora d’ A Toca.

―Quero dizer que o frio é ótimo para ficar abraçado e todas essas coisas que não vou dizer para não te dar a oportunidade de jogar na minha cara depois, é ótimo porque chove muito, exatamente como hoje.

―E o que você ganha com isso? ― Hermione estremeceu, se encolhendo e se aproximando ainda mais de Fred, que sorria cada vez mais.

―Ganho você aqui comigo. O que mais eu poderia querer? ― como resposta a Fred, ouviram um trovão alto o suficiente para tremer todo o quarto, fazendo com que Hermione abraçasse Fred com força, escondendo o rosto, um tanto envergonhada pela situação.

―Que parasse de trovejar, quem sabe. ― ela sussurrou, ouvindo Fred rir e sentindo seu rosto sendo levantado em seguida.

―Vamos fazer assim. Prometo que vou ficar com você, assim como estamos agora, em todas as noites de tempestade que vierem, até você superar esse medo.

―Não tenho medo, Fred. Eu só não…

―Só não gosta, me desculpe. ―o ruivo sorriu ― Mas prometo que vou abraçar e cuidar de você até superar isso, okay?!

―Acho que posso fazer esse esforço de passar a noite abraçada em você. ―a garota riu, beijando Fred logo em seguida. ―Na verdade, acho que não vai ser esforço algum.

...

Fred ainda abraçava Hermione e Rose quando adormeceu, dividindo o sonho com a morena, mesmo sem saber. Nenhum dos dois sabia dizer como essas memórias apareciam somente durante o sono, mas não negavam que, algumas vezes, eram lembranças maravilhosas. Levava os dois para uma viagem no tempo onde tudo era menos complicado, menos problematizado, e embora aproveitassem esses flashes do que parecia a vida de outras pessoas, sabiam que uma hora ou outra, a realidade iria bater na porta e os faria enfrentar a situação que criaram, colocando um final nesse conto de fadas de insistiam viver.