–Desculpa, não foi minha intenção chateá-la, eu juro!

–Pareço chateada para você?

–Não, mas é que, voce nunca demonstra nada, é quase impossível saber quando está chateada, feliz... Como consegue?- Fui me aproximando e sentei ao seu lado.

–Pode se dizer que é um dom para poucos...

–Gostaria de possuí-lo. - Falei. Ela parou de olhar para o lago, me encarou e sorriu com uma pitada de deboche.

–Você não aguentaria.

–Como assim?

–Não nasci assim, toda rude e insensível, foram necessárias várias doses de decepções, dor, arrependimento... (Jade deu um leve suspiro) e perdas.

–Foi um cara?

–NÃO! Eu não seria tão fútil!

–Então quem foi?

–Você faz perguntas demais... A proposito, qual é mesmo o seu nome?

–Beck, Beck Oliver!

–Beck é um nome muito sem graça. Vou te chamar de Oliver.

–Ok então...
Ela voltou a fitar o lago e não me respondeu, fiquei admirando seus olhos azuis refletindo a lua,os cabelos jogados por entre os ombros, até que eu decidi cortar o silencio.

–Por que exatamente viemos aqui?

–Você é porque estava me seguindo. Eu vim por motivos pessoais.

–Não pode me contar quais são eles?
Ela me ignorou e novamente acabei falando sozinho. Só então olhei para o horizonte e notei que já havia anoitecido. Jade não parecia se incomodar, e tragava silenciosamente seu décimo cigarro consecutivo.

–Por que voce fuma? -Perguntei e me arrependi logo em seguida, de todas as perguntas idiotas que eu já havia feito a ela esta tarde, aquela havia sido a pior. presenti que ela não iria responder, e acertei, ela me lançou um olhar de tédio, expirou a fumaça da ultima tragada em meu rosto e virou-se novamente para o lago. - Tá legal, desculpa...- Tentei consertar sem sucesso. -Mas por a caso voce não tem medo de um dia seu pulmão se cansar de tanta fumaça tóxica e explodir? -Depois dessa, aí sim eu me senti um completo idiota, já tinha perturbado ela com a pergunta anterior, e ao envés de tentar consertar, consegui tornar ainda mais inconveniente o assunto! Eu nunca tinha dito tanta asneira em minha vida para uma garota bonita. Achei que Jade fosse se levantar e ir embora, ou talvez responder uma grosseria e me dar um tapa. Mas sua reação foi totalmente oposta. Ela jogou os cabelos que estavam em seu rosto para trás, riu pela primeira vez sem traços de ironia ou sarcasmo, olhou bem fundo nos meus olhos e disse:

–Eu não vejo a hora deste dia chegar.

–Que mórbido, falei com um sorriso abafado.

–Eu sou mórbida. E mesmo que eu morra antes dos 30 anos por fumar, não irei parar -ela disse ainda sorrindo enquanto acendia o décimo primeiro cigarro. enquanto a fumaça levar as lembranças e fizer neblina dos meus pensamentos, é nela que eu vou afogar as magoas -. Dessa vez eu é que não continuei o assunto e virei-me para encarar o lago, aquelas palavras, mesmo secas e pronunciadas por uma boca que sorria enquanto as dizia, mostravam que Jade não era de fato, uma pessoa muito feliz.

–Sabe... Quero que veja uma coisa!

–Eu?

–Acho que só estamos nós dois aqui, oliver.
Sorri. Jade tirou de sua bolsa então, uma lanterna e pediu que eu a acompanhasse, ela foi adentrando a mata e eu fui logo atrás, a noite estava bem clara, e mesmo sem a ajuda da lanterna, era possível enxergar o caminho. Jade foi parando devagar e apontou a lanterna para uma árvore.

–Leia.

–Ok. - Cheguei mais perto da árvore e vi que haviam vários riscos na árvore formando palavras. Li em voz alta:

– Buraco do Fumo!
Alasca
Chip Coronel
Takumi
Miles Gordo
Lara
Quando terminei, Jade apontou a lanterna para o chão onde haviam muitas e muitas garrafas de Strawberry Hill e cigarros queimados.

–Não entendi.

–Desde que eu encontrei esse lugar, essas coisas estão aqui, acho que era uma espécie de esconderijo de alguma turma antiga, gostei daqui e venho bastante... Mas agora não tem mais graça, voce descobriu.

–Eu não vou contar pra ninguém, podemos vir juntos...

–É por isso que não tem mais graça, eu vinha para fumar, pensar... e ficar sozinha.
É eu entendi a indireta, pensei.

–Acho que é hora de voltar pro quarto, ela falou olhando a hora no celular. Ignorei este fato. Ok, era proibido usá-lo para qualquer finalidade fora do quarto, mas acho que já perturbei bastante ela por hoje para me passar por moralista. Voltamos a margem do lago e Jade jogou o último cigarro no pequeno monte que acumulara no chão.

–Sabe Beck, eu deveria ter te socado como fiz com o Rickmann, mas tive uma razão para não fazer isso.

–Que razão? a encarei agora em pé a sua frente.

–Você é bonitinho. -Ela sorriu com aquele sorriso irônico costumeiro e me deu um pequeno e rápido selinho. coloquei a mão direita na boca, demorei a processar aquele acontecimento, fiquei parado de frente pro nada paralisado enquanto Jade desfilava já indo para seu quarto.
Repeti umas cinco vezes ou mais, gaguejando baixo> Ela m-me b-b-beijou?