Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 4
#4 – Armadilhas.




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Fiquei observando, ao lado de Paula, as duas garotas brigarem.

Amanda havia se jogado em cima de Jessica, fazendo com que as duas caíssem no chão da sala de estar e começarem a rolar. Só pararam de rolar quando Amanda ficou por cima de Jessica, segurando, com apenas uma mão, as duas mãos da garota, e lhe dando alguns tapas com a outra. Jessica jogou o corpo para o lado fazendo com que Amanda saísse de cima dela.

– Amanda, para! – Gritou Jessica, quando estava por cima dela, já se levantando.

Amanda aproveitou o momento para empurrá-la com os dois pés, fazendo com que Jessica fosse jogada para trás. Jessica só parou de cambalear quando bateu com as costas na parede.

– Sua vaca! – Gritou Amanda, se levantando e indo na direção da garota vulnerável.

Mas antes que pudesse chegar até ela, Jef a pegou pela cintura.

– Calma, Amanda! – Gritou Jef.

– O que foi que houve? – Perguntou Davi, olhando para mim e para Paula.

– Ela empurrou Paula e saiu correndo – respondi. – Foi tudo muito rápido.

Amanda se debatia, tentando se soltar.

– Amanda... Amanda... – falava Lay, querendo chamar sua atenção. Quando Amanda parou de encarar Jessica, que ainda estava no chão, ela continuou – Mantenha a calma. Não vale a pena brigar.

Amanda olhou por alguns longos segundos os olhos de Lay, e – talvez como forma de aceitação – desabou no chão e começou a chorar. E senti que, além de mim, todos estavam com pena dela.

Lucas seu idiota! Jessica, sua estúpida!

Jessica se levantou lentamente e, por estar sentindo dor, colocou as mãos na cintura. Lucas apenas observava tudo, mas eu meio que podia sentir a culpa e o arrependimento no seu olhar.

– Venha comigo! – Disse Lay, ajudando Amanda a se levantar.

As duas garotas subiram lentamente os degraus da escada e, ao desaparecerem, ficamos todos nos olhando por alguns segundos. Paula foi a primeira a se mover, saindo do meu lado e indo em direção a Jessica. Jef fez o mesmo. Gustavo foi até Lucas e resolvi ir também.

– Venha – disse Gustavo, o convidando para ir para o lado de fora da mansão.

Antes de sair, olhei Davi subindo a escada. Bruno, Laís e Mateus ficaram parados, sem saber o que fazer, ao lado do sr. Ricardo e da sra. Sara.

Ao sairmos da mansão, demos uma olhada no lugar para saber aonde o levaríamos. Avistei um banco na varanda e apontei para que fossemos para lá. Lucas foi o primeiro a se sentar e, Gustavo e eu, sentamos ao seu lado.

– Eu estraguei tudo – começou Lucas. – Quase dois anos de namoro que acabou da noite para o dia...

Sua voz era triste e parei para pensar quando foi à última vez que vi Lucas tão triste desse jeito. Nunca. Ele era um cara tão espontâneo, brincava com todo mundo, se divertia, fazia piada e ria até mesmo quando a piada era sobre ele. Nunca imaginei um dia vê-lo desse jeito.

Olhei para Gustavo e percebi que ele também estava espantado com a nova reação de Lucas.

– Acabou... – disse Lucas, quase chorando.

– Calma, Lucas – coloquei meu braço em seu ombro. – Não fique assim.

Lucas colou o rosto em meu ombro. E foi quando o vi chorar pela primeira vez.

As horas se arrastaram desde então. E cada vez que eu olhava o relógio, parecia que apenas um minuto havia se passado. O que está acontecendo com o tempo?

Às duas da tarde, quando estávamos todos à mesa para o almoço, tudo ainda permanecia no mais completo silêncio. Não era assim que imaginava essa viajem. E para minha sorte, Lay resolveu quebrar o silêncio.

– Tive uma ideia – começou ela, olhando para todos. – Que tal acamparmos? Sabe, para quebrarmos esse clima.

– Acho uma ótima ideia – disse Paula.

Olhei para todos e vi que assentiam.

– Então está bem, vamos acampar – ela deu aquele lindo sorriso e olhou para o seu prato de comida.

– Eu ouvi a palavra “acampar”? – disse o sr. Ricardo, aparecendo de repente.

– Sim, vamos acampar hoje à noite – respondeu Lay. – A propósito, temos que pegar lenha para a fogueira, separar as roupas adequadas, separar a comida para levarmos – fez uma cara de preocupação, como se não houvesse tempo para fazer tudo aquilo. – Tio, você ainda tem aquelas barracas para acampar?

– Tenho, querida – respondeu. – Mas recomendo terem cuidado nessa mata, pois ultimamente alguns caçadores ilegais vêm colocando armadilhas a procura de animais raros, ou melhor dizendo, em extinção.

– Que idiotas – disse Davi. – E essas armadilhas estão no seu terreno?

– Sim, mas a maioria está fora. – respondeu. – E as armadilhas não são muito difíceis de se notar, a não ser se estiverem distraídos. Bom, em todo caso, tomem cuidado.

– Pode deixar, vamos ter – disse Lay.

Após terminarmos de almoçar, fomos para sala de estar, onde Lay nos instruía. Alguns se sentaram no sofá e outros ficaram em pé, ouvindo-a.

– Então vamos lá – começou ela. – À noite faz um pouco de frio, então recomendo que levem roupas com manga comprida e cobertores grossos. Temos 7 ou 8 barracas, o que significa que teremos algumas duplas. Quero que já comecem a preparar o que vão levar e, daqui a mais ou menos uma hora, sairemos para pegar lenha, ok?

– Ok – responderam alguns.

Esperei que todos subissem a escada para depois subir. Não estava tão animado para acampar. Entrei no meu quarto e me joguei na cama. As horas ainda continuavam se arrastando, o que era bom, pois assim ficaria um bom tempo deitado naquela cama macia olhando o teto forrado e ponto preto logo acima de mim.

– Suas coisas não vão se preparar sozinha – disse Paula, rindo, após abrir a porta. Reconheci sua voz de imediato.

– Que pena que não sou o Harry Potter – disse rindo. – Faria minhas coisas se arrumarem num instante.

– Seu bobo – ela riu.

Ela se sentou na cama.

– E você, não vai arrumar suas coisas? – Perguntei.

– Vou – respondeu. – Já estou indo. Só passei aqui para saber se você queria ajuda.

Parei de ver o ponto preto no forro e tombei minha cabeça para o lado, para olhá-la.

– Você é incrível, sabia?!

Levantei-me rapidamente e começamos a arrumar minhas coisas. Logo depois de separar o que eu iria levar, coloquei tudo em minha mochila – que Paula já tinha tirado as coisas que estavam dentro dela e jogado na cama – e então fomos para o quarto dela arrumar suas coisas.

Levou mais tempo do que esperávamos, pois de vez em quando parávamos para conversar e, quando descemos a escada com as nossas mochilas na costa, todos já estavam na sala de estar, nos esperando.

– Bom, como já estamos todos aqui, quero que formem duplas para pegarmos lenha para a fogueira – disse Lay, sem tirar os olhos de mim e de Paula.

Na verdade, todos estavam nos olhando.

– Onde está o Lucas? – Perguntou Gustavo. Todos se entreolharam. – Vou lá chamar ele – continuou.

Passando por mim, ele subiu a escada.

– Todos já sabem com quem farão duplas? – Perguntou Lay.

Todos assentiram.

– Davi, você separou a comida? – Perguntou Lay.

– Sim, estão nessa mochila e naquela caixa térmica – respondeu ele, apontando para a mochila e a caixa que estava encostada no sofá.

– Lucas vai demorar um pouco – disse Gustavo, antes de terminar de descer a escada –, ele ainda está arrumando suas coisas e disse que é para irmos, que depois ele encontra a gente.

– Então vamos fazer o seguinte: Bruno, Mateus e Laís vocês farão um trio; os demais farão duplas, e a dupla que o Lucas encontrar primeiro fará um trio com ele – disse Lay. – E não esqueçam de tomar cuidado com as armadilhas que meu tio Ricardo falou. Pedro, Paula, vocês podem deixar suas mochilas ali no canto – ela apontou para o lugar desejado.

Paula e eu rapidamente colocamos nossas mochilas no local que Lay indicara.

Duplas e trio formados, todos seguimos caminhos diferentes, entrando na floresta do terreno dos Dantas. Paula e eu entramos em um pequeno caminho que ficava de lateral para a mansão e fomos colhendo todo os galhos e pedaços de madeira que pudemos arranjar. E quando o sol já começava a se pôr, ela falou:

– Acho melhor voltarmos – disse ela, olhando para o céu.

– Mas não estamos muito longe da mansão – disse.

– Não?

– Não – respondi, rindo de sua preocupação. – Apesar de fazer anos que não venho aqui, ainda conheço essa floresta. E digo que a mansão está mais ou menos uns cento e cinquenta metros naquela direção – falei, apontado para o sul.

– Hmmm... Meu herói!

– Fique calma minha donzela em perigo – disse pegando sua cintura com minha mão livre e trazendo-a mais perto do meu corpo. – Eu te protejo.

Olhei seus olhos verdes fazendo a melhor cara de super-herói que pude, e a beijei.

– O que foi isso? – Perguntou ela, interrompendo o beijo.

– O quê?

– Achei ter ouvido alguma coisa.

– Não deve ter sido nada. Venha, vamos para a mansão – peguei sua mão e segui em direção ao sul.

MINUTOS DEPOIS...

Lucas acordou com uma dor de cabeça insuportável. E só quando sua vista embaçada voltou ao normal, ele pôde ver que estava de cabeça para baixo, pendurado por uma corda.

Algumas horas atrás ele havia deixado seu quarto e entrado na floresta a procura de seus amigos, rezando para não encontrar Amanda ou Jessica, quando pisou em algo que o fez cair e bater com a cabeça em uma pedra, deixando-o inconsciente.

Ele olhou para baixo e viu a pequena poça de sangue que saia de sua cabeça e depois olhou para cima e viu a corda que prendia seu pé. Tentou algumas vezes alcançar a corda, em vão, até ouvir o som de alguns passos.

– Quem está aí? – Perguntou Lucas, com sua voz meio rouca.

Ninguém respondeu e o barulho de folhas sendo pisoteadas estava cada vez mais próximo. Lucas tentou se virar, pra olhar para trás, mas não conseguiu.

– Tem alguém aí? – Ele se debatia, tentando se virar. – Acho que caí em uma daquelas armadilhas que o sr. Ricardo falou.

Então ele ouviu o som de um galho sendo pisoteado atrás dele.

– Isso não tem graça – disse ele. – Quem está aí?

Novamente ele tentou virar a cabeça pra olhar para trás, mas a única coisa que conseguiu enxergar foi um machado vindo na direção de seu rosto e, antes de tentar falar alguma coisa, tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

Já suspeitam de alguém?

Não percam o Capítulo #5, amanhã!



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