–Vamos parar por hoje Peter! Sophia implorou pela terceira vez em vinte minutos, e Peter deu a mesma resposta das outras duas:

–Eu não paro enquanto não chegar ao rio de fogo!

–Mas Peter – Karina o alcançou, os próprios pés não aguentando mais – E se ao chegarmos lá precisarmos enfrentar algo perigoso, ninguém aqui – Peter a olhou – Além de você, tem energia suficiente para isso, seremos derrotados.

Pelas primeiras quatro horas, ele parou:

–Está certa – Todos suspiraram junto com Karina – Vamos repousar por aqui e amanhã chegamos ao rio de fogo.

A organização foi feita rapidamente, e em menos de dez minutos, todos dormiam tranquilos e já se recuperavam das dores nas pernas e pés, menos Karina e Sophia:

–Ele te ouviu – Sophia disse – Quem diria não é?

Karina deu de ombros:

–Eu aprendi muito nessa jornada e acho que ele também.

–Não parecemos ter a idade que temos – Sophia refletiu – Tirando pelo nosso tamanho e nossas feições, nenhuma criança de três a sete anos sairia em uma viagem tão perigosa.

–Saímos porque amamos nossas mães.

Sophia assentiu e bocejou:

–Vamos dormir.

–Vamos.

–Karina?

–Oi Sophia?

–Ele gosta de você!

E com aquelas quatro palavrinhas, Karina e Sophia dormiram tranquilas, a primeira mais do que a segunda, pois o sentimento que invadia o seu peito tinha um nome que ela não queria admitir.

*

–O rio de fogo? A lareira iluminava o rosto de Sir Lucius, como Jack também imaginava que iluminava o seu, o homem barbudo assentiu:

–Muitos pensam que está dentro de minhas fronteiras – Ele disse sério – Mas é uma área de interseção, ninguém tem coragem de possuí-la, lá se abriga o espírito da justiça.

–Acho que não entendi...

–O espírito da justiça é aquele que julga todos os que comparecem por ele, aqueles com alma pura passam, os que não a tem, são engolidos pelo rio de fogo.

–Um desafio?

–Ninguém sabe como ele faz para testar os limites daqueles que testa, mas para chegar onde você quer, você precisa atravessar o lago.

–Um lago de ácido, como é capaz de atravessá-lo?

O homem deu de ombros:

–Isso caberá a você descobrir, te ofereço dez de meus homens, quatorze cavalos e um burro de carga para levar junto se trouxer minha mulher de volta.

Jack se levantou:

–Aceito, agora se me dá licança, vou me retirar para os meus aposentos, amanhã partiremos assim que o sol raiar.

Jack saiu no corredor e quando chegou ao seu quarto, foi atraído pela estrela que refletia em sua janela, e junto a ela fez uma promessa silenciosa:

–Eu estou chegando Kim, amanhã, você estará em meus braços! Tenha certeza disso.

*

Kim não ouviu a promessa, estava ocupada demais interrogando Eduarda, os poucos guardas que restaram foram intimidados e presos pelas furiosas mulheres, Kim foi quem pegou Eduarda e a fez responder algumas perguntas em particular, assim que ela as trancou em uma porta com mulheres do lado de fora, Kim soltou o braço da menina e cruzou os seus sobre o peito:

–Pode começar. Disse.

–Começar o que?

Kim riu amargamente:

–Eu ouvi sobre Abashiman, não importa o que aconteceu na sua vida, você não precisa dele nela, ele é um monstro.

–Ele me ajudou depois que a minha família morreu! Eduarda gritou

–Todos morreram?

–Todos que conheci, minha mãe sumiu quando nasci.

–Quem era sua mãe?

–Te interessa?

–Interessa! Kim respondeu com convicção e a menina enxugando algumas lágrimas descreveu a mulher como cabelos de fogo, pele morena, forte e poderosa:

–Qual era o seu nome?

–Katherine.

Kim sentiu o choque tomar conta do seu corpo: Não poderia ser a mesma Katherine, poderia?

–O que está pensando? Eduarda perguntou e Kim sentiu pena dela:

–Nada – Disse – Quando Abashiman entrou na sua vida, mais importante, o que ele quer que você faça?

–Quando passei muita fome e frio, comecei a ouvir as vozes, achei que estava prestes a morrer, mas a fome e o frio dispersaram e ele continuou, ele passou a se comunicar e a me guiar até aqui, ele pediu que eu primeiro conquistasse todos com o meu charme e os fizesse ir até o rio de fogo para serem julgados, ele dizia que se ele foi julgado injustamente assim como eu, todos deveriam ser.

–O lago de fogo – Kim murmurou – O lago da justiça, a lenda, ele a estava usando para aproveitar a lenda.

–Que lenda? A menina perguntou.

–Minha mãe me contava que quando mil almas femininas e mil almas masculinas ocuparem os territórios do lago da justiça, os portões se abrem em demandada e todos os que foram injusntos e estão pagando pelo seu erro, tem a possibilidade de sair e serem livres novamente.

–O que ele pode ter feito de tão ruim?

–Ele matou milhões- Kim disse- Escravizou bilhões e destruiu tudo o que entrava em seu caminho, ele não fala mais com você?

–Não desde que tomaram o forte.

–Com certeza não contava que você abrisse a boca.

–Ele pode fazer algo comigo?

–Não – Kim disse – Sua alma está presa e seu corpo carbonizado, ele não fará nenhum mal a você desde que não saia de sua prisão.

Kim estava saindo da sala quando Eduarda a chamou:

–Rainha Kim – A mulher se virou – Ele não está conversando comigo, não por medo, está se preparando para sair de seu castigo eterno, eu mandei o que ele pediu até o lago e as minhas ordens foram bem claras, quando chegarem lá, receberão o julgamento que lhes convém.

–Quer dizer... Kim arregaçou os olhos.

–Que em algumas horas, Abashiman poderá se libertar se não fizermos nada.