Escravo de ilusões escrita por Vitor Vaz


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/524878/chapter/4

É claro que tinha que acontecer algo comigo. Por que eu ainda tento? Toda vez que tenho um plano em mente, um acontecimento fode comigo. Dessa vez, o carro da minha mãe quebrou e ela me avisou em cima da hora. Não iria conseguir pegar carona. E voltar pra casa estava fora de cogitação. A única opção era ficar na escola.

Coloquei meus fones de ouvido, o tempo estava nublado, com uma fraca garoa. Escolhi a musica mais triste da minha playlist para tocar. Caminhei pela escola me sentindo sozinho, enfiei minhas mãos frias no blusão da minha escola ( sim, estudo em um hospício uniformizado). Cansado de andar pelos corredores obscuros, fui em direção à biblioteca, um lugar tranquilo. Para pensar em todo meu plano.

Entrei na sala e o silencio falou por todos, mais para frente comecei a escutar um barulho perturbador, melado. Segui em frente e dei de cara com Aline se pegando com um cara nojento. Se bobear ele tinha espinhas ate na bunda.

Depois desse trauma, resolvo me sentar em uma mesa vazia, abri meu caderno esperando a inspiração chegar. Ao invés das ideias aparecerem, Aline me assustou ao aparecer do meu lado (ela estava toda babada).

– Eu me recuso a falar com você enquanto não limpar essa boca.

– também te amo.

– Na verdade a único sentimento que esta rolando entre a gente é nojo - Falei mandando ela direto para o banheiro.

Após ela voltar tivemos uma conversa de como eu iria começar minha redação. Escrevi todas as ideias que passavam pela minha cabeça e os conselhos da Aline no papel. Preenchi quatro paginas de meu caderninho. Olhei para o relógio, eram 17 horas e nada da minha mãe. Senti meu celular vibrando, rezando que fosse Claudia na linha. Atendi ansioso.

– Alô

– Boa tarde

– Pai?

– Quem mais seria?

–Nossa, pai, podia ser qualquer um.

– Agora todos os números são iguais?

– Você ligou para...

–O carro quebrou - Isso eu já sabia, mas ele não ligou para avisar o ocorrido - e você vai dormir na sua avó.

Ótimo, era tudo que eu precisava: ir pra casa onde sou denominado o demônio (minha avó é homofóbica religiosa). E para melhor minha situação, lá não tinha computador, como iria digitar minhas ideias?

–Sem chances pai

–Você não tem escolha querido, vá andando em direção a casa dela - ele desligou.

Droga,porque minha avó tinha que morar bem do lado da escola? Ainda me lembro no tempo em que eu era feliz com ela, quando ela me levava na escola com um sorriso no rosto, mas agora mal olha na minha cara, como se minha opção sexual, depois de revelada fez o caos entre a minha família. Ela simplesmente deletou todo nosso passado, por uma informação do presente, que com toda certeza vai mudar o futuro.

Meu entusiasmo já não estava como antes. Partiu casa da vovó monstro. Caminhei pela chuva até chegar à casa monstruosa que ficava a quadras da minha escola. A bruxa já me esperava na porta, com um crucifixo na mão.

–Boa noite senhora- Digo com um tom de ironia

Segui em frente sem olhar para traz. Entrei no quarto de hospedes e me tranquei como de costume. Ouvi “uns murmúrios que geralmente eram: “esse delinquente veio destruir nossa família”,” “aonde já se viu homem gostar de homem”.

Cada minuto era como uma hora, finalmente quando consegui pegar no sono, eu ouvi uma batida na porta.

– Entra – Avisei, não tinha escolha mesmo.

– Claro que vou entrar, a casa é minha. - ela estendeu o braço dela com o telefone na mão. – é pra você.

– Muito obrigado senhora.

Peguei o telefone:

–Filho?

– Fala mãe.

– O carro esta no concerto e seu pai não quer busca-lo. Logo vai fazer companhia para sua avó hoje, está bem?

– Ah claro... Que não.

–Bom... Você não tem opção. Boa noite, mamãe te ama.- E desligou.

Ela apertou o botão vermelho com prazer, imagino. Quem ligaria se eu fosse atacado de noite pela vovó maluca? E se um padre vier me exorcizar? Quem liga?

Finalmente tempo para pensar, sozinho, trancado.

Hoje foi um dia estranho.

1- Minha melhor amiga pegando aquele menino, o sonho de qualquer um. Não o meu, odeio espinhas, mas aqueles músculos, sem contar o sotaque do sul delicioso de ouvir. É isso não me atrai.

2- Minha mãe quebrou o carro.

3- Ter de vir passar o tempo com a pessoa que mais me ama nesse mundo.

4- Minha mãe não querer me buscar, ou seja, não move nenhum dedo para a felicidade do filho.

5- É hora de dormir.

Acordei, sai daquele inferno e fui caminhando para a escola.

O tempo estava nublado, e por minha sorte começara a chuviscar. Apenas coloquei meus fones de ouvido e senti a musica. Estava tocando Lana Del Rey, vídeo game, minha musica favorita. Conforme o poema se expressava, o ritmo me contagiava e as rimas tomavam conta das ruas.

Balançando no quintal

Você chega no seu carro veloz

Assobiando meu nome

Era como mágica, imagens da musica se passava na minha frente e tudo o que podia fazer era aprecia-las. Tentando acompanhar com as silabas finais. Apenas esperando alguém, uma pessoa que me faça sentir no céu, mesmo estando na terra.

Tudo o que faço, eu digo a você o tempo todo: o céu é um lugar na terra com você.

Quem é esse você? Estou à sua espera. Quando vai me surpreender? Aonde vai me encontrar? Por que é tão difícil encontra-lo?

– Ei, vamos parar de sonhar? Leonardo?

– Por quê? Esse era a parte que o senhor “não se sabe quem é” iria me beijar. Obrigado Aline, por estragar tudo, novamente.

– Novamente?

– Claro – pensei rapidamente para não deixar indícios dos meus desejos- Quantas vezes você já não me acordou de sonhos perfeitos? Com esse mesmo cara me esperando e eu não podendo alcança-lo?

– Como vocês são dramáticos.

– Vocês quem?

– Sabe... Vocês, os gays.

– Mas que preconceito, nem todo gay é dramático.

– Porém todos os dramáticos são gays

– O João, é dramático.

– O João não é gay

– Não é isso que fala meu “gaydar”( radar que informa se algum menino é gay ou não). Toda vez em que o menino passa meu radar apita: GAY, GAY, GAY..”

– Ele namora uma garota, ele nunca vai ser seu!

– Olha ai, outro estereótipo! Nem todos os gays são vadias!

– Mas todas as vadias (homens) são gays.

– Me pergunto o porquê somos amigos.

– Você não consegue ficar sem mim. Você precisa de mim...

– Não vai me dizer que todo gay precisa de uma amiga chata, que sempre acha que esta certa.

O silencio tomou conta da conversa. Achei melhor intervir, mas ela se fora, com os olhos vermelhos. Às vezes a verdade sai e não temos como controla-la. É preciso ser insensível, usar a razão, ao invés dos sentimentos. O mundo é cruel, logo é melhor ouvir a verdade de um amigo do que de um desconhecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Escravo de ilusões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.