Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus escrita por cardozo


Capítulo 50
Capítulo 21 - O Vale da Perdição. Parte I




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O Vale da Perdição...

 

 

Avançavam cavalgando sobre seus cavalos com  os sábios seguindo a frente, empunhando seus cajados. Nas hastes dos mesmos uma safira brilhante em formato de um pequeno sol, ajudavam os  guias a vencer a distância e a geografia da região.

-Mas e aí Arão, conta qual foi o milagre que te aconteceu?

Bal cavalgava a contragosto, todavia sua  curiosidade evitava que ficasse reclamando o tempo todo, enquanto  Dafne voava a seu lado, queixando-se do forte calor.

-Eu não sei. A única coisa que me recordo é que todo o meu corpo parecia arder, havia muita dor. Eu me sentia distante, afastando-me cada vez mais. Entretanto depois alguma coisa aconteceu,  me senti envolvido por força, algo que me protegia e acalentava ao mesmo tempo em que me transmitia paz. Ela foi tomando conta de mim e me trouxe de volta. Foi uma experiência única, não sei como descrevê-la. Só sei que quando eu abri os olhos, Milenus estava sorrindo ao meu lado dizendo: Oras! Vejo que aconteceu um milagre no Santuário.

-Estranho, mas como eles diriam no mundo dos Homens: Podemos dizer que você nasceu de novo.

Brincou Cassi.

-Vamos ter que abandonar nossos animais. Eles já serviram a seu propósito. A partir deste ponto  seguiremos a pé.

Filas pronunciava suas palavras enquanto observava o relevo a sua frente, era muito acidentado, tornando-se impossível  para os animais.

-Não temos como descer com eles até o vale. Concluiu.

Os jovens estavam parados frente a um grande vale, duas colinas se erguiam de cada lado, o horizonte engolia seu final. Seu comprimento era espantoso. Sorai olhava para um ponto distante entre as colinas...

 -Vocês notaram que ao contrário do calor que estávamos sentindo a pouco, o frio começa a aparecer? Dentro do Vale da Perdição, ele será predominante. Durante o dia conseguimos ter uma visão de praticamente  toda a depressão do terreno, mas à noite o manto da morte branca desce sobre ela. É uma névoa que avança de cada colina,  e se encontra no meio do vale, ficando praticamente impossível enxergar mais de dois metros adiante. Isso ocorre toda à noite. Esse é o Vale da Perdição.

-Não gostei do nome. Sussurrou Bal para Cassi.

-Por que Vale da Perdição? Questionou Arão.

-Aqui, foi onde às forças do firmamento sofreram as maiores perdas.   Nas grandes guerras, as terras para onde nós estamos nos dirigindo concentraram a maior parte das forças das trevas. Foi o primeiro local a aderir contra o Criador e  um dos últimos  a sucumbir antes do mal ser banido para o Reino Inferior.

Sorai tinha a atenção de todos.

-Quando as forças do firmamento marchavam para o que parecia ser uma vitória certa, os anjos negros os emboscaram neste local, neste tão temível vale. A sorte da batalha quase teve outro fim. Como se leva dias para atravessá-lo,  o Mal esperava a noite chegar. No momento em que o manto descia e com ajuda da pouca visibilidade, os vultos negros atacavam, ceifando muitas vidas das forças do Firmamento. Não havia como derrotá-los. Era preciso chegar as Cordilheiras Celestiais para combater o que restava das forças das trevas e sair desta armadilha mortal.

-Como eles conseguiram vencer? Perguntou Arão.

-Não conseguiram. Tiveram que recuar para não perder. Todavia as forças do firmamento tinham um trunfo. Sekhmet!

-O que é isso? Perguntou Kitrina surpresa desconhecendo o significado do nome.

-Nós nunca o vimos, só sabemos que ele caçou cada anjo negro do vale, um a um, eles foram caindo perante seu poder. Mas ele não parou por aí. Sua sede por essência o tornou cruel e temido. Por isso ele foi trancado  no que hoje é conhecida como Montanha dos Quatro Elementos. No passado sua denominação era ''A Montanha da Traição'',  por causa da traição de  Sekhmet que caçava suas vítimas e as levava para a montanha para saciar sua sede. Hoje ele é o guardião do lugar, todavia dizem que sua cede por essência não diminuiu, ao contrário após todos esses séculos ela aumentou...  Explicou Nicol.

-Quer dizer que teremos que enfrentá-lo se quisermos ser guardiões?  Perguntou Tiror.

-Com o pergaminho não precisaríamos, pois ele nos mostra  passagens por onde seguiríamos   evitando um possível encontro. Porém sem ele vamos torcer para termos a sorte de achar o caminho que nos propicie tal benção.  Disse Filas descendo de seu cavalo. -Vamos prosseguir.

Todos abandonaram seus animais, desceram por uma vereda entre as rochas até chegarem ao início do vale. Conforme foram avançando e ganhando terreno  a temperatura foi caindo bruscamente. Ao final do caminho estrito, o frio era degradante.

Iniciaram a travessia da grande depressão e com ela veio à chegada da noite. Os garotos puderam ver a névoa descendo de ambos os lados, arrastando-se pelas colinas,  era tão densa que realmente lembrava um manto sendo puxado.

À noite,  o ar gelado os castigavam arduamente. Haviam feito uma fogueira, o fogo ajudava a  dissipar um pouco da massa gasosa. Isso lhes permitiam  enxergar a todos que estavam  sentados em volta das brasas incandescentes.

Os garotos já haviam ceado e se preparavam para dormir. Tiror arrumava suas coisas, queria conseguir um apoio para sua cabeça, alguns tentavam o mesmo feito enquanto outros já dormiam.

-Que saudades do meu travesseiro.  Reclamou Bal.

Tiror virou-se para o lado, as coisas de Lethan estavam ao chão, mas o garoto havia sumido. Ele procurou em volta, levantou-se, caminhou entre os presentes tentando encontrar o amigo.

O que foi? Perguntou Odrin mal humorado.

-Lethan sumiu. Ele estava ao meu lado agora  a pouco, mas...

Nicol, Filas e Sorai pegaram seus cajados, as pedras nas pontas emitiam um brilho  intenso.

 -Fiquem aqui nós iremos procurá-lo. Não se distanciem desta fogueira, aconteça o que acontecer. Este é o único lugar em que podemos ter a visão de todos.  O fogo será a diferença entre vida e a morte.

Os três sábios sumiram na névoa. Os jovens somente conseguiam ver as luzes dos cajados à distância.

Cassi passava as mãos nos braços. Kitrina se pôs diante dela  perguntando.

-O que foi?

-Uma sensação ruim. Eu já a tive antes  e não gosto nem de lembrar.

De repente uma das três luzes tremeu por um breve instante e foi ao chão.

-Não! Ela exclamou assustada. -Ele está aqui no Vale da Perdição.

Arão e Bal viram o cajado ir ao chão,  pegaram seus bastões de energia e partiram em meio à névoa com os outros garotos logo atrás em seus encalços.

O grupo chegou ao local onde a luz se encontrava, viram Filas  agachado, com  seu cajado tombado ao lado, o sábio observava a sua frente uma  terrível cena. O corpo de Lethan jazido ao chão com deformações horríveis. Passados alguns momentos Sorai e Nicol se juntaram a eles.

Filas  fez um sinal de negação com a cabeça desaprovando o que acabara de presenciar.

-O que aconteceu com ele? Perguntou Mary nauseada.

-Ele está entre nós. Murmurou Cassi.

-Do que ela está falando? Questionou Lissa visivelmente irritada.

Algo surgiu em meio à névoa, não puderam ver se eram garras ou mãos,  pousaram sobre o peito e cabeça de Sorai  e o tragaram para dentro da névoa.

Os gritos do sábio foram ouvidos se perdendo no meio da massa gasosa. Os garotos se adiantaram para ajudar tentando se guiar pelos sons emitidos por Sorai.

-Não! Parem! Voltem para perto do fogo é nossa única esperança. Gritou Filas em sinal de advertência. Mas já era tarde os jovens já tinham partido. Cada um foi para um lado seguindo seu próprio senso de orientação, estavam separados...

-Fiquem juntos. Continuava Filas a gritar, sua voz, porém vinha de longe e tinha um tom autoritário.

Irian estava com Mary, Odrin e Lissa.

-Onde está Lissa?  Perguntou Mary. Fitando para os lados.

-Estava ao nosso lado agora pouco. Respondeu Irian.

-Droga! Lissa! Berrou Odrin.

O grito dela foi ouvido a alguns metros de onde se encontravam. Odrin foi o primeiro a chegar. A garota estava caída ao chão. Ele ajudou-a a levantar-se. Filas chegou junto com os outros jovens, pegou Lissa no colo, levando-a para junto da fogueira.

-Rápido todos para junto do fogo onde temos uma visão melhor.

Eles obedeceram mesmo confusos com a situação.

-E Sorai? Precisamos encontrá-lo.

-Já  é tarde demais para ele. Lamentou Nicol.

-Por quê? Perguntou Bal.

-Por causa disto!

Filas tombou  a cabeça de Lissa um pouco para o lado, no pescoço dela havia duas pequenas saliências.

         A noite passou rápido, os sábios não comentaram nada sobre o ocorrido. Os garotos ficaram sem respostas para suas perguntas.  A curiosidade de cada um aumentava a cada segundo que se passava, assim como o medo.

Os sábios ficaram vigilantes, Lissa pareceria piorar sensivelmente à medida que a manhã ia surgindo. Conforme  a claridade aumentava   o manto ia se reduzindo deixando  o vale visível novamente. Nicol aproveitou a claridade e saiu  para dar uma volta,  retornou momentos depois trazendo o cajado de Sorai.

-Isso foi tudo o que restou dele. Não consegui encontrar seu corpo. Entregou o cajado a Filas.

-Não precisamos mais disto. Atirou o objeto ao solo. A safira da ponta do bastão enegrecida  partiu-se em muitos pedaços menores.

-Foi o mesmo sentimento que tive no Santuário.  Comentou Cassi, olhando para os sábios.  -É ele, não é?

-O "Ente da Noite". Bal complementou as palavras de Cassi num tom sinistro.

-Vamos partir. Devemos seguir rápido.  Filas  estava com suas coisas todas arrumadas, pronto para prosseguir a viagem.

-Espere! Arão estava parado a frente dos sábios. -Ninguém irá adiante enquanto vocês não disseram o que estamos enfrentando.

Nenhum garoto protestou perante a imposição  de Arão.

-Você não entende que saber não vai ajudar em nada. Isso o que me pede poderá até piorar a situação. Ira trazer desconfiança ao grupo.

-Olhe para ela.  Exclamou  Cassi consternada apontando para Lissa. -Está muito mal e nem sabemos o que podemos fazer para ajudá-la.

-Acho que eles têm razão Nicol, devemos isso a eles.

Todos se sentaram. Cassi acomodou Lissa entre suas pernas, o rosto da garota estava pálido e quente. Ela tremia, suas mãos seguravam as de Cassi com muita força como se elas fossem seu único apoio para continuar viva. Filas começou a narrativa.

-Estamos enfrentando uma alma penada, que por algum motivo não está no local correto onde deveria estar. O "Ente da Noite" como o conhecemos recebe uma designação diferente no mundo dos homens, ele é um Morto - Vivo...

-Morto - Vivo?

Bal repetiu as últimas palavras de Filas, com uma certa dúvida se estava entendendo o que ele queria dizer. O sábio confirmou com a cabeça e prosseguiu.

-Existem criaturas que estão entre os céus e a terra. Mesmo no mundo dos Homens, apesar de muitos acharem que eles fazem parte de lendas e invenções das mentes criativas. Posso lhes assegurar, eles existem...

Seu rosto tomou um ar sombrio.

-Quem? Perguntou Odrin.

-Vampiros. Lastimou Nicol.

-Você quer dizer que estamos lutando contra um vampiro?  Cassi não podia acreditar no que ouvia.

-De certa forma. Prosseguiu Filas. -O que conhecemos como Ente da Noite é alguém que foi mordido em vida por um vampiro, por conta disto, sua alma não vem até nós. Ele vaga na terra fazendo vítimas buscando sangue humano, faz isso sem controle, sem consciência... Não consegue parar. A sede por sangue, por vida é maior que ele, foge-lhe ao controle. Quando finalmente ele é libertado, ou seja alguém consegue destruí-lo, sua alma deixa o reino dos Homens, entretanto esta pode ter sido boa até ser mordida e sendo assim como poderemos julgá-la?

O sábio olhou para os jovens e ficou satisfeito com a atenção que ganhava.

-O fato é que elas vão para o Reino dos Titãs, sem consciência, sem inteligência, como se fossem animais, para esquecer o que lhes aconteceu em vida. Passam por severas penas e depois disso é que sabemos se elas poderão ou não entrar no Firmamento. Muitos conseguem, outros não. É desses outros que falamos, aqueles que não conseguem largar o que poderíamos chamar de vício e continuar a querer mais vítimas. Pois existe o perigo, dele recobrar a consciência sem ter conseguido perder a sede por sangue e vir a buscá-lo aqui.

-Mas no Firmamento não existe sangue? Comentou Kitrina.

-Isso é verdade, mas existe algo mais poderoso, mais cobiçado por essas almas do que qualquer outra coisa, a essência. Ela compõem cada um de nós e pode tornar um Ente da Noite muito mais forte e independente. 

-Filas se entendi bem o que você está querendo dizer, é que se alguém que foi um vampiro no mundo dos Homens,  e se não for “tratado” corretamente, continua sendo vampiro aqui?

O sábio confirmou com a cabeça.

-Aqui eles possuem características semelhantes ao mundo dos Homens, mas também desenvolvem outras diferentes. Continuam tendo uma força descomunal, são muito ágeis, seus olhos à noite brilham como luzes. A cada vítima feita se tornam mais poderosos e vão ganhando consciência do que são. Recuperam a memória,  até chegar um momento em que se tornam plenos, não temendo mais a luz do dia. Existem amuletos mágicos que nos dão proteção e ajudam a controlá-los. Mas quando eles se tornam plenos nem mesmo os amuletos são páreos para eles e as vítimas são somente para lhe satisfazer o desejo. Seu corpo  pode adquirir características de suas vítimas. Não precisam obrigatoriamente morder o pescoço para sugar-lhe a essência, qualquer lugar do corpo serve.

-Por isso Jenya tinha marca nos braços.

Filas ignorou as palavras de Cassi e continuou.

 -Uma pessoa mordida por um Ente da Noite tem uma ligação muito especial com o mesmo. Ele vai aos poucos sugando-lhe toda a essência até que ela venha a perecer. É isso o que está acontecendo com sua amiga Lissa neste momento. Se não fizermos algo em breve ela morrerá.

-O que temos que fazer?

-Só há um modo de ajudá-la.

Todos o olharam.

-Destruindo o Ente... Assim quebramos a ligação que existem entre predador e vitima.

-Como o matamos aqui? Cruzes? Estacas? Que eu saiba não trouxemos  alho conosco para colocar no pescoço e nos proteger. Comentou Bal.

-Não. Isto não surte efeito nem aqui nem no mundo dos Homens. No Firmamento eles morrem como nós.

-Mas onde está ele?

Tiror olhou em volta, o desfiladeiro estava vazio. Temos que achá-lo e destruí-lo.

-Esse é o problema e é o porquê não queríamos contar-lhes nada. O Ente com o qual estamos lidando deve ser a alma de Homem, pois desde a Cidade Superior ele só suga a essência de mulheres, matando os homens, não é uma regra, mas a maioria age assim. Porém, ele só consegue andar livremente e liberar toda a sua força a noite, de dia ele precisa de um hospedeiro para se alojar e estará sujeito as limitações do corpo do mesmo, pelo menos até se desenvolver por completo.

-Você está querendo dizer que ele está alojado no corpo de Lissa?  Cassi assustou-se. -Que teremos que matá-la para nos livrarmos dele?

-Não! Respondeu Filas abaixando a cabeça, olhava para o solo.  -Eles nunca ocupam o corpo de suas vítimas. O corpo normalmente escolhido seria de um homem e neste momento mesmo distante,  ele esta roubando-lhe a essência, por isso ela esta cada vez mais fraca.

Os olhares cheios de dúvidas incidiram sobre Filas.

-O que estou querendo dizer é que o motivo de vocês não verem o Ente da Noite no desfiladeiro é que ele está entre nós.

Todos olharam entre si, assustados e desconfiados do  peso que aquelas palavras representavam.

-Ele é um de nós.

 


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