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Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus escrita por cardozo
Capítulo 28
Capítulo 11 -A Lua de Sangue, Terceira Noite. PIII
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-Ei! O que você está fazendo? Me solte!
Ela se esperneava, mas mesmo assim Bal prosseguiu. Chegaram onde Salum estava, ele continuava ajoelhado. Seus cabelos escondiam seu rosto.
-Pronto chegamos. Disse Bal se dirigindo a Salum. -Agora podemos entrar?
-Eu já disse que não vou.
-Dafne! A voz de Salum era imperativa. -Você passou a sua existência inteira treinando para acompanhar e ajudar um mago. Muitas se sacrificaram para você estar aqui hoje. Você tomou o lugar de outras ninfas e agora quer renegar o seu destino?
Dafne ficou quieta e pensativa.
-O senhor tem razão.
Virou-se para Bal.
-Desculpe se o prejudiquei com o meu mal comportamento, farei de tudo para auxiliá-lo a se tornar um grande mago.
-Isso quer dizer que você vai entrar comigo no labirinto?
Ela fez um sinal de positivo com a cabeça.
-Maravilha! Gritou Bal. -Até que em fim estamos nos entendendo.
Salum abriu a mão, dela saiu um pó branco que envolveu todo o corpo de Dafne. A ninfa gritou de dor caindo no chão.
-Por que o senhor fez isso? Perguntou o garoto.
-Eu mereci Balduíno. Disse ela.
-Ela fugiu de sua missão. Explicou Salum.
-Então me puna também. Pediu Bal.
-Por quê? Questionou Salum.
-Já éramos para estar dentro do labirinto ajudando os outros a acender a chama do pilar. Mas não estamos. Eu me espantei com o rabo dela. Não a aceitei como era e acabei deixando-a constrangida.
Era uma das poucas vezes que Bal falara sério.
-Tem certeza disso?
-Tenho.
-Não! Não faça isso! Implorava Dafne. -A culpa foi minha.
-Não. Bal foi incisivo. -Nós somos uma dupla se você falhar, eu também falharei. Se você vencer, eu vencerei. Estamos no mesmo barco. Pode me punir.
Dafne se afastou, Salum jogou o pó em Bal. Ele gemeu de dor e caiu de joelhos. A atitude do garoto impressionou muito a ninfa.
-Isso doeu demais. Resmungou Bal enquanto Dafne o ajudava a se levantar. -Você poderia ter me avisar que doía bastante, ai eu teria desistido.
Ele sorriu para ela.
-Podemos entrar? Perguntou Bal.
-Vão logo, acendam a chama do pilar de Neith. A segurança de muitos depende disso. Não se esqueçam do aviso. O meu tempo se esgotou.
-Que aviso? Dafne perguntou cheia de curiosidade.
Bal repetiu as palavras do querubim.
-Rápido ou irão se arrepender de ficar aqui... O veneno...
Foi o último gemido de Salum antes de cair no chão. Protuberâncias começaram a surgir por todo seu corpo. Bal e Dafne se afastaram. A roupa do mago se rasgou toda, assim com sua pele. Uma mutação acontecia dentro de seu corpo. Parecia que algo maior crescia dentro dele e estava preste a sair. Um enorme lagarto de olhos amarelos e grandes presas surgiu. Tinha chifres na cabeça e um deles localizava-se sobre o focinho. Suas garras afiadíssimas arranhavam o chão emitindo um som ensurdecedor.
-Minha nossa, mas que coisa é essa? Exclamou Bal assustado.
-Não sei, mas parece faminto.
O lagarto virou na direção dos dois dando seus primeiros passos.
-Já sei quem vai ser o prato principal. Acho que seria bom se começássemos a correr.
Bal olhou para os lados.
-O labirinto! Temos que correr para dentro dele.
O garoto pegou a mão de Dafne que flutuava a seu lado e fugiu apressado. Os dois se dirigiam para a entrada da luz, mas Dafne o puxou pela roupa.
-Não. Por aí não.
-Mas todo mundo foi por esse caminho. Eu vi.
O rugido do lagarto se aproximava, não tinham muito tempo para ficarem discutindo. Dafne se adiantou e seguiu pelo caminho das sombras. Bal a acompanhou. Após um tempo de caminha concluíram que estavam perdidos. Algum tipo de força impedia que a ninfa subisse e ultrapassasse os limites superior dos muros, impedindo-a de ver o caminho para se orientar. Os urros do lagarto continuavam a serem ouvidos no labirinto, às vezes pareciam estar muito próximo, outras vezes muito distante.
-Por que você quis vir por este caminho? Não entendo.
-Só estou seguindo o que “aviso” dizia. Temos que passar despercebidos, sem chamar a atenção. O caminho das sombras é o melhor para isso pelo menos no início.
-Mas os outros disseram que há uma magia que pode fazer desaparecer. Isso iria ajudá-los.
-Você não sabe, mas nós conhecemos um pouco da história do Labirinto do Caçador. É por esse motivo que eles jamais deveriam ir pelo lado das luzes usando magia.
-Como assim? O que existe de tão terrível? Bal sentia-se curioso e com medo ao mesmo tempo.
-O observador.
-O observador? Repetiu Bal.
-Sim, praticamente nada escapa a sua visão, principalmente magia. Se eles usarem qualquer tipo de mágica, aí sim atrairão sua atenção. Na parte da luz não terão onde se esconder. Mary e Helian já deveriam saber disso.
-Não tem importância eu não sabia a magia mesmo.
Ele deu com os ombros.
-O que faremos?
-Iremos pelos cantos e bem quietos. Vamos torcer para não sermos notados pelo Observador, quem sabe assim consigamos passar pela primeira parte do labirinto. Precisamos continuar...
Dafne voava sobre o ombro direito de Bal.
-Você é mesmo um celestino?
-Sim, sou. Bal falava enquanto avançavam pelo corredor escuro.
-Sua atitude me impressionou muito antes de entrarmos no labirinto. Querendo ser castigado comigo.
Bal ficou quieto e não fez nenhum comentário.
-Você deve ter passado maus momentos na Cidade Superior.
O garoto percebeu onde Dafne queria chegar.
-Posso te dizer que não nos receberam de braços abertos.
-Nós? Você quer dizer que tem mais celestinos na Cidade Superior?
-Sim, tem o Arão e a Cassi, são meus amigos. Muitas pessoas nos odeiam. Querem distância de nós.
A lembrança de Odrin veio-lhe a mente, calafrios percorreram seu corpo.
-Acham que nossa presença entre eles é um erro. Nos tratam como se fôssemos de espécies diferentes. E nem mesmo nos conhecem direito...
-Eu sei o que você quer dizer com isso. Comentou Dafne olhando para seu rabo.
-Oras, mas seu rabo é bonitinho, não devia ter vergonha dele.
-É por causa dele que as pessoas me evitam. Riem de mim...
-Mas ele é tão simpático.
Na verdade era bem delicado.
-Acha mesmo? Dafne o balançava animada.
-Você tem que pensar assim. Ele a torna diferente de todas as outras. Aliás, ele tem um charme todo especial.
-É? Eu nunca tinha pensado desse modo.
Com seu jeito brincalhão Bal deixava Dafne bem à vontade. Ela tinha até se esquecido dos incidentes e mágoas anteriores.
Gritos foram ouvidos do outro lado do labirinto, o lado da luz.
-Será que eles estão bem? Perguntou o garoto.
Dafne não respondeu, mas Bal entendeu o significado da ausência de sua resposta. Eles não tinham como ajudá-los. Dafne fez uma oração mentalmente para os outros e depois quebrou o silêncio.
– Sabe, nós ninfas normalmente vivemos nas florestas, convivemos com os animais e as plantas. Passamos a maior parte do dia nos banhando e nos cuidando. Somos muito vaidosas. Observamos todos os que passam por nossas matas, mas quase nunca nos mostramos. A não ser que achemos que a pessoa mereça.
-Mas se vocês quase nunca aparecem e são tão vaidosas, como chegaram até nós?
-No início tudo era diferente e desempenhávamos papéis importantes, nas grandes guerras existiam magos que não estavam suficientemente preparados. Como a guerra não espera, nossa missão era ficar ao lado deles, apoiá-los, até que estivessem prontos. Porém, o tempo passa, as guerras acabam e os magos já não precisam mais de nós. Somos orgulhosas, uma ninfa não aceita rejeição, então começamos a migrar para as florestas. Longe daqueles que nos "dispensaram" e mais perto da natureza. Nos isolamos de tudo.
Dafne não parava mais de falar, se a história não fosse tão interessante, Bal teria se arrependido de tê-la elogiado para que se soltasse mais.
-Porém, há algum tempo atrás. Um grande sábio procurou nossa rainha e disse que tinha uma revelação a fazer.
-Vocês têm uma rainha? Bal fez a pergunta como se aquilo fosse algo totalmente inesperado.
Dafne fez um sinal de positivo com a cabeça e prosseguiu.
-Deve ter sido algo muito importante, pois aquilo a perturbou demais. Por muito tempo ela ficou indecisa sobre qual decisão tomar. Mas o tempo facilitou a sua resolução. As florestas já não são mais seguras, elas ficaram mudas. Os Bosques nos dão medo e neles os animais começaram a desenvolver sentimentos estranhos. Eles agora caçam por prazer e não por necessidade. Os pássaros não cantam como antes. As ninfas foram sumindo dentro das matas. Algumas jamais retornaram, as que voltaram ficaram irreconhecíveis, começaram a semear a discórdia entre nós. Não demorou muito e nossas aldeias estavam divididas em grupos
-Puxa! Que história. Exclamou Bal admirado.
-Foi quando nossa rainha começou a recrutar as ninfas mais jovens, levando-nos para longe, no coração da floresta, para iniciar um treinamento secreto. Quando retornamos, nosso mundo já não era mais o mesmo. Muitas se escondiam de nós, seu próprio povo.
Dafne se exaltou um pouco.
-Muitas coisas importantes estão para acontecer que irão mudar todo o sentido da existência. Nesta hora nós estaremos ao lado dos magos mais uma vez. O labirinto em que estamos já foi alvo de muitos magos e ninfas que quiseram atravessá-lo para conseguir poder e reconhecimento. Mas todos falharam, quer dizer quase todos, apenas um conseguiu. Os outros jamais saíram e seu destino foi um só.
-Sei que vou me arrepender por perguntar. Mas qual foi seu destino?
-O caçador. Respondeu Dafne.
-Eu sabia que ia me arrepender. Como é este caçador.
- Não sei. Acho que ninguém sabe.
-Mas você disse que um mago conseguiu vencer o labirinto. Ele poderia nos dizer.
-Não Balduíno, ele não é de falar muito. Ele nunca contou a ninguém como fez tal proeza. E olha que milhares tentaram conseguir a resposta.
-Mas e se tentarmos falar com o mago. Agora ele deve falar, pois é uma emergência.
-Ele não vai falar. Disse Dafne com convicção.
-Como você pode ter tanta certeza?
-Por que ele virou um lagarto.
-Você quer dizer Salum?
Dafne fez sinal de positivo com a cabeça.
-Pelo menos veja o lado bom estamos a salvo e nada aconteceu.
Bal nem tinha acabara de falar quando seu pé pisou sobre uma pedra solta. Esta se afundou emitindo um pequeno ruído. O chão começou a tremer e uma fenda começou a abrir-se da direita para esquerda. O buraco ia aumentando de tamanho, revelando muitas lanças fincadas ao chão.
-Corra!
Foi a única palavra que Dafne conseguiu gritar antes de Bal sair em disparada. Ele aumentava as passadas o mais rápido que podia, mas a fenda se alongava numa velocidade maior.
-Mais rápido, o final do corredor esta próximo.
Berrava Dafne, ela não estava perigo por que conseguia flutuar. O chão estava se acabando. Bal corria perto da parede, começava a ficar difícil manter o equilíbrio e as lanças dentro do buraco pareciam estar bem afiadas. A pequena faixa no solo que restava obrigava o garoto a caminhar a passadas largas com as costas grudadas na parede. Dafne o ajudava a equilibrar-se, pressionando seu peito contra a parede.
-Não vai dar. Eu vou cair. Eu vou cair. Bal não conseguia manter os olhos abertos.
-Cale-se e continue andando.
-Por que todas as mulheres gritam comigo?
-Vamos Balduíno! Falta pouco!
O final do corredor estava próximo, mas ele não ia conseguir.
-Pule! Ordenou Dafne.
O garoto pulou, o chão sumiu embaixo de seus pés. Ele agarrou-se à borda do buraco. Olhava para baixo onde as lanças o esperavam. Uma de suas mãos escapou, Dafne a segurou. Ele apoiou as duas mãos na borda e fazia força para subir. A ninfa o agarrou pela cintura e voava mais alto para erguê-lo. Conseguiu finalmente sair, sentou-se ofegante. Dafne o abraçou e tampou-lhe a boca. À frente deles um vulto negro com contornos de um colosso permanecia em pé observando o corredor.
O tempo passou e o ser não se mexia, os dois continuavam imóveis. A atenção dele foi despertada por alguma coisa que os dois não souberam explicar o que era. O colosso se moveu entre as paredes do labirinto se dirigindo para a parte de luz.
-O que era aquilo? Perguntou Bal.
-O observador.
-Eu pensei que ele ia tentar nos impedir. Nós estávamos bem a sua frente e ele não fez nada.
-Ele é praticamente imbatível as magias e consegue ver tudo o que se move ou esconde. Mas não consegue ver as coisas paradas a sua frente esse é o nosso trunfo.
-Mas como ele não bate nas paredes, elas estão paradas?
-Balduíno ele está aqui a mais tempo do você pode imaginar. Conhece este labirinto como a palma da mão.
-Você é muito inteligente creio que arranjei a parceira certa. Bem temos que continuar.
Os gritos recomeçaram na parte de luz do labirinto.
Ela se esperneava, mas mesmo assim Bal prosseguiu. Chegaram onde Salum estava, ele continuava ajoelhado. Seus cabelos escondiam seu rosto.
-Pronto chegamos. Disse Bal se dirigindo a Salum. -Agora podemos entrar?
-Eu já disse que não vou.
-Dafne! A voz de Salum era imperativa. -Você passou a sua existência inteira treinando para acompanhar e ajudar um mago. Muitas se sacrificaram para você estar aqui hoje. Você tomou o lugar de outras ninfas e agora quer renegar o seu destino?
Dafne ficou quieta e pensativa.
-O senhor tem razão.
Virou-se para Bal.
-Desculpe se o prejudiquei com o meu mal comportamento, farei de tudo para auxiliá-lo a se tornar um grande mago.
-Isso quer dizer que você vai entrar comigo no labirinto?
Ela fez um sinal de positivo com a cabeça.
-Maravilha! Gritou Bal. -Até que em fim estamos nos entendendo.
Salum abriu a mão, dela saiu um pó branco que envolveu todo o corpo de Dafne. A ninfa gritou de dor caindo no chão.
-Por que o senhor fez isso? Perguntou o garoto.
-Eu mereci Balduíno. Disse ela.
-Ela fugiu de sua missão. Explicou Salum.
-Então me puna também. Pediu Bal.
-Por quê? Questionou Salum.
-Já éramos para estar dentro do labirinto ajudando os outros a acender a chama do pilar. Mas não estamos. Eu me espantei com o rabo dela. Não a aceitei como era e acabei deixando-a constrangida.
Era uma das poucas vezes que Bal falara sério.
-Tem certeza disso?
-Tenho.
-Não! Não faça isso! Implorava Dafne. -A culpa foi minha.
-Não. Bal foi incisivo. -Nós somos uma dupla se você falhar, eu também falharei. Se você vencer, eu vencerei. Estamos no mesmo barco. Pode me punir.
Dafne se afastou, Salum jogou o pó em Bal. Ele gemeu de dor e caiu de joelhos. A atitude do garoto impressionou muito a ninfa.
-Isso doeu demais. Resmungou Bal enquanto Dafne o ajudava a se levantar. -Você poderia ter me avisar que doía bastante, ai eu teria desistido.
Ele sorriu para ela.
-Podemos entrar? Perguntou Bal.
-Vão logo, acendam a chama do pilar de Neith. A segurança de muitos depende disso. Não se esqueçam do aviso. O meu tempo se esgotou.
-Que aviso? Dafne perguntou cheia de curiosidade.
Bal repetiu as palavras do querubim.
-Rápido ou irão se arrepender de ficar aqui... O veneno...
Foi o último gemido de Salum antes de cair no chão. Protuberâncias começaram a surgir por todo seu corpo. Bal e Dafne se afastaram. A roupa do mago se rasgou toda, assim com sua pele. Uma mutação acontecia dentro de seu corpo. Parecia que algo maior crescia dentro dele e estava preste a sair. Um enorme lagarto de olhos amarelos e grandes presas surgiu. Tinha chifres na cabeça e um deles localizava-se sobre o focinho. Suas garras afiadíssimas arranhavam o chão emitindo um som ensurdecedor.
-Minha nossa, mas que coisa é essa? Exclamou Bal assustado.
-Não sei, mas parece faminto.
O lagarto virou na direção dos dois dando seus primeiros passos.
-Já sei quem vai ser o prato principal. Acho que seria bom se começássemos a correr.
Bal olhou para os lados.
-O labirinto! Temos que correr para dentro dele.
O garoto pegou a mão de Dafne que flutuava a seu lado e fugiu apressado. Os dois se dirigiam para a entrada da luz, mas Dafne o puxou pela roupa.
-Não. Por aí não.
-Mas todo mundo foi por esse caminho. Eu vi.
O rugido do lagarto se aproximava, não tinham muito tempo para ficarem discutindo. Dafne se adiantou e seguiu pelo caminho das sombras. Bal a acompanhou. Após um tempo de caminha concluíram que estavam perdidos. Algum tipo de força impedia que a ninfa subisse e ultrapassasse os limites superior dos muros, impedindo-a de ver o caminho para se orientar. Os urros do lagarto continuavam a serem ouvidos no labirinto, às vezes pareciam estar muito próximo, outras vezes muito distante.
-Por que você quis vir por este caminho? Não entendo.
-Só estou seguindo o que “aviso” dizia. Temos que passar despercebidos, sem chamar a atenção. O caminho das sombras é o melhor para isso pelo menos no início.
-Mas os outros disseram que há uma magia que pode fazer desaparecer. Isso iria ajudá-los.
-Você não sabe, mas nós conhecemos um pouco da história do Labirinto do Caçador. É por esse motivo que eles jamais deveriam ir pelo lado das luzes usando magia.
-Como assim? O que existe de tão terrível? Bal sentia-se curioso e com medo ao mesmo tempo.
-O observador.
-O observador? Repetiu Bal.
-Sim, praticamente nada escapa a sua visão, principalmente magia. Se eles usarem qualquer tipo de mágica, aí sim atrairão sua atenção. Na parte da luz não terão onde se esconder. Mary e Helian já deveriam saber disso.
-Não tem importância eu não sabia a magia mesmo.
Ele deu com os ombros.
-O que faremos?
-Iremos pelos cantos e bem quietos. Vamos torcer para não sermos notados pelo Observador, quem sabe assim consigamos passar pela primeira parte do labirinto. Precisamos continuar...
Dafne voava sobre o ombro direito de Bal.
-Você é mesmo um celestino?
-Sim, sou. Bal falava enquanto avançavam pelo corredor escuro.
-Sua atitude me impressionou muito antes de entrarmos no labirinto. Querendo ser castigado comigo.
Bal ficou quieto e não fez nenhum comentário.
-Você deve ter passado maus momentos na Cidade Superior.
O garoto percebeu onde Dafne queria chegar.
-Posso te dizer que não nos receberam de braços abertos.
-Nós? Você quer dizer que tem mais celestinos na Cidade Superior?
-Sim, tem o Arão e a Cassi, são meus amigos. Muitas pessoas nos odeiam. Querem distância de nós.
A lembrança de Odrin veio-lhe a mente, calafrios percorreram seu corpo.
-Acham que nossa presença entre eles é um erro. Nos tratam como se fôssemos de espécies diferentes. E nem mesmo nos conhecem direito...
-Eu sei o que você quer dizer com isso. Comentou Dafne olhando para seu rabo.
-Oras, mas seu rabo é bonitinho, não devia ter vergonha dele.
-É por causa dele que as pessoas me evitam. Riem de mim...
-Mas ele é tão simpático.
Na verdade era bem delicado.
-Acha mesmo? Dafne o balançava animada.
-Você tem que pensar assim. Ele a torna diferente de todas as outras. Aliás, ele tem um charme todo especial.
-É? Eu nunca tinha pensado desse modo.
Com seu jeito brincalhão Bal deixava Dafne bem à vontade. Ela tinha até se esquecido dos incidentes e mágoas anteriores.
Gritos foram ouvidos do outro lado do labirinto, o lado da luz.
-Será que eles estão bem? Perguntou o garoto.
Dafne não respondeu, mas Bal entendeu o significado da ausência de sua resposta. Eles não tinham como ajudá-los. Dafne fez uma oração mentalmente para os outros e depois quebrou o silêncio.
– Sabe, nós ninfas normalmente vivemos nas florestas, convivemos com os animais e as plantas. Passamos a maior parte do dia nos banhando e nos cuidando. Somos muito vaidosas. Observamos todos os que passam por nossas matas, mas quase nunca nos mostramos. A não ser que achemos que a pessoa mereça.
-Mas se vocês quase nunca aparecem e são tão vaidosas, como chegaram até nós?
-No início tudo era diferente e desempenhávamos papéis importantes, nas grandes guerras existiam magos que não estavam suficientemente preparados. Como a guerra não espera, nossa missão era ficar ao lado deles, apoiá-los, até que estivessem prontos. Porém, o tempo passa, as guerras acabam e os magos já não precisam mais de nós. Somos orgulhosas, uma ninfa não aceita rejeição, então começamos a migrar para as florestas. Longe daqueles que nos "dispensaram" e mais perto da natureza. Nos isolamos de tudo.
Dafne não parava mais de falar, se a história não fosse tão interessante, Bal teria se arrependido de tê-la elogiado para que se soltasse mais.
-Porém, há algum tempo atrás. Um grande sábio procurou nossa rainha e disse que tinha uma revelação a fazer.
-Vocês têm uma rainha? Bal fez a pergunta como se aquilo fosse algo totalmente inesperado.
Dafne fez um sinal de positivo com a cabeça e prosseguiu.
-Deve ter sido algo muito importante, pois aquilo a perturbou demais. Por muito tempo ela ficou indecisa sobre qual decisão tomar. Mas o tempo facilitou a sua resolução. As florestas já não são mais seguras, elas ficaram mudas. Os Bosques nos dão medo e neles os animais começaram a desenvolver sentimentos estranhos. Eles agora caçam por prazer e não por necessidade. Os pássaros não cantam como antes. As ninfas foram sumindo dentro das matas. Algumas jamais retornaram, as que voltaram ficaram irreconhecíveis, começaram a semear a discórdia entre nós. Não demorou muito e nossas aldeias estavam divididas em grupos
-Puxa! Que história. Exclamou Bal admirado.
-Foi quando nossa rainha começou a recrutar as ninfas mais jovens, levando-nos para longe, no coração da floresta, para iniciar um treinamento secreto. Quando retornamos, nosso mundo já não era mais o mesmo. Muitas se escondiam de nós, seu próprio povo.
Dafne se exaltou um pouco.
-Muitas coisas importantes estão para acontecer que irão mudar todo o sentido da existência. Nesta hora nós estaremos ao lado dos magos mais uma vez. O labirinto em que estamos já foi alvo de muitos magos e ninfas que quiseram atravessá-lo para conseguir poder e reconhecimento. Mas todos falharam, quer dizer quase todos, apenas um conseguiu. Os outros jamais saíram e seu destino foi um só.
-Sei que vou me arrepender por perguntar. Mas qual foi seu destino?
-O caçador. Respondeu Dafne.
-Eu sabia que ia me arrepender. Como é este caçador.
- Não sei. Acho que ninguém sabe.
-Mas você disse que um mago conseguiu vencer o labirinto. Ele poderia nos dizer.
-Não Balduíno, ele não é de falar muito. Ele nunca contou a ninguém como fez tal proeza. E olha que milhares tentaram conseguir a resposta.
-Mas e se tentarmos falar com o mago. Agora ele deve falar, pois é uma emergência.
-Ele não vai falar. Disse Dafne com convicção.
-Como você pode ter tanta certeza?
-Por que ele virou um lagarto.
-Você quer dizer Salum?
Dafne fez sinal de positivo com a cabeça.
-Pelo menos veja o lado bom estamos a salvo e nada aconteceu.
Bal nem tinha acabara de falar quando seu pé pisou sobre uma pedra solta. Esta se afundou emitindo um pequeno ruído. O chão começou a tremer e uma fenda começou a abrir-se da direita para esquerda. O buraco ia aumentando de tamanho, revelando muitas lanças fincadas ao chão.
-Corra!
Foi a única palavra que Dafne conseguiu gritar antes de Bal sair em disparada. Ele aumentava as passadas o mais rápido que podia, mas a fenda se alongava numa velocidade maior.
-Mais rápido, o final do corredor esta próximo.
Berrava Dafne, ela não estava perigo por que conseguia flutuar. O chão estava se acabando. Bal corria perto da parede, começava a ficar difícil manter o equilíbrio e as lanças dentro do buraco pareciam estar bem afiadas. A pequena faixa no solo que restava obrigava o garoto a caminhar a passadas largas com as costas grudadas na parede. Dafne o ajudava a equilibrar-se, pressionando seu peito contra a parede.
-Não vai dar. Eu vou cair. Eu vou cair. Bal não conseguia manter os olhos abertos.
-Cale-se e continue andando.
-Por que todas as mulheres gritam comigo?
-Vamos Balduíno! Falta pouco!
O final do corredor estava próximo, mas ele não ia conseguir.
-Pule! Ordenou Dafne.
O garoto pulou, o chão sumiu embaixo de seus pés. Ele agarrou-se à borda do buraco. Olhava para baixo onde as lanças o esperavam. Uma de suas mãos escapou, Dafne a segurou. Ele apoiou as duas mãos na borda e fazia força para subir. A ninfa o agarrou pela cintura e voava mais alto para erguê-lo. Conseguiu finalmente sair, sentou-se ofegante. Dafne o abraçou e tampou-lhe a boca. À frente deles um vulto negro com contornos de um colosso permanecia em pé observando o corredor.
O tempo passou e o ser não se mexia, os dois continuavam imóveis. A atenção dele foi despertada por alguma coisa que os dois não souberam explicar o que era. O colosso se moveu entre as paredes do labirinto se dirigindo para a parte de luz.
-O que era aquilo? Perguntou Bal.
-O observador.
-Eu pensei que ele ia tentar nos impedir. Nós estávamos bem a sua frente e ele não fez nada.
-Ele é praticamente imbatível as magias e consegue ver tudo o que se move ou esconde. Mas não consegue ver as coisas paradas a sua frente esse é o nosso trunfo.
-Mas como ele não bate nas paredes, elas estão paradas?
-Balduíno ele está aqui a mais tempo do você pode imaginar. Conhece este labirinto como a palma da mão.
-Você é muito inteligente creio que arranjei a parceira certa. Bem temos que continuar.
Os gritos recomeçaram na parte de luz do labirinto.
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