Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus escrita por cardozo


Capítulo 28
Capítulo 11 -A Lua de Sangue, Terceira Noite. PIII




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-Ei! O que você está fazendo? Me solte!
Ela se esperneava, mas mesmo assim Bal prosseguiu. Chegaram onde Salum estava, ele continuava ajoelhado. Seus cabelos escondiam seu rosto.
-Pronto chegamos. Disse Bal se dirigindo a Salum. -Agora podemos entrar?
-Eu já disse que não vou.
-Dafne! A voz de Salum era imperativa. -Você passou a sua existência inteira treinando para acompanhar e ajudar um mago. Muitas se sacrificaram para você estar aqui hoje. Você tomou o lugar de outras ninfas e agora quer renegar o seu destino?
Dafne ficou quieta e pensativa.
-O senhor tem razão.
Virou-se para Bal.
-Desculpe se o prejudiquei com o meu mal comportamento, farei de tudo para auxiliá-lo a se tornar um grande mago.
-Isso quer dizer que você vai entrar comigo no labirinto?
Ela fez um sinal de positivo com a cabeça.
-Maravilha! Gritou Bal. -Até que em fim estamos nos entendendo.
Salum abriu a mão, dela saiu um pó branco que envolveu todo o corpo de Dafne. A ninfa gritou de dor caindo no chão.
-Por que o senhor fez isso? Perguntou o garoto.
-Eu mereci Balduíno. Disse ela.
-Ela fugiu de sua missão. Explicou Salum.
-Então me puna também. Pediu Bal.
-Por quê? Questionou Salum.
-Já éramos para estar dentro do labirinto ajudando os outros a acender a chama do pilar. Mas não estamos. Eu me espantei com o rabo dela. Não a aceitei como era e acabei deixando-a constrangida.
Era uma das poucas vezes que Bal falara sério.
-Tem certeza disso?
-Tenho.
-Não! Não faça isso! Implorava Dafne. -A culpa foi minha.
-Não. Bal foi incisivo. -Nós somos uma dupla se você falhar, eu também falharei. Se você vencer, eu vencerei. Estamos no mesmo barco. Pode me punir.
Dafne se afastou, Salum jogou o pó em Bal. Ele gemeu de dor e caiu de joelhos. A atitude do garoto impressionou muito a ninfa.
-Isso doeu demais. Resmungou Bal enquanto Dafne o ajudava a se levantar. -Você poderia ter me avisar que doía bastante, ai eu teria desistido.
Ele sorriu para ela.
-Podemos entrar? Perguntou Bal.
-Vão logo, acendam a chama do pilar de Neith. A segurança de muitos depende disso. Não se esqueçam do aviso. O meu tempo se esgotou.
-Que aviso? Dafne perguntou cheia de curiosidade.
Bal repetiu as palavras do querubim.
-Rápido ou irão se arrepender de ficar aqui... O veneno...
Foi o último gemido de Salum antes de cair no chão. Protuberâncias começaram a surgir por todo seu corpo. Bal e Dafne se afastaram. A roupa do mago se rasgou toda, assim com sua pele. Uma mutação acontecia dentro de seu corpo. Parecia que algo maior crescia dentro dele e estava preste a sair. Um enorme lagarto de olhos amarelos e grandes presas surgiu. Tinha chifres na cabeça e um deles localizava-se sobre o focinho. Suas garras afiadíssimas arranhavam o chão emitindo um som ensurdecedor.
-Minha nossa, mas que coisa é essa? Exclamou Bal assustado.
-Não sei, mas parece faminto.
O lagarto virou na direção dos dois dando seus primeiros passos.
-Já sei quem vai ser o prato principal. Acho que seria bom se começássemos a correr.
Bal olhou para os lados.
-O labirinto! Temos que correr para dentro dele.
O garoto pegou a mão de Dafne que flutuava a seu lado e fugiu apressado. Os dois se dirigiam para a entrada da luz, mas Dafne o puxou pela roupa.
-Não. Por aí não.
-Mas todo mundo foi por esse caminho. Eu vi.
O rugido do lagarto se aproximava, não tinham muito tempo para ficarem discutindo. Dafne se adiantou e seguiu pelo caminho das sombras. Bal a acompanhou. Após um tempo de caminha concluíram que estavam perdidos. Algum tipo de força impedia que a ninfa subisse e ultrapassasse os limites superior dos muros, impedindo-a de ver o caminho para se orientar. Os urros do lagarto continuavam a serem ouvidos no labirinto, às vezes pareciam estar muito próximo, outras vezes muito distante.
-Por que você quis vir por este caminho? Não entendo.
-Só estou seguindo o que “aviso” dizia. Temos que passar despercebidos, sem chamar a atenção. O caminho das sombras é o melhor para isso pelo menos no início.
-Mas os outros disseram que há uma magia que pode fazer desaparecer. Isso iria ajudá-los.
-Você não sabe, mas nós conhecemos um pouco da história do Labirinto do Caçador. É por esse motivo que eles jamais deveriam ir pelo lado das luzes usando magia.
-Como assim? O que existe de tão terrível? Bal sentia-se curioso e com medo ao mesmo tempo.
-O observador.
-O observador? Repetiu Bal.
-Sim, praticamente nada escapa a sua visão, principalmente magia. Se eles usarem qualquer tipo de mágica, aí sim atrairão sua atenção. Na parte da luz não terão onde se esconder. Mary e Helian já deveriam saber disso.
-Não tem importância eu não sabia a magia mesmo.
Ele deu com os ombros.
-O que faremos?
-Iremos pelos cantos e bem quietos. Vamos torcer para não sermos notados pelo Observador, quem sabe assim consigamos passar pela primeira parte do labirinto. Precisamos continuar...
Dafne voava sobre o ombro direito de Bal.
-Você é mesmo um celestino?
-Sim, sou. Bal falava enquanto avançavam pelo corredor escuro.
-Sua atitude me impressionou muito antes de entrarmos no labirinto. Querendo ser castigado comigo.
Bal ficou quieto e não fez nenhum comentário.
-Você deve ter passado maus momentos na Cidade Superior.
O garoto percebeu onde Dafne queria chegar.
-Posso te dizer que não nos receberam de braços abertos.
-Nós? Você quer dizer que tem mais celestinos na Cidade Superior?
-Sim, tem o Arão e a Cassi, são meus amigos. Muitas pessoas nos odeiam. Querem distância de nós.
A lembrança de Odrin veio-lhe a mente, calafrios percorreram seu corpo.
-Acham que nossa presença entre eles é um erro. Nos tratam como se fôssemos de espécies diferentes. E nem mesmo nos conhecem direito...
-Eu sei o que você quer dizer com isso. Comentou Dafne olhando para seu rabo.
-Oras, mas seu rabo é bonitinho, não devia ter vergonha dele.
-É por causa dele que as pessoas me evitam. Riem de mim...
-Mas ele é tão simpático.
Na verdade era bem delicado.
-Acha mesmo? Dafne o balançava animada.
-Você tem que pensar assim. Ele a torna diferente de todas as outras. Aliás, ele tem um charme todo especial.
-É? Eu nunca tinha pensado desse modo.
Com seu jeito brincalhão Bal deixava Dafne bem à vontade. Ela tinha até se esquecido dos incidentes e mágoas anteriores.
Gritos foram ouvidos do outro lado do labirinto, o lado da luz.
-Será que eles estão bem? Perguntou o garoto.
Dafne não respondeu, mas Bal entendeu o significado da ausência de sua resposta. Eles não tinham como ajudá-los. Dafne fez uma oração mentalmente para os outros e depois quebrou o silêncio.
– Sabe, nós ninfas normalmente vivemos nas florestas, convivemos com os animais e as plantas. Passamos a maior parte do dia nos banhando e nos cuidando. Somos muito vaidosas. Observamos todos os que passam por nossas matas, mas quase nunca nos mostramos. A não ser que achemos que a pessoa mereça.
-Mas se vocês quase nunca aparecem e são tão vaidosas, como chegaram até nós?
-No início tudo era diferente e desempenhávamos papéis importantes, nas grandes guerras existiam magos que não estavam suficientemente preparados. Como a guerra não espera, nossa missão era ficar ao lado deles, apoiá-los, até que estivessem prontos. Porém, o tempo passa, as guerras acabam e os magos já não precisam mais de nós. Somos orgulhosas, uma ninfa não aceita rejeição, então começamos a migrar para as florestas. Longe daqueles que nos "dispensaram" e mais perto da natureza. Nos isolamos de tudo.
Dafne não parava mais de falar, se a história não fosse tão interessante, Bal teria se arrependido de tê-la elogiado para que se soltasse mais.
-Porém, há algum tempo atrás. Um grande sábio procurou nossa rainha e disse que tinha uma revelação a fazer.
-Vocês têm uma rainha? Bal fez a pergunta como se aquilo fosse algo totalmente inesperado.
Dafne fez um sinal de positivo com a cabeça e prosseguiu.
-Deve ter sido algo muito importante, pois aquilo a perturbou demais. Por muito tempo ela ficou indecisa sobre qual decisão tomar. Mas o tempo facilitou a sua resolução. As florestas já não são mais seguras, elas ficaram mudas. Os Bosques nos dão medo e neles os animais começaram a desenvolver sentimentos estranhos. Eles agora caçam por prazer e não por necessidade. Os pássaros não cantam como antes. As ninfas foram sumindo dentro das matas. Algumas jamais retornaram, as que voltaram ficaram irreconhecíveis, começaram a semear a discórdia entre nós. Não demorou muito e nossas aldeias estavam divididas em grupos
-Puxa! Que história. Exclamou Bal admirado.
-Foi quando nossa rainha começou a recrutar as ninfas mais jovens, levando-nos para longe, no coração da floresta, para iniciar um treinamento secreto. Quando retornamos, nosso mundo já não era mais o mesmo. Muitas se escondiam de nós, seu próprio povo.
Dafne se exaltou um pouco.
-Muitas coisas importantes estão para acontecer que irão mudar todo o sentido da existência. Nesta hora nós estaremos ao lado dos magos mais uma vez. O labirinto em que estamos já foi alvo de muitos magos e ninfas que quiseram atravessá-lo para conseguir poder e reconhecimento. Mas todos falharam, quer dizer quase todos, apenas um conseguiu. Os outros jamais saíram e seu destino foi um só.
-Sei que vou me arrepender por perguntar. Mas qual foi seu destino?
-O caçador. Respondeu Dafne.
-Eu sabia que ia me arrepender. Como é este caçador.
- Não sei. Acho que ninguém sabe.
-Mas você disse que um mago conseguiu vencer o labirinto. Ele poderia nos dizer.
-Não Balduíno, ele não é de falar muito. Ele nunca contou a ninguém como fez tal proeza. E olha que milhares tentaram conseguir a resposta.
-Mas e se tentarmos falar com o mago. Agora ele deve falar, pois é uma emergência.
-Ele não vai falar. Disse Dafne com convicção.
-Como você pode ter tanta certeza?
-Por que ele virou um lagarto.
-Você quer dizer Salum?
Dafne fez sinal de positivo com a cabeça.
-Pelo menos veja o lado bom estamos a salvo e nada aconteceu.
Bal nem tinha acabara de falar quando seu pé pisou sobre uma pedra solta. Esta se afundou emitindo um pequeno ruído. O chão começou a tremer e uma fenda começou a abrir-se da direita para esquerda. O buraco ia aumentando de tamanho, revelando muitas lanças fincadas ao chão.
-Corra!
Foi a única palavra que Dafne conseguiu gritar antes de Bal sair em disparada. Ele aumentava as passadas o mais rápido que podia, mas a fenda se alongava numa velocidade maior.
-Mais rápido, o final do corredor esta próximo.
Berrava Dafne, ela não estava perigo por que conseguia flutuar. O chão estava se acabando. Bal corria perto da parede, começava a ficar difícil manter o equilíbrio e as lanças dentro do buraco pareciam estar bem afiadas. A pequena faixa no solo que restava obrigava o garoto a caminhar a passadas largas com as costas grudadas na parede. Dafne o ajudava a equilibrar-se, pressionando seu peito contra a parede.
-Não vai dar. Eu vou cair. Eu vou cair. Bal não conseguia manter os olhos abertos.
-Cale-se e continue andando.
-Por que todas as mulheres gritam comigo?
-Vamos Balduíno! Falta pouco!
O final do corredor estava próximo, mas ele não ia conseguir.
-Pule! Ordenou Dafne.
O garoto pulou, o chão sumiu embaixo de seus pés. Ele agarrou-se à borda do buraco. Olhava para baixo onde as lanças o esperavam. Uma de suas mãos escapou, Dafne a segurou. Ele apoiou as duas mãos na borda e fazia força para subir. A ninfa o agarrou pela cintura e voava mais alto para erguê-lo. Conseguiu finalmente sair, sentou-se ofegante. Dafne o abraçou e tampou-lhe a boca. À frente deles um vulto negro com contornos de um colosso permanecia em pé observando o corredor.
O tempo passou e o ser não se mexia, os dois continuavam imóveis. A atenção dele foi despertada por alguma coisa que os dois não souberam explicar o que era. O colosso se moveu entre as paredes do labirinto se dirigindo para a parte de luz.
-O que era aquilo? Perguntou Bal.
-O observador.
-Eu pensei que ele ia tentar nos impedir. Nós estávamos bem a sua frente e ele não fez nada.
-Ele é praticamente imbatível as magias e consegue ver tudo o que se move ou esconde. Mas não consegue ver as coisas paradas a sua frente esse é o nosso trunfo.
-Mas como ele não bate nas paredes, elas estão paradas?
-Balduíno ele está aqui a mais tempo do você pode imaginar. Conhece este labirinto como a palma da mão.
-Você é muito inteligente creio que arranjei a parceira certa. Bem temos que continuar.
Os gritos recomeçaram na parte de luz do labirinto.

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