Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus escrita por cardozo


Capítulo 23
Capítulo 10 - A Lua de Sangue, Segunda Noite. PIII




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-O que faremos agora? Bal esperava que Arão lhe desse uma resposta tranqüilizadora, mas sabia que era impossível. Estavam ali expostos no corredor.

Os passos se aproximavam, a luz da janela logo lhes mostrariam o que era... Um pé delicado e descalço apareceu,  logo depois o outro. Os tornozelos finos exibiam em um deles uma tornozeleira dourada.  As pernas entrelaçadas por um vestido branco transparente e a cintura fina  se locomoviam no mesmo ritmo dos passos desgovernados... Era Damira que caminhava com dificuldade. A luz do luar iluminava todo seu corpo, ela estendeu a mão e perdeu o equilíbrio, vindo a tombar para frente. Arão foi rápido, adiantou-se impedindo que seu corpo tocasse o solo. Ela estava semi consciente  em seus braços.

-Damira você está bem? O que aconteceu?

A garota tentava responder, mas era difícil para as palavras saírem.  Se sentia novamente segura, porém alguns gritos vindo de perto afastaram essa sensação.

Arão a conduziu junto com Bal na direção dos gritos. Avistaram uma entrada pela qual passaram. O assombro veio em seguida, Cassi estava ajoelhada com um punhal na mão, e em seu colo, uma garota repousava com um líquido escuro escorrendo de seu abdômen. No mesmo instante as outras entradas foram preenchidas por corpos que também ouviram os gritos. Dentre eles estavam alguns anjos e os outros candidatos a guardiões. Uma das garotas que estava ao chão gritou.

-Ela... Ela a matou... Matou Ingrid...

Cassi ficou pálida. Pensavam que ela tinha matado a garota quando na verdade ela tinha tentando fazer o contrário. Salvá-la. Arão e Bal não sabiam o que fazer.  Odrin que estava do outro lado do salão viu sua irmã sendo amparada pelo garoto celestino e partiu  imediatamente para cima dele.

-O que você pensa que vai fazer com minha irmã? Estava segurando para ser a próxima vítima de sua amiguinha?

-Mas eu não fiz nada! Gritou Cassi.

Uma confusão se armou, até que...

-Silêncio todos! Os fatos aqui são obscuros e confusos. Precisamos esclarecer tudo antes de darmos qualquer julgamento.

A pessoa que falava impôs todo seu respeito.

-Mas Medar...

Odrin começou a reclamar.

–Quieto! Não vamos nos precipitar. Quero que todos voltem para seus quartos.

Pegou o punhal do chão.  Amagus que estava a seu lado perguntou.

-Como isto pode ter vindo parar aqui?

–isto é uma boa pergunta. Reúna todo conselho imediatamente. Ordenou Medar.

Odrin tirou Damira dos braços de Arão, no mesmo instante que seu pai  chegava.

-Você! Seu rosto foi ficando vermelho enquanto se aproximava da filha. -É uma vergonha, jamais permitirei que chegue perto desse garoto, sofrerá as devidas punições.

-Mas pai eu não...

-Não diga mais nada, eu não quero mais vê-la junto com este povo.

Olhou com desprezo para os celestinos.

-Você quer se tornar igual a seu irmão Einar? Nos envergonhar novamente?

-Não...

-Espero que desta vez aprenda...

Arão se intrometeu na conversa.

-Mas meu senhor ela precisava de ajuda, nos só ...

-Como ousa me dirigir à palavra! Se ela estava em apuros, deviam tê-la deixado. Se este era seu destino...

Deu as costas para Arão partindo com a garota em seus braços.

 

 

 

            Na manhã seguinte os três passeavam pelos jardins. Ninguém conseguiu dormir mais a noite passada. A garoa  fina que começara cedo, já não caia mais. A relva matinal molhava seus  pés enquanto caminhavam. Apesar de Medar ter reunido a todos e fazer um discurso sobre a inocência de Cassi. A garota achava que muitos não se convenceram ou ainda pensavam que ela estava ajudando quem quer que tivesse matado a candidata a deusa.

-Tudo isso está me parecendo muito estranho. Bal coçou a cabeça levemente. -O que você estava fazendo lá Cassi?

A pergunta pegou a garota de surpresa.

-Bem... Eu estava entediada no meu quarto e decidi dar uma volta. Gaguejava um pouco para encontrar as palavras. –Aí, eu estava andando pelos corredores e vi uma garota caída. O que eu poderia fazer? Fui ajudá-la...

Não sabia se suas palavras estavam convencendo os dois, mas não conseguia pensar em  nada para dizer naquele momento. Seu olhar cruzou com o de Arão que permanecia calado ouvindo.

-Mas não faz sentido. Você sabia muito bem que não podia sair do quarto por nenhum motivo sequer. Prosseguiu Bal com suas repreensões.

-Eu sei, eu sei...

Não sabia  mais como fugir daquela situação. Só queria que ela terminasse. Ficou muito aliviada quando Arão interrompeu.

-Vejam.

Arão  apontou para um grupo das garotas, com vestimentas brancas, que se desprendiam do corpo com a passagem das brisas. Elas estavam sentadas em posição de medição. Os olhos se encontravam fechados. A copa de uma árvore lhes davam proteção contra a luz do sol que começava a surgir.

          A frente  delas uma mulher que também trajava vestimentas brancas ocupava suas atenções. Ao seu lado Inimis observava a chegada deles com olhar reprovador.

-O mais importante é vocês manterem a concentração. Esqueçam de tudo o que está a sua volta. Procurem buscar dentro de cada uma o equilíbrio e verão que a força interior que possuem é maior do que qualquer outra.

A mulher falava  passivamente.

-Respirem e aspirem. Sintam a energia fluir por todas as partes de seus corpos. Vocês têm que dominar esta energia e usá-la em nosso favor.

Inimis continuava a observar tudo a sua volta.

-São as candidatas a deusas. Exclamou Bal.

-Olhem quem está de cão de guarda, nosso fã número um.

Cassi falava aliviada já que as atenções não estavam mais sobre ela.

-Tenho certeza que ele está louco para vir até aqui e nos dar um abraço. Comentou Arão com sarcasmo.

Os jovens podiam jurar que se lhe fosse permitido Inimis os tiraria a força dali.

-Deve estar mesmo por que ele não tira os olhos  de nós. Bal sorriu para Arão antes de prosseguir. - Ele nutre um carinho todo especial por nós três.

Arão respondeu sem tirar os olhos das meninas.

-Ele odeia toda nossa raça. Vamos nos aproximar mais.

-Você deve estar brincando. A face de espanto de Bal era evidente. -Inimis vai nos matar se chegarmos mais perto.

-Bal não estamos fazendo nada de errado, iremos apenas olhar.

-Para Inimis nossa presença aqui já é um erro. Concluiu Bal.

-Deixe disso Bal, também estou curiosa para ver o treinamento delas.

Cassi puxou Bal pelo braço. Aproximaram-se mais do grupo. A medida que isto acontecia a expressão de poucos amigos no rosto de Inimis ia piorando. A mulher, porém continuava a falar ignorando a tudo. A presença deles parecia indiferente para ela.

-Isso continuem, estão indo muito bem. Concentrem-se, não esqueçam a importância de respirar e inspirar longa e profundamente. Achem o equilíbrio dentro de vocês e conseguirão fluir a energia. Todos os corpos a possuem, isso lhes dá vida, mas muitas vezes a energia que os governa fica desequilibrada, não dando condições de lutar contra as adversidades.

Ela respirou e fechou os olhos antes de prosseguir.

-Nós podemos ajudá-los transmitindo-lhes as nossas. Tentem fazer a de vocês fluírem o máximo que puderem.

Uma a uma as garotas começaram a levitar, afastando-se poucos centímetros do solo, seus cabelos voavam livremente, como se uma brisa os tocasse.

-Isso. Não se esqueçam da respiração. A mulher parecia muito satisfeita consigo mesma.

Os três observavam tudo com muito interesse. Uma das garotas subiu um pouco mais que as outras, descruzou as pernas e ficou em pé, flutuando sobre o solo.

-Jenya. O que você está fazendo? Volte para a posição básica. 

A mulher ergueu o tom de voz.

-Olhem, esta foi à garota que fugiu para o corredor quando eu estava com o... Cassi tinha dificuldade para terminar a frase. -Punhal...

-Ela foi encontrada por Medar e os outros caída em um dos corredores, enquanto eles faziam uma busca para achar os culpados pela morte...

Bal evitou continuar para não machucar mais a amiga, entretanto acrescentou.

-Dizem estava inconsciente e não se lembrava do que havia acontecido.

Jenya continuava com os olhos fechados. Suas sobrancelhas se arquearam e a feição de seu rosto se alterou, demonstrando grande dor e sofrimento. Os punhos cerrados permaneciam colados ao corpo.

-Não! Não! Afaste-se de mim. A voz de Jenya foi aumentando de intensidade. -Me deixe em paz.

Todas as garotas saíram do transe e olhavam assustadas para Jenya.  A mulher tentava se aproximar, mas uma forte corrente de ar expelida do corpo da garota a impedia. Todos se espantaram mais ainda quando  a expressão de dor mudou para raiva.

-Jenya, tente se concentrar. Gritava a mulher com as mãos sobre o rosto para se proteger.

A corrente de ar aumentava sua intensidade a cada minuto.

-Ele está aqui. Eu posso sentir, mas onde? Nãããooo. Ele esta dentro de mim, posso ouvi-lo me chamando.

-Quem está dentro de você Jenya?

Os braços de Jenya se abriram, seus punhos continuavam cerrados. Suas feições se tornaram malignas.

-Jenya! Responda!

As mãos da menina se abriram. As pálpebras de seus olhos se moveram. Sua íris tinha coloração branca.

-Ela não pode responder agora.

A voz que veio da garota era uma voz demoníaca.

-Quem é você? Perguntou a mulher.

-Não... Não... A voz voltou a ser de Jenya. Parecia estar lutando contra algo dentro de si.

-Jenya! Concentre-se, você consegue.  A mulher  praticamente implorava.

-Você não vai conseguir.  Gritou Jenya o mais alto que pode.

O vento parou. A íris recuperou a cor negra, sua feição maligna foi sumindo vagarosamente, não antes de dar um último sorriso. Sua face perdeu a cor e seu rosto ficou lívido antes dela cair ao solo.

Os rostos espantados observavam a cena. Pairava no ar um misto de medo e desconfiança. A mulher e Inimis se aproximaram do corpo de Jenya.

-Ela está bem, mas muito fraca, precisamos levá-la ao templo, rápido.  Disse Inimis.

-Não entendo o que aconteceu.  A mulher levantou Jenya.

-A culpa é deles. Inimis apontou para os três. -São uma ameaça a todos, trouxeram com eles  o mal para o Santuário.

Arão ameaçou esboçar uma reação, mas Cassi o conteve.

-E você garota? Continuou Inimis fixando o olhar em Cassi. -Deve estar se divertindo com tudo isso. Ontem não foi o suficiente. Jovem traidora.

As palavras atingiram fundo Cassi.

-Chega Inimis. Temos que levá-la. Que marcas são essas no braço dela, parecem pequenos furos...

Questionou a mulher.

Ele tomou a garota das mãos da mulher e levou-a no colo. As outras jovens candidatas à deusa seguiram-nos.

-Vamos sair daqui.

Bal puxou os dois para longe. A última coisa que Arão viu foi o rosto amedrontado de Damira indo embora.

 

 

 

Ninguém pronunciava qualquer som, Bal quebrou o silêncio com uma sugestão.

-Já sei o que faremos.

Olhou para Arão, mas ele estava perdido em seus pensamentos. Virou-se para Cassi, ela parecia carregar todo o peso do mundo em suas costas. Seu olhar era triste e as cores tinham sumido de seu rosto.

-Ânimo vocês dois. Vamos a taberna Circense? Podemos comer alguma coisa lá. O que vocês acham?

 Aonde? Arão despertou de seu transe. -Como você sabe da existência deste lugar?

-Você acha que fico a noite só com conversas bobas no espelho de Alfeu?

-Sim eu acho.

-Acertou. É por isso que sei de lugares assim e você não.

-Eu não estou com fome Bal. Quero apenas ficar sozinha. Comentou Cassi.

-Mas não vai mesmo. Insistiu Bal.

-Nós vamos é comer um pouco. Ei Arão! Estou precisando de um apoio aqui.

-Claro, vamos a essa taberna.

Arão estava desconfiado da proposta de Bal, mas como não tinham nada para fazer. Isso talvez distraísse um pouco Cassi.

-Como dizia o grande sábio: “Barriga cheia, ânimo melhor”.

-Que sábio que disse isso Bal? Perguntou Cassi parecendo desconhecer o provérbio.

-Ora! Quem mais do que o grande sábio Balduíno!

-Aaa! Bal fique quieto.

Cassi deu-lhe um pequeno empurrão, e sorriu. Realmente a taberna parecia uma ótima sugestão, pelo menos estaria livre de aborrecimentos. Nenhum deles se atreveu a comentar o que havia acontecido, mas a imagem de Jenya não lhes saia da mente e o medo também.

 

Atravessaram os jardins  seguindo entre várias construções rústicas.

-Bal, você tem certeza que sabe onde fica essa tal taberna Circense? Perguntou Arão. -Já estamos caminhando há muito tempo e nada dela.

-Fique calmo, deve ser depois daquele monumento ali.

-Bal, acho que estamos perdidos, nós já passamos por aqui e acabamos virando à direita.  Comentou Cassi.

-Por isso que dessa vez vamos virar à esquerda.


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