As Crônicas de um Arcanjo escrita por Lopes


Capítulo 3
Mestre vs Discípulo




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O arconte se encontrava de pé, em meio a um salão, o Tribunal de Fogo. Um local onde eram julgados todos os que fossem contra as ordens do Arcanjo Gabriel. Uma arena com um formato de meia-lua, as arquibancadas cheias dos seguidores de Gabriel. No palco, o Arcanjo se encontrava sentado em um pequeno trono, apenas observando o que se passava. Encarava com tristeza os quinze insurgentes ajoelhados em meio a arena.

– Sob a acusação de roubo de escrituras sagradas e conspiração contra a Ordem Divina e contra o Criador, condeno-os a morte! - falou Jerusael, o arconte. Das laterais da sala destacaram-se querubins que faziam a guarda e agarraram os condenados pelas algemas que inibiam suas auras

– Esperem... – suspirou o Mensageiro, quando retiravam o ultimo e possível líder dos revoltados – Este fica – Apontou para Zerachiel, o celeste ruivo que encarava o chão. O Arcanjo caminhou com as mãos nas costas até o celeste ajoelhado e se abaixou diante dele – Só preciso perguntar o por que disso tudo. Toda essa bagunça. Eu confiei em você. Eu te acolhi, te treinei quando todos te rejeitavam por causa do seu poder e você me apunhala pelas costas? – indagou Gabriel. Zerachiel ainda encarava o chão. – Responda-me! Para envenenar meus seguidores contra mim você o faz de cabeça erguida, mas para se explicar não a levanta? – Se exaltou o Mensageiro, coisa que era quase impossível. O ruivo levantou a cabeça, com ódio e amargura em seu rosto.

– Eu te traí? Eu traí a Ordem Divina? – Urrou o celeste – Você está muito enganado, Mensageiro. Você quem traiu o Criador ao apoiar a hecatombe. Você traiu o Criador ao exterminar a raça humana. Quando vocês, Arcanjos irão perceber que os humanos são os verdadeiros herdeiros deste universo e não nós? Quando irão perceber que a nossa única missão aqui é guiá-los?

Aquelas palavras ecoaram na mente de Gabriel. O celeste tinha razão, mas ele não iria fraquejar em frente à sua legião de seguidores que assistiam a discussão. - Levem-no – disse ao querubim atrás de Zerachiel, se levantando e caminhando de volta para o trono

– Se pensa que morrerei com desonra, está muito enganado, Gabriel. Se não encontro a justiça em seu julgamento, a encontrarei no campo de batalha. Eu o desafio para um Agni Kai, Mestre do Fogo! – cuspiu as palavras, causando um silencio absoluto no tribunal. O Arcanjo parou na metade do caminho mas não se virou.

– Que assim seja...- sussurrou.

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Agni Kai. O duelo entre dois celestes, criado por Gabriel. A luta consistia em um embate até a morte entre dois anjos de mesma natureza. O uso de qualquer instrumento que auxiliasse na batalha era proibido. O Mensageiro sempre assistia os embates, mas nunca se imaginou em um. Nunca houvera um anjo louco o suficiente para desafiá-lo para uma luta até a morte. Os boatos se espalharam e o Primeiro Céu parou para assistir. A pequena arena que lembrava o Coliseu romano se encontrava lotada e vários anjos eram vistos planando no céu.

Os dois desafiantes entraram na arena e caminharam em direção ao centro. O arconte que ditara a sentença anteriormente se encontrava ali. Os dois pararam frente a frente e todos perceberam que Zerachiel era visivelmente mais alto, com seus 1,90m, do que o Mestre do Fogo, que tinha os seus 1,75m.

– Queremos uma luta justa. Não serão permitidos... – começou a falar, antes de ser interrompido por Gabriel.

– Não preciso que dite as regras para mim, Jerusael. Eu criei este torneio, creio que as conheço bem. – disse o Arcanjo, encarando o arauto com indiferença.

– Bem, então retornem as suas extremidades – respondeu, sem graça – Assim que eu me retirar do centro, vocês poderão começar o embate. Ambos assentiram com a cabeça e viraram-se para seus lugares. Na caminhada de volta, Gabriel avistou um visitante inusitado no meio da legião de celestes. Lúcifer sorria para o irmão. Assim que percebeu que Gabriel o encarava, ele fez um gesto de como quem tira um chapéu da cabeça. Gabriel balançou a cabeça em negação, o que fez Lúcifer dar uma gargalhada.

– Atenção – gritou o arconte, chamando a atenção de todos os presentes – Iremos começar em 3, 2, 1. Agora – Terminou a contagem, abriu suas asas e voou para cima. Gabriel caminhou uma distancia de dois metros para frente e parou com os braços para trás, despertando a curiosidade e surpresa de todos já que aquele era um combate até a morte.

– Você não vai atacar? – indagou Zerachiel, que já se encontrava com uma esfera de fogo em suas mãos, mirando em Gabriel.

– Você é o desafiante aqui, não eu. Se tiver de fazer algo, faça-o logo. – respondeu com indiferença. - Sempre me subestimando, não é Arcanjo?! Irei lhe mostrar o que aprendi com você! – gritou, lançando a esfera. Quando ela se encontrava a um palmo do Arcanjo, ele suspirou fundo e desapareceu, reaparecendo ao lado do trajeto da bola de fogo, que explodiu contra a parede atrás dele.

– Cuidado para não estragar a arena. Deu um trabalho para construí-la... – Falou. Zerachiel estranhou a ação de seu superior e, com um raciocínio rápido, quis colocar uma teoria a prova. Lançou outra esfera contra Gabriel, que repetiu o mesmo movimento, agora voltando para sua posição original. - Já disse para parar de quebrar as paredes. Não quero ter que reconstruir isso depois. – Gabriel apoiou-se na perna esquerda, provocando raiva no celeste de olhos amarelos a sua frente.

– Ei! – gritou para o arconte, que analisava a luta de cima – Pensei que não fosse permitido utilizar outras divindades a não ser o controle do fogo.

– E não é. – respondeu Jerusael com um sorriso. Sabia onde o anjo queria chegar.

– Então por que ele está se teleportando e você não intervem?

– Porque ele não está se teleportando. O Mensageiro foi um titulo dado a ele não por causa do que fazia e sim como o fazia. Afinal, os mensageiros devem ser rápidos para cumprirem suas ordens a tempo, não acha?

Aquilo deixou o celeste abobado. Gabriel nunca havia demonstrado aquela velocidade em batalha. Zerachiel já tinha em mente como iria abordá-lo, mas os pequenos segundos que passou pensando em sua estratégia o deixaram desprevenido para uma joelhada que tomara em seu estomago forçando-o a se curvar para frente. Quando se recompôs, Gabriel estava parado no mesmo local inicial, apenas o encarando. Aquilo o irritou. Zerachiel avançou para cima de seu superior com varias esferas de fogo flutuando a sua volta. Ele começou a flutuar em volta do arcanjo e a lançar esferas incansavelmente, forçando Gabriel a se mover constantemente. Zerachiel aproveitou a chance e parou atrás do Arcanjo e lançou uma torrente de chamas, que seguiram em linha reta e preencheu a arena com chamas, acertando as costas do arcanjo. A platéia, que antes urrava em animação, foi tomada por um silencio mortal. Zerachiel recuou para a sua extremidade e aguardou, juntamente com a platéia, as chamas reduzirem.

– O titulo Mestre do Fogo não lhe diz nada? – ecoou a voz de Gabriel, que se encontrava parado. As chamas que foram lançadas em suas costas encontravam-se paradas, como se houvesse um campo de força circulando o Arcanjo.

– O primeiro elemental entre os arcanjos. A inicio, preferi o fogo, pois era destrutivo. Foi-me muito útil nas Batalhas Primevas. Portanto, não tente usa-lo contra mim. Seria uma ofensa incomensurável. Mas eu sei que você ainda tem uma “carta na manga”. – Provocou Gabriel, virando-se para o celeste, com o corpo em chamas mas não se queimava – Mostre para todos nos porque ganhou o titulo de Mancha Solar.

Aquilo foi a gota d’agua. Zerachiel nunca gostou daquele titulo. Gabriel sabia que ele odiava, ainda assim ele o chamava de Mancha Solar para irritá-lo. O celeste levantou seus braços para o alto. Sabia que utilizar o recurso era arriscado em uma luta, aquilo drenaria praticamente toda a sua aura, mas mesmo assim não voltaria atrás. Acima deles, o sol começou a escurecer. O céu tomou um tom cinza, o que deixou muitos boquiabertos. Os braços de Zerachiel brilharam com uma chama dourada, que ele concentrou nas palmas de suas mãos.

“Um único tiro! Um disparo para a liberdade!” Pensou. Naquele momento, lembrou-se de seus dias de treinamento com Gabriel. Com um leve sorriso no rosto, sussurrou, sabendo que o Mestre ouviria.

– Obrigado, Gabriel. Donec Scintilla! – disparou a esfera dourada no rumo do peito do Arcanjo. Gabriel deu um passo para trás, deixando a sua frente um clone formado com as chamas reunidas anteriormente. Sustentou o mesmo com um pouco de sua aura e criou sua defesa. Assim que a esfera se chocou com o peito do clone, um brilho estonteante surgiu, tornando quase impossível de se olhar para aquele ponto da arena. Quando o brilho passou, Zerachiel caiu de joelhos, respirando pesadamente. O clone ainda de pé, com um buraco em seu peito. Por um momento, Zerachiel e o publico achou que ele havia vencido, mas só por um momento.

– Eu lhe pedi para que tomasse cuidado com as paredes, não foi? Agora vou gastar mais um tempo refazendo-as – resmungou Gabriel, escorado atrás de Zerachiel. Caminhou até ele e o pegou pelo pescoço com a mão esquerda e esticou sua mão direita, revestiu-a de fogo. – Adeus, Zerachiel. Espero que tenha aproveitado sua vida. – sussurrou para ele e investiu contra seu antigo discípulo, visando acertar seu coração. O que teria acontecido, se Lúcifer não tivesse segurado sua mão.

– Acho que já deu o que tinha de dar, não é, irmãozinho? – Falou, com um sorrisinho cínico. – Acho que já provou que é superior a ele. Agora irei transportá-lo até Gehenna. Até porque, ele meio que te matou – Apontou para o clone – Então ele, de certo modo, venceu a luta. Ele ganhou o perdão. Por que não deixa-o viver nas prisões celestiais, o que é mais razoável?

– Encarregue-se disso, afinal, já terminamos aqui. – Gabriel largou o corpo inerte do celeste no chão e mandou o arauto se aproximar. Quando estava próximo, deixou-lhe uma ordem. – Anuncie que ele foi o vencedor.

– Mas, meu senhor... – o arconte não entendia o que se passava.

– Não me vê morto ali no canto? – apontou para o corpo. O Arconte assentiu com a cabeça – Então anuncie o que pedi. – Terminou de falar e saiu pela mesma porta pela qual entrara. Em meio ao caminho, Gabriel se direcionou a Zerachiel por meio de uma mensagem telepática - O mesmo erro, Zerachiel. Sempre o mesmo erro. Eu lhe alertei sobre os perigos de se precipitar. O mesmo erro de todos os ishins de fogo... Espero que tenha aprendido dessa vez.

"Sem duvidas..." – respondeu mentalmente Zerachiel, enquanto observava Gabriel sumir de sua vista.

– E o vencedor do Agni Kai é Zerachiel! – anunciou. A platéia ficou imóvel, diante daquilo pois acabaram de ver Gabriel se retirando e Zerachiel sendo carregado para fora da arena. – Ordens são ordens... – falou indiferente, apontando para o clone. – Está terminado, voltem para os seus postos. Os celestes foram se retirando, cada um voltando para suas tarefas diárias. Zerachiel fora tratado de suas fraquezas e lançado na cela do quinto andar subterrâneo de Gehenna, onde eram mantidos os insurgentes que foram perdoados de seus crimes.


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Notas finais do capítulo

Agradeço ao Thiago Felipe pelo incentivo a escrever esse embate.



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