As Crônicas de um Arcanjo escrita por Lopes


Capítulo 2
Um Antigo Inimigo Retorna, Parte Final - Universo Paralelo




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O Mensageiro pousou onde antes era um riacho. Ele olhou para o solo e viu que agora não passava de lama. Gabriel sentia o ar úmido e pesado circular. Ele olhou a sua volta, a procura de alguém. Sabia que aquela cidade era habitada, mas sequer sentia a presença de alguém. Uma leve brisa soprou, balançando suavemente o cabelo do celeste, que estava preso em uma trança, e penetrou em seus pulmões. O arcanjo sentiu uma queimação por dentro e sabia que aquele vento era tóxico, mas não sei deixou afetar. Era incomodo, mas não lhe faria mal. Caminhou em direção à praça no centro da cidade, na esperança de encontrar algum habitante, mas apenas encontrou uma criança sentada de costas para ele. Pensou em se aproximar, mas a aura maligna que a menina exalava revelava que aquilo era uma armadilha.

– Ei – gritou – Onde estão todos? O que aconteceu aqui?

Ao invés de responder, a garotinha levantou-se e virou-se para encarar Gabriel, que ficara chocado com o que estava vendo.

– O mesmo que aconteceu com o anjo fofoqueiro que foi lhe encontrar. O que foi? Não me reconhece mais, papai? – perguntou em uma voz melancólica, provocando um sentimento de raiva de raiva em Gabriel, mas o celeste não demonstrou, mantendo sua expressão indiferente.

– Quem você pensa que é para assumir tal forma? Confronte-me em sua verdadeira forma. – Disse o arcanjo. Sabia que não precisava mais gritar.

– Sinceramente, eu pensei que assumir a forma da pequena Lissa poderia lhe afetar de algum modo, mas, Gabriel, você é realmente difícil de irritar – Falou a garotinha, que começara a se transmutar, tomando sua verdadeira forma – A segunda filhinha preferida do papai dos ishins, morta simplesmente por ser “ um anjo com alma”.– ironizou, simulando aspas com os dedos, que agora eram garras negras e afiadas – Nem depois do incidente com aquela mulher, como era mesmo o nome dela? – coçou a cabeça – Maria, certo? Nem depois do primogênito morrer, você não aprende. Ao que parece, essa não teve a mesma sorte do primeiro e resolveu ficar morta. Devia tomar mais cuidado, Gabriel... – sorriu concluindo seu discurso.

O monstro havia finalizado sua transformação, revelando sua aparência. Um ser negro como a noite mais escura, com uma boca que abria de orelha a orelha. Dentes afiados como navalhas e uma língua roxa bifurcada. Acima de sua boca, nada alem de olhos espalhados por toda a cabeça. Olhos vermelhos que piscavam regularmente, um de cada vez, tornando quase impossível que fosse surpreendido.

– Você continua o mesmo monstro horrendo e renegado pela mamãe de bilhões de anos atrás, Leviathan – provocou Gabriel, arrancando o sorriso do rosto do monstro à sua frente. – Algo que aprendi com os meus “incidentes” com os humanos é que o tempo beneficia a todos, o que não é o seu caso, claro. – finalizou com desdém. – Do mesmo modo que aceitei a morte do primeiro, acabei aceitando a da segunda.

– Sangue frio, você. Nem parece mais o anjo rebelde que enfrentei éons atrás. Aquele sim, era divertido. Irritadinho, impulsividade personificada. – falou Leviathan, caminhando em direção à Gabriel, que apoiou sua mão em sua espada flamejante. Coisa que o monstro percebeu – Você ainda tem essa velharia? Jesus, você se apega mesmo a coisas velhas – sorriu novamente, fazendo um trocadilho com a antiga situação de Gabriel – Gostou da referencia? Aprendi com os humanos que você tanto ama. Mesmo depois de milhares de anos, eles ainda o adoram, sabia disso?

– Me poupe de conversa fiada, coisa horrenda, não vim aqui para jogar conversa fora. – Gabriel sabia que Leviathan não suportava que criticassem sua aparência. Lembrou-se de como fez isso da primeira vez, forçando o monstro a atacá-lo, ganhando assim sua primeira cicatriz. A mesma que ele sentira queimar momentos atrás. E do mesmo jeito que surtira efeito éons atrás, surtira novamente. O monstro esticou a mão, e, utilizando suas garras como uma arma, avançou em uma velocidade impressionante sobre Gabriel, que teleportara no momento certo para trás de Leviathan – Não pense que vou cair novamente no mesmo ataque. Não sei o que pretende, mas não irá se mover dessa cidade.

– Isso é o que veremos. – respondeu e teleportou-se também, deixando Gabriel surpreso. – O que o tempo não me favoreceu em aparência, ele me favoreceu em habilidades. Aposto que essa luta terminará mais rápida do que ambos esperamos. – Zombou, aparecendo atrás do arcanjo.

– Não se gabe apenas por saber novos truques, monstro. – Correntes de luz surgiram ao redor da criatura e o apertaram, impossibilitando-a de mover seus braços – Do mesmo jeito que tem novos truques, eu também tenho. Não pense que atacarei cegamente, como da ultima vez. Dessa vez, me certificarei de que você morra. – disse entre dentes; Sacando a Flagelo de Fogo, Gabriel partiu para cima do monstro atado e visando cortar sua cabeça, deu um corte horizontal, mas teve sua lamina flamejante aparada pelas garras da mão esquerda de Leviathan. Ao olhar para baixo, Gabriel viu que as correntes foram corroídas pelas trevas – Como...?

– Eu disse que tinha novos truques – sussurrou e sorriu. Com sua mão direita, atacou o arcanjo, que desviou seu rosto, mas teve seu braço esquerdo cortado. O celeste teleportou-se para trás e analisou seu braço. Uma linha negra se estendia horizontalmente. O monstro gargalhou quando viu aquela situação – Ah, isso ai é veneno. Cortesia de Tanin. Vamos, Gabriel, faça seu próximo movimento. Quero ver o que você tem na manga antes do veneno chegar ao seu coração e te matar.

Gabriel já sentia seu braço dormente. Pensou em cortá-lo antes do veneno se espalhar demais, mas sabia que seria inútil. Tanin era especialista no que fazia. Apenas Rafael era páreo para combater as doenças do deus-monstro. Ele sabia que teria que correr contra o tempo agora. Poderia se salvar, mas teria que retornar ao Tartarus para isso. Gabriel pegou o Cajado de Arafel preso em suas costas e fincou-o no chão. Ajoelhou-se atrás dele e espalmou as duas mãos no chão, o que surpreendeu Leviathan, e começou a recitar:

Carruagem do trovão.

Ponte da roda giratória.

Com a luz divida-o em seis.

Prisão dos Seis Bastões de Luz.

Uma luz surgiu do centro do cajado e lançou-se ao céu.

– Aparentemente sua mira não melhorou, Gabriel – Zombou novamente Leviathan

– Olhe novamente... - resmungou Gabriel A luz que subiu ao céu se dividiu em seis, prendendo o inimigo do arcanjo em todas as direções possíveis.

– Se pensa que isso irá me impedir, está muito enganado – gritou Leviathan, fazendo força. Os seis bastões começaram a trincar.

– Não preciso que te impeça, somente te segure por alguns segundos – falou, e voltou a recitar:

Limite das mil mãos.

Mãos respeitosas, incapazes de tocar a escuridão.

Mãos atiradoras incapazes de refletir o céu azul.

A estrada que se aquece na luz.

O vento que acendeu as brasas.

O tempo que reúne quando ambos estão juntos.

Não há necessidade de ser hesitante.

Obedeça às minhas ordens.

Balas de luz, oito corpos, nove itens, livro dos céus, tesouro doente.

Grande roda, torre da fortaleza cinza.

Aponte longe,

Dispersem brilhantemente e corretamente quando disparados.

Canhão das Mil mãos celestes

Dez esferas de fogo surgiram acima do corpo de Gabriel, surpreendendo o inimigo. Elas começaram a girar em sentido horário e voaram em direção de Leviathan. Ele conseguira se livrar da prisão, mas não a tempo de escapar dos tiros. Uma explosão gigantesca se fez, subindo aos céus como um cogumelo. Gabriel aguardou o fogo e a fumaça se dispersar e viu a situação de seu inimigo. O corpo estava totalmente queimado, estirado no chão, mas Leviathan não morrera. Numa velocidade razoável, o corpo do monstro começara a se regenerar a partir dos pés.

– Não pensou que isso não me destruiria, não é, Mestre do Fogo? – Gritou o monstro – Não me subestime, Gabriel!

– Nunca... – sussurrou Gabriel. Aquilo estava drenando sua aura, mas ele devia ir até o fim. Mesmo que morresse ali, não deixaria Leviathan escapar. Mesmo que não o matasse, iria aprisioná-lo ali por um bom tempo.

Muralha de areia metálica.

Torre feita de ódio.

Forje ferro derretido e termine em silêncio.

Prisão dos Cinco Pilares de Ferro.

Cinco linhas douradas saíram do centro do cetro e desceram ao chão. Dali subiram cinco pilares de ferro e voaram em direção ao deus-monstro caído no chão, cada pilar sobre uma extremidade, braços e pernas imobilizados e um no meio de seu peito, impossibilitando totalmente a locomoção de Leviathan. No topo, correntes uniam os pilares, impedindo que eles tombassem.

– Com o decorrer do tempo, Leviathan, eu descobri o medo de monstros horrendos. Não há nada pior do que encarar sua própria face e sofrer eternamente encarando o que você é de verdade. É isso que a eternidade lhe reserva – disse Gabriel, levantando sua mão esquerda, fazendo a areia subir do solo e cobrir o monstro em uma redoma impenetrável. Em seguida, lançou uma torrente de fogo sobre a areia, cristalizando-a. O grito de horror de Leviathan foi ouvido por toda a cidade. – Ninguém merece algo assim, mas você trouxe isso sobre si mesmo. – O arcanjo olhou para o seu braço direito. Totalmente negro e intoxicado. Gabriel sentia o veneno correr por suas veias, ele não tinha muito tempo. Espalmou novamente sua mão direita e recitou o ultimo encantamento sabendo que poderia não resistir ao custo da aura.

Escorra crista de turbidez.

Recipiente insolente de loucura.

Ferva a diante e negue.

Cresça entorpecido e tremulo, perturbando o sono.

Rastejante rainha do ferro.

Eternamente se auto-destruindo a boneca de barro.

Se una! Se oponha!

Preencha a terra e reconheça sua própria impotência!

Sarcófago Negro.

Linhas negras surgiram do cetro e formaram um retângulo em volta da redoma do histérico Leviathan. Em seguida, as linhas se uniram formando um retângulo negro, selando ali, o deus-monstro.

Gabriel levantou-se do chão e levou sua mão direita para pegar o falso Cajado de Arafel, mas algo o surpreendeu. O cajado começou a se desintegrar. Esse era o preço de forçar algo divino a ir contra sua natureza, pensou. Ele abriu suas asas e observou o vento levar o que sobrara do cetro. O arcanjo voou de volta ao Templo da Harmonia, caminhou templo adentro e quase caiu ao chão, se não fosse por Aziel, que o segurara.

– Meu senhor, o que... – Começou a perguntar, mas fora interrompido pela voz fraca de Gabriel.

– Guarde isso com sua vida – falou, entregando o pequeno livro de encantamentos a Aziel, que pegou sem entender – Um celeste virá procurar isso. Você saberá a quem entregar. Leve isso à reunião que Miguel convocará ao amanhecer – retirou o pergaminho selado e colocou na outra mão de Aziel – Agora, eu irei me retirar. – Desapoiou-se de Aziel e caminhou em direção à plataforma que ficava no centro do templo repleto de água fervente, e ao chegar no centro da mesma, analisou o interior do templo. Vendo que não havia ninguém consigo, fez um pequeno movimento com a mão. A água borbulhante a sua frente dividiu-se, revelando uma escada oculta. A escada dava acesso a uma câmara que somente Amael, o senhor dos vulcões, tinha conhecimento de sua existência, mas não autorização de entrar nela.

O celeste desceu as escadas lentamente até chegar ao inicio de uma ponte. Com um leve sorriso, reconheceu o lugar a muito tempo abandonado. A Câmara Elemental. Naquele momento, vários recipientes espalhados pelas paredes da câmara se acenderam, revelando, ao fim da ponte, uma plataforma retangular. Com quatro divisões, a plataforma era sustentada pelas mesmas quatro correntes que sustentavam toda a Cidadela de Fogo sobre o Netúnia. Suas divisões se uniam no centro, onde ficava um altar médio.

Ele caminhou em direção ao altar, ouvindo apenas o ruído das pedras da velha ponte rangendo sob seus pés e o crepitar das chamas dos recipientes que acendera. Contornou o enorme vão que havia entre as divisões e subiu a pequena escada para o altar. Desatou a bainha do cinto, deitou-se no altar entrando em um profundo estado de coma vegetativo, um estado entre a vida e a morte eterna, no exato momento em que o veneno de Tanin alcançara seu coração. O resto de sua aura se expandiu por toda a câmara, fazendo a mesma soltar um ruído cavernoso, como se respondesse à presença do Arcanjo. A própria câmara sabia o que fazer, como se tivesse sido programada para aquele momento. Suas paredes brilharam e uma luz subiu por elas, passando por todo o templo e lançou-se ao céu. A luz com a aura de Gabriel. O arcanjo, a anos, juntara naquela câmara partes de sua aura pois sabia de seu futuro.

Aziel caminhava para a saída do templo quando sentiu a dissipação da “aura” de Gabriel e hesitou em sair. Sabia o que aquilo significava. Mas voou em direção ao Quinto Céu para aguardar Miguel retornar.

Em seus locais, os arcanjos sentiram a aura de seu irmão se dispersar. Todos foram em direção ao palácio celestial para saber o que havia acontecido. Naquele breve momento, até mesmo a entrada de Lúcifer fora permitida. Miguel, Rafael, Uziel e Lúcifer adentraram no salão de reuniões, encontrando apenas Aziel no centro, segurando o pergaminho de Gabriel. Miguel caminhou ate ele e pegou o pergaminho, e, quebrando o selo, leu em voz alta que havia ali escrito.

Meus irmãos.

Não se assombrem pelo que acabaram de presenciar.

Não havia nada que pudessem fazer mesmo.

Venho, através desse pergaminho, alerta-los de um mal que volta para assolar os sete céus e os círculos do Sheol.

Em breve, a guerra baterá à porta de cada um de vós.

Um inimigo antigo. Os seres da aurora do tempo. Preparem-se.

Parto agora para confrontar meu destino.

Uma lagrima escorrera do rosto de Rafael, que lamentava por seu irmão. Cada um dos arcanjos enfrentava o luto a seu modo. Miguel apertou o pergaminho em sua mão e apenas sussurou,

– Sabem o que fazer... – observou cada um dos irmãos balançarem a cabeça, afirmando o que ele dissera. Todos eles abriram as asas e voaram em direção aos seus domínios para prepararem-se para a guerra que chegara.

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Um circulo negro se formou no chão próximo à prisão de Leviathan. De dentro da escuridão surgia uma silhueta um tanto peculiar. Um monstro tão obscuro quanto Leviathan aparecera, mas o que diferenciava os dois era a sua cabeça de serpente. Tanin, o próprio deus-serpente, o Veneno dos Monstros.

– Só não é mais inútil do que aquele monte de músculos do Behemot. Você não serve nem para matar um simples arcanjo. Nem com a minha ajuda você não é capaz... – Falou com desdém, enquanto de aproximava do grande sarcófago negro que se estendia. – Pare de gritar! Isso já está me irritando e estou me sentindo tentado a te lagar ai pela eternidade! – Urrou, ouvindo os gritos cessarem, deixando para trás apenas murmúrios de socorro.

– Ande... Logo... E acabe com isso... – sussurrou Leviathan, atormentado pela visão de sua própria aparência.

– Fique calado e me deixe pensar... – murmurou, analisando o sarcófago. – Isso é magia antiga. Provavelmente mais antiga do que nós mesmos. Isso é magia de... – Tanin hesitou em falar o nome. Ele já vira aquela prisão. – Quem foi seu oponente?

– O elemental... – resmungou. Sua voz ficava cada vez mais baixa. Tanin logo entendeu o que Gabriel havia criado.

– Sabe o que ele fez do lado de fora? – indagou. Virou-se e começou a caminhar de volta para o circulo de onde viera – Aquela mesma prisão. Provavelmente lhe custou a vida, mas ele tratou de não te deixar impune também. – Assim que pisou sobre o circulo, começou a afundar – A prisão de Yahweh. Criada especialmente para nós. Resistente o suficiente para parar nossa mãe. De fato, é quase a mesma em que ela está presa nesse exato momento. Nada entra e nada sai. Não sei o que ele fez ai dentro, mas mesmo que escape, está confinado ai para sempre. Aproveite bem a eternidade, Leviathan... – Sussurrou, ouvindo novamente os gritos de horror do irmão monstro.


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Notas finais do capítulo

Encantamentos by: Bleach
Espero que tenham gostado. Não pretendo continuar essa trama. E antes que alguém pergunte: O final do texto funciona como uma cena pós-credito de um filme que pode não ter continuação... :)



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