Minhas Asas escrita por Bia


Capítulo 2
Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi!
A segunda parte demorou, mas finalmente está aqui! Esta é, como sabem, a parte final da fanfic. Escrevi-a ouvindo magic, de Coldplay, que, aliás, recomendo. O clipe é tão lindo que só perde para the scientist, porque the scientist é outro nível, né ahsjanfbahsjkafmmansa (Bia, a rainha dos assuntos avulsos).
Enfim, espero meesmo que gostem!
Boa leitura! *w*



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A ex-rainha dos Moors acabou adormecendo sob a sombra de uma grande árvore. Aquele local que arranjou era perfeito para tirar uma soneca, na realidade. Ficava próximo a um lago, sem muitos habitantes. Havia várias espécies de pássaros por ali, assobiando músicas que agradavam Malévola. Os raios de sol não chegavam a incomodar seus olhos, já que eram devidamente bloqueados pelas folhas da árvore.

Dormiu por pelo menos uma hora, sonhando com coisas aleatoriamente agradáveis. Na realidade, um de seus passatempos preferidos era dormir. Depois que deixou as rédeas do Reino nas mãos de sua afilhada, sua vida ficou bastante monótona (para ter uma ideia, seu passatempo preferido era sentar-se à beira de um riacho e contar sapos).

Enquanto Malévola entrava no décimo quinto sono, Diaval recebia uma notícia que já previa: havia quebrado o braço. Na realidade, só pela dor, soube que não havia sido uma simples lesão.

O doutor passou uma pomada no lugar onde estava mais dolorido, avisando ao Homem-Corvo que ele deveria ficar em repouso por uma semana; segundo ele, ao obedecer isso, ficaria com o braço novinho em folha (pomadas feitas com ervas mágicas, sabe como é).

Saiu do consultório com um suspiro, recebendo alguns olhares de piedade e compreensão. Caminhou devagar, a cabeça vagando entre pensamentos aleatórios que não conseguia controlar. Seu cabelo estava simplesmente imprestável: cheio de folhas e galhos, completamente embaraçado, rebelde e espetado.

Todo seu corpo estava dolorido, arranhado e mais parecia que seus órgãos foram esfaqueados por algum objeto cortante.

Até um senhor de idade avançadíssima, corcunda, com cracas horrendas na testa e com cheiro de morte, parou-lhe e ofereceu-lhe um abraço. O Homem-Corvo apenas cumprimentou-o de forma hesitante, ouvindo o velho dizendo “da próxima vez você consegue”, como se ele soubesse muito de sua vida.

Continuou seu caminho, e novamente os pensamentos aleatórios voltaram.

Começou a pensar em flores, em cerejas, em falcões que haviam escapado do inferno, o que levou-o a pensar novamente em cerejas, depois em chifres em pessoas bonitas demais para ter chifres, e…

Parou de pensar quando percebeu que havia andado o suficiente por uma década. Parou de fazer tudo o que estava fazendo, decidindo olhar em volta para se localizar. Percebeu os sons de pássaros ensurdecedores, árvores enormes e uma grama verdinha embaixo de seus pés. Havia um lago imenso à sua frente, refletindo com dignidade a luz solar.

Era uma vista tão bonita que Diaval esqueceu da sua dor por cinco segundos. Até suas sobrancelhas arquearam-se com a vista. “Nunca estive aqui antes”, pensou, sentindo uma pontada de tristeza; poderia ter se encantado há muito tempo com aquela paisagem.

Mas sua adoração durou pouco. Foi assustado por um movimento atrás de uma árvore próxima. Era como se algo grande o suficiente para mandá-lo para o espaço estivesse se movendo. Engoliu em seco; se fosse algum bicho um pouco mais feroz, provavelmente iria pular no homem, destroçando-o. E, considerando sua situação atual, aquela seria uma coisa terrível: não teria como se defender, então viraria espetinho de corvo cru.

Mas sua curiosidade era trezentas vezes maior que sua prudência. Olhou para os lados, considerando a ideia de escalar uma árvore caso as coisas ficassem feias - não sabia exatamente como faria isso, mas faria; caso fosse necessário, até usaria os dentes no lugar do braço quebrado. Aproximou-se devagar, com passos leves, da árvore onde escondia uma provável fera.

Quando estava próximo o suficiente para ter um pequeno vestígio do que se escondia ali, levou outro susto ao ver um par de asas colossais subindo e descendo de forma calma e compassada. Estimou a ideia de que o bicho em questão estava dormindo. “Com um pouco de sorte”, pensou, otimista “não serei devorado. Se me livrei uma vez, provavelmente conseguirei me livrar uma segunda”. Inclinou-se para frente, ousado, apoiando-se no tronco da árvore.

E para sua total perplexidade, Diaval deparou-se com Malévola, sua ama, ali, deitada e em sono profundo. Suas asas serviam-lhe de cobertor, seus braços de travesseiro e as folhas da árvore sob qual estava deitada, de teto.

Sorriu internamente, aliviado por não ser um urso, ou quem sabe um lobisomem com asas - ou, pior ainda, um falcão.

Sentou-se na grama, um pouco afastado da sua senhoria, e observou-a enquanto dormia. Não podia negar que ela era muito bonita. Ficou ali, olhando-a por tempo indeterminado; na realidade, se o sol não repousasse no horizonte, avisando que já ia escurecer, Diaval poderia ficar ali para sempre, sem nunca se preocupar com o tempo: era apenas ele e Malévola, mesmo se ela não soubesse disso.

Lá pelas cinco horas, quando raios solares gostosos de serem sentidos batiam no rosto da fada sem intervenção das folhas, ela acabou por despertar, bocejando e apertando os olhos para poder olhar à sua volta. Sentou-se na grama e virou a cabeça, dando de cara com seu servo sorridente.

– Boa-tarde, senhora - cumprimentou-a, erguendo os cantos da boca de maneira respeitosa.

– Olá, Diaval - respondeu ela, ainda meio grogue. Bateu os olhos no braço do outro. - Como está? - perguntou, referindo-se ao seu braço.

– Quebrado - respondeu o corvo, sem se importar muito.

Malévola olhou-o de cima a baixo, um grão de preocupação reluzindo em seus olhos. Lembrou-se das várias vezes em que consertara galhos partidos. Pensou em consertar o braço do servo, mas não sabia se funcionaria; até agora, só fez esse tipo de coisa com seres irracionais. Não sabia se poderia dar certo com pessoas.

Mas decidiu arriscar-se. Levantou-se de forma calma, caminhando na direção do homem. Diaval olhou-a, surpreso.

– Diaval, me dê seu braço - pediu, enquanto o corvo se levantava com um grunhido.

O homem atendeu a seu pedido, tentando esticar seu braço de forma menos dolorosa a ela. Malévola colocou o cotovelo de seu servo entre suas mãos, ambas em forma de concha. Tentou lembrar-se da sensação que tinha ao consertar galhos de árvores, e fechou os olhos, concentrando-se nisso.

Diaval sentiu uma forte pontada em seu cotovelo, como se algo estivesse se movendo de maneira bruta no interior de seu braço. Não conseguiu evitar e soltou um grunhido de dor, fazendo uma careta involuntária. Viu alguns grãos verdes saindo debaixo das mãos de sua senhoria, e distraiu-se da dor, observando aquilo com encantamento.

Após alguns segundos, a fada soltou seu servo, abrindo os olhos para observá-lo.

– Então? - perguntou, erguendo o queixo.

O Homem-Corvo mexeu seu braço em vários ângulos, testando-o. Ainda sentia como se algo estivesse estranho, mas não podia negar que estava muito melhor.

– Acho que… Está bom... - disse, mais para ele do que para ela. Diaval manteve as posturas e inclinou-se em uma reverência sutil - muito obrigado, senhora.

Malévola abanou o nada, como se aquilo não tivesse significado muita coisa.

– Está tudo bem.

Mas, mesmo com seu rosto inexpressivo, não deixou de notar algumas pontadas em seu interior. Novamente aquela fração de segundos com pensamentos bizarros veio à tona. Deu um suspiro que julgou ser desnecessário, chamando a atenção de seu servo.

– Senhora, está cansada?

– Não - disse com naturalidade - estou apenas… Pensando sobre o diagnóstico que recebi hoje. Fui ao médico mais cedo já que não estava me sentindo muito bem ultimamente, e… Bem, não sei de que forma devo lidar com o resultado.

O corvo ficou completamente surpreso. Não ouvira falar sobre os problemas de sua senhora, e por isso sentiu-se pouco útil. Ora, céus, aquilo machucava tanto sua honra que quis se enfiar num buraco mais próximo.

– Ah, bom, então, qual foi o resultado perturbador? - Perguntou ele, fingindo indiferença.

Malévola olhou-o de esguelha, como se observasse a situação e medisse se era realmente oportuna.

– O médico disse que eu estava… - Ela piscou em um segundo de hesitação - apaixonada.

Apaixonada. - Repetiu Diaval, mais perdido que surdo em bingo. - E por quem é?

– Esse é o problema, Diaval. Eu também não sei.

O corvo juntou as sobrancelhas.

– Como não pode saber por quem está apaixonada? Não faz sentido.

A fada suspirou, erguendo os braços e massageando as têmporas.

– Previ que iria dizer isso. Agora, vamos mudar de assunto… - Desviou ela, sentando-se no tronco da árvore em que dormia há apenas alguns minutos.

Diaval sentiu aquela hesitação. Mas ele não estava na posição de aceitar tão fácil; talvez seria motim o que estava prestes a fazer, mas ele decidiu colocar sua ação de outra maneira. Como “algo pessoal”.

Antes que Malévola percebesse ou mudasse de assunto como queria, o corvo, mais rápido que um raio, sentou-se ao lado dela e pegou-lhe a mão.

A ex-rainha, pouco assustada com a ação do servo, olhou-o de maneira estranha, quase que com perplexidade.

– Senhora, sei que pode parecer estranho o que estou prestes a te dizer, mas quero que saiba que pode falar comigo sobre absolutamente tudo. Não estou sujeito a ter preconceitos. E, além do mais, pode me transformar quando quiser em um macaco voador se, por acaso, te incomodar. Sou suas asas, se lembra?

Malévola sabia que rir do seu servo era uma total falta de respeito, mas não podia evitar. Abriu um sorriso bonito e logo depois uma risadinha veio à tona. Colocou a mão livre sobre a boca, não querendo mais cometer gafes.

Diaval, novamente, mais perdido que Adão no Dia das Mães, olhou sua senhora com o cenho franzido. Não sabia o motivo da risada, e sentiu-se extremamente bobo por ter dito aquelas coisas para sua senhora.

Malévola parou de rir, divertida. O motivo de seu ataque de risos era bem simples, na realidade: antes de ter suas preciosas de volta, Diaval era, literalmente falando, suas asas. Mas, agora, com elas em suas costas, Malévola necessitava de seu criado por motivos sérios - como stalkear Aurora. Riu-se porque era engraçado seu servo dizer com tanta convicção que servia para saciar seus caprichos.

– O que foi, senhora? - Perguntou ele, o orgulho ferido.

– Nada, Diaval… - Disse, semicerrando os olhos. Quando o servo apertou sua mão mais forte, Malévola sentiu um sentimento preencher seu peito de forma aconchegante. Olhou para a mão alheia apertando a sua, e logo os pensamentos bizarros vieram. A mão de seu servo era calejada, nada macia. Mas, ainda assim, possuía um forte teor de algo que ela não conseguia compreender.

– Então, por que está rindo? - Tentou, novamente, o corvo, sentindo que todas suas formas de proximidade estavam sendo repelidas.

Malévola, ainda se divertindo com a situação, abriu um sorriso.

– Porque é bobo.

– Ah - grunhiu ele, revirando os olhos, mal-humorado. - Obrigado, senhora…

Então, do nada, o corvo retirou sua mão de cima da mão de sua senhora, assustando-a. Malévola assustou-se porque sentiu um estranho vazio no peito. Olhou para sua mão esguia e depois olhou para Diaval, que coçava sua cabeça, indiferente, resmungando coisas que ela não conseguia ouvir.

Não precisou de dois minutos para entender perfeitamente o que se passava ali. O doutor, querendo ela ou não, estava perfeitamente certo: estava apaixonada, ponto final. Ele poderia ter cara de velho drogado, mas entendia das coisas.

E, claro, ela tinha teorias muito concretas sobre seu alvo romântico. Mas precisava ter certeza.

Absoluta. Sem resquícios de dúvida.

Chamou o servo numa voz banhada de coragem, olhando-o com expectativa. Diaval virou sua cabeça, respondendo ao chamado de sua senhora sem muita vontade, com uma tromba no rosto.

Mas logo sua expressão se transformou. De irritado para surpreso. E isso porque, num piscar de olhos, Malévola segurou seu rosto com ambas as mãos, espremendo suas bochechas.

O beijo havia sido apenas um empurrar de lábios bem simples, mas foi o melhor empurrar de lábios que o corvo já teve. Para Malévola, aquilo havia sido a prova de fogo para saber se sentia mesmo algo pelo servo.

E a resposta não podia ter sido mais positiva.

Após o ato, ambos se encararam, surpresos. As asas da ex-rainha se moviam atrás de suas costas, mostrando o quão animada ela estava, muito diferente de seu rosto tão inexpressivo.

Diaval tentou encontrar palavras em seu amplo vocabulário, mas parecia que todo o seu conhecimento linguístico havia ido para o espaço.

Malévola encarou-o, sentindo que um sorrisinho iria brotar de seus próprios lábios.

– Diaval, parece que encontrei respostas para minhas dúvidas.

– Ah… - Disse o corvo, monossilábico, ainda zonzo com o acontecido.

– Muito provavelmente, é você por quem ando estado apaixonada.

– Oh?

Malévola sorriu, divertida. Inclinou a cabeça e olhou de outro ângulo o homem, esperando uma resposta dele.

Diaval, acordando para a vida naquele instante, sentiu-se mais envergonhado como nunca.

– Senhora, isto é… Perdão, não consigo achar algo decente para te dizer. Quando meu cérebro voltar para o lugar, te darei a resposta que merece. Mas, por ora… - De forma sutil, Diaval pegou a mão de sua senhora, apertando-a sem muita força. - Estejamos assim.

A ex-rainha dos Moors não poderia estar mais satisfeita. No lugar da agitação anterior, estava apenas um sentimento de calma, como se aquilo pudesse durar uma eternidade.


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Notas finais do capítulo

Final clichê porque sim -q UHHUAAUAHUAUHAAU Gente, vocês não sabem o quanto eu ri escrevendo esse Diaval boboca-pós-beijo, chesus ahsjakfnabhsaksa
Hahaha, anyway, espero mesmo que isso aqui tenha agradado a vocês :3
Comentem bastante para fazer essa autora feliz /o/