Done For You escrita por Aida


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Não vou mentir pra vocês, foi um C* escrever esse capítulo, nada me parecia encaixar e eu nunca ficava feliz em como terminava. Ainda não fiquei mas não posso mais segurá-lo, estou sendo jurada de morte se demorar mais um dia pra postar então... APROVEITEM PQ EU NÃO GOSTEI! chorando.

xoxo



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Meu sono é pesado mas não descansado, tenho alguns sonhos onde sempre perco Andy em algum momento, porém, o que me incomoda é que em todas as vezes que ele se vai, me sinto quebrar por inteira. Sinto dor de não tê-lo perto o suficiente, algo que não deveria acontecer.

CC está me chamando, abro os olhos para enxergar uma escola embaçada e alunos borrados circulando. O agradeço e retiro o cinto de segurança, o de cabelos grandes me observa com o cenho franzido, parece preocupado.

–Você dormiu bem? - CC faz a pergunta mais retórica possível, estou tão cansada e com olheiras que devem estar mais aparentes do que pisca-pisca em época de natal. Agradeço pelo clima frio o suficiente para que eu possa usar um cachecol que cubra metade do meu rosto e disfarce o adorável fato de não ter dormido nem um pouco bem. Não preciso incomodar CC com o fato de não ter tido uma boa noite, mas com certeza queria perguntá-lo se Andy tinha alguma espécie de pânico noturno, algo que eu devesse me preocupar mais do que já estava.

Apenas assinto com a cabeça e sussurro um ''até mais'' bem curto e rouco, talvez esse não fosse o momento certo pra falar sobre o que acontecera noite passada.

O tempo está nublado e tristonho, a única coisa que parece para salvar o meu dia é ver que o loiro que gosto de chamar de amigo está no portão distraído com uma bola de basquete entre as mãos, assim que me vê abre um sorriso apaixonante, que deixaria qualquer garota sem fôlego. Inclusive eu mesma.

Ele beija minha testa e passa um dos braços por cima dos meus ombros.

–Como vai a minha garota? - Kole diz com ânimo na voz, ele me arranca um sorriso por de baixo da sonolência.

–Congelada - Encaro seus olhos castanhos escuros, seu pequeno enlaço ainda parece frio mas seus olhos me derretem - O que há com essa alegria toda?

Passamos pela portaria e seguimos para o laboratório de Biologia, pois é nossa primeira aula do dia com o professor amante de sapos zumbis. Ele adora nos ver abrir os sapos e montá-los como um quebra cabeça, já os pobre dos sapos não adoram tanto assim, me esforço para lembrar o que poderia deixar Kole aos pulos mas a moleza do sono está me confundindo completamente, a única coisa que consigo lembrar é que a mesma moleza que sinto agora, apoderou-se ontem quando vi Andy se debater e gritar naquela cama. Um arrepio sobe por minha coluna, tiro o casaco mais grosso da roupa e o coloco em um dos descansos do armário da sala, o loiro escolheu uma mesa bem no fundo como eu gosto.

–Vai me contar ou não? - Digo debruçando-me na bancada negra esperando o professor entrar em sala, o loiro eufórico sussurra em meu ouvido direito:

–Tenho um teste daqui a um mês para a bolsa de futebol em Beleville, é segredo.

Um sorriso irrompe entre nós dois, a bolsa de futebol era tudo o que Kole sempre quis desde pequeno e ambos sabemos que ele com certeza vai conseguir essa bolsa, irá virar um astro e dar a vida de rainha que a mãe dele merece. Era sempre o que ele falava, com os olhos brilhando e um tom sonhador na voz, trabalhar duro era apelido para o que meu amigo fazia, não existia atleta mais dedicado.

–A bolsa já é sua - Seguro sua mão sobre a mesa e a aperto de leve, mas a inquietude de Kole o faz querer de brincar com as pontas do meu rabo de cavalo, mas ele ainda me olha com atenção - Ainda não contou pra sua mãe?

–Não contei e nem pretendo - Ele suspira e seu rosto se faz sério por alguns segundos - Não quero que ela crie expectativas, mas mal posso esperar pra ver a reação dela quando souber que eu consegui a bolsa.

Sorrio e passo a mão no rosto de meu amigo, tão novo e já passou por mais coisas do que qualquer um pudesse aguentar. Eu quero que ele passe, quero vê-lo lá dentro fazendo o que gosta, mesmo que não seja comigo ao lado dele, só quero que seja imensamente feliz.

–Queria falar com você sobre outra coisa - Pigarreia e se endireita no banco, afasta um pouco minha franja do rosto e continua - Sobre o que aconteceu com seu namorado...

Antes que ele possa falar qualquer coisa o corto.

–Não foi nada demais, não precisa se preocupar - Me apresso em dizer e o sono logo passa, estou alerta agora - Eu e Andy não estamos brigados, ele só estava estressado com algumas coisas do trabalho, só isso.

Só isso e outras milhões de coisas.

–Tem certeza? - Kole acaricia minha bochecha com as costas dos dedos, o mesmo costuma fazer isso quando está preocupado - Sabe que pode me contar o que quiser, certo?

–Claro - Não posso te contar tudo meu amigo, nem tudo.

Por algum imprevisto o professor não compareceu para dar aula, ficamos cerca de uma hora e cinquenta minutos em pura conversa jogada fora, eu e o loiro botamos o papo completo em dia enquanto recebia cafunés e algumas tranças bem mal feitas no cabelo. Mas uma única coisa continuava me incomodando: Andy estava sempre entre os meus pensamentos. Ele acordara mais cedo para trabalhar e não tomou café, pois seu prato estava intocado e sua xícara sem café, talvez ele estivesse bem pior do que eu, mas sinceramente esperava que não, esperava que os pesadelos o tivessem deixado em paz e que pudera dormir um sono mais tranquilo.

Quando Kole me deixara por um minuto para ir ao banheiro, apanhei o celular que jazia dentro da mochila e apertei na tela um envelope e depois o contato de Andy:

Você está bem? Fiquei preocupada.

Beijos,

Bela.

Para alguém que nunca tivera um celular, talvez no final de contas esse realmente fosse útil. Um bom tempo se passara e assim que Kole retornara para seu lugar, um tilintar foi ouvido e a tela do aparelho piscava que Biersack havia me respondido. Percorri meus olhos furiosamente pela tela até processar a mensagem do moreno:

Não fique.

Andy S.

Pisquei os olhos uma, duas, três, cinco mil vezes mas ainda não conseguia entender. Ele estava bravo? Indignado? Envergonhado? Repasso em minha cabeça os erros e acertos desde ter entrado no quarto do mais alto sem permissão, até cochilar em seus braços. Tudo parecia errado, estava atônita. Mas com Biersack sempre fora assim, tudo o que você vai fazer deve ser friamente calculado para não irritar ou constranger vossa Majestade, eu estou aqui me preocupando com esse idiota e ele me esnobando, nem uma resposta educada era capaz de me dar? Como o odiava, como me arrependia de ter me preocupado e não dormido direito.

–Ei, Moe - Kole me cutucara de leve - Você está bem? Ficou pálida de repente.

Assenti quieta, não queria falar uma palavra enquanto não tivesse achado uma voz forte e convincente mas infelizmente ela ainda estava desaparecida.

Até me dar conta de uma coisa, estava me chateando atoa! Quem liga para o que o rabugento de olhos azuis diz? Eu ligo demais e não deveria, esfolar meus neurônios com esse quebra-cabeça angelical certo? Chega, não quero mais ter que me preocupar com o que Andrew vai ou não achar, se ele está ou não bem.

Olho para meu lado direito e abraço meu loiro, ele me abraça de volta com ainda mais força. Kole nunca me negara um abraço, nunca me tratara mal, nunca me ignorara.

–Eu te amo sabia? - Digo acariciando sua nuca, espero que as lágrimas que se acumulam em meus olhos não se derramem - Muito.

–Eu também, Moe - Ele me abraça forte de volta - Tem certeza que está tudo bem?

–Mas é claro seu bobo - Me desfaço do abraço com um sorriso amarelo, se ainda não está, pelo menos vai ficar tudo bem.

As aulas passam com rapidez, já que não tivemos a aula de Biologia Kole e eu decidimos fazer alguns trabalhos de outras matérias depois de conversarmos. Quando ele vai pro treino e o sinal avisa que é hora dos alunos irem embora, vejo que é muito cedo para CC vir me buscar e dispenso visitar minha avó, pois hoje é dia do bingo e ela não me daria muita atenção, mas sei de um lugar que está aberto e que provavelmente não há ninguém.

Vou para o ginásio e assim que abro as portas, vejo que o carrinhos com as bolas estão fora do lugar que costumam estar, talvez a treinadora tenha tirado para limpar ou enchê-las. Tiro meus casacos e vou pro vestiário, coloco o uniforme para o treino e meus tênis bem antigos.

Começo a correr em volta da quadra, meu rabo de cavalo de vez em quando faz cócegas em minhas costas mas estou focada demais em controlar minha respiração, dou quinze voltas e me agacho para começar as flexões, três séries de vinte e cinco e depois o mesmo em abdominais.

Mas não importa o que eu faço, a aflição e a sensação de impotência não vão embora, a frustração é fervilhante em minhas veias, quero esmurrar as paredes e gritar a plenos pulmões. Termino a série mais rápido do que o de costume, o suor escorre pelas minhas têmporas e não faço questão de me enxugar, nesse momento só penso em bater furiosamente a bola na parede, quero eliminar essa sensação horrível que me detém.

Começo a batê-la na parede, primeiro ela bate no chão, depois na parede e assim com uma espalmada ela volta a manter o mesmo curso. O faço com cada vez mais força, tenho que calcular o tempo certo para bater a mão e dar a quantidade certa de impulso.

–Calma aí tigresa, a parede não tem vida - Ouço uma voz atrás de mim e logo perco o balanço, o tempo me escapa e tropeço em meus pés caindo com os joelhos na madeira do chão.

Olho para trás, e vejo a última pessoa que esperaria.

Lauren.

Em pé com suas pernas grossas dentro de um jeans claro e casaco de moletom com um grande 'H' branco contrastando com o tom de azul do mesmo, seu cabelo estava estranhamente solto e loiro como o sol no verão. Seu rosto eram apenas olhos e um sorriso debochado, levanto-me para diminuir a sensação que ela é uma gigante, mas mesmo assim nossa diferença de tamanho é muito grande e ainda me sinto em desvantagem.

–O quer aqui? - Digo ríspida, não tenho nem um pouco de vontade de falar com vacas agora.

Estava farta de provocações, uma resposta errada e acabaria me engalfinhando nesse chão com essa garota.

–Vim conversar com a treinadora de vocês - Ela roda algo em mãos, um camisa preta com as extremidades brancas - Tinha uma proposta bem interessante para me fazer.

A surpresa me dá um nó no estômago, olho da camisa para ela repetidas vezes e nego.

Isso não está acontecendo.

–Não - Eu rio de nervoso, porque aquilo só poderia ser a pior piada do século - Não mesmo, isso não vai acontecer.

Lauren dá um sorriso horroroso, um sorriso sincero e vitorioso. Ela estende a camisa de suas mãos onde se lê em letras brancas: Lauren, 9.

A descrença faz minhas mãos tremerem levemente, meu dedos formigam e meu coração bate tão alto que tenho medo que a loira possa ouvir.

–Já está acontecendo, pequenininha - Continua a balançar a camisa, que mais vai parecer um pano de chão daqui a pouco - Não vai me dar as boas-vindas ao time?

Tomo a camisa de sua mão e rasgo a gola, não um rasgo como eu pretendia como um inteiro para aniquilar totalmente o uniforme, Lauren está boquiaberta e logo avança como um pitbull para cima de mim. Finco minhas unhas em seus ombros e minhas aulas de defesa pessoal escapam de minha mente e decidem não dar mais as caras, a loira forma um punho perfeito e sei que no segundo seguinte, meu rosto estará dolorido.

–Parem! - Ouço duas vozes distintas e logo estão me separando da cascavel que se enroscara em mim - Vocês ficaram malucas?

A voz da treinadora é mandona e alta, bruta como um monstro em um pesadelo.

–Jones e Jaysen! - Ela grita mais uma vez e fico de pé, abaixo a cabeça um pouco envergonhada pois nunca fui de criar confusão para nossa treinadora - Qual é o problema com vocês?

Atrás da mesma, está um cabeludo de terno preto, o que me deixou mais cedo na escola. Ele sempre com um olhar preocupado, quase uma mãe querendo saber se a filha se machucara na brincadeira um pouco mais bruta que o normal.

–Ela que começou rasgando meu uniforme - Choraminga Lauren, sua voz era melada parecendo uma criança de cinco anos, me enojava.

–Não é o seu uniforme, você não joga nesse time! - Protesto com o tom de voz mais alto que consigo e tomo a camisa de sua mão mais uma vez, a jogo nas arquibancadas.

–Já chega! - Grita a treinadora me repreendendo, ela me olha bem nos olhos e quero me encolher até diminuir de tamanho, seu tom sempre era amedrontador quando brigava conosco - Jaysen joga nesse time agora e não se fala mais nisso, quero vê-las trabalhando juntas.

–Eu não entendo, isso não é justo - Murmuro rangendo os dentes, como e treinadora podia falar assim de uma adversária? Jogamos contra o colégio Helloway a três anos, éramos inimigos mortais.

–Vou fazer as apresentações oficiais no próximo treino, não é algo que precisem entender - A treinadora busca o uniforme meio rasgado de Lauren na arquibancada e o atira para ela - Eu sou a treinadora e sei o que é melhor para esse time, dispensadas as duas.

Lauren não sorri dessa vez, me olha com uma escória ou coisa pior. Talvez eu houvesse achado alguém que odiasse mais do que Andy.

–Você pode até jogar no nosso time - Digo caminhando para o vestiário, CC faz menção de me seguir mas desiste quando começo a falar - Mas nunca fará parte dele.

Caminho a passos certos para o vestiário, punhos cerrados e uma atitude lastimável. Meu pai não se agradaria se soubesse que eu estava me metendo em brigas com outras meninas, acho que nem se soubesse que era Lauren do qual eu sempre falara tão mal.

Tomo uma chuveirada e lavo o cabelo sabendo que vou sofrer com o frio assim que sair, devia me preocupar mais ainda pois provavelmente estou fazendo CC me esperar e se demorar. Mas não estou ligando muito, fico encarando os azulejos que um dia foram brancos e acho que deveria chorar de raiva ou coisa parecia, mas nenhuma lágrima vem, não que eu sinta ou que eu queira.

É uma sensação horrível esse vazio, penso que é porque nunca estive tão sozinha. Sem o meu pai nada é a mesma coisa, tudo está mudando rápido demais e eu não estou conseguindo acompanhar o acontecimentos.

Dou um fim a minha ducha e visto minha roupa, quando passo pelo grande espelho perto dos chuveiros, pareço zangada mesmo nem estando tanto assim, a água levou parte embora e agora estou apenas um pouco chateada. Enrolo meu cachecol no pescoço e pego minha mochila, quando passo pelo ginásio ele está vazio e os carrinhos foram colocados no lugar, a porta aberta mostra que a chuva fina e rala cai tímida.

O estacionamento está deserto, meu estômago está embrulhado pois a única coisa que tomei foi uma xícara de chá pela manhã e ele ameaça me subir a garganta constantemente. O carro costumeiro que CC sempre anda está parado no portão, penso que a corrida até em casa vai me deixar mais enjoada ainda, mas não tenho escapatória e entro no mesmo batendo a porta.

Christian deixa um suspiro escapar e viramos para nos encarar ao mesmo tempo.

–Quer falar sobre o que aconteceu? - Ele começa com cuidado, como se a qualquer momento eu fosse romper em raiva e atacá-lo - Eu te olho assim e você não parece...

Nego em resposta e o sou obrigada a cortar sua frase.

–Você me olha eu não pareço bem? Ótimo, então pare de olhar! - Cubro meus rosto com as mãos, não quero chorar mais uma vez na frente do moreno e nem iria - É muito difícil querer agradar todo mundo, é muito difícil querer agradar Andy e conseguir seguir com esse papel idiota de namorada sem me enrolar nas mentiras que conto para aqueles que conheço, pois não quero que achem que sou uma vendida! É muito difícil fazer as outras pessoas felizes e não ser feliz...

Duas lágrimas escapam mas logo me livro delas, estava chateada demais para chorar, estava farta de algo que mal começara. Preciso ser a aluna perfeita e corresponder as expectativas de meu pai para poder ajudá-lo, preciso corresponder as expectativas de Kole e ser a melhor amiga que todos desejariam ter, corresponder as expectativas como jogadora e estar sempre focada no melhor para o time almejando a vitória acima de tudo, corresponder as expectativas de Andy em ser a namorada novata que acabara de entrar para a sociedade da qual pertencia e já sabia como se portar perfeitamente.

CC afaga meu cabelo, mas não quero que o moreno me toque. Não quero nem que olhe para mim nesse estado deplorável.

–Eu não sabia que se sentia assim - Respondeu cabisbaixo.

–Você não precisa saber - Minha voz ainda está embargada, respiro fundo estabilizando-a - Só... Me tira daqui.

Por um momento acho que ele vai me passar um sermão, ou dar um bom conselho, mas Coma só manobra o carro e segue seu curso, quanto mais perto ficamos da mansão de Biersack, mais desejo que ele não esteja em casa. Torço para que ele volte bem tarde, que tenha trabalho aos tantos e que só volte amanhã se possível.

Porém quando o veículo para em frente a escadaria que leva a adentrar casa, no alto estão Paolo e Andrew conversando.

Saio do carro desfazendo o nó do cachecol, assim que Paolo me vê bate palminhas, sorri com seus dentes perfeitos e brancos. Dou a volta no carro e sigo para o pequeno deque na beirada do lago, ignoro-os completamente e largo o pedaço de pano vermelho no caminho, não era meu, era dele e no momento tudo o que eu quero é a distância máxima que conseguir desse idiota. Deixo a mochila no caminho também, mesmo que apenas alguns materiais que estão ali dentro foram comprados com o dinheiro do moreno arrogante (preferira resgatar minhas coisas antigas e usá-las).

Sentei-me na madeira que rangia e era duvidosa, penso no pobre Paolo que não merecia minha atitude rude, ele era sempre muito bonzinho para meu mau humor, assim que me preparo para virar e ir me desculpar com o mesmo, estalidos na madeira ritmados como passos são distintos e regulares, não vejo quem é mas tenho um bom palpite.

A água esverdeada do lago se choca em pequenas ondas com os pingos persistentes de chuva, fazendo círculos pequenos que crescem gradativamente até sumir.

–Dia ruim? - A voz rouca de Andy me faz tremer por um instante, repreendo meu corpo por se intimidar tão facilmente com alguém como ele.

Escondo as mãos no casaco e procuro olhar para a grama alta perto do estábulo, não quero ver os olhos azuis que uma vez pareceram tão desesperados, tão machucados.

Tenho que continuar pensando que esses olhos me desprezam.

–Christian me disse o que aconteceu mais cedo - Ele espira com certa dificuldade e sinto o cheiro de seus cigarros caros - Gostaria de ter visto, aposto que causou um bom dano à loirinha.

Viro-me estarrecida, incrédula para enxergar um Andy sentado casualmente ao meu lado trajando um suéter e calças simples (ambas pretas, como sempre) com tênis, em volta do pescoço está meu cachecol e um cigarro entre os lábios.

–Você é um grande idiota, sabia disso? - Bufo e continuo encarando-o para crer que ele realmente havia dito aquela asneira.

–E também sou rico - Biersack tira mais uma vez o cigarro dos lábios para deixar a nicotina escapar-lhe pelos lábios, seus olhos estão ávidos e de um azul vivo.

–Ser rico não encobre o fato de que você é o maior idiota que eu já conheci - Digo e o mesmo dá de ombros antes de falar.

–Eu gosto de fingir que encobre.

Solto uma risada curta, algo que não pode ser impedido ou evitado. As mudanças de humor dele eram épicas, não sei se preferiria que ele me ignorasse ou continuasse puxando conversa.

–E eu gostaria de poder te ignorar, como você me ignora - Cuspo as palavras, franzindo as sobrancelhas - Como faz isso? Como consegue?

–Não é muito fácil -Apaga o cigarro na madeira e apoia os cotovelos nos joelhos, voltando a falar - Exige muita prática e aulas específicas, você não conseguiria.

Sua tentativa de uma piada é bem fraca e só levanto as sobrancelhas em um sonoro ''É mesmo?!'' sendo bem gesticulado.

–Okay, já entendi que não vou conseguir arrancar uma risada sua - Andy diz calmo, podendo se dizer até tranquilo. Não parece nem a mesma pessoa da mensagem de hoje mais cedo.

O silêncio permanece enquanto reflito sobre a tentativa do mais alto para me fazer rir, em parte ele realmente conseguira. Dava pra ver que era uma brincadeira que tinha fins bem humorados, porém eu deveria gritar e espernear com ele, mas só de pensar na possibilidade que isso geraria outra briga entre nós dois eu a chuto pra longe, eu não quero mais brigar com Andy.

–Eu quis te mandar aquela mensagem, só para te lembrar que eu estou aqui - Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e volto a olhar para a pele alva do moreno, meus olhos percorrem desde a curva de seus lábios até seus olhos intensos e escaldantes - Mas aí eu lembro que sabe que estou aqui, você só não liga.

Pergunto-me porque é tão difícil me zangar com ele, ter um foco e concentrar-me em apenas isso quando estou perto de Andy, o moreno parece ter um campo magnético próprio para desregular todos os meus sentidos.

–Não quero ser mais uma preocupação pra você - O moreno diz baixo, se não estivéssemos um ao lado do outro, talvez eu não pudesse ouvir - Sei que provavelmente tem coisas melhores pra fazer ou pessoas melhores pra se preocupar. É mais difícil pra mim do que você pensa, ser desse jeito.

Deveria ser muito difícil mesmo ser rico, bonito, famoso, inteligente e com sucesso garantido em qualquer ramo possível, uma vida tão difícil essa que o mais alto seguia a risca, talvez eu não conseguisse acompanhar realmente.

–Não consigo nem imaginar - Respondo sincera e pego a mão do mais alto, ela está gelada e pálida como o céu de hoje - Só quero que entenda que pode contar comigo Andy, vou estar lá por você.

Um sorriso tímido brota nos lábios de Biersack, e ele cresce devagar em um bonito sorriso de verdade. Algo derrete dentro de mim, se faz quente e sadio, feliz por ver o mais velho sorrindo (algo considerado bem raro). Seu olhar é puro e sincero, esperava que ele não dissesse algo negativo sobre minha última sentença, e dei graças pois não o fez.

–Vem, vamos almoçar - Ele tira o lenço de seu pescoço e o enrola em volta do meu, sua respiração roça em minha bochecha enviando um calafrio por todo o meu corpo.

Já estou tão acostumada de ser deixada para trás por Andy, que quando ele se levanta e me espera levantar também fico alguns segundos contemplando-o como uma obra de arte.

–Você vem ou não? - Ele pergunta uma última vez e faz com que eu passe na frente, segurando em minha cintura.

Vamos em silêncio de volta para casa, o clima muito mais ameno dentro da mesma é relaxante e meus músculos não estão mais retesados. A mesa está posta e extremamente recheada, Paolo levanta quando coloca seus olhos em mim e corre para me abraçar, eu o abraço de volta e peço desculpas bem baixo. Ele apenas assente e puxa a cadeira para eu me sentar, minha ''fada madrinha'' era como eu pensava, boa demais para sofrer com meus momentos ruins e mal humores.

Olho em volta mas CC não está aqui, e nem aparenta estar na cozinha. Não troco muitas palavras enquanto almoço com os dois homens sentados juntos à mim, pela primeira vez vejo Andy tentar puxar conversa comigo, ele faz várias tentativas mas tudo o que falo é curto e não demorado. Acho que por ser sempre eu a tagarela, isso o faça se preocupar.

Mas então algo me vem a cabeça, porque Paolo estaria aqui?

–Teremos alguma festa hoje? - Pergunto para Andy que está em sua segunda taça de vinho.

Ele primeiro olha para Paolo e depois para o próprio copo.

–Um jantar na verdade - Responde tomando um gole e depois repousando a taça mais uma vez na mesa - Na casa de Levi.

Biersack não parece muito confortável com a ideia do jantar, ele suspira e remexe a comida desinteressado.

–E qual o problema em jantar lá? - Levi era o jornalista responsável pela coluna social, lembro-me de ser robusto e pomposo mas boa pessoa. Me tratar com carinho e dizer que eu era uma pessoa de sorte.

–Sr. Six está um pouco nervoso, não é? - Paolo pisca pra mim divertido, com um meio sorriso.

–Ele não é de ficar nervoso - Apoio o queixo em uma das mãos - Pelo menos não se mostrou até agora, mas não acho que ele seja de ficar nervoso.

–Minha namorada está completamente certa - Andy diz isso com um sorriso triunfante no rosto, e eu sinto as bochechas queimarem um pouco quando a palavra ''namorada'' é mencionada - O que me preocupa é que Margot vai estar lá pra fazer questão de infernizar minha vida.

Tento me relembrar quem seria Margot, mas não consigo separá-la da multidão que havia falado conosco na noite da festa da empresa. Seu nome é nítido e familiar, mas seu rosto já nem tanto.

–Não se preocupe, tenho certeza que Bela se sairá muito bem - Paolo comenta cortando seu frango grelhado.

Olho pra o cabeleireiro desconfiada.

–O quer dizer?

Ele engole em seco, Andy e o mesmo trocam olhares suspeitos e me sinto completamente de fora do assunto.

–Hoje vão colocar nosso relacionamento à prova - Biersack estala os dedos e dois empregados retiram os pratos de todos, pois já terminamos de comer. Tento agradecer, mas eles se vão antes que possa terminar a sentença - Pessoas importantes vão estar lá, não vai ser como em festas onde podemos enrolar e ir embora. Teremos que conversar, jantar e termos muito cuidado com o que falamos.

Paolo concorda com tudo que Andy fala e coloca uma mecha de cabelo para trás de minha orelha, o foco de qualquer deslize cai sobre mim como uma avalanche. Teria que fazer isso dar certo de qualquer jeito.

–Vamos mostrar que somos um bom casal, que não há falhas - Digo certa de que seria provavelmente a coisa mais difícil de se fazer, mas deveríamos tentar.

O moreno parece estranhamente feliz, tem determinação em seus olhos. Talvez esteja tramando algo para essa noite, mas eu sei que ele não vai me contar.

Paolo se retira e diz que está me esperando lá em cima para começar a fazer o meu cabelo, acho um pouco cedo demais mas logo levanto para segui-lo, no alto da escada a voz do mais alto ecoa e me chama atenção.

–Esteja pronta pra mim às 18h - Grita e logo após a porta da frente é batida.

Preciso estar pronta pra ele, pronta pra ser a namorada que não vai cometer erros e que vai lhe dar orgulho.

Quando acho que Paolo não está nem de longe terminando seu serviço, ele para e me encara com um sorrisinho e pede pra que eu fique em pé em frente ao grande espelho na parede. Acho que desde que subi e começara a ser preparada não tinha me dado conta que olhava o tempo todo para o chão, minha cabeça deveria estar tranquila para o jantar e para o sucesso, mas ela está em muitas outras coisas como em CC, que não vira desde que saíra do carro aquela manhã.

Quando encaro meu reflexo, me espanto por alguns segundos. Meu olhos castanhos se destacam com tantas camadas de rímel, minha fada madrinha traçara linhas nos cantos de meus olhos com delineador e deixara minhas bochechas mais coradas com blush, sem falar no seu poder de ter sumido com minhas olheiras.

Uso um top branco detalhado com preto e uma saia lápis de cintura alta preta também, por baixo meias calças escuras e um sapato que combine com tudo isso. Meu cabelo nunca esteve tão leve e escorrido, não sabia que ele poderia ficar grande assim tão liso, chegava ao fim das minhas costas.

–Você faz milagres Paolo - Balbucio desviando os olhos da menina tão bem vestida que reflete - Eu nunca seria...

–Assim? - Ele terminou a frase me esguichando um cheiroso perfume que estava repousado em minha criado-mudo - Sinto te dizer que você já é, naturalmente! Eu só estou realçando o que você já tem minha querida.

Agradeço sem graça, gostaria de me animar com esse elogio mas nada parece surtir efeito. Instintivamente Paolo me estende um batom vermelho, porém o mesmo o recolhe quando estendo a mão.

–Esqueci que não posso - Ele se corrige com um olhar um tanto suspeito e tamborila os dedos no queixo - Que você não pode no caso.

Respiro fundo e olho o relógio, são 18h em ponto. Por mais que não queira admitir, estou nervosa e com um nó no estômago.

Quero perguntar para Paolo o que vai acontecer comigo se eu estragar esse jantar, se cometer algum deslize e tudo for pelos ares. Mas não sei se quero que ele me responda, mesmo se não souber a resposta.

–Como vai a convivência com Andy? - O cabeleireiro pergunta enquanto recolhe suas ferramentas de trabalho - Ele é um pouco difícil, mas isso você já deve saber.

Um pouco difícil?

Andy é um mistério Paolo - Digo e minhas palavras são sinceras - Eu o odeio porque ele me faz odiá-lo.

–Amor e ódio são palavras muito fortes - Rebate enquanto me ajuda a vestir um casaco longo e parecido com um sobretudo - E a linha entre os dois é muito fina Bela.

Em minha cabeça acho que o mais velho está errado, eu na verdade acho que os dois são completamente antônimos e distintos, mas antes que eu possa expressar minha opinião uma buzina alta toca e ele está aqui, Andy chegou.

Paolo quase me empurra pelas escadas, diz que ainda vai terminar de juntar suas coisas e me sopra um beijo de longe. Aceno brevemente e depois fecho a porta da entrada, está bem frio do lado de fora e ao farol aceso do carro, posso ver uma leve neblina se formando, lá embaixo Biersack está encostado no capô e fuma um cigarro, está usando apenas calças e uma blusa branca com botões pretos e em mangas social, seu cabelo está mais casual nem um pouco imaculado como nas festas, me apresso pra descer e quando chego perto do mesmo, já estou batendo queixo de nervoso ou frio, um dos dois me pegara.

–Você está atrasado - Digo tento conter a tremedeira involuntária.

–Peguei trânsito vindo - Ele joga o cigarro longe e sobra a fumaça quase em meu rosto - Está mais quente no carro, entre.

Andy abre e fecha a porta pra mim, o veículo está realmente muito mais satisfatório do que o lado de fora. Mas meu lábio inferior ainda treme insistente, o mesmo parece mais relaxado do que eu em vários aspectos e escondo as mãos em minhas mangas, giro o cabelo em meus dedos e o coloco pra trás.

Biersack olha para mim com uma sobrancelha arqueada, e depois solta o freio de mão. O caminho é feito com rocks clássicos e bem baixinhos, aparentemente era uma regra entre o ricos e de classe alta morarem longe do centro da cidade, talvez para preservarem a privacidade ou para poderem ter casa grandes. Em uma rua onde só poderia se ver floresta, após a curva ser executada posso ver claramente a casa do jornalista, ela é de longe parecida com a do moreno. O portão de ferro prata se abre com a aproximação do veículo e nós seguimos até a entrada.

Assim que saio do carro posso admirar mais ainda a casa extremamente moderna, com paredes revestidas de madeiras brutas e vidraças claras onde podíamos ver a decoração e seu interior, totalmente o contrário da casa primaveril de Andy. Se fossemos comparar, diríamos que a mansão de Andy era um vinho branco e clássico, e a de Levi era um vinho tinto forte e novo.

Quando começamos a subir as escadas da entrada, minha mão é segurada.

–Quero falar com você antes de subirmos, tudo bem? - Andy está um degrau abaixo e segura seu paletó com os dedos sobre o ombro. Os saltos são altos o suficiente e agora estou praticamente da mesma altura do de olhos claros, posso ver seu piercing brilhando com as luzes daqui de fora.

–Claro - O nervosismo volta e parece que estou sendo sufocada pela gola felpuda de meu agasalho.

Percebo por entre linhas que Andy ainda está segurando minha mão, é a mesma mão que ele colocara uma aliança.

–Não quis ensaiar nada porque nem eu mesmo sei o que vai acontecer hoje - Ele afirma sério, mas não parece estar me repreendo ou coisa parecida - É só uma encenação, você consegue fazer isso... Só precisa seguir a minha deixa.

–Você não parece preocupado que eu vá ferrar com isso - Digo e seguro sua mão com força, não quero olhar em seus oceanos tão intensos - E enquanto isso eu estou quase arrancando os cabelos.

–Não preciso me preocupar com nada, desde que te vi falando com aquelas pessoas na festa da empresa sei disso - Andy põe sua mão livre em meu rosto, segue o contorno de meu maxilar e das minhas bochechas. Cada folículo de meu corpo se eriça à sua voz que está rouca agora, acho que acabei de esquecer como respirar - Você está muito bonita.

Engulo em seco, estamos muito perto e não vejo outra alternativa a não ser encará-lo. Minha mão esquerda se move em direção ao rosto do moreno e posso sentir a maciez de sua pele, parece que estou tocando a mais fina ceda, meu polegar em seu caminho esbarra nos lábios do mesmo e preciso fechar os olhos.

Biersack me beija, o moreno procura meus lábios como se esses fossem ar e ele precisasse desesperadamente respirar.

Estou abraçando-o e uma de minhas mãos está em contato quase direto com seu coração pulsante, os nossos corações pareciam ter apostado uma corrida e agora estavam disparados e martelando para que fossem notados, pedindo para que pegássemos leve ou teriam um ataque a qualquer momento.

Gostaria de dizer que estou hesitante, que neguei que o mais alto aprofundasse o beijo mas não posso. Quando separamo-nos, olho para o mesmo em confusão enquanto tento recobrar o fôlego.

Porque diabos fizemos isso? Esperneio em minha cabeça.

–Isso já é parte da encenação? - Sussurro vacilante, não sei se gosto de encernar desse jeito.

Quando Andy abre a boca para me responder, ele olha através de mim e sorri.

–Não queria atrapalhar os pombinhos mas estávamos ansiosos! - Viro e vejo que Levi está com a grande porta única aberta, ele se abana e Andy entrelaça nossas mãos. - Entrem por favor, podem entrar.

E é o que fazemos, nós entramos na casa com paredes cor de creme e mobiliada com tudo que há de novo e tecnológico. Levi aperta a mão de Andy e depois me dá um abraço apertado, coloco meu melhor sorriso e tento mesmo ser agradável com o senhor de terno azul caro. Quando um dos empregados oferecem para que pendurem nossos agasalhos, Biersack despensa o cavalheiro que se aproximara de mim e começa a desabotoar meu casaco, tento afastar suas mãos enquanto minhas bochechas fervilham.

Assim que Andy abre-o por completo, seus olhos se arregalam e ele torna a fechar.

–Que porra de roupa é essa? - Ele diz completamente transtornado e agarra meu braço, apertando-o.

–Qual o seu problema? Foi a roupa que Paolo escolheu! - Falo baixo e olho em volta para ter certeza que ninguém presencie esta cena - Me mandou usar a roupa e estou usando.

–Eu mandei um vestido pra você usar, filho de uma... - Mas antes que o moreno terminasse seu xingamento, Levi aparece e está com uma expressão de dúvida.

–Andy por favor, estamos fazendo-o esperar - Digo tocando seu braço devagar, ouço-o bufar sonoramente e retira meu casaco com muita má vontade.

Levi conversa animadamente com um Biersack ainda bem mal humorado, mas logo que chegamos na imensa sala de estar que fora decorada e ambientada para um jantar íntimo, fico impressionada com o bom gosto do senhor dessa casa. Luzes amareladas deixavam o ambiente claro e aquecido, alguns arranjos com flores brancas e os móveis cor de caramelo entrelaçava tudo.

Enquanto observo os convidados e até reconheço alguns que conversaram comigo na festa dada pela empresa, vejo que uma senhora me olha de cara feia, parece me analisar e até um pouco julgadora. Lembro-me dela, é Margot.

Essa é Margot.

–Bela, vou roubar seu acompanhante um momento se importa? Sirva-se do que quiser, fique à vontade - Levi diz já puxando Andy para longe, dou de ombros enquanto tenho que me contentar olhando meu ''acompanhante'' se deleitar com supostos amigos. Andy se encaixa perfeitamente aqui, é como se ele tivesse nascido para ter essa vida.

Meu pensamento se volta para CC, queria que ele estivesse aqui para conversar comigo. Mas em vez disso estou sozinha e pouco confortável já que todos estão olhando para mim mesmo que disfarçadamente. Seria pela minha roupa? Ou porque estou com Andy? Ou os dois?

–Olá, bom ver você de novo - Uma voz grave diz, quando viro-me um homem de cabelos castanhos escuros e sorriso simpático que me deixa boba, ele está apenas usando uma camisa vinho e calças sociais mas mesmo assim é muito bonito.

–Desculpe, eu... - Tento achar as palavras certas e me atrapalho bastante - Te conheço?

–Na verdade não, sou Ray Miller - Ele aperta minha mão e pega uma das taças da bandeja do garçom, estendo-me - Mas te vi na última festa e achei que poderia me apresentar.

Sorrio pois existe um tom em sua voz de bondade, agradeço e seguro a taça mesmo sabendo que não posso beber nem uma gota do conteúdo.

–Eu estava com meu namorado, deve conhecer Andy - Digo o mais agradável que posso e tento achá-lo no meio de um círculo de moços com ternos bem feitos e copos de uísque, uma tentativa sem sucesso

–O Sr. Six? Conheço a empresa dele - Ray toma um gole de seu vinho e chega um pouco mais perto para falar comigo - Você não me disse o seu nome.

Antes que eu possa responder por mim mesma, Andy que aparecera instantaneamente atropela minhas palavras e passa seus braços por minha cintura, me puxando contra seu corpo.

–Essa é Bela, minha namorada - Sua voz é rude e Ray parece um pouco incomodado com o jeito que o moreno dirige a palavra a ele, sorri um pouco tentando esconder o desconforto visível - Sobre o que estavam falando, Miller?

–Nada demais, só nos apresentando mesmo Six - Ele diz e acena de leve sua cabeça para mim - É uma pena não podermos ter conversado mais Bela, foi bom te ver Andy.

Ray vai andando para o outro lado da sala e começa a conversar com um outro homem, viro-me para o mais alto que parece satisfeito com o que acabou de fazer. Ele dá um sorriso de lado quando percebe que o encaro e torna a me olhar.

–A primeira pessoa que vem falar comigo e você a enxota? - Digo baixo, tentando não colocar uma carranca no rosto. Precisa parecer uma conversa normal - Não é como se você estivesse com ciúmes, então já pode parar.

–Ele estava te devorando com os olhos - Ele tira meu cabelo do ombro o derramando pelas costas - Culpa dessa roupa idiota, estou apenas fazendo meu dever e tentando não te cobrir com as cortinas.

–Minha roupa não é idiota, estou usando o que me mandaram usar - Coloco meu copo em sua mão, e logo me olha acusatório - E eu não bebi.

–Queridos convidados, gostaria de agradecer a presença de cada um e tenho o maior prazer de anunciar que o jantar está servido - Levi anuncia e balança um pequeno sino, os convidados (inclusive nós) seguimos para a grande mesa de jantar que fora preparada especialmente para nós, a mesa do jornalista era quase o quíntuplo de tamanho da de Andy. Temo que a cada prato tenha que usar talheres diferentes mas nada disso acontece, apesar de ser famoso e refinado Levi é moderno, a cada prato garçons trazem os talheres e trocam seu prato, enchem seu copo com o que estiver bebendo e se retiram. Me localizo sentada ao lado de Andy bem no meio da mesa e de seus convidados, a conversa e sempre bem animada e tem direções diferentes, falam de política, cultura, música e até sobre eles mesmos.

Mas algo que não espero acontece, as vozes se diminuem e as risadas também. Sorvo um pouco de água e quando olho para quem está sentado na ponta da mesa, Levi me encara com um olhar meigo e derretido, tento não engasgar e sorrio de volta.

–Você é bem quieta, não é minha querida? - Ele diz e sei que os olhares de toda mesa estão sobre mim.

–Todos tem tantas histórias ótimas pra contar - Falo o mais alto que posso, olho para Andy e ele está me observando como um dos espectadores - Adoro ouvi-las.

–E porque você não conta um pouco mais de como conheceu nosso querido amigo? - O senhor indica meu suposto namoro ao meu lado, mas o sangue de meu rosto está sendo drenado lentamente.

Eu não tenho ideia do que dizer, preciso inventar uma história boa o suficiente para convencer à todos.

–Na verdade, se não se importar Levi - Andy interrompe e remexe o piercing em diversão, morde um pouco o lábio e depois sorri consigo mesmo - Adoraria contar essa história.

O jornalista assente para que o moreno dê continuidade.

–Eu estava em um café no centro, e bem ocupado resolvendo algumas coisas com Christian quando acabei dando um encontrão com uma estudante muito bonita de cabelos castanhos. Foi café para todo o lado e acabei sujando os materiais e a roupa dessa estudante, acho que nunca fiquei tão feliz em derramar café em alguém. Quando olhei em seus olhos não vi raiva, ou chateação, eu vi mistério e um furacão em formação, tinha alguma coisa naqueles olhos que eu não sabia descrever.

–Fiz questão de pagar materiais novos e um café, dispensei CC e disse para que sentasse para conversar comigo e podermos nos conhecer melhor. Foi a primeira vez que a vi sorrir, e meu coração parecia que estava entrando em curto circuito, ela era irresistível por si só, é claro que a adoro nessas roupas e sapatos mas... Pra mim vê-la pela manhã e saber que é linda rindo, chorando e até mesmo irritada comigo não tem preço.

Minha respiração está engasgada em minha garganta, meus olhos lacrimejam pois não quero piscar um segundo e perder o que Andy fala. Pois tudo o que ele fala é sobre mim, o moreno fala com uma facilidade estúpida e verdadeira (pelo menos é o que meu sub inconsciente diz). Ele faz carinho na minha mão em cima da mesa, e sorri um pouco mais quando coro ao som de suas palavras.

–Eu queria vê-la todos os dias, na verdade eu quero vê-las todos os dias. Toda vez que estou perto de você, sinto que te quero cada vez mais, não consigo imaginar minha vida sem a Bela.

O silêncio na sala seria incômodo em outras circunstâncias, mas aparentemente os convidados também tiraram um pouco de seus tempos para ouvir nossa ''história de amor''.

Andy beija as costas de minha mão em um ato cavalheiro perfeito para fechar com chave de ouro.

Mesmo que ele não esteja dizendo a verdade, um sorriso desabrocha e uma risada escapa. Todos parecem ter adorado e realmente encantados por todas as palavras bonitas do moreno.

–Realmente a coluna social vai adorar esse depoimento tocante - Quem quebra a onda de calmaria é Margot, seu tom é amargo e ela levanta o copo de rum para nós - Se sua intenção era impressionar o Jornal, muito bem feito Biersack.

A senhora bate palmas e Levi um tanto constrangido com a situação tenta retomar a conversa, mas a repórter o interrompe mais uma vez.

–Eu gostaria muito de saber o que seu pai acharia dessa jogada de marketing barata que está tentando aplicar em nós...

–Chega! - A voz do anfitrião ecoa pela sala de jantar, e silencia Margot de uma vez. Ela se levanta e retira-se do cômodo antes que Levi possa mandá-la pedir desculpas.

Olho para Andy que está um pouco esmaecido, mas suas mãos ainda estão sobre as minhas e ele parece calmo o suficiente para continuar com tudo isso. O jantar termina com um clima um pouco pesado, não esperava que isso fosse acontecer e os outros convidados espantados do jeito que estavam com toda a certeza também não.

Somos os últimos a irem embora, quando somos levados a até a porta mil desculpas são dadas e Levi diz estar profundamente envergonhado com o comportamento da irmã. Pergunto-me como dois irmãos podem ser tão distintos, enquanto o jornalista era carinhoso e amigável, Margot por outro lado era amarga e rancorosa. Seguimos o caminho quietos, não sei se devo me pronunciar sobre esta noite porque acho que ela não terminara do jeito planejado, o moreno estaria bravo? Faria um inferno da vida de Margot como ele fazia da minha quando se irritava?

A madrugada chegara rápido quando entramos na casa neutra, tiro os sapatos dos pés um pouco doloridos.

–Andy? - Chamo-o enquanto o mais alto acende algumas luzes da casa e segue para a sala de estar. Ele liga a TV e se joga em seu largo sofá marrom e bem acolchoado.

Ele esfrega os olhos e desabotoa os três primeiros botões de sua camisa, colocado em algum filme depois de passar por diversos canais. Sento-me ao seu lado e encosto minha cabeça no apoio, seu perfil é tão gelado e distante.

Não foi como em nosso beijo, que pude sentir cada átomo de seu corpo fervilhar contra o meu.

–Eu fiz algo de errado? - Pergunto, girando em meu dedo a aliança fina.

–Você exerceu seu trabalho perfeitamente - Balbucia antes de fechar os olhos e encostar sua cabeça em meu ombro - Agora é esperar e ver o que vai acontecer.

–Obrigada - Sorrio um pouco mais relaxada.

–Mas ainda não gostei nem um pouco das suas roupas - Rimos juntos e fecho meus olhos também.

Eu poderia mentir e dizer que sem altos e baixos, nós vivemos completamente bem, mas devemos nos certificar que os melhores momentos vem das piores situações. Por que isso é a vida, é odiar com toda sua vontade e amar com todo seu ser, acho que agora entendo o que disseram sobre a linha entre o amor e o ódio ser bem fina, talvez fosse mesmo... Ou apenas não existisse.


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Notas finais do capítulo

Ainda não estou satisfeita com esse final, pqp alguém me espanca! Mas né ):
xoxo



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