Lá estava eu, Kayleen Grossman (sim, eu tenho um sobrenome estranho, ADMITO), com os meus headphones, no meio do mato, tentando ouvir um pouco de música sozinha, porque meus colegas com os quais eu estava acampando só sabiam gritar e desarrumar minhas coisas. Não os culpo: até eu, como todo mundo no planeta, me acha a típica adolescente ANORMAL.

Mas, fala sério, com minhas black jeans meio rasgadas, blusa rosa com purpurina na frente e meu agasalho vermelho sangue, sem contar os brincos de florzinha, eu parecia quase normal. Quase.

Desde que eu aprendi a falar, coisas estranhas acontecem quando eu estou perto da natureza. Nas vezes em que fui acampar, meus amigos sempre saíram para explorar o lugar e me deixaram de guarda. Resultado? Quando voltavam, as barracas estavam montadas, tinha uma cesta com frutas no chão e uma fogueira acesa perfeitamente estável. O problema é que não sou eu quem faço isso. Quando viro as costas, é como se as árvores arrumassem tudo, sabe?

Não, é claro que você não sabe. Que pessoa no mundo conseguiria acreditar em mim? De verdade? Acho que ninguém.

Mas tenho que usar meus poderes persuasivos para fazer com que você, leitor, acredite em mim. Por isso, vou contar a minha história. Assim, você poderá tirar suas próprias conclusões. Ah, e acredite: isto NÃO É ficção.

~0ooOoo0~

Era um belo dia, quando Violet Hectress – a maior patricinha do Colégio Glorious Mary para Meninas (ou, como eu chamo, GM School) – pisou no meu pé de propósito, e disse inocentemente:

“- Oh, desculpe, Srta. Aberração. Está indo para a aula de leitura? Meu Deus, eu achei que você tivesse 12, e não seis anos.”

Rangi os dentes e fuzilei ela e suas amiguinhas estúpidas com os olhos. Enquanto arrumava todo o material que tinha caído do meu armário, me concentrei em observar o rosto de Violet. O que ela tinha e eu não? Tá, os cabelos louros, os dentes sem aparelho, os caninos afiados...

Foi aí que levei um susto. Caninos afiados? Seria ela uma vampira?Bem, pelo menos isso explicava porque ela nunca ia às festas na piscina e sempre usava meia-calça, chapéu e óculos escuros para sair do colégio em dias de sol.Mas aí lembrei que agora a nova moda era fazer ponta nos dentes pra exibir um sorriso só de caninos.Bem lindo, sabe?(SÓ QUE NÃO). Que bizarro!

Ignorei. Continuei catando meus cadernos – minha mãe não tem dinheiro para comprar os livros e é proibido fazer cópia deles, e por isso copio à mão todos os exercícios e textos – e uma de suas amiguinhas deu um tapa nas minhas costas, fazendo que sem querer eu deixasse tudo cair no chão.

Dava para ver que elas queriam briga, mas eu não estava a fim de dar à Violet o gostinho de ter seu intento realizado. Por isso, respondi, bem malcriada:

– Bem, até mais, Violet. Te vejo na aula de trigonometria avançada.

E saí.