Devo admitir que oque Marvel falou me abalou. Não tinha nem cogitado a idéia de cato ser como “um remédio”para meus Flashs, era simplesmente ridícula tal suposição.

Porem após algum tempo separados, eu percebi que Marvel talvez estivesse certo. Depois que Cato se foi, meus Flashs voltaram com toda força e eu demorei a me reerguer novamente.

~Flashback on~

– Clove... – o loiro suspira e eu o encaro curiosa- preciso lhe contar uma coisa- ele resmunga, batendo com a mão no sofá ao seu lado.

– Que foi Cato?- questiono preocupada.

– Eu... eu... eu vou ir pra Itália.- ele faz uma pausa- Permanentemente.

– Heim? Como assim permanentemente? Achei que faria universidade em Harvard.

– Eu também achava- ele baixa o olhar e suspira novamente- Meus pais estão me arrastando para a Itália, e como sou menor de idade não posso fazer absolutamente nada contra.

– Não... Não...- lamento para mim mesma, as lagrimas inundando meus olhos e escorrendo pelo meu rosto- Você não pode ir... não!- Grito, levantando-me e corro para a cozinha, deixando um Cato apavorado para trás.- Já chega! Já cansei de pessoas fazendo isso comigo! Você não pode ir Cato!

– Clove! Calma! Vai acabar tendo um ataque! Acalme-se!

– Não! NÃO ME MANDE FICAR CALMA! NÃO É VOCE QUE SEMPRE É ABANDONADO! NÃO É VOCE QUE SEMPRE PERDE TUDO QUE AMA!

– CLOVE!

– Saia daqui Cato! SAIA DAQUI CATO! AGORA!

–MAS QUE GRITARIA É ESSA?- berra Marvel, intervindo na briga.

– SAIA DAQUI VOCE TAMBEM MARVEL!

No calor da raiva e da tristeza, agarro todas as facas que consigo no faqueiro e arremesso contra eles. Maldita mira certeira! Acabo por acertar duas facas no braço direito de Cato, que protegiam seu rosto, e deixo-o com um corte na bochecha. Marvel, como estava mais distante de Cato e parcialmente atrás do pilar da cozinha, acaba apenas com alguns cortes leves.

– CLOVE PARA! PARA POR FAVOR! VOCE NÃO PODE PERDER O CONTROLE DENOVO! PARA!- grita Marvel, se aproximando calmamente de mim, como se eu fosse um cachorro raivoso.

– NÃO! AFASTA-SE DE MIM! –berro e corro para fora da cozinha, passando por baixo dos braços abertos de Marvel que tentava me cercar e por um Cato completamente perturbado. Subo para meu quarto e me tranco lá.

Escuto os paços de Marvel subindo as escadas e posteriormente paços leves demais para serem de Cato, porem na hora nem dou bola. Escorrego minhas costas pela porta até conseguir me sentar no chão. Coloco minha cabeça entre as pernas e respiro ofegantemente. E meu primeiro Flash em meses começa.

“ – Viu só Clove! Ninguém quer você por perto! Sua mostrinha! Porque não acaba logo com isso tudo? Com o sofrimento da sua família e de seu irmão?

A imagem de Marvel vem a minha cabeça, os momentos bons que passamos juntos. Seu sorriso... Logo após de Ramona e de tio Maiky...

– Com o sofrimento dos seus amigos em ter que aturá-la...

Marvel. Glimmer. Katniss. Peeta. Johanna. Gale. Enobaria. Brutus. Thresh. Rue. Prim. Jonathan. Cashmere. Annie. Finnick. Foxface. Todos eles me passam pela mente e momentos maravilhosos que tivemos. Festas. Risos. Sorrisos. Amores. Tudo. Absolutamente tudo de bom.

Mas ai começou a parte ruim. Tudo que já fiz e tudo que faço. Eu realmente sou um mostro. As pessoas que já machuquei. As coisas que já falei. Eu sou um mostro. UM MONSTRO!

– PARA! PARA COM ISSO! PARA!-grito em resposta a tortura de Vênia- VOCE NÃO PODE ME TORTURAR PARA SEMPRE!

– É ai que você se engana. Eu não estou te torturando. Seu subconsciente esta. EU SOU APENAS SUA MENTE CLOVE! Você mesma se castiga. Você mesma projeta seus Flashs. Você sabe que é um mostro.

– CALE-SE!

–Mas já? EU NEM COMECEI!- uma risada brutal retumba em meus ouvidos- Acha que é só isso? Já pensou oque você faz com Cato? Seu amado Catinho!?- sua voz debocha de mim e eu apenas grito mais- Acha que ele está indo para a Itália por que não tem escolha!? HÁHÁ! Até parece! Você sabe que ele esta se afastando por que não agüenta mais esse mostro ao lado. Ele se divertiu com você no inicio, agora ele percebeu o quão culpada, o quão repulsiva e assassina você é!

– NÃO! CALA A BOCA! NÃO É VERDADE!”

Choro convulsivamente até o Flash se extinguir. Só percebo que o Flash acabou quando escuto as vozes vindas de fora do meu quarto. Elas berram para mim abrir. Perguntam oque aconteceu. Mas estou tão confusa que rumo para o banheiro e fecho lá dentro, bem a tempo de escutar a minha porta ser arrombada.

– CLOVE! CADE VOCE!?- berra Marvel, em pouco tempo escuto sua voz atrás da porta do banheiro- CLOVE ABRE ESSA MALDITA PORTA! VOCE ACABOU DE TER UM FLASH! ABRE ESSA COISA ANTES QUE EU ARROMBE E TE ARRASTE PRA FORA!

– Me deixa Marvel- respondo em um resmungo, mas acho que ele ouviu, pois logo se acalma.

– Clove, por favor... abre.- ele pede de forma suave.

– Marvs... eu... eu não...- volto a chorar e tudo vira um borrão.

O desespero me bate e eu faço algo que nunca pensei que faria novamente. Levanto do chão aonde havia sentado e caminho aos trancos até o balcão da pia. Abro a gaveta e tateio até encontrar minha adaga, junto dela estavam minhas outras facas de arremesso.

Pego a adaga e a levo até meus pulsos, cortando-os até as gotículas vermelhas mancharem o branco da minha pele. Mas não fica só nisso. Depois de um tempo, minhas pernas estão cobertas de sangue e minhas roupas encharcadas.

Começo a me sentir tonta pela falta de sangue e caio no chão. Berrando e chorando. Só lembro de Finnick arrombando o banheiro e Marvel me injetando algo na veia.

~Flashback off~

***

3 semanas depois.

Estou saindo do hospital agora. Marvel não larga de mim com medo que eu faça novas loucuras. Nossos amigos nos acompanham e me olham com pesar.

Já Cato... bom... Cato não apareceu no hospital, isso me alegra e me deixa triste, não agüentaria olhar na sua cara, acho que arrancaria todos aqueles fios de mim só para poder espancá-lo. Por outro lado, eu aprendi a amá-lo e me dói saber que não o verei mais.

Ele embarcou pra Itália quatro horas após ter me contado que ia para lá, e não deu mais noticias.

Marvel tem planos para nós dois, mas sei que não vão se cumprir, afinal ele e Glimmer estão noivos, não oficialmente, pois quiseram esperar minha recuperação para que eu possa participar do jantar com os pais de Glimm, mas, enfim, ele a pediu de noivado na minha frente, quando ambos me visitavam no hospital. Meu susto foi tão grande que meus batimentos aceleraram assustadoramente, os aparelhos bíparam a todo vapor e a enfermeira os enxotou do quarto.

Portanto, logo vou ter que arranjar outro lugar para viver que não seja com Marvel, pois não estou afim de ficar ouvindo os dois na privacidade e nem de assistir seu romance meloso.

– Hei Clove! Acorda! Estamos falando com você! – berra Eno em meu ouvido, se soltando de Brutus para me dar um tapinha no rosto.

– Oi!?- questiono confusa.

– Estávamos pensando... todos estamos praticamente formados, alguns já se formaram e falta apenas um ano para o resto conseguir os diplomas. Então cogitamos a idéia de comprar uma casa em Cambridge, para dividirmos. Todos já conversamos com nossos pais, que depois de muito remoer osso, eles aceitaram- ela revira os olhos e da um sorriso de canto- E queríamos saber oque você acha. Afinal Marvel só vai se você for e Glimmer só vai se o Marvelus dela for- ela faz uma voz melosa no final desencadeando uma onda de risos em todos.

– Não achei graça- fala Glimmer, se agarrando a um Marvel completamente corado.

– Por mim- falo dando de ombros- Não pretendo fazer faculdade. Quero viajar e quem sabe voltar a competir com as minhas facas. – quando toco no assunto facas, todos me olham, alguns com os olhos arregalados, outros me repreendendo.

– Nada de facas por um tempo, morena- fala Gloss me abraçando de lado.

Embarcamos nos carros. Eu, Gloss, Eno e Brutus na caminhonete ford f-250 super chief do Brutus. E o resto se dividiu nos demais carros. Não preciso nem dizer que Eno praticamente me arrastou pelos cabelos para dentro do carro e que Marvel levou um belo de um soco pra me largar, não é?

A cena ficou na memória, por que depois de quase 5 meses, ela se repetiu, mas dessa vez em direção a Cambridge.