– Oque faz aqui?- Gale pergunta visivelmente desconfortável.

– O mesmo que vocês, fugindo da escola e da asquerosa professora de Historia- ele responde.

– Fiquei sabendo que entrou no time...

– Tenho vontade de jogar futebol americano, e estou entrando por alguém em especial- ele me olha e eu estremeço – Você não deveria estar aqui Clove com Gale.

–Marvel... eu... – tento argumentar ligeiramente nervosa, ele ria da minha cara.

– Você deveria estar aqui comigo. Se é pra você fugir, fuja com seu irmão né mongol?- diz brincalhão.

– Mongol? Você não tem medo de quebrar o nariz de novo né mané? – entro na brincadeira- E que historia é essa de você estar no time e não me contar? Poxa eu sou sua Irma babaca!

– Eu sei, mas você estava ocupada com seu amiguinho... o Cato... não gosto daquele garoto perto de você! – ele fala magoado e seu olha se torna resentimento.

–Já vi que to sobrando na conversa- murmura Gale, que é ignorado.

–Se ao menos eu soubesse que você ia fazer o teste, eu nem teria cogitado a ideia de sair com Cato! – de nervosa eu fico na defensiva, odeio ver meu irmão assim, mas não vou ficar levando a culpa do que não tenho!- Você acha que eu sou oque!? Mãe de Sá!? Vidente!? Porra Marvel! Você podia ter me falado! Achei que você me conhecesse mais a ponte de saber que eu deixaria de tudo até para te ver dançar balé!

– Sim, eu te conheço a ponto de entrar no time por sua causa, para poder ficar de olho em você, para que fossemos da mesma turma, mas parece que você nem se tocou disso né morena? – ele me olha ainda mais ressentido e meu coração pesa.

Não posso negar, Marvel é tudo pra mim, tudo que tenho, tudo que mais amo e prezo nessa merda de vida, depois da tudo que passamos ele foi tudo que me restou, afinal meu pai, alem de beber mais do que respira, me culpava por tudo abertamente, meu Flashs só pioram por causa dele.

– Desculpa, eu sou uma completa estúpida Marvel, não devia ser tão glaucomatosa a ponto de não ver o quanto isso é importante, tanto para você quanto para mim. Desculpa mesmo, eu... eu... sinto muito... eu... eu... vou indo....

Viro-me para a saída segurando as lagrimas. Será possível que não consigo fazer nada certo? Sou tão idiota que até meu irmão eu consigo afastar? Quem será o próximo? Gale? Annie? Cato? EU SOU UM MONSTRO! UM MONSTRO QUE NEM OS PROPRIOS SENTIMENTOS CONSEGUE CONTROLAR! QUAL É O MEU PROBLEMA?

– Clove! Volta aqui! CLÔ! CLOVE! POR FAVOR! PEQUENA! VOLTA AQUI!- alguém gritar, mas não dou bola as diferentes vozes que chamam meu nome as minhas costas.

Corro em direção a minha moto, já completamente embargada em lagrimas, sem nem olhar oque faço, dou partida e acelero, estou prestes a sair do estacionamento a toda velocidade quando Marvel aparece na minha frente, abrindo os braços como o cristo redentor, freio com tudo e por pouco não o atropelo. Ofego. Desligo a moto e desço, caminhando até ele como uma louca.

– VOCE TÁ LOUCO? TÁ QUERENDO MORRER TAMBEM MARVEL?- grito descontrolada, atingida pela raiva e pela dor- QUER SER MINHA SEGUNDA VITIMA? QUER QUE EU TE VITIME COMO VITIMEI VÊNIA? QUER ME DEIXAR TAMBEM?

– CALMA CLOVE! CALMA! Ninguém vai te deixar! Você não matou ninguém! Esta tudo certo! Foi só um acidente! Não foi você! Esta tudo certo. Esta tudo bem... – ele tenta me acalmar já prevendo meu Flash, mas antes que ele consiga me parar, eu já cai na escuridão.

“Viu só Clove? Você é um mostro! Não bastava ter me matado, tinha que matar seu irmão também! – minha mãe fala enquanto caminha em minha volta- Você deveria é acabar logo com isso. Fazer a justiça que você sabe que ninguém pode fazer por você.

Ela para de caminhar e levanta a mão, entendo a mim uma das minhas facas de arremesso, minha predileta para falar a verdade, a minha primeira, a que ela me deu.

– Você sabe que ninguém pode fazer isso por você. Você tem que fazer oque é certo uma vez na vida. Vai em frente assassinazinha. Vai em frente e faça o certo.

Levanto a faca, meus olhos lacrimejam...

–CLOVE!

Escuto meu nome, mas nada pode me impedir agora. Eu vou fazer oque minha mãe pede. Pelo menos dessa vez.

– CLOVE! VOLTA! VOLTA! POR FAVOR! CLOVE!

Essa voz... eu conheço essa voz... balanço a cabeça para afastar o pensamento e aproximo a faca de meu estomago.

– CLOVE! OLHA PRA MIM! CLOVE!

Essa voz não é de Marvel... será que o matei também? Será que ele esta na minha lista de vitimas também? Não suportaria viver com isso... eu...sou realmente um... mostro...

Algo puxa meu queixo de fortemente e por reflexo solto a faca.

– Pegue-a! Termine logo!- grita Vênia e eu tento agarrar a faca, mas algo invisível me segura e eu não consigo me mexer.

Algo de estranho acontece e de um quarto escuro, eu vou parar em um oceano extremamente azul, um azul conturbado, mas um azul...

A inconsciência vai me atingindo ao mesmo tempo em que meu flash vai se dissipando.”

– CLOVE!? CLOVE! ACORDA CLOVE! NÃO FAZ ISSO! FICA ACORDADA!- procuro com os olhos quem me segura e encontro duas orbitas azuis como o mar em que me encontrava a alguns estante. Tempestuoso e preocupado.

– Marvel...- solto com o resquício de voz que me sobrou.

– Não. Cato.

– Ca... – a inconsciência me toma assim que descubro quem me chamava. Onde estará Marvel? Será que realmente o matei? Não lembro direito...

***

P.O.V. Cato.

Estava considerando a possibilidade de tirar a cara do cardápio que estava usando para me esconder de Marvel, afinal obviamente ele não gosta de mim e não to afim de brigar com ninguém hoje, quando escuto uma discução. Olho para traz e me deparo com uma Clove completamente abalada se desculpando, e em seguida saindo correndo para fora do bar.

Marvel corre para fora e começa a chama-la, assim como Gale. Acabo por me preocupar e correr para fora, chamando-a também.

Ela da partida na moto e só vejo o vulto de Marvel se jogando na frente, acho que loucura é de família...

Ela grita algo completamente sem sentido para mim e pela cara de Gale, ele também tava perdido. Marvel tenta controla-la dizendo coisas como “esta tudo bem” e “não é sua culpa, foi um acidente”, obviamente preocupado, mas algo me intriga... do nada ela fica estática, os olhos vidrados e a boca entreaberta.

– DROGA! CLOVE! VOLTA CLOVE!

Corro até lá juntamente com Gale. Marvel se ajoelha no chão e faz Clove deitar em seu colo, ele chora como uma criança e pede para que a Irma volte, mas nada acontece, depois de uns 15 minutos ele se acalma e nos conta sobre o acidente, sobre os Flash, sobre como o pai deles a culpa e consequentemente, como ela se culpa.

É simplesmente muita coisa para processar... Clove não demonstrava nenhum resquício do que sofre... como ela pode ter tanto autocontrole?

Algo em mim se desespera ao ouvir Marvel dizer que, dependendo da gravidade do Flash, ela pode chegar a ficar internada em um estado de coma. A agarro e começo a chama-la.

–CLOVE! – grito- CLOVE! VOLTA! VOLTA! POR FAVOR! CLOVE!

Espero um pouco observando se teve alguma reação, mas nada acontece.

– CLOVE! OLHA PRA MIM! CLOVE!- grito ainda mais alto CLOVE!? CLOVE! ACORDA CLOVE! NÃO FAZ ISSO! FICA ACORDADA!- seus olhos se abrem um pouco e ela me fita, porem não parece entender oque esta acontecendo.

– Marvel...- ela chama com a voz fraca.

– Não. Cato. – digo aliviado e um brilho de reconhecimento surge em seus olhos.

– Ca... – a inconsciência a toma e eu volto a chacoalha-la como um boneco e chamar seu nome.

– Para cara, ela só vai acordar daqui a umas 2 ou 3 horas.- fala Marvel, já controlado- Não adianta eu já tentei isso. Só não entendo como você a tirou do Flash tão rápido... eu demoro no mínimo uns 10 minutos, se não mais... – ele fala esfregando o queixo- Bom... deixa pra lá – ele da de ombros- Me ajuda a coloca-la no meu carro.

A deitamos no banco de trás do carro de Marvel e ele nos encaram com um sorrisinho.

– E ai? Alguém sabe dirigir uma moto?

– Eu sei – diz Gale, que pega a chave e arranca com a moto, indo embora. Eu dou uma ultima olhada para Clove e entro no meu carro. É muita coisa para processar...

Clove realmente é cheia de segredos....