How argue you with it?
Oh, how argue you with it?
Why, oh why?
Well like you ever heard a heart cry

James nunca esperou que sua formatura chegasse daquele jeito. Sua mãe insistia em arrumar todo tempo a roupa, e o sorriso orgulhoso nos olhos de Harry Potter toda vez que um conhecido parava para conversar sobre universidades. E, é claro, Dominique. Ela tinha dito que viria, mas dela James sabia que poderia esperar tudo.

–Mãe, acho que é suficiente. – ele se livrou das mãos de Gina enquanto Teddy se aproximava, com Fred e Roxanne em seu encalço.

O mais velho bateu em sua cabeça, com cuidado para não despentear os fios rebeldes que tinham dado enorme trabalho para serem arrumados.

–Finalmente, James, você será um homem crescido.

–Em breve, poderá comprar as próprias miniaturas!- completou Roxanne, sorrindo.

James tentou encobrir a risada.

–São action figures, Roxanne.

Ela fez um gesto de impaciência, se virando para olhar algo no celular. Fred abraçou James pelos ombros, o guiando em direção ao prédio principal. Ficaram os dois no gramado, encarando o lugar com aspecto antigo, e arquitetura inspirada nos famosos castelos europeus. Pensando nas paredes que guardavam algumas das melhores e piores lembranças do ensino médio. Passaram um longo tempo ali, apenas encarando, e absorvendo que era a última vez que se encontravam naqueles domínios com o rótulo de “alunos”. A última vez. James estaria se formando com louvor, Fred tinha se graduado raspando. Mesmo assim, eram os últimos momentos como alunos de Hogwarts High. As últimas horas da mais complexa e superestimada fase de suas vidas.

–Quando eu era novato, não pensei muito no dia de hoje. – Fred admitiu. – Nunca achei que fosse passar.

James riu.

–Claro que você passaria, babaca. Sempre colou dos meus testes.

–Apenas nas aulas que tínhamos juntos!- protestou o ruivo, com uma piscada marota. – Fomos a reinvenção desse lugar, James.

–Arrependido de não ter escrito nossos nomes no telhado com tinta vermelha?- James brincou, recebendo um sorriso misto de felicidade e tristeza.

O raciocínio de ambos foi cortado quando Molly chegou, pulando nos braços de Fred com uma força incrível. James se afastou, querendo dar privacidade ao casal. Sua mão coçava para pegar o celular e mandar uma mensagem para Dominique. Eles ainda não tinham rótulos, mas agiam como namorados. E ele estava adorando. Caminhou olhando a sua volta, observando a família e tentando guardar cada detalhe do lugar. Foi só quando olhava minuciosamente que notou uma figura loira, com um vestido branco e uma câmera na mão.

–Achei que você não vinha. – James admitiu, conforme caminhava para perto dela. Dominique mantinha a câmera erguida, e ele realmente acreditava que ela estivesse fotografando. Estava com um dos seus melhores sorrisos no rosto, aquele que parecia natural e não continha nenhum traço de ironia.

Dominique abaixou a máquina fotográfica. Ela estivera tirando fotos de James e Fred, depois de James sozinho, por algum tempo. Deu de ombros, equilibrando a bolsa novamente nos ombros.

–Não perderia por nada. Bem, quase nada.

–Isso me deixa aliviado. – James brincou, agora perto dela, perto o suficiente para puxa-la pela cintura.

–Nossos pais estão aqui, Potter. – ela respondeu, sabendo que estava apenas fazendo uma cena. Dominique era patética quando o assunto era James Potter.

–E desde quando você se importou?- James sussurrou.

–Desde sempre?- ela ergueu uma sobrancelha, já passando os braços pelo pescoço de James. – Mas como é seu último dia aqui, vou te dar essa mordomia.

Ele encostou seus narizes antes de se beijarem, ali mesmo, no meio de formandos correndo e famílias tirando fotos. Victorie apareceu para atrapalhar.

–Oi casal!- ela alongou a última vogal. – Está na hora de entrar. Ah, o amor adolescente não é lindo?

James fez uma careta.

–Vai arrumar um canto escuro para se agarrar com o Teddy, vai, Victorie.

–Alguém ficou estressadinho - a Delacour mais velha provocou, e Dominique segurou no braço de James. – Leve seu homem para dentro agora, maninha.

Ela ficou na ponta dos pés, beijando a bochecha do mesmo em seguida.

–Vamos, alguém aqui precisar pegar um diploma.

Caminharam juntos até o prédio, num silencio confortável. Dominique sentia o clima de despedida que emanava de James, e respeitava isso. Ela sabia que se sentiria exatamente assim quando fosse sua vez de se formar, no próximo ano. E sabia que aquilo tudo era ainda mais intenso para o Potter, uma vez que no dia seguinte ele já partiria para um curso intensivo de verão, em Columbia, quase que do outro lado do país. Ele apertou mais sua mão quando começaram a caminhar pelo corredor, agora vazio. Os quatro mascotes de Hogwarts ali estavam, assim como as cores. Verde, vermelho, amarelo e azul.

Estavam quase na porta do auditório agora, quando alguém apareceu no meio do corredor. James congelou por um segundo. Era Jane. Os dois tinham se afastado consideravelmente após a festa na casa de Kim Chang, e agora não passavam de estranhas conversas corteses e acenos. A morena pigarreou, brincando inquieta com a barra da beca.

–Posso falar com você, James?

James sentiu tentado a dizer não. Dominique queria que ele dissesse não, mas sabia que isso nunca aconteceria. James e Jane tinham sido amigos por anos. Eles mereciam uma última conversa.

–Não vou te agarrar, James- Jane rolou os olhos. – E estou perfeitamente sóbria, obrigada. – ela evitava olhar na direção de Dominique, como se isso fosse mudar alguma coisa.

Lentamente, Nique soltou a mão de James.

–Estarei lá dentro. Não demore, ou os Weasley-Potter vão me devorar viva. – ela ameaçou ir embora, mas James a puxou para mais um beijo.

Dominique sorriu sem graça para Jane enquanto seguia caminho até o auditório. James observou-a sumir de vista antes de se virar para Jane. Ele não sabia mais o que dizer para ela.

–Você queria conversar, Jane. Fale.

–Não precisa ser grosso. – ela respirou fundo. – Eu sei que estraguei tudo, James, e fui cega demais. Durante anos. Eu tinha você na palma da minha mão, James! É apenas absurdo que você tenha jogado fora uma história de anos para ficar com uma qualquerzinha e se dizer apaixonado com menos de 24h de convivência. - ela foi se aproximando, cada vez mais, colocando a mão no ombro de James e abaixando o tom. – Agora eu vejo. Sempre fomos perfeitos juntos. Estamos indo para a faculdade, estamos na mesma página. Eu estou pronta agora, Jay. Podemos ficar juntos. Estou apaixonada por você, James Potter.

Alguns meses atrás, ele hesitaria. Na verdade, alguns meses atrás James estaria pronto para abrir os braços para ela, mas agora ele via. Jane nada mais era que uma menina mimada, acostumada a ter o que queria na hora que bem entendesse, e ele era apenas mais um de seus caprichos. Sorriu, tirando as mãos dela do seu ombro e a afastando.

–Houve um tempo em que eu queria escutar isso. Mas não mais. Dominique em 24h tinha sido mais compreensiva e interessante do que você jamais conseguiu em uma vida toda, Jane. Sinto muito que tenha que ter sido assim. Mas eu estou apaixonado por uma garota, e ela não é você.

Jane piscou, abrindo e fechando a boca como se não soubesse o que dizer. Por fim, escancarou seu melhor sorriso de superioridade.

–Jaymie, eu tentei te avisar.- Jane riu. – Você na faculdade e ela no ensino médio? Você em New York e ela nesse fim de mundo? Acha mesmo que esse relacionamento de longa distancia vai funcionar? Em menos de um mês, você vai arranjar uma veterana gata e nova iorquina, enquanto ela vai se engalfinhar com um tipinho de high school. Estão fadados ao fracasso, James. Apenas se prepare para isso. E perceba a chance de ouro de ficar comigo que deixou escapar.

James só conseguiu rir conforme Jane sumia de suas vistas. Ele passou a mão pelos cabelos, pouco se importando se iria ficar desarrumado. A situação toda era absurda, e tudo que James podia fazer era rir.

Dominique saiu de fininho da porta de entrada do auditório. Ela sorria. James abriu os braços para a garota.

–Você estava ouvindo tudo?

–Mas é claro. Eu não ia te deixar sozinho com Jane Harmon. – Dominique forçou as últimas duas palavras e James gargalhou.

–Você é incrível. – ele afirmou, logo antes de juntarem as mãos mais uma vez e entrarem de verdade no auditório.

Enquanto os formandos riam, ouviam discursos e choravam lá na frente, Dominique mantinha a postura mas sem tirar uma das frases de Jane da cabeça. Ela sabia que essa tinha sido a intenção da garota, e que não deveria morder a isca, mas era inevitável. “Você na faculdade e ela no ensino médio? Você em New York e ela nesse fim de mundo? Acha mesmo que esse relacionamento de longa distancia vai funcionar?”, as palavras cruéis de Jane se repetiam, cada vez mais como um grito de verdade. Manter uma namorada no High School do outro lado do país era quase empacar uma vida. Dominique sentia que estaria privando sim James, o privando de viver seu ano de calouro com toda as festas e sem compromissos.

A loira lançou um olhar triste ao observar o namorado subir e segurar seu diploma, sorrindo para os pais e depois especialmente para ela. Doía, o que Dominique iria fazer. Mas ela nunca se perdoaria se não o fizesse.

***

–Você está estranha. – James afirmou, com o rosto no pescoço da namorada. Ela sorria, mas havia um leve tremor em todos os seus atos. – O que foi, Nique?

Ele se afastou com o silencio dela. Dominique não era de fazer ceninhas, não importava o que acontecesse. Ele nunca superaria o dia em que tinham se acertado, depois da festa de Kim Chang. James tinha chegado esperando gritos e tapas, e fora recebido de forma completamente diferente. Baseado nas atitudes, ele nunca diria que Dominique Delacour tinha dezesseis anos.

Dominique segurou o rosto dele, o beijando lentamente.

–Nada. Eu só... Eventos assim me deixam sensível. – ela respondeu, sem mentir completamente. Era verdade. Dominique sempre se lembraria da formatura que perdeu na França, com todos os amigos que tinha sido obrigada a deixar para trás. Por mais que tivesse inúmeros motivos para adorar os EUA agora, o sonho de se formar com a turma que tinha estudado até ano passado seriam sempre isso. Sonhos.

James não pareceu comprar a resposta.

–Hum... Só isso? Tem certeza? – ele insistiu, as testas coladas.

Dominique assentiu.

–Tenho, James.

Ele respirou fundo uma vez, ainda abraçado a ela.

–Você não me engana mais, Nique.

–O que...

–Vamos apenas aproveitar a festa, ok?- James sentenciou, se levantando e abrindo um sorriso. – Que tal dançar?

–Achei que você não dançasse. – Dominique brincou, se levantando. – Mas eu adoraria.

***

James esperava o fim da noite (já madrugada), com um aperto. Ele não era nenhum idiota, e bem, estava pensando muito sobre aquilo ultimamente. O que Jane tinha dito apenas serviu como o empurrão que faltava, para os dois. Separados por um país quase inteiro, James sabia que se sentiria culpado. Prendendo uma adolescente no seu último ano, talvez nem aos bailes ela fosse. Não que Dominique fosse do tipo que ligasse, mas era inevitável. E se ela resolvesse começar a se importar? Ele mesmo tinha mudado muito no seu último ano, e a prova disso era o próprio relacionamento com Dominique.

Os dois caminharam de mãos dadas até a entrada da casa dela. Fleur e Bill estavam dormindo, assim como Louis. Victorie continuava sumida, portanto era certo dizer que os dois estavam sozinhos, no meio da madrugada, sentados em degraus de uma escada. Já tinham fugido da festa faz tempo, cansados de jovens bêbados embora fossem mais ou menos isso. Rodaram a cidade, pararam num estacionamento na frente da praia e aproveitaram a noite com tudo que tinham direito. E agora estavam ali, esperando os segundos se arrastarem e o desejando que o tempo parasse.

Dominique falou primeiro, com a cabeça ainda tombada no ombro de James.

–Só quero dizer que não foi culpa dela.

–Dela quem? Jane?

–Hum-hum. – Dominique concordou. – Eu só... Que merda, Potter, eu realmente gosto de você. Mas eu não posso fazer isso. Não posso estar com alguém que fica fusos horários de distancia longe. Não posso roubar o seu ano de calouro na faculdade.

–E eu não posso roubar seu ano de formanda. – James interrompeu, principalmente quando viu que Dominique estava elevando a voz. Ela raramente fazia isso. Ele deu um sorriso triste e segurou o rosto dela. – Eu entendo, Dominique. De verdade.

Dominique não olhou para baixo. Ela não era uma covarde. Não sabia o que dizer, mas não era uma covarde.

–Seja um bom garoto em NY.

–Ei, eu não vou te esquecer. - James garantiu. – Ainda vamos nos encontrar, Nique. E não importa o que aconteça, você sempre será meu primeiro amor.

–Você me ama?- ela indagou como se fosse absurdo. Sabia que segurava as lágrimas, e que James percebia isso também. Não que ele estivesse muito melhor.

James sorriu, por mais que todo o tom daquela conversa o incomodasse.

–Não é um absurdo. Você é incrível.

Dominique abriu um dos seus pequenos sorrisos que valiam muito.

–James Potter, você é uma das melhores coisas que me aconteceu.

James beijou o topo da cabeça dela, mexendo uma última vez nos fios loiros.

–Quer saber, Dominique? Eu realmente acho que vamos nos encontrar de novo e fazer isso funcionar.