"Estou tão cansada."

Hanji viu com dificuldade uma imagem escura e completamente borrada que vinha em sua direção. Deu um passo à frente e o chão se tornou mais próximo do seu rosto, o último som que escutou foi a de um vaso quebrando-se.

– Hanji?! – a borrada imagem correu em sua direção.

Toca o rosto da garota. – Hanji você está fervendo!... Droga foi só te deixar por algumas horas... – sua voz soa muito preocupada.

Coloca sua mão nas costas da garota inclinando o tronco dela para trás e com grande facilidade a pega nos seus braços. Ele leva Hanji até o quarto da mesma.

Chegando à porta de entrada o garoto apenas vira um pouco sua mão, abre a maçaneta e entra no quarto. Como de costume ele já esperava que o quarto da Tenente estivesse totalmente bagunçado. Algumas camisetas e uniformes estão jogados no chão e apenas sua escrivaninha parece estar ajeitada.

– Você nunca muda os seus hábitos. – olhou inconformado para o quarto.

Rivaille caminha até a cama e com cuidado, para não machuca-la com as talas, a coloca em cima da cama. Retira seus óculos e os deixa sobre a estante ao lado.

– Enquanto você não acorda vou dar um jeito em toda essa sujeira. – Levi começou a ajeitar o quarto.

Dobra todas as roupas jogadas no chão guardando-as umas em cima das outras, em forma de pilhas. Limpa alguns móveis empoeirados e no final acaba seguindo o seu instinto, limpando todo o quarto. Enquanto isso Hanji ainda dormia.

Depois de finalizado o trabalho. A garota já estava com uma aparência bem melhor.

– Terminado! – retirou a bandana branca que cobria sua boca – Agora quem está sujo sou eu. - reparou incomodado no estado das suas roupas.

“Você não vai acordar tão cedo, então não vejo problema em sair daqui por alguns minutos... Novamente, eu não consigo acreditar...”- fita o busto da garota.

Rivaille balança sua cabeça tentando esquecer o pensamento. “... Isso foi muito errado. É melhor ir logo tomar um banho”.

O garoto cobre Hanji e coloca uma pequena toalha molhada sobre a sua testa. “Isso deve ajudar mais um pouco”.

Ele sai do quarto e segue em direção ao banheiro do dormitório, mas sem saber o que faria com suas roupas acaba pedindo algumas emprestadas ao colega de quarto da Hanji que tem quase a mesma estatura de Rivaille.

No banheiro Levi se prepara para começar seu banho. Ligou o chuveiro e alguns pensamentos começaram a passar pela sua cabeça enquanto a água começava a escorrer por seu corpo.

“Fico imaginando os vários motivos que a fizeram desistir de atacar aquele titã... Se nada daquilo tivesse acontecido ela não estaria assim. É tão diferente olhar para ela agora, não parece ser a mesma garota que conheci há alguns anos... Essa sensação é tão estranha e nada comum.” Rivaille acaba ficando um tempo a mais no banheiro.

No quarto.

Com grande esforço, como se o seu corpo relutasse por isso, Hanji abriu os seus olhos. Ainda fraca não conseguia sequer mexer os seus dedos. Olhou apenas para cima e sentiu uma sensação fresca e um pouco gelada na sua cabeça. Ficou pensando em como tinha parado ali, mas apenas lembrava-se do barulho de um vaso quebrando. Como o seu corpo está muito cansado ela logo desisti de se manter acorda e acaba fechando seus olhos novamente.

Alguns minutos mais tarde. Rivaille entra no quarto.

– Você ainda está dormindo. – se aproxima da garota, retira a pequena toalha e toca sua testa.

– Não está tão quente como antes e sua cor também já voltou ao normal. – leve bocejo.

– Irei ficar mais um tempo aqui. – se senta ao lado da cama.

Aos poucos Rivaille vai sentindo-se cada vez mais sonolento até adormecer.

No outro dia de manhã.

Abre um dos olhos castanhos – Que horas são?

A garota levanta parte do seu corpo ainda sobre sua cama e coça seus olhos. Estica sua mão até a escrivaninha como de costume para pegar seus óculos. Quando o pega coloca em seu rosto, porém se esquece do seu nariz machucado e no instinto os retira rapidamente.

– Ai ai ai – abana seu nariz – Que droga me esqueci dessa atadura no meu nariz... ai ai que dor - faz uma leve cara de choro.

– Até acordando você – boceja – faz escândalo quatro olhos?

– Oe?!?! – olha ao redor procurando a voz misteriosa – Pera... – olha para baixo e vê o pequeno – Levi? O que você está fazendo no meu quarto? – confusa.

– Você desmaiou ontem. – ainda sentado passa suas mãos no cabelo.

– Eu?! Não me lembro disso... – mais confusa.

– Lembrando ou não você desmaiou e teve sorte. – vira-se – Está se sentindo melhor? – apoia sua mão na beirada da cama de Hanji e com a outra toca a testa da garota.

Hanji encara estranhamente a mão de Rivaille na sua testa.

– A-acho que sim... É... Bem, então obrigada por ter feito isso. – olha para os olhos azuis e cerrados.

– Você faria o mesmo. – se levanta e estende sua mão para Hanji.

Hanji estranha à mão de Rivaille. – Para que isso? – aponta.

– Só quero te ajudar a levantar.

– A obrigada. – apoia sua mão na dele.

– ... – Levi segura a mão da garota – Só não pense que não vou cobrar pelos cuidados.

Rapidamente Hanji é puxada para frente, em direção ao garoto.

– O que?! – espantada – Como assim... Estou te devendo alguma coisa?

Zoe fica toda desengonçada em cima da cama enquanto Rivaille está levantado. Ele passa sua mão por de baixo do queixo de Hanji e o inclina em sua direção.

– Não me entenda mal.

Rivaille encosta sua testa na dela.

– Mas... Só faço isso se você me permitir. – fecha seus olhos.

Hanji fica surpresa e envergonhada pela situação. Sua mão direita se apoia na cama para não desequilibrar-se. Sem saber ao certo o que fazer com dificuldade levanta sua mão com a tala até o rosto de Levi, mas para antes de encostar seus dedos no rosto do garoto.

“O que é essa sensação?... Ela é tão diferente...” – Hanji fecha seus olhos e sorri.

Ela então inclina seu rosto. Com calma e com um pouco de medo ela o beija.

Mesmo com esse sentimento tão confuso na cabeça de cada um, esse momento pareceu ser mais natural do que a última vez.

Levi inclina-se sobre Hanji, tira sua mão do queixo da garota e a coloca nas costas dela. Zoe acompanha o movimento de Rivaille e se inclina até deitar-se na cama. Levi passa suas pernas por cima do corpo da garota e as dobra na cama. Ficando assim em cima de Hanji.

Quando consegue deita-la ele para de beija-la e olha para o rosto envergonhado da garota. Hanji então abre seus olhos e faz uma expressão um pouco confusa.

Rivaille vê os olhos brilhantes de Hanji e sorri, fazendo com que a mesma retribua o sorriso, ainda surpresa. Essa ação acaba deixando Rivaille meio envergonhado.

– Pensei que não veria tão cedo o seu sorriso. – sussurro como um murmúrio.

– Digo o mesmo sobre o seu. – fita os olhos azuis do garoto.

Levi desvia seu olhar dos olhos castanhos para os arranhões e ataduras no rosto de Hanji.

– Como você fez isso? – sua expressão ficou curiosa.

– Eu bati na parede.

–... – surpreso – Como você consegue fazer essas coisas?

– Nunca ouviu falar que vida de curiosa é assim?

– Você é uma completa idiota quatro olhos. – sorri com o que Hanji diz.

– Tsc. – vira seu rosto de lado.

– Bem – bate as suas duas mãos com força na cama e se prepara para sair de cima de Hanji.

– E-espera... – segura à gola da camiseta do garoto impedindo-o de se levantar.

‘’O que estou fazendo??”.

Hanji levanta sua cabeça da cama e novamente beija Rivaille. Porém, desastradamente, ela bate o seu nariz no do garoto o que acaba lhe causando dor.

– Te machuquei? – Rivaille pergunta preocupado.

“Aiii que doooor”. Seus olhos brilharam com as possíveis lágrimas. “Isso foi muito idiota...”.

– Nãão – afirmou acenando com a cabeça – N-não se preocupe. Está tudo bem. – sua voz sai fraca por estar tampando seu nariz e boca com a mão – Eu te machuquei por um acaso?

– Não se preocupe comigo, não sou eu o totalmente ferrado por aqui. – Rivaille se divertia com a situação – Você é muito desastrada quatro olhos. Se quisesse outro era só pedir.

Hanji sussurrou palavras desconexas, como um resmungo, e ficou ainda mais envergonhada.

–... Você não tinha que ir embora?

– Sim. – levanta se da cama – E não esqueça que hoje Erwin marcou outra reunião. – Levi caminha até a porta.

– Não vou me esquecer. – Puxa o lençol da sua cama e cobre seu rosto.

Rivaille olha uma última vez para Hanji antes de sair do quarto.

Ainda de manhã, poucas pessoas circulavam pelas ruas do Distrito. Muitas ainda estavam acordando para saírem ao trabalho ou levarem as crianças à escola. Na base do Quartel General, onde abriga os atuais dormitórios, os soldados já estavam de pé e faziam as suas atividades rotineiras.

Rivaille caminha em direção ao QG para se encontrar com Erwin e seus novos recrutas, que por sinal estavam fazendo outras coisas em vez de se aprontarem para encontra-lo. ~ Connie e Sasha estão caminhando pelo Distrito e a cada minuto param em alguma barraca de comida. Mikasa está vigiando Eren dormir. Enquanto Jean está vigiando, desapontando e ciumento, Mikasa. Já Armin está escrevendo algumas estratégias para entregar ao Comandante Erwin.

Hanji ainda permanecia imóvel sobre sua cama, totalmente envergonhada e desacreditada no que havia acontecido minutos atrás. Não sabia o que pensar ou dizer, muitos menos conseguia imaginar como seria encarar Rivaille novamente. Sem entender o que passava pela sua cabeça decidiu esperar até que toda aquela confusão mental passasse.