Eu Quase Namorei o Ídolo da Minha Irmã escrita por Vlk Moura


Capítulo 28
Vovó


Notas iniciais do capítulo

Yeva



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Uma mensagem da minha irmã me tirou a concentração da organização dos meus últimos escritos. Abri, um convite VIP, já planejavam o show do Richard seria daqui um mês, aquilo era fantástico, Vladimir entrou, eu o olhei e ia te mostrar a imagem, mas algo me impediu de fazer isso, não sei se seus ombros tão caídos, se seus olho inchados, se seu olhar perdido ou o fato de ele ter me ignorado quando lhe perguntei se estava tudo bem. Mas acho que o que realmente me impediu de contar foi ele ter abaixado a cabeça na mesa e soluçado para segurar o choro.

– Vladimir, está tudo bem? - eu pus a mão em seu ombro, ele me olhou, as lentes embaçadas - Aconteceu alguma coisa?

– Amanhã eu vou ao interior, você quer vir? - eu confirmei sem saber se realmente deveria fazê-lo - Ótimo - ele tirou os óculos, limpou os olhos de um jeito infantil, tornou a colocá-los - Você parecia querer me dizer algo, o que era?

– Nada - fechei o notebook e escondi o convite.

Fomos nos deitar.

Eu estava sem sono, abri o notebook e voltei ao trabalho, mandei algumas folhas para impressão, eu corrigia e imprimia, com as folhas físicas faria outra revisão, já tinhamos começado a parte que seria o livro realmente, então tudo tinha de estar perfeito. Fui até o escritório buscar os impressos e para minha surpresa encontrei o escritor ali, deitado de cabeça baixa na mesa, ele dormia, não acordou com meus barulhos mexendo com o papel e o grampeando. Deixei tudo no quarto e desci para a cozinha, preparei café, enchi duas canecas e fui para o escritório, com o abrir de porta pensei tê-lo acordado, mas não aconteceu.Tirei as folhas que poderiam ser danificadas caso o café fosse derramado, apoiei as canecas quentes na mesa.

– Vladimir... - eu o balançava - Vladimir - ele grunhiu algo, mas não tinha acordado, me aproximei mais - Vlad... - ele se virou assustado, me afastei com o susto, seu rosto amassado e inchado me fazia querer rir, estiquei a caneca, ele a pegou agradecendo, estava sem os óculos.

– Pensei que você estava dormindo.

– Pensei o mesmo - falei assoprando o café e embaçando minhas lentes - Você está meio quietão, aconteceu algo?

Eu pensava que ainda poderia ser a morte da caçula, mas também pensei que poderia ser algo diferente e minha segunda ideia era a verdadeira.

– Minha avó - ele começou, seu café já tinha acabado - parece que ela não está muito bem, não sei o que ela tem, mas sei que os tratamentos que ela tem feito não estão surtindo efeito.

A avó de Vladimir era uma grande escritora, há muito tempo não escrevia romances, estava focada em roteiros apenas um dos hobbies que se expandiam a cavalgada, pesca, shows de rock, ela era uma pessoa fantástica, seus livros que iam desde romances clichês até ficções super elaboradas eram inspirações para a maioria dos atuais escritores. em minha prateleira eu tinha uns dois ou três livros dela, ela era boa, mas os livros sempre eram meio chatos de serem lidos, os que eu tinha ganhara da minha mãe ou comprei para o colégio.

Em uma entrevista há alguns anos, meus pais ainda eram vivos, a avó de Vladimir dissera que sua inspiração era a vida e o ar que respirava, assim a cada dia uma nova ideia lhe surgia a mente e quando algo ponta ela corre para as anotações, dizia que não se pode abandonar uma ideia, por mais idiota que possa parecer porque alguém irá se identificar e algum dia fará sentido até para você mesmo. Na época da entrevista eu já gostava de escrever e com essas suas palavras minha sede por escrita apenas aumentou.

– É ela quem iremos visitar, não é? - perguntei o olhando.

Ele confirmou desajeitado e se espreguiçando esticando os braços para frente como um felino faria, suas omoplatas estralaram.

– Espero que você não se importe de estarmos indo visitá-la - ele falou se levantando.

– Será um enorme prazer.

Com isso fomos para nossos quartos, ele dormia, eu tinha certeza porque ouvia seus roncos, era a primeira vez que eu o ouvia roncar. Peguei mais café, voltei para o quarto, analisei mais algumas páginas e me rendi ao sono.

Acordei com Vladimir batendo em minha porta, me arrumei, em uma mochila coloquei o notebook e alguns papéis, entrei no carro com ele, ficamos em silêncio durante todo o caminho, eu tentava imaginar como ela era, engraçada, séria, irônica, simpática, arrogante, nada parecia se encaixar naquele rostinho de vovó dela. O escritor estacionou de fora de um sítio, alguns cavalos comiam grama, peguei minhas coisas no carro, caminhamos até a casa, o escritor tocou a campainha, a senhora com sua cabeça branca e rosto enrugado abriu para nós dois, ela me encarou e então pediu para entrarmos, era ela, a senhora sorriu quando nos sentamos em seu sofá.

– Quem é a moça, Vlad?

– Ela é minha amiga - ele falou - Yeva, minha avó.

– É um prazer conhecê-la, senhora...

– Não me chame de senhora, me chame de vovó, adoro que me chamem de vovó - Vladimir revirou os olhos, eu ri - Sou a vovó de todo mundo. - ela sorriu simpática - Mas ao que devo a visita do meu neto desnaturado?

– Fiquei preocupado, o tio me ligou, contou que você não estava bem. - ele suspirou.

– Sei... - ela me olhou - Você é a moça que o está ajudando com a biografia do músico? - confirmei - Você é muito jovem, não é?

– Um pouco, eu acho. - dei de ombros.

– Você me lembra alguém, mas quem... - ela pensou, foi até a estante de livros, puxava uma das pernas, Vladimir também reparou nesse mínimo detalhe - Vão passar a noite aqui? - olhei meu companheiro.

– Vamos sim - droga, eu estava sem pijama - se a senhora não se importar.

– Sem problemas, achei! - ela gritou, eu não sabia se pela idade ou empolgação. - Aqui, a senhora Budapeste - eu abracei meus braços - Conheci seus pais, - ela me olhou - eram ótimas pessoas, uma tragédia o que aconteceu, seu pai era uma pessoa fantástica, ele costumava vir aqui quando jovem e na época de namoro com sua mãe, mas ai vocês nasceram e as viagens reduziram até que eles pararam de me visitar, foi triste, mas superei isso.

– Ela não quer saber dessas coisas, vó.

– Não, tudo bem - sorri para Vladimir - Não me importo, se ela ficar bem falando sobre eles, não tem problema.

– Eu sinto falta dos dois, eram boas pessoas - confirmei - Sua mãe adorava andar pelo pasto e escrever, seu pai ficava na varando tocando o violão e cuidando daquele enorme cabelo, sempre quis cortar aquela coisa.

– Posso fazer uma pergunta? - ela confirmou - Como a senhora os conheceu?

– Me chame de você, criança. E foi há muito tempo, eu era amiga da sua avó, seu pai cresceu com meus filhos, eles brincavam muito por aqui, mas então foi crescendo e assim como meus filhos foi se afastando, eu tenho esse dedo podre para afastar as pessoas.

– Começou - Vladimir reclamou.

– Meu esposo se afastou, depois meus filhos, depois seu pai, eu devo ter algo que faz com que as pessoas me odeiem, Vlad é meu último investimento para tirar essa maldição de cima de mim - olhei o autor, ele revirava os olhos.

Ouvi-la daquela forma era arrasador, apertava meu coração fortemente. Mas como todo idoso, ela se perdeu nos pensamentos, desviamos nossa conversa até que ela adormeceu segurando um livro.

Vladimir me mostrou o quarto que eu passaria a noite, me emprestou uma de suas roupas para eu dormir, depois foi me mostrar todo o terreno, quando voltamos para a casa a vovó estava preparando café, nos serviu, Vladimir e eu fomos trabalhar.


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