As aulas foram como um borrão pra mim, elas passaram tão rápido que eu quase não gravei o que os professores diziam. Eu disse quase.

Assim que chegou a hora do intervalo para o almoço eu fui direto para o refeitório. Depois que eu já havia colocado minha comida na bandeja, vasculhei o refeitório a procura dos meus dois melhores amigos, Luke e Thalia. Eles estavam sentados na mesa do canto, como sempre. Coloquei minha bandeja na mesa e me sentei de frente para os dois. Luke e Thalia eram um ano mais velhos que eu, por isso nenhum dos dois tinha aula comigo.

—Você está bem Annie? — perguntou Luke com certa preocupação na voz.

—Por que não estaria? — eu perguntei.

—Não sei, você está pálida. E os seus olhos estão muito fundos. — disse ele.

—E devo dizer que você não fica nada bonita assim — acrescentou Thalia.

Assim é Thalia, ela fala o que pensa e não liga se as pessoas vão gostar ou não. E era isso que eu gostava nela. Nada de mentiras do tipo “Você tá linda” quando você está parecendo um trapo. Ela é mais do tipo “Cara você está horrível, quem te arrumou? Foi a Fiona?”

—Estou bem — aleguei — só estou com um pouco de...

—Cólica — disseram Luke e Thalia juntos.

Eu assenti.

—Annie isso não é normal — disse Luke — Eu acho que você devia procurar um médico.

—Pra que? É só cólica. Toda a garota tem.

—Annabeth — disse Thalia — eu concordo com Luke, isso não é normal. Meninas tem cólica todo mês, você está tendo quase todo dia, já faz o que? Um mês?

—Tá bom — eu disse — vamos fazer um acordo. Eu espero mais duas semanas pra ver se isso passa. Se não passar vocês podem me arrastar até o médico.

—Eu acho que ela vai ficar viva pelo menos por duas semanas — disse Luke — o que você acha Thalia?

—Tudo bem — ela disse parecendo derrotada — mas se a dor aumentar ou ficar mais constante, esse acordo é quebrado e nós vamos te arrastar até o médico. Mesmo que tenhamos que usar uma camisa de força.

—Não vai aumentar, tenho certeza de que isso vai desaparecer em alguns dias.

—Eu realmente espero que essa dor desapareça e que não seja nada — disse ela — Mas com a saúde não se brinca Annabeth.

Não falei nada. Primeiro porque eu não sabia o que falar. E segundo porque nesse momento, o garoto que eu havia visto no corredor sentou ao meu lado na nossa mesa. O que ele estava pensando? Só porque eu falei pra ele onde ficava a sala do diretor não quer dizer que somos amigos ou alguma coisa assim. Eu estava abrindo a boca para perguntar o que ele estava fazendo ali quando...

—Annabeth esse é meu primo Percy de Nova York — Disse Thalia — Percy essa é Annabeth Chase, minha amiga.

Ele olhou pra mim brevemente e depois desviou o olhar de volta para Thalia.

—Já nos conhecemos — disse ele, desviando o olhar para Luke — Oi Luke.

—Oi Percy — disse Luke. Ele não parecia muito feliz com a presença do Percy na nossa mesa. E eu não fui a única que notei. Thalia estava se mexeu pouco desconfortável em sua cadeira.

—Vocês se conhecem? — eu perguntei não segurando minha curiosidade.

Foi Percy que respondeu.

—Fizemos alguns cursos juntos.

—Então o que te trás aqui Percy? — perguntou Luke — Estágio?

—Mais ou menos isso — respondeu Percy — fui empregado. E parece que eu vou ter que ficar por aqui agora. Eles pediram para que eu me mudasse pra cá.

—Você está querendo dizer, que seja lá o que você esta fazendo aqui, é permanente? — perguntou Luke.

—Nada é permanente, Lucas.

Ele chamou Luke de Lucas? Mas ninguém o chama assim, até os professores o chamam de Luke porque sabem que é assim que ele prefere.

—O que você quer dizer com isso Perseu? — perguntou Luke.

Perseu? Percy era só um apelido?

—Estou querendo dizer o que eu vim fazer aqui é sem data não tem uma data para terminar. Eu posso ir embora amanhã mesmo. Ou posso ficar aqui até que eles achem que é melhor colocar outro no meu lugar. O que tenho certeza de que, se vai acontecer, acho que não será tão cedo.

Eles pareciam estar falando de uma coisa muito diferente do que aparentava a conversa.

—Vocês fizeram curso de quê?

Novamente foi Percy que me respondeu.

—Gestão empresarial.

—Não sabia que você tinha feito gestão empresarial Luke — eu disse.

—Meu pai é dono da maior rede de correios do mundo Annie, você não acha que ele ia querer que o filho dele soubesse administrar tudo?

Quem não conhece Luke diria que ele estava apenas estressado com o fato de seu pai querer que ele administre uma agência de correios. Mas eu o conheço e sei que ele esta irritado, ou intrigado com alguma coisa. Sei que tem mais nisso do que esses dois estão falando. Eu quero descobrir o que é.

—E porque você fez Percy? — perguntei.

Mas dessa vez foi Thalia que respondeu.

—Tio Poseidon é dono da maior rede de pescas de Nova York, além de ter alguns imóveis perto da praia, que ele aluga, a sua própria ilha, e é sócio de uma empresa que fabrica de barcos, lanchas, iates e navios. Tio Poseidon vive dizendo que tudo vai ficar para o Percy então desde pequeno que ele faz esses tipos de cursos.

Eu sei que a família Jackson é uma família muito rica. O pai de Thalia é dono de uma rede de aviões e de alguns aeroportos pelo mundo. Mas Thalia nunca se importou com as coisas que o pai dela, Zeus, dá pra ela de presente. A mãe e o pai de Thalia se conheceram em Nova York, a única coisa que a mãe de Thalia sabia sobre Zeus era que ele tinha muito dinheiro, como a filha ela nunca se importou com o que ele tinha. Ela gostava dele de verdade, quando ela contou pra ele que estava grávida, ele disse que não ia poder assumir a criança, porque ele era casado. Foi um baque grande na vida dela descobrir que o homem a quem ela amava, era casado com outra mulher. Ela criou Thalia com o desprezo que ela sentia por Zeus, ela não amava Thalia e a tratava muito mal. Alguns anos depois, a mãe de Thalia engravidou novamente de um cara chamado Júpiter que também não assumiu a criança. Jason o irmão mais novo de Thalia, e a própria Thalia, passaram por muitas coisas difíceis porque a mãe deles, que já havia se tornado atriz na época, chegava quase todos os dias bêbada e descontava neles a raiva que ela sentia por seus pais. Em um certo dia a mãe deles decidiu dirigir alcoolizada o que infelizmente não acabou muito bem. Depois da morte da mãe, Thalia e Jason alugaram um apartamento com o dinheiro que recebiam da pensão de seus pais, não tão grande nem majestoso porque eles não ligam muito para isso, mas um simples com espaço suficiente para os dois.

—Hum... — a voz de Percy me trouxe para o presente — Thalia, nem é pra tanto.

—O que falei alguma mentira?

—Não mas...

—Percy é bem como eu — disse ela olhando pra mim — não liga muito para o dinheiro que o pai tem. Ele odeia se gabar por isso. Mas isso não me impede de me gabar por ele.

—Certo, qual é a sua próxima aula Annabeth? — perguntou Percy parecendo desesperado pra mudar de assunto.

—Acho que aritmética com o professor Roland.

—Ah, que bom.

—Por que? — eu perguntei confusa, será que ele me achava tão estranha que não me queria por perto? Não que eu ligasse para o que esse garoto pensa. Mas é que eu não gosto de pessoas que se acham melhores que as outras.

—Porque também é a minha próxima aula. É bom ter alguém que agente conhece por perto.

—Não que você precise — disse Thalia — é só você estalar os dedos e tem uma fila de garotas te seguindo, com babas caindo nos cantos dos lábios.

—Thalia — disse Percy — não é assim.

—Você diz isso porque não dá bola pra nenhuma menina dessas.

—Ah é — disse Luke, com um brilho sinistro nos olhos. O que era aquilo? Se eu não conhecesse bem Luke, diria que ele estava com inveja e até... raiva. Mas eu o conheço e tenho certeza de que Luke nunca sentiria inveja de ninguém — Ele gosta apenas de pegar aquelas garotas que não são pra ele.

—Do que você tá falando? — perguntou Percy parecendo realmente confuso.

—De nada — disse Luke, levantando as mãos como quem se rende.

—Se você começou falar agora termine Lucas — disse Percy, que agora parecia furioso.

Luke abriu a boca, mas bem nesse momento o sinal da escola nos chamou atenção, anunciando o fim do intervalo.

—Acho melhor irmos pra sala — eu disse para os garotos que ainda mantinham um olhar desafiador nos olhos.

—Também acho — disse Thalia.