– Mas que diabos...? – exclamei, Anne puxando o livro de forma grosseira.

Ela não respondeu nada, deixou a minha pergunta no ar.

E eu odiava quando faziam isso.

– Que porra é isso? – pergunto, irritada.

Ela ficou calada.

– Não vai responder? – perguntei, impaciente.

E ela continuou em silêncio, olhando para a minha cara com o cenho franzido.

– Está bem. – falei, me dirigindo à porta. Se ela não ia me responder, Brian iria. Era com ele que ela compartilhava os seus segredinhos ridículos, então eu perguntaria a ele.

E alguma coisa me diz que se ele soubesse que ela estava com esse livro, ficaria com raiva por algum motivo que eu não sabia qual. Percebi isso porque a sua cara de cínica se desmanchou e desespero se estampou nos seus olhos.

– Não, eu digo. – ela suspirou, irritada. – Isso é um livro que fala sobre A Queda, quando todos os anjos desceram dos Céus e puseram os seus pés na terra pela primeira vez.

– Isso não respondeu à minha pergunta. – falei, desafiadora. – Como o meu nome está aí? Eu não escrevi essa coisa.

– É alguma coincidência. – ela falou, entediada. – Agora pode, por favor, me deixar terminar a minha leitura em paz?

Fiquei calada e sentei na minha cama.

Eu sabia que tinha alguma coisa errada. A forma como ela ficou quando tomei o livro de suas mãos. Ficou apavorada e desesperada.

E eu era curiosa demais, e isso estava me matando. Tinha um por quê, mas ela não queria me dar respostas, evidentemente.

Eu só fechei os meus olhos e tentei adormecer de novo. Só que eu não conseguia.

Imagens vinham em minha mente. Muitas imagens, e eu estava me sentindo sufocada. Em todas, estava lá Brian. Pegando a minha mão, ou com o braço em volta da minha cintura, ou olhando nos meus olhos de forma que eu normalmente me derreteria.

Me contorci na cama. E passei cerca de uma hora ali, deitada e de olhos fechados, para aproveitar um momento para pegar o livro que Anne lia.

Abri os olhos para ver se ela dormia e...

Anne não estava lá.

Me levantei e procurei o livro em todos os lugares.

– Cadê esta merda... – murmurei comigo mesma.

Vou procurá-la. Vou saber onde está Anne em uma hora dessas.

Me troquei, colocando uma calça jeans escura e um moletom preto.

Saí do quarto, tomando cuidado ao fechar a porta.

Ouvi o som de passos.

Comecei a caminhar na direção da escada.

Mas alguma coisa me puxou para trás, e apenas senti algo forte batendo na minha cabeça.

***

Abri os olhos lentamente. As minhas pálpebras estavam pesadas.

– Quem bateu nela? – perguntou Anne para Brian. Fechei os olhos novamente para que não percebessem que eu estava acordada e que estava ouvindo tudo.

– Não faço ideia. Será que foi Luna?

– Não sei, Brian. Acho que Lúcifer possuiu o corpo daquela menina, acima de tudo. – estremeci. – Mas não sei se foi ela.

Senti alguém sentando ao meu lado na cama. Espiei um pouco, e era Brian.

Ele acariciou a minha bochecha.

– Quero contar tudo para ela, An. – Brian falou, e uma pontada de ciúmes surgiu em meu peito quando ele chamou-a por esse apelido.

– E eu acho que deve, e logo. – ela falou.

Me contar o quê?

– Só uma pergunta... – ouvi Anne se acomodar numa das cadeiras do nosso quarto. – Cadê Kyle?

– Não faço ideia. – Brian falou. – Ele ficou meio esquisito desde que Claire chegou aqui.

– Vamos conversar lá fora. – Anne falou. – Tenho medo que ela acorde, mas finja estar dormindo. Sua namorada é bem esperta.

Ouvi Brian rir baixinho e contidamente. Depositou um beijo em minha bochecha e se levantou.

– Você ignora tudo o que eu digo... – Anne falou, e a sua voz foi interrompida pela batida da porta.

Abri os olhos novamente e respirei fundo. Tentei me levantar, mas a minha pressão pareceu cair instantaneamente. Fiquei tonta e enjoada, deitando-me logo em seguida.

Xinguei e peguei o meu celular, me lembrando que havia mais de uma semana que eu não tocava nele.

Digitei a senha e vi que haviam várias gravações na caixa postal que eu ainda não havia ouvido, mas não apenas dessa semana, mas sim dos últimos meses.

“Querida? Aqui é a sua mãe. Recebemos uma ligação da escola, e disseram que você havia desmaiado. Claire, por que desmaiou? Está se alimentando direito? Se lembre da sua anemia. O médico falou que qualquer coisa teríamos que te tirar daí, para te observar, e...”

Repousei o meu telefone em cima da mesinha de cabeceira.

Será que Brian ou Anne sabiam que eu era anêmica?

O desespero tomou conta de mim. Meus pais me tratavam como se eu fosse uma boneca de porcelana, e tinham medo de que um inseto chupasse o meu sangue e eu morresse. Era horrível e ridículo. Anemia não era tão sério. Era só falta de certos nutrientes no sangue. Não era perigoso. Mas eu fiquei assustada. Eu não estava comendo direito, e a minha doença poderia se elevar a um nível pior.

Cobri o meu rosto com o lençol.

– Você vai morrer.

A voz de Luna. Oh, Deus.

Tirei o lençol da cara e olhei para ela, que estava sentada onde Anne se sentou durante a sua conversa esquisita com Brian.

– Do jeito que está pálida, não vai demorar muito para que a sua doença piore e se torne causa de sua morte. Tome cuidado.

– Por que está me dizendo para tomar cuidado?

– Porque sei que Lúcifer quer te matar com as próprias mãos dele.

Senti um nó no estômago.

– Qual a ligação que tem com Lúcifer?

– Uma bem forte. Ele me entende.

– Entende, é? Olha, você mudou muito. De um dia para o outro, ficou com esses olhos assustadores, ficou mais pálida e virou satanista. O que aconteceu com você?

Os seus olhos ficaram marejados e ela ficou vermelha. Apenas se levantou e se aproximou de mim.

– Se afaste. – falei.

– E o que vai fazer? Chamar o seu namoradinho?

– Eu não tenho um.

– Ah, flor. Você sabe que Brian te ama. Em todas as vidas ele te amou, desde A Queda.

Levantei uma sobrancelha.

– Brian não me ama. E... Como assim, em todas as vidas?

– Acredita em anjos, Claire?

Ri nervosamente. Ela era doida ou o quê?

– Mais ou menos. Acredito em Deus. Por quê?

– Porque eles existem, Claire. E vários, vários querem te conhecer. Alguns, porque têm curiosidade na sua história com Brian. E outros, porque têm motivos para te odiar.