Sou acordada por Tobias, ele me avisa que um guarda acabou de falar que eu conversarei primeiro com Jeanine, depois será a vez dele, isso será daqui a uns 10 minutos, tanto faz já que não sei que horas são, só quero que o tempo passe rápido, estou ansiosa demais para ficar esperando, o tempo parece passar mais devagar quando você quer que passe rápido. E se Jeanine souber que sou Divergente? E se ela revelar para mim que tinha um caso com meu pai? O que é mais provável acontecer é que eu continue presa aqui por me fingir ser da Audácia, invadir a sede da Erudição, e agredir o meu irmão, no momento essa me parece a melhor das opções, afinal se eu sair daqui não vou ter pra onde ir. Um guarda aparece na porta, ele me chama e eu o acompanho por diversos corredores que fazem a Erudição parecer um labirinto, chego em uma sala, ele abre a porta e vai embora. Jeanine me espera sentada em uma cadeira atrás de uma mesa.

– Beatrice, sente-se –Seu tom irônico me enoja- Estava ansiosa pela nossa conversa. Porque você veio até aqui?

– Voce já deve saber o motivo, já que foi você que planejou o ataque que matou os meus pais! –Sinto o arrependimento das minhas palavras assim que acabo de falar, mas já é tarde demais, o olhar dela penetra no meu.

– Quem foi que te disse isso?

– Eu descobri sozinha!

– Até parece, uma garota burra como sempre foi, jamais iria conseguir saber disso, alias, foi uma surpresa pra mim quando Tori foi me procurar, me contando que havia tido uma evolução em um Divergente, que uma pessoa havia tido o resultado de aptidão para 3 facções, não só para 2. Duvidei a principio, mas ela me provou com gravações e quando vi que era você a ter desenvolvido 3 aptidões, fiquei muito curiosa e interessada para entender como isso ocorre, durante o ataque, mandei um soldado ir atrás de você para que não a matassem, mas ele era um traidor, que apenas fingiu que estava do meu lado, agora você já conhece bem ele né, Tobias, mas do mesmo jeito você acabou vindo até mim, e ainda por vontade própria, por enquando só vou fazer uns testes com você, e depois quando não me for mais útil, eu decido o que faço.

– Achei que Tori estava me ajudando... -É a única coisa que consigo falar naquele momento.

– Não a culpe Beatrice, ela fez tudo isso em troca de informações sobre o irmão desaparecido. Guardas! – Jeanine grita –Levem-a de volta para a cela, e tragam Tobias, o traidor.

– O que você vai fazer com ele?! – Eu grito

– O que merece ser feito com um traidor, minha querida Beatrice.

Um guarda me arrasta para fora da sala, só um. Tenho que pensar em alguma coisa, Tobias tentou salvar a vida de meus pais, não posso deixa morrer. Espero até chegarmos em um corredor mais vazio, e o guarda estar distraído, dou um chute na virilha do guarda o mais forte que consigo isso faz com que ele tire a mão de sua arma e estremeça por alguns segundos, tempo o suficiente para que eu conseguir pegar a arma e aponta-la meio sem jeito para sua cabeça. É a segunda vez na minha vida que seguro uma arma, e a primeira foi a apenas algumas horas atrás. Eu vou levando-o com a arma apontada até o final do corredor onde está a cela de Tobias, e há mais um guarda na porta.

– Se você colocar a mão na sua arma, eu o mato, libere Tobias que eu o deixarei vivo! – Digo gritando, tentando disfarçar a minha voz tremula!

O guarda digita a senha e a porta se abre. Tobias está diante da porta.

– Fuja Tobias, se continuar aqui eles vão te matar!- Digo sem tirar a arma da cabeça do guarda. – Entre a arma a ele –Falo me referindo ao outro guarda, ele entrega calmamente.

Tobias me olha, ele me olha por alguns segundos, depois corre pelo corredor, até que não consigo mais o ver. Ouço passos vindos em minha direção, quando me viro ouço um barulho e sinto minha perna queimar, desmaio de dor.

...

Quando acordo, estou de novo naquela cela, sinto uma ponta de dor na minha perna, fui baleada, e no lugar agora há um curativo. Não sei como consegui fazer tudo isso, não me lembro nem de ter pensado, apenas agi pelo que sentia que devia fazer, e agora só consigo esperar que Tobias tenha conseguido escapar. Não apenas senti que aquilo era o certo a se fazer, não foi apenas pela culpa, mas eu não queria perder a única pessoa que parecia se importar comigo, a única pessoa que me é mais familiar no momento, não aguentaria essa dor, mesmo o conhecendo de verdade apenas a 2 dias, eu não queria que aquele menino do olhar duro e do comportamento estranho morresse, mas quando olhei pra ele enquanto o mandava fugir não foi esse olhar que vi, foi um olhar diferente, só não sei explicar o que significava.

...

Eu sei que vou morrer, mais cedo ou mais tarde, mas por enquanto eu sou útil para Jeanine, por isso aquele tiro foi na perna e não em meu peito. Tenho que pensar em alguma coisa para fazer. Sei que mais cedo ou mais tarde ela virá até mim para me castigar sobre o que fiz, mas não ira me matar. Na verdade eu quero que ela venha, mas apenas para ter alguma noticia de Tobias.