Jeanine entra na sala, a principio a um olhar de dúvida sobre o que está acontecendo. Ela olha pra Caleb que está com o nariz sangrando, e olha para mim, as juntas da minha mão estão machucadas, parte com sangue na minha mão e parte com sangue de Caleb.

– O que estão fazendo aqui? – Jeanine fala – Sei que não pertence à Audácia Beatrice, me lembro muito bem de você, filha de Andrew, Abnegação, e você Tobias? Achei que estava sobre o controle do meu soro, parece que temos um Divergente aqui.

Divergente. Então Tobias é igual a mim? Então o soro não fez efeito nele porque ele é Divergente, então é isso que significa ser divergente? O soro de Jeanine não pode nos afetar.

– Bom – Continua Jeanine – eu estava mesmo querendo ter uma conversa com os dois – ela diz, se referindo a mim e a Tobias – vocês só facilitaram as coisas para mim.

–Guardas! – Jeanine grite

Em questão de segundos 3 guardas aparecem na porta.

– Levem-os para uma cela, quero 2 guardas na porta o tempo todo.

Quando os guardas estão nos empurrando porta a fora, escuto Jeanine dizendo alto o suficiente para que Tobias escute:

– Parece que nem apanhar do pai a infância toda fez com que esse menino criasse bons modos – ela fala em um tom sarcástico.

Os guardas nos guiam até um tipo de cela, não como as que eu imaginava, é uma sala fechada por uma porta com senha, não há nenhuma janela ou qualquer coisa que permita que as pessoas nos vejam de fora, mas quando entro, percebo que há uma câmera no teto da sala, há duas camas também, tudo branco, tanto as paredes quanto os lençóis da cama. Meu irmão, se é que posso chama-lo assim depois de tudo que fez, parece surpreso ao ver só duas camas.

– Mas somos três – ele fala, se dirigindo ao guarda.

– Você vai me acompanhar, não vai ficar aqui.

– Mas para onde você vai me levar, eu não fiz nada de errado, a culpa é dela – Meu irmão diz apontando para mim, a única coisa que consigo sentir ao olhar para ele, e ver o que ele se tornou, é nojo.

– Você só ira ter uma conversa com um superior – O guarda diz, então meu irmão o acompanha, outro guarda nos pede para entrar e então fecha a porta.

...

É isso, estou presa na Erudição sem ao menos saber o que fiz. Vim até aqui para descobrir que meu irmão é um traidor. Não tenho a menor ideia do que Jeanine quer conversar comigo e com Tobias, se for apenas uma conversa mesmo. Decido me sentar ao lado de Tobias, não que quero me aproximar dele, nem nada do tipo, mas tenho muitas perguntar a fazer.

– Será que essas câmeras tem som? – Pergunto baixinho

– Eu acho que não, mas é melhor falarmos baixo mesmo assim, há guardas na porta.

– Tobias, você é divergente?

– Sou Tris, o que você sabe sobre isso?

– No dia do meu teste de aptidão, o meu resultado foi inconclusivo, Tori, a mulher que me aplicou o teste me disse que eu era divergente, que tinha vocação para 3 facções, e me pediu para não contar para ninguém, que era perigoso, mas não entendo o porquê, você resistiu ao soro por ser um divergente, essa é a uma diferença entre nós?

– Não sei ao certo Tris, na verdade ninguém sabe ao certo o que somos, por isso todos temem, inclusive Jeanine, mas eu nunca havia ouvido falar de alguém que tivesse vocação para 3 facções, será que é por isso que Jeanine quer falar com você? Você contou isso para alguém Tris?

– Você foi a primeira pessoa para que contei isso, Tobias. E Tori me disse que iria registrar meu teste como Abnegação, eu não acho que Jeanine possa ter descoberto, não sei – Digo, depois de uma longa pausa, volto a falar – Você estava certo sobre meu irmão, ele foi capaz de deixar meus pais morrerem, agora não me restou nenhuma família, não sei o que vou fazer depois que sair daqui, não sei nem se vou sair daqui.

Sinto a mão de Tobias pousar sobre o meu ombro, ele não parece o tipo de pessoa que oferece um abraço para uma pessoa, mesmo numa situação como essa, então aquele simples gesto já me fez sentir que ele e importa, me fez sentir melhor. Depois de um longo tempo ele diz:

– Eu vou cuidar de você, Tris.

...

Mais tarde alguns guardar abrem a porta, tenho a esperança de que a conversa com Jeanine será agora, mas eles apenas nos servem um lanche, e nos informam que a conversa com Jeanine será pela manhã. Já esta tarde, não tenho horas, mas percebo pela luz quando o soldado abre a porta. Como meu lanche e me deito, troco mais algumas palavras com Tobias até que não há mais o que falar, o silêncio fala por nós, as luzes da nossa cela se apagam algumas horas mais tarde. Penso no meu irmão, não sei se deveria me preocupar com ele, com a conversa que foi ter com alguém, mas eu não me preocupo, eu sei que eu ainda o amo, em algum lugar de mim esse sentimento está escondido, mas agora só consigo sentir raiva. Adormeço alguns minutos depois.