Enon se revirou e abriu os olhos, tudo o que ele conseguia ver era o topo das arvores e o céu acinzentado, ergueu o pescoço para ter uma melhor visualização e sua pele se arrepiou quando sentiu a brisa gélida passar por seu corpo. Não sabia quantas horas havia se passado, mas pela cor do céu provavelmente já era a noite.

Lembrou-se de momentos anteriores, logo o ódio por seu pai reacendeu em seu peito, ele tinha de voltar a Hogwarts... Ficou de pé e cambaleou um pouco, mas o equilíbrio venceu e logo pode andar sem cair. Enon ouvia passos acelerados se aproximando... Pareciam cavaleiros pronto para uma guerra, percebendo o perigo de estar desprotegido contra alguma criatura estranha se escondeu atrás de uma árvore.

Assim que colocou a cabeça para fora do tronco avistou Firenze sendo perseguido por inúmeros centauros armados, as flechas com fogo iluminavam o céu e a floresta, espantando pássaros e alguns animais que com medo fugiam para salvar suas vidas. Firenze correu o mais rápido que pode, se aproximou de Enon e agarrou o garoto sem deixa-lo questionar o acontecido.

Enon quase caiu quando Firenze acelerou, mas agarrou no pescoço do Centauro, uma flecha quase atingiu sua cabeça, mas com muita rapidez conseguiu desviar e antes que uma mais uma flecha o atingisse fora levado para um buraco bem abaixo de uma montanha, escutou os pesados passos dos Centauros que aparentemente se afastavam aos poucos.

Firenze ofereceu uma xícara de chá para o rapaz que aceitou de bom grado, apontou para uma poltrona para que Enon se sentasse e o mesmo obedeceu sem reclamar. Depois de alguns minutos o garoto terminou seu chá e colocou em cima de uma pequena mesa.

__Firenze, obrigado por me salvar... – Enon tentou buscar os olhos do Centauro, mas este por sua vez ignorou sem responder o agradecimento Firenze se aproximou do garoto colando uma de suas mãos em seu ombro, como forma de conforto.

__Enon Prince, eu sabia que você viria... – Firenze fitava o garoto que o olhava com um olhar confuso, sem ter ideia do que ocorreu.

__Eu pensei que você era aceito pela sua espécie! Afinal de contas o que houve?

__Em que ano você acha que estamos? – Firenze ouviu a risada de escárnio de Enon, para o garoto era uma pergunta absurda, mas para Firenze aquilo realmente soou sério.

__Em Dois Mil e Quatorze oras! Eu pensei que o calendário lhe deixava informado. – Mais uma vez Enon riu da pergunta do Centauro, para ele era um absurdo perguntar em que ano eles estavam, mais ao ver o calendário que estava em cima da mesa ele emudeceu, tentou abrir a boca para falar, mas nenhuma palavra ousava sair.

__Estamos em Mil Novecentos e Noventa e Cinco Enon. – A voz de Firenze soou tranquila o suficiente para não assustar o garoto e nem ouvir sons de risada.

__Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto. – Enon sorriu do canto dos lábios como forma de apaziguar o desespero dentro de sua mente, mas calendários mágicos não mentiam... Eles sempre estavam certos, quando um ano passa o calendário também muda, mas a voz fria que soava em sua mente como um mantra o fez perguntar novamente para ter certeza. __É brincadeira não é?

__Não creio Enon Prince...

__Ninguém pode viajar no tempo sem a permissão do ministério! Isso é impossível!

__Acalme-se, sente-se e me deixe explicar, por favor. – Um tanto relutante, Enon se sentou no pequeno sofá e esperou alguma atitude do Centauro.

__Enon, você sabe que sou um vidente, certo? – Enon assentiu em concordância, pois já ouviu falar de inúmeros feitos de Firenze. __Enon, o que ocorreu com você fora um mudança temporal, você voltou ao passado por algum motivo e creio que não foi somente você.

__O que quer dizer?!

__Quero dizer... Provavelmente seus irmãos, Lupin e Malfoy também estão por aqui, em algum lugar...

__Você quer dizer que há um traidor? O responsável por me mandar para cá? – Firenze assentiu em concordância, ficou mudo permitindo que o garoto continuasse com seus altos pensamentos. __Lupin! Eu sabia... Não podia confiar nele!

__Não fora ele... E sim Drake Malfoy...

__Malfoy? Mas... Porque? – Enon olhava o Centauro totalmente indignado, sempre achou que Drake fora um bom amigo e jamais pensaria algo de ruim dele.

__Porque matar todos vocês é a chance dele conseguir ter poder... Ele sempre invejou seu incrível talento Enon Prince. – O garoto colocou as mãos na cabeça, se fosse um sonho ou pesadelo gostaria de acordar.

__Não pode ser...

__Ele era o responsável pelas supostas mortes na floresta proibida, se comunicou com comensais e conseguiu voltar no tempo, junto com você e seus amigos. Ele é um rapaz mal que só quer poder, ele não ama a ninguém há não ser a glória e o poder, mas por enquanto isso não importa agora, o que importa é a sua segurança.

__Mas e quanto os?

__Vou procura-los, não se preocupe... Sei que vou acha-los, mas não é hora de me questionar sobre isso. – Enon suspirou fundo ao ouvir aquelas palavras, em alguns minutos ele descobriu que o seu amigo o traiu e colocou a vida das pessoas que amava em risco, teve muita vontade de caçar Drake, mas sabia que aquilo iria piorar a situação.

__Eu não quero ir para Hogwarts... Lá não é meu lugar.

__Você não tem escolha sobre isso. – Antes que Enon pudesse indagar Firenze o interrompeu. __Por achar que tem controle sobre tudo, acabou não tendo controle de nada. – Enon encarou o Centauro mais uma vez e sabia que a criatura estava certa.

Firenze fez um gesto para que Enon montasse nele, estavam um pouco longe de Hogwarts e a caminhada seria um pouco extensa. O Centauro correu o mais rápido que pode, Enon o ajudava desviando de aranhas gigantes e sapos enlouquecidos.

A brisa que batia no rosto de Enon era libertadora para sua mente aprisionada, lembrou-se das inúmeras brigas que tivera com sua amada família por bobagens e da discussão que tivera com Teddy, ele não devia ter dito aquilo contra o Lupin... Ele ainda não sabia o que era perder os pais, porém a sensação deveria ser extremamente dolorosa, jamais se perdoaria por afirmar que Teddy não tem uma família.

Depois de uma longa caminhada, Enon podia ver o enorme castelo de Hogwarts... Ele não era um covarde, mas tinha medo do que o aguardava, ele sempre tivera medo do novo por mais besteira que fosse, mas dessa vez não era uma bobagem... Tinha medo de sua vida, de seus amigos e de seu fim.

Firenze se aproximou dos portões de Hogwarts, queria fazer aquilo de modo formal, Filch e sua bendita gata andava em direção ao portal xingando alguma coisa fora de cogitação aos ouvidos de Enon e Firenze. Filch com muita má vontade abriu o portão, revelando sua face mal humorada e mal encarada.

__Vejamos, um aluno fora do castelo! Espero que sua detenção seja rigorosa. – Filch encarava o moleque sorrindo, seus dentes tortos e sem sentido aumentavam o grau de cinismo de Filch.

__Eu não sou um aluno! – Enon retrucou.

__Ora, mas que criança mais mal educada hem? Acho que você precisa de uma correção. – A gata de Filch miou como se concordasse com o seu dono.

__Precisamos falar com Dumbledore. – Firenze quebrou o clima de tensão entre os dois, se ele não intervê-se Enon azararia Filch ali mesmo.

__Só um minuto. – Filch olhou para a gata como se dissesse para ela ficar ali, vigiando os supostos convidados, os olhos da gata encarava os de Enon como se quisesse ler sua mente e alma. Após alguns minutos que pareciam demorar horas, Filch voltava acompanhado com Dumbledore... O velho parou por um momento, para analisar a situação e assim que compreendeu chamou o nome de quem tanto esperava.

__Enon... – O garoto ficou impressionado, pensou que Dumbledore não se lembraria dele, mas seu cérebro logo pensou no que estava acontecendo... Dumbledore havia planejado tudo aquilo. Firenze parecia ler a mente de Enon, olhou o garoto com um olhar de repreensão que fora prontamente entendido.

__Enon Prince, agora estás seguro, tenho que ir... Volto logo e lembre-se, o senhor não pode controlar tudo o que quer, pois nem sempre a situação está sob o seu controle. – Firenze se despediu de Dumbledore que por sua vez devolveu com um aceno e um sorriso doce e confuso.

Dumbledore colocou a mão no ombro de Enon que parecia ter nojo do velho... Alvo entendia o porquê, mas agora não era hora e nem o local para dar as devidas explicações.

__Enon, por favor, me acompanhe até a diretoria. – Enon nada respondeu, apenas seguiu o diretor e quase azarou Filch quando este começou a rir triunfante de sua vitória.

Já na sala do diretor, Enon teve que ouvir conversas imbecis do velho... Não que elas fossem imbecis, porém a situação não pedia conversas calorosas ou engraçadas, era a hora de enfrentar a verdade, a mais pura verdade.

Dumbledore olhou para o garoto mais uma vez e compreendeu a impaciência do mesmo, ele não podia mais fugir, teria de falar a verdade.

__Enon, Firenze deve ter lhe contado sobre Drake, certo?

__Sim e honestamente ele foi muito mais verdadeiro do que você! – Enon se segurava para não matar o velho ali mesmo.

__Enon, se você me deixar explicar eu...

__Explicar o que Dumbledore? Que você me usou? Não precisa explicar... Eu já entendi! Você colocou vidas em risco para tramar um planinho idiota!

__Enon, não questione minha inteligência... Eu fiquei sabendo disso muito antes, apenas não podia lhe dizer, eu estava esperando a hora certa!

__Não questiono sua inteligência, questiono o seu caráter! – Enon retrucou. __Você usa as pessoas, acaba com a vida delas... Mas eu não vou deixar! Não com a minha vida! Não com a vida das pessoas que eu amo! – Dumbledore nada disse, se calou de imediato dando espaço a um silencio terrivelmente assustador, a única coisa que poderia se ouvir naquela sala era a respiração profunda do garoto.

__Eu não poderia lhe contar antes Enon! Entenda! Se eu lhe contasse antes nada daria certo!

__Nada daria certo para o senhor, você quer dizer... Afinal de contas o senhor se preocupa apenas com você mesmo, usa de modo brutal as pessoas como degraus para atingir sua glória e vitória, tenho nojo de você Dumbledore!

__Como você sabe, as aulas começaram daqui a uma semana... Deve saber a localização do salão comunal da Sonserina, a senha é Estupefaça... Tenha uma boa noite, senhor Prince.

Dumbledore permaneceu de costas e apenas ouviu a porta se fechando, as palavras do garoto o machucaram, ele já tinha ouvido aquilo antes há muito tempo... As mesmas palavras que seu irmão havia lhe dito. Queria que o rapaz entendesse os seus motivos, mas sabia que com a cabeça Enon jamais entenderia, nervoso como Enon se retirou da sala, jamais entenderia que aquilo que estava vivendo seria o começo de um novo conflito.