O encarei, atônita. Os olhos cinzentos pareciam tempestuosos enquanto encarava o chão, como se algo naquelas últimas palavras lhe causasse um efeito estranho, melancólico. Me perguntei se ele já havia dito aquilo para outra garota... ou para qualquer outra pessoa.

Ele finalmente ergueu o rosto para mim, a rígida linha do maxilar mais marcada do que nunca. Os cabelos bagunçados lhe tampavam parcialmente as sobrancelhas, os lábios arroxeados devido ao frio. Eu não me lembrava de querer beija-lo tanto...

–Também te amo, Malfoy. –Falei antes de me dar conta da veracidade naquelas palavras. E, Merlin, como eu o amava.

Um sorriso fraco brincou com seus lábios em uma alegria quase infantil. Ele se ergueu repentinamente do chão, apoiando as costas na parede.

–Foge comigo. Eu passei a noite pensando nisso... tem um lugar em Hogsmeade onde poderíamos ficar. Não é um luxo total, mas é o melhor que eu conseguiria com a mesada. –Ele expandiu o sorriso, sem-graça. –Ficaríamos lá só por uns três dias, para discutir coisas e ter um tempo antes da guerra...

–Ei, ei. –Interrompi, também me erguendo e sentando em uma das mesas que estavam dispostas pela sala. –Você tá falando muito rápido. –Eu ri.

Ele ficou um pouco vermelho, mas continuava a sustentar o meu olhar ansiosamente.

–Você... hum, você sabe quanto tempo temos antes da guerra? –Indaguei.

Ele meneou a cabeça positivamente.

–Um mês e dois dias. –Respondeu.

Senti uma pontada no estômago com a informação. Eu nunca tinha imaginado que estava tudo tão perto e tampouco desconfiava das habilidades de organização dos comensais com datas e programações.

Ele deve ter percebido minha expressão angustiada, porque começou a afagar minha bochecha com o polegar.

–Você está ao menos considerando? –Draco murmurou, a voz rouca.

Dei um sorriso fraco, afirmando com a cabeça. Me aproximei para colar os lábios à nuca dele, sentindo o leve tremor que o tomou em seguida.

–Eu vou, Malfoy. –Falei baixinho, a boca ainda colada à sua pele.

–Você tá falando sério? –O tom dele retomou o ânimo, mais alto.

Apenas me afastei do pescoço dele para encará-lo, um sorriso bobo brincando com meus lábios.

–Desde que não percamos muitas aulas... alguém já percebeu que você voltou? Tomara que não reparem que faltaremos nos mesmo dias. Merlin, quando iremos mesmo? Eu tenho que preparar tantas coisas...

–Shh, você que está falando muito agora. –Ele sorriu, calmo.

Sorri sem-graça, selando nossos lábios em seguida. Eu estava esperando por um selinho rápido, mas Draco se aproximou da carteira em que eu sentava, a cintura praticamente enlaçada pelas minhas pernas. Eu podia sentir o meu coração bater alucinado contra o moletom dele, nossas respirações subitamente ofegantes. O hálito de Draco enchia minha boca, as mãos passeando pela minha cintura e me içando para cima. Ele partiu para o meu pescoço, plantando beijos até o maxilar e fazendo com que eu pendesse a cabeça para trás, arfando baixo.

–Draco, para. –Murmurei, apertando o ombro do seu moletom.

Ele ergueu a cabeça para me encarar, o rosto vermelho e os cabelos completamente bagunçados. Seu olhar selvagem demorou alguns segundos para voltar ao normal e ele deu um sorriso maroto.

–Lovegood, eu sinceramente mereço um troféu por ser um bom garoto com você. –Draco riu, se afastando devagar.

Revirei os olhos sorrindo. Comecei a arrumar o cabelo, que com certeza estava em um estado de caos declarado. Foi quando meus olhos se atentaram para algo errado no meu uniforme, mais especificamente na blusa...

–Draco Malfoy, você desabotoou a minha blusa! –Minha voz foi aumentando gradativamente. Eu nem tinha percebido! Pelo menos uns três botões estavam abertos, embora ainda não exibisse o meu sutiã.

Ele apenas expandiu o sorriso torto, voltando a se encostar na parede.

–Garotos sempre serão garotos.

Eu tentei manter o semblante sério, mas a expressão orgulhosa dele foi o bastante para me fazer rir. Merlin, ele era tão lindo.

–Eu tenho que ir agora, não posso me dar ao luxo de faltar mais aulas. –Murmurei.

–Droga, eu não vou conseguir esperar até Hogsmeade. –Ele suspirou.

–Bom, você vai ter que aguentar. E eu quero saber tudo o que aconteceu nessa viagem com o Snape! Temos que definir prioridades no nosso próximo encontro. –Sorri.

–Você é a prioridade. –Ele beijou meu pescoço.

–Sério, eu preciso ir. –Revirei os olhos rindo.