Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 49
IV - Capítulo 47: Coisas Frágeis pt. 2


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora!!!! Eu sei que, dessa vez, me superei. Mas tenho bons motivos, juro. Leiam as nota finais, há coisinhas importantes.
Sobre esse capítulo: TÁ DESTRUIDOR!



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Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 47: Coisas Frágeis

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Draco estava com um péssimo humor. Encarou o sol radiante lá fora e decidiu que esse era um daqueles dias que simplesmente não merecem ser vividos. Rolou na cama e voltou a fingir que dormia.

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Hermione levantou-se pouco antes do horário de almoço, tomou banho e vestiu-se ligeiramente e, no mesmo passo, correu para o Grande Salão, encheu o seu prato de comida e saiu correndo de lá antes que alguém tivesse a chance de perguntar o que havia de errado com ela. Resolveu que evitaria a presença de todos: de seus amigos, do seu namorado e do seu inimigo número um. Por isso, precisava de um lugar seguro, onde soubesse que as chances de encontrar qualquer um deles era mínima. Pensou em diversas possibilidades, mas o resultado final foi que acabou almoçando na Torre do Relógio. Como não queria passar tanto tempo sozinha com seus pensamentos, levou um livro, só por precaução.

Quando terminou, deixou o seu prato na cozinha muito discretamente e esperou todo o tempo necessário até a sua próxima aula, à qual, obviamente, chegaria atrasada e se sentaria no fundo da sala. Já tinha planejado tudo para passar despercebida como um fantasma. A realidade, contudo, foi que ela terminou por ser pega pela última pessoa que queria encarar.

Ela estava saindo da sua última aula do dia, conseguiu fugir com sucesso de Harry, Rony e Blaise três vezes numa única tarde, e de Gina durante o intervalo de Poções, ufa! Tudo transcorria perfeitamente bem, ignorando o fato de que mais do que nunca a mente de Hermione estava completamente confusa e desfocada e de que, no seu âmago, se sentia adoentada, sonolenta e tristonha. Ela, por dentro, estava cinza.

– Hermione, espere!

Foi exatamente o que escutou ao tentar escapar de Blaise antes que ele a visse, escolhendo o primeiro corredor que encontrou. O coração dela saltou e todo o seu corpo ficou paralisado, em pânico. Uma voz gritava na sua mente, “Mova-se!”. Escutou passos cada vez mais próximos; ao invés de obedecer à sábia ordem mental, o corpo virou-se. Brevemente, olhou para Blaise. Então, encarou os próprios pés.

Ele a analisou com cuidado, dando pequenos passos em sua direção, como se ela fosse algum animal exótico, e ele tivesse medo de assustá-la.

– Eu fiz algo que a deixou irritada? – perguntou ele, aparentando estar realmente preocupado com a resposta dela.

– Não – disse ela, quietamente, ainda fugindo dos olhos dele. Ela encolheu-se, abraçando-se, esperando pelo pior.

– Então, por que está me evitando?

Ele estava perto demais.

Hermione sentiu a sua garganta fechar, lágrimas vieram-lhe aos olhos. Precisava ser forte, não poderia simplesmente chorar na frente dele. Ele jamais a deixaria se livrar sem uma boa resposta para essa mudança abrupta de humor.

– Não – mentiu ela, escutando a sua própria voz embargada pelo choro.

– Pois é o que parece. – Ele aproximou-se ainda mais e tentou segurar o queixo dela, mas ela se afastou abruptamente. – Hermione, diga-me o que aconteceu, por favor. Foi outra daquelas visões ruins? – Muito lentamente, ela acenou, esforçando-se para engolir o choro. Era tarde demais, água salgada já escapava de seus olhos. – O que você viu dessa vez?

– Eu... – Soluçou. – Não quero... Falar sobre isso.

Blaise a abraçou fortemente, mesmo que ela estivesse lutando para escapar. Por fim, ela desistiu, depositou a cabeça no ombro dele e permitiu-se sentir o peso da culpa. Ela sentiu-se ser arrastada para algum lugar, mas não podia ver mais do que o espectro de figuras debaixo do manto de água que recobria seus olhos. Era como se visse o mundo de um lugar abaixo da superfície do mar, tudo o que via era o borrão de cores e a ilusão de formas que se transmutavam constantemente.

Não era justo que se permitisse encontrar conforto nos braços da pessoa que havia traído mais de uma vez – primeiro ao fazer o que fez com quem fez; segundo, ao mentir sobre isso. Antes houvesse sido apenas um pesadelo... Agora, cada um deles se tornava real. Talvez, o que visse não fosse fruto de algum encantamento, mas reais visões do seu futuro. Talvez, tenha sido seu destino desde o começo, desde muito antes de seu nascimento, que se apaixonasse pelo inimigo. Porém, ainda não o amava. Importava-se um pouco com ele, era verdade, mas isso não era amor, era senso de gratidão por todas as vezes que ele a salvara, mesmo que não tivesse nenhum motivo para isso.

Ele também não a amava, mas a desejava. Apenas esse pensamento fazia o corpo de Hermione tremer. Não deveria, mas se sentia satisfeita com o fato de que ele a desejava a ponto de esse sentimento causar dor física e mental. O que aconteceria quando esse desejo se transformasse em algo mais grandioso, como uma necessidade de afeição compartilhada?

Talvez, as visões estivessem tentando avisá-los de que nada surgiria desse amor além de destruição. Harry morreria. Rony a odiaria. Seu único filho cresceria num mundo em constante guerra.

Destinos, contudo, podem ser mudados. Teriam que ser, porque não poderia jamais existir um mundo em que duas pessoas tão distintas quanto Hermione e Draco pudessem se apaixonar. Era apenas o estado natural das coisas – ele era o filho pródigo dos puros-sangues, e ela o detestava por isso.

Quando finalmente parou de chorar, encarou Blaise. Ele disse nada, sequer demonstrou uma emoção real. Ele parecia preocupado, mas até isso parecia cínico. Ele sabia que Hermione estava mentindo.

– Com o que você sonhou? – perguntou ele.

Agora, ele também estava encenando? Por quê?

– Eu fiz algo terrível – sussurrou ela, com a voz frágil, quebradiça. Se ambos estavam fingindo, poderia dizer a verdade como se esta fosse uma mentira? – E... Eu sinto que o traí, mesmo que tenha sido só uma visão colocada dentro da minha mente.

Blaise esperou até que ela estivesse pronta para continuar. Ela chorava novamente quando falou:

– Eu juro que jamais faria isso com você!

– Está tudo bem – disse ele, esfregando os braços dela com as mãos. – Foi só um sonho ruim. Você não tem que me contar se não quiser.

– Eu quero falar – disse subitamente. – Mas é tão difícil. – Fungou e enxugou as lágrimas com um lenço que Blaise havia conjurado. – Eu quase transei com o Dr... Malfoy! No sonho, claro – ressaltou.

Blaise ficou muito quieto por um instante.

– Ok... – murmurou ele, levantando-se muito lentamente.

– Está tudo bem, de verdade? Você não me odeia por isso, não é?

Ela estava tão certa de que ele nunca mais fosse a encarar. Mal sabia como seria capaz de encarar o seu próprio reflexo todos os dias.

– Não, claro que não. Foi só um sonho, não foi? – falou ele, apesar de haver um nítido tom de raiva em sua voz. – Eu preciso terminar um trabalho para amanhã.

– Tchau! – disse Hermione. Ela ergueu-se, esperando por um beijo de despedida.

– Boa noite.

Houve nenhum ponto de exclamação nessa frase.

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Estava tão triste, que se esqueceu que deveria estar se escondendo de seus amigos. Quando passou direto, mas não rápido o bastante, pelo Salão Comunal da Grifinória, escutou a familiar voz de seus dois melhores amigos chamando-a.

– Hermione, a gente passou a tarde inteira tentando falar contigo! – falou Rony.

– Parecia que você estava fugindo de nós! – complementou Harry.

Os dois olharam-na de forma acusadora. Hermione encolheu os ombros. Ela poderia dizer a verdade, mentir ou escolher ocultar alguns fatos. Já que estava atolada na miséria, poderia confessar parte de seus crimes.

– Blaise e eu brigamos – falou ela, encarando um ponto acima da cabeça deles. Piscou para afugentar as lágrimas.

Ela poderia não ter visto, mas os dois a olharam de forma incrédula. Para eles, Blaise e ela eram o casal perfeito, de tal forma que chegava a dar nojinho.

– Por quê? – perguntaram os dois ao mesmo tempo.

– Eu tive uma visão ruim e o contei... Acho que ele não conseguiu lidar com isso tão bem quanto eu esperava.

Na verdade, ele havia lidado melhor do que ela jamais esperaria. Após dizer o que fez e com quem fez, esperava que ele começasse a gritar com ela, acusando-a de várias coisas horríveis, de ser uma traidora mentirosa e leviana, de ser uma boba ridícula, mais uma puta que caíra na lábia fácil do Malfoy.

– O que você viu?

– É uma coisa muito íntima, até mesmo para o nosso nível de amizade!

– E para o nosso? – falou uma voz por trás de Hermione.

Os três olharam para a figura carrancuda de Gina. De onde ela havia surgido? Pelo visto, a sorte de Hermione estava indo de péssima para “se continuar assim, irá morrer afogada enquanto toma banho no chuveiro, em menos de um centímetro d’água”.

– Alguém pode finalmente me explicar o que diabos está acontecendo? – exigiu a ruiva.

– Esse exato momento não é o tempo nem o lugar certo para isso – protestou Hermione, quem gostaria que sua vida deixasse de ser da conta de cada habitante do castelo de Hogwarts.

– Com você, nunca há tempo bom! – disse Gina, sarcástica. – Então, acho que só basta achar um lugar privado.

Gina a agarrou pelo braço e a arrastou para fora da Casa da Grifinória, sendo seguida bem de perto por dois garotos muito nervosos.

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Era tarde, na noite; com a lua cheia brilhando no céu, o horário de recolher se aproximava. O grupo de amigos encontrou uma torre vazia, uma ilha em meio ao céu, entre duas curtas pontes que levavam, cada uma, a um extremo diferente do castelo. Nessa torre, não havia quadros nem estandartes, ela era feita por completo de rocha sólida, fria. Diante a essa situação, Hermione sentia-se literalmente encurralada, pega numa armadilha da qual não podia escapar.

Gina gesticulou, indicando que deveria começar o seu relato. Hermione suspirou e, mais uma vez, esperando que esta fosse a última por definitivo, contou sobre o que a atormentava a mais anos do que julgava poder suportar sem perder completamente a razão. Contou sobre o seu primeiro sonho, sobre a luz morna sobre os seus olhos fechados e o cheiro embriagante e o conforto da segurança de estar nos braços da pessoa amada. Nesse sonho, ela nunca chegou a abrir os olhos, mas podia senti-lo em cada parte de si – mesmo que fosse somente a reminiscência de seus toques. Mais que isso, ela sentia-se tão amada, mas não completa como era de se esperar. Ela estava sofrendo com a decisão que mudaria o seu destino para sempre, de novo.

Então, houve aquela outra visão que um famigerado livro mostrara a Draco e a ela ao mesmo tempo. Não queria ter que dividir essa memória tão íntima, que soaria como um sacrilégio aos ouvidos de seus amigos; no entanto, percebeu que já o estava fazendo quando não havia mais como voltar atrás e fingir que jamais havia dito isso. Evitou os olhos dos amigos por pura vergonha. Se eles ao menos soubessem que havia partes nela que poderiam ser tão fracas quanto o foram as da Hermione na visão...

Pouco depois, explicou sobre Blaise também e sobre a vez em que Ron, Harry e Draco a ajudaram a entrar na Biblioteca para pegar alguns livros da ala proibida emprestados, mesmo que não tivessem a devida permissão para tal. Ela contou tudo, exceto o que era de fato importante. Um dia, provavelmente, falaria para a amiga – e para ela somente – como Blaise a fazia se sentir bem, amada e especial; o que jamais contaria para ninguém era como Draco a atormentava mais do que pensavam, o dom que só ele tinha de fazê-la agir de forma insensata, instintiva, praticamente irracional. E isso mal começava a explicar a forma como ele a fazia se sentir.

Ao terminar o relato, encarou cada um de seus três amigos e disse que estava de saco cheio da merda deles e que, se não tivessem alguma pergunta, estava indo dormir agora mesmo; se tivessem alguma pergunta, ela estava indo dormir de qualquer jeito.

– Então você finalmente encontrou o feitiço e pode defender a sua mente desses supostos ataques mentais? – perguntou Gina, parecendo estar mais animada do que Hermione já esteve sobre isto.

– Sim e não – respondeu a morena.

– Sim e não o que?

– Eu encontrei o feitiço. Eu não acho que possa proteger a minha mente perfeitamente, ainda.

– Você não está treinando sozinha, está? Você sabe o quanto este tipo de feitiço é perigoso, há uma razão para eles estarem na ala proibida da Biblioteca e de ela ser chamada de PROIBIDA para os alunos e qualquer outra criatura que não seja os professores mais bem capacitados e confiáveis, segundo o julgamento de Dumbledore...

Gina poderia ter continuado a falar por horas, se Hermione não tivesse a interrompido sem remorso.

– Estou treinando com Harry.

Ela estava na metade do caminho da ponte até a passagem que abria espaço ao quinto andar do castelo, quando estancou abruptamente.

– E o Malfoy?

– O que tem ele? – perguntou, após tossir para limpar a voz de qualquer vestígio de sentimento que denunciasse o que havia ocorrido.

– Você o permitiu continuar treinando sozinho?

– O que esperava que eu fizesse?

– Será que alguma de vocês duas poderia, por favor, continuar essa conversa sem uma pergunta atrás da outra? Está ficando bem confuso acompanhar a lógica de vocês – disse Rony.

Gina e Harry ficaram agradecidos pelo alívio cômico. Hermione, contudo, limitou-se a andar mais rápido.

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Draco estava cumprindo sua tarefa como Prefeito, sentindo-se particularmente entediado naquele dia, quando, subitamente, perdeu a firmeza do chão debaixo dos seus pés e rodopiou tão rápido, que perdeu também o senso de direção. Ao abrir os olhos, constatou que a posição do mundo estava muito errada. Olhou para o que deveria ser o lado de baixo e viu os seus pés levitarem próximos a um velho lustre de metal que pendia do teto. Bem, isso não era esperado..!

– Você transou com ela?

Ele escutou a voz antes que a figura de Blaise saísse das sombras.

Bem, isso também não era esperado. Draco pensou se deveria levar o problema a sério. Obviamente, ele sabia a quem Blaise estava se referindo, mas precisava ter certeza de que todos se lembravam de que ele era Draco Malfoy e de que era um babaca.

– Quem? Eu transo com tantas garotas que, às vezes, é difícil lembrar qual nome eu deveria dizer enquanto estou as fodendo. – O comentário estava repleto de um conhecido e odiado sarcasmo imoderado.

– Não se faça de dissimulado – disse Blaise. Com um movimento quase imperceptível da varinha, jogou Draco contra a parede.

Draco caiu no chão, encolhido, tremendo com o impacto da rocha ainda dissipando a vibração nos seus ossos. Ergueu-se com as mãos apoiadas no chão, tonto, enjoado e fraco. Todo o mundo estava igualmente tremendo. Cuspiu o sangue em sua boca, mas isso não foi o bastante para retirar o gosto amargo de ferro dela. Sua língua estava dormente, o que significava que ele teria que fazer algumas tentativas infrutíferas antes de conseguir falar novamente.

Antes de Blaise tê-lo jogado contra a parede, ele ia dizer, esperando que isso soasse muito engraçado de uma forma cruel, “Mas não está na minha agenda dormir com sangues-ruins”. Agora, ele estava com raiva.

Merecia sofrer bem lentamente pelo que quase havia feito com Hermione, e sofrer mais ainda por ter certeza de que, se tivesse uma segunda chance, não hesitaria, sequer pensaria uma vez, antes de fodê-la. Mas, não seria Zabini o seu carrasco. Não nesta noite.

Ele conseguiu levantar-se, apesar de que ainda não sentia o chão debaixo de si com muita firmeza e tinha a leve e constante impressão de que, se abrisse a boca, iria vomitar suas entranhas para fora.

– Se eu tiver, pode estar certo de que não foi sem o consentimento dela – disse Draco. Escutava a sua respiração alta entrecortando cada uma de suas palavras, apesar disso se esforçou para parecer mortalmente perigoso. Pela cara que Blaise fazia, isso podia não estar funcionando, mas, pelo menos, o rapaz estava se mortificando de raiva.

– Claro que ela o fez – disse Blaise, com um frio sarcasmo na voz.

Draco não entendeu o que o outro sonserino quis dizer. Blaise suspeitava de que algo estava acontecendo entre Draco e Hermione? Como poderia o fazer? Fora da privacidade segura das paredes de seu quarto, eles mal dignavam uma palavra educada um para o outro. Os próprios amigos estavam ignorantes sobre o que acontecia. Na maioria das vezes, o próprio Draco não tinha menor conhecimento do que fazia ou do motivo pelo qual o fazia antes que o pior já tivesse acontecido.

Blaise ergueu a varinha e disse:

Impact Extremme.

Draco conseguiu ser rápido o bastante para pegar a sua varinha, conjurar um feitiço de proteção e sair do meio, só por precaução. Contudo, o outro sonserino não esperou que ele recuperasse o fôlego ou a estabilidade e retornou a atacá-lo. Todas as vezes, Draco falou o feitiço de forma mais fraca que a anterior.

Deprimo – disse Blaise. Um jato de luz roxa foi lançado em direção ao braço de Draco.

Protego Horribilis – falou o loiro. Por pouco ele não perdera o braço direito. Aquele não era o tipo de feitiço que se usava em briguinhas bobas com um colega que você não simpatiza na escola, aquele feitiço tinha a intenção de causar real e permanente dano. Blaise não estava brincando.

Draco sorriu, excitado.

– Ela disse o quão disposta estava para se entregar a mim? – disse ele, um sorriso cruel crescendo em seu rosto.

Por um breve segundo, Blaise disse nada. Todo o seu corpo ficou tenso, como se se preparasse para receber o impacto de ondas poderosas contra o seu peito.

O segundo passou, mas Draco ainda estava preso nele.

Crucio!

Foi tão rápido, que ele não viu acontecer. A dor, contudo, era demasiadamente real. Draco caiu no chão, retorcendo-se e gritando, sentindo como se a sua pele estivesse sendo arrancada com uma navalha enferrujada e praticamente cega do seu corpo – o movimento dela era lento e sofrido, puxava partes da pele, mas não conseguia arrancá-la, então era aplicada mais força, a navalha afundava na carne e levava pele junto a ela. Os seus nervos estavam estourando, sentia a pressão esmagar-lha a cabeça. E, então, a sensação cessou. Mas, a horrível dor... Ela era ainda mais real.

Ele viu Blaise aproximar-se e observá-lo do alto, esboçando uma expressão de deleite. Se pudesse, Draco certamente emitiria um som sarcástico. Ele sempre soube que Blaise, assim como ele, era uma cobra venenosa.

Legilimens – disse Blaise, suavemente.

Draco piscou, apavorado. No segundo seguinte, ele estava vivendo novamente o seu favorito e mais terrível pesadelo, só que não era um pesadelo de verdade, era a memória viva do que havia acontecido naquela noite.

Ele a sentiu sobre o seu corpo, os seios macios dela pressionados no seu peito nu, as coxas dela apertando sua cintura. Ela posicionou-se de forma que ele podia sentir a umidade dela logo acima do seu pênis, separada somente por uma frágil camada de tecido. Ele queria retirar as calças do pijama e senti-la por completo, mas sabia que precisava ir devagar para não a pressionar para além de seus limites. Não queria que ela se lembrasse, logo agora, de todos os motivos pelos quais não deveria estar beijando-o dessa forma, enquanto estava seminua e começava a se esfregar lentamente nele. Ele sorriu, mordicou o lábio inferior dela e riu rouco no seu ouvido.

Saia da minha mente, gritou Draco em seus pensamentos, aplicando grande força para retirar o intruso de suas lembranças.

Ele piscou e, novamente, Blaise estava diante dele. Sentia-se mais fraco que antes, suava frio e seus dedos tremiam. Encarou o outro sonserino, esperando ver uma espécie de ira incontrolável nos olhos dele, mas o que encontrou foi insanidade. Blaise parecia febril, não como alguém que está doente, mas como alguém que está louco. Draco sabia a diferença, pois já a havia visto, essa loucura, relampejando nos olhos de Hermione e nos seus próprios.

Blaise deu um último passo em sua direção e...

Eles nunca saberiam o que aconteceria em seguida.

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– Draco! – gritou Hermione.

Ela estancou, chocada pela cena à sua frente. Não poderia acreditar no que seus olhos viam, sobretudo quando eles já haviam a enganado antes com a visão de um garoto assustado que jamais existiria. Olhou do corpo no chão àquele que segurava firme uma varinha. Blaise parecia tão diferente, seus olhos estavam completamente negros, sem qualquer empatia por aquela criatura aos seus pés. Então, ele piscou e a encarou com aquele olhar preocupado que parecia reservar somente a ela. Hermione abaixou os olhos, esperando que Draco também estivesse subitamente mudado; quão terrivelmente enganada estava – ele continuava a ser um garoto pálido, suas mãos tremendo, o olhar fixo na varinha apontada para o seu peito, os lábios entreabertos aspirando o ar de forma ruidosa. Ele estava machucado, podia ver manchas roxas e avermelhadas em seu rosto e o sangue em seus lábios.

Houve um momento em que ela estava convicta de que a imagem não era real, ela estava dentro de um pesadelo novamente. Seus olhos ficaram cheios de lágrimas, sua respiração vacilou. Estava tão apavorada. Isso não poderia estar acontecendo de novo. Como ela aguentaria suportar a sua própria insanidade dessa vez? Quando, na sua frente, não estava um menino estranho, mas os dois homens que poderiam destroçá-la ou fazê-la dobrar-se no momento em que quisessem? Bastaria apenas uma palavra deles, um ato simplório, até mesmo ingênuo, para que ela andasse até a beira de um precipício e se jogasse. Ela sabia que faria coisas estúpidas, se eles ao menos a amassem o suficiente. Mas Draco jamais a amaria, nem um pouquinho, nem por uma fração de segundos. Foi a realização deste fato que a fez despertar e constatar que o que quer que estivesse acontecendo era real. Isso e os passos apressados e as vozes estridentes que vinham do corredor atrás de si.

De repente, Harry, Gina e Rony estavam à sua volta, parecendo tão alarmados quanto ficariam se um dia pudessem estar presente durante a briga de dois sonserinos. Isso era uma coisa para ser vista!

– Santo Merlin, como é que nós sempre perdemos a melhor parte da briga? – Rony xingou, mas nenhum de seus três amigos riram.

Harry estava cauteloso, o que significa que ele deu passos curtos e cuidadosos em direção aos sonserinos. Gina o acompanhou.

– Eu nunca pensei que você fosse ser o único a colocar o Malfoy no lugar onde ele merecia estar – disse Gina, sorrindo diabolicamente para Blaise. Ela não poderia parecer mais feliz do que naquele momento. – Eu sempre esperei que este fosse ser Harry, mas devo admitir que estou impressionada e bastante orgulhosa.

Blaise não respondeu, estava ainda encarando Hermione, quem estava encarando Draco, quem estava encarando o seu próprio sangue no chão frio.

De todas as pessoas que poderiam encontrá-lo numa hora dessas, naquele estado, ele tinha esperança de que estas não fossem seus maiores inimigos, o Trio Maravilhoso. Sobretudo, Hermione. Ele poderia suportar as piadas bobas do cabeça vermelha e do Potter, mas sabia que não conseguiria aguentar o olhar de pena dela. Ele preferiria morrer logo, agora, desaparecer no ar, derreter-se, fundir-se ao chão. Sentia-se tão humilhado, mais do que se sentira quando fora pego de surpreso pela maldição do Zabini.

– O que aconteceu? – perguntou Harry.

Não houve resposta, mais uma vez.

Hermione moveu-se, passou entre Harry e Gina, empurrando-os para fora de seu caminho e ajoelhou-se próximo de Draco. Seus dedos cuidadosamente analisaram as feridas em seu rosto.

– Por que você o machucou? – perguntou ela, encarando Blaise.

O toque quente dela contra sua pele ardia. Ele queria afastá-la brutamente, porém sabia que o ato dela deveria estar enfurecendo Zabini; para Draco, isso quase tinha gosto de vitória, mesmo que fosse uma azeda e estragada.

– Ele a desrespeitou – disse Blaise –, além de ter ousado encostar mãos imundas em você. – Ele deu um passo para trás e abaixou a varinha, fitou o loiro por um breve instante antes de direcionar seu olhar fuzilador para a namorada. – Você transou com ele?

Hermione engoliu em seco.

– Não, eu jamais o faria – disse ela.

Jamais? Draco poderia rir-se, mas não havia humor dentro de si. Ele levantou-se subitamente, apoiando as mãos no chão para sustentar o peso do tronco. Esforçou-se para fingir que não estava tonto e enjoado. Um momento depois, colocou-se sobre os pés; teria caído de volta ao chão se Hermione não tivesse erguido-se a tempo de ajudá-lo.

– Você está bem? – perguntou ela.

Ele evitou o olhar dela.

– Por que você se importa? – perguntou ele.

Todavia, para Hermione, era como se todas as pessoas presentes tivessem-no feito, ou talvez poderia ter sido todas as pessoas que um dia conhecera, seja em sonhos, seja em realidade.

Ela afastou-se dele, confusa, sentindo que havia perdido o seu senso de direção.

– Eu... – O que podia dizer, quando nem a sua própria mente entendia o que estava fazendo? Tudo o que tinha era o sentimento forte vindo do seu âmago de que se importava. – Eu só quero entender por que meu namorado estava olhando para você como se planejasse aniquilá-lo da face do planeta.

Draco sorriu de lado em escárnio.

– Eu o disse como você estava bem contente em entregar-se a mim, para que eu fizesse o que quisesse com o seu corpo.

– Eu não estava – gritou ela para ele, afundando as unhas na carne da mão. Então, virou-se na direção de Blaise e repetiu a mesma exclamação. – Você não confia em mim o bastante para acreditar que eu jamais deixaria o Dr... Malfoy sequer me beijar dessa forma enquanto estamos namorando?!

– Existem outras formas pelas quais ele pode tê-la tocado – foi a resposta de Blaise. – Nós não deveríamos discutir sobre isso na frente dos seus amigos, que imagem terrível eles terão de você...

Hermione direcionou o olhar para os seus três amigos estáticos e a figura pálida de Draco. Sobre uma coisa Blaise estava certo, não deveria envolvê-los na parte mais íntima e obscura de sua vida.

– Por favor, saíam daqui – falou ela de forma autoritária e não muito delicada.

Inesperadamente, Draco foi o primeiro a mover-se. De alguma forma, ele conseguiu sumir de vista com alguma decência, sem passos cambaleantes nem uivos de dor. Logo depois, Gina puxou os dois rapazes para bem longe dali, avisando-lhes que não seria uma boa ideia resistir.

– Isso é problema de casal – falou a ruiva. – É cilada se envolver no meio.

Dessa forma, ela foi deixada sozinha para confessar suas meias-verdades, suas mentiras inocentes e tudo o que se encontrasse entre as duas. Como não podia suportar o seu olhar, ela encarou os sapatos e esperou que não tivesse que ser a primeira a falar.

Reles engano.

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Dizer que Draco estava enraivecido mal começaria a explicar o turbilhão que havia pintado o seu âmago de escarlate; a ira cega e selvagem adormecida, agora rugindo, exigindo liberdade. Tudo o que conseguia ver era vermelho – vermelho do sangue nas mãos, vermelho das labaredas dançando na escuridão, vermelho na sua mente, da cor dos lábios dela depois que ele os havia chupado e a deixado sem ar. Vermelho, uma mancha de vinho no sofá e no tapete, contrastando com o verde e o prata. Não lembrava onde havia conseguido aquela garrafa de vinho, talvez tivesse passado na cozinha antes de chegar ao seu quarto, talvez tivesse escavado debaixo da sua cama, talvez tivesse encontrado uma porta mágica no ralo da banheira. O mundo não mais fazia lógica. Ele estava meio bêbado, meio irado, e as extremidades do quarto vacilavam para um lado, depois para o outro. Talvez, tivesse bebido mais de uma garrafa, já não lembrava. Não estava acostumado a beber tanto, por isso cada gole de vinho jogado goela a baixo tinha um poder surpreendente de fazer a sua mente flutuar. Exatamente o que precisava.

Draco sentou-se no sofá. Por pouco não havia pisado nos cacos de vidro da garrafa a centímetros dos seus pés, e, mesmo que houvesse cortado o dedão, não poderia se importar menos.

Ela deveria estar agora lá com ele, explicando-se e pedindo perdão, porque ela era o tipo de garota que tentava fazer com que o relacionamento funcionasse. Draco sempre detestara especialmente esse tipo de garota. Elas eram insistentes e chatas, entediantes e certinhas e dramáticas. Era sempre complicado fazê-las entender que o que ele queria – e precisava – era só de uma noite, uma tarde, de descontrole e de prazeres selvagens, não da porra de um relacionamento!

Claro que Her... A Granger, ele quis dizer, teria que ser esse tipo de garota; ela jamais se contentaria com apenas uma noite, isso se ela chegasse a aceitar que ele a tocasse novamente. Agora, ela estava se humilhando para voltar com aquele babaca, arrogante, dissimulado, incrivelmente chato e sonolento idiota que chamava por namorado.

Bateu no chão com os pés, com força. Clack. Primeiro, escutou o som do vidro partindo-se, depois sentiu a dor. Soltou um grito nada másculo e um palavrão – merda! Pegou a varinha, conjurou um feitiço, retirou o pedaço de vidro do pé e jogou a varinha no outro lado do sofá. Não havia muito sangue na sola do seu pé, e a ferida não doía tanto. O álcool deixara as extremidades do seu corpo dormentes. Isso era estranho, mas também era bom.

Encostou a cabeça no sofá e fechou os olhos. Precisava dormir. Precisava parar de pensar nela. Mais que tudo isso, precisava parar de imaginar formas cruéis de torturar o Zabini por diversão. Ambos eram como o machucado no seu pé, coisas insignificantes que não mereciam um gasto a mais do pensamento dele. Com o efeito do álcool na sua mente, isso era quase verdade.

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Draco acordou com o som insistente de batitas na sua porta. Merda. Merda. Merda. Quem tinha um desejo de morte uma hora dessas? O primeiro nome que veio à sua cabeça foi, obviamente, Hermione Granger. Se fosse ela, não queria atender; se não fosse ela, não queria nem ter que se importar em considerar se deveria ou não levantar.

Ele virou-se para o lado e fechou os olhos. As batidas cresceram em intensidade e frequência, e o barulho delas repercutia em forma de ondas na sua cabeça, dando voltas e voltas, embaraçando-se, gritando de forma violenta. Ele massageou as têmporas. Que horas eram? Já era a hora de sentir a famosa ressaca? Com certeza, gostaria de pular essa parte.

Como ela não desistia, ele xingou alto e ergueu-se, e quase caiu ao chão. Precisou de um minuto longo antes que o mundo parasse de girar. Durante esse momento, a raiva dele subiu à superfície e fez com que sua pele pinicasse, ardendo quente.

Escancarou a porta e a fitou, fuzilando-a com o olhar.

Ele não teve tempo de reagir, pois ela pulou nos seus braços, abraçando-o sem hesitação, sem permissão.

Seu coração pulou uma batida.

Certamente, não deveria, mas ele devolveu o abraço, apertando-a contra si, abaixou a cabeça, afundando o nariz entre o mar de cachos dela e inspirando o seu cheiro. Dessa vez, os cabelos dela não cheiravam a frutas silvestres, mas a cinzas.

Afastou-se um pouco, apenas o bastante para que pudesse encará-la nos olhos.

– Her... Granger – ele exalou o nome dela. – O que aconteceu?

Ela aproximou-se, de forma que a ponta dos seus narizes e as suas testas tocavam-se. Involuntariamente, Draco prendeu a respiração. Se ele estivesse sóbrio, se a sua cabeça não latejasse, se a sua pele não queimasse, ele realmente se sentiria ridículo por responder a ela dessa forma.

– Eu estou assustada – sussurrou ela. – Eu não consigo me lembrar de... De n-nada... Sobre a-as últ-timas horas – as palavras dela oscilavam de acordo com a sua respiração nervosa.

Ele afastou os cabelos dela e segurou firme o seu rosto nas mãos, analisando-a. Seus olhos estavam com aquele brilho febril, cheios de lágrimas na iminência de transbordar.

– Você viu alguma espécie de visão?

– Eu n-não consigo lembra-ar – respondeu ela.

A mão direita de Draco segurou uma das mãos dela. Ela estava tremendo.

Hermione encostou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos, fazendo uma careta de dor.

– Eu tenho essa... Sensação ruim, mas eu não consigo lembrar.

Ele sentiu a umidade das lágrimas dela na sua camisa. Naquele momento, ele se esqueceu dar dor, da raiva, da vergonha, do medo, e se inclinou para beijar a testa dela. Ele a levou até a cama e ajudou a sentar-se. Mas ela protestou, soltando um gemido de dor ao sentar. Então, ela rolou na cama, deitando-se encolhida no meio dela.

– Você está machucada? – perguntou ele, enquanto buscava a sua varinha no sofá e, com ela, acendia as luzes.

Imediatamente, ela cobriu os olhos.

– Apague as luzes – murmurou ela.

Draco a ignorou.

– Onde está doendo? – perguntou ele, de forma exigente.

Com as mãos ainda cobrindo os olhos, ela respondeu, baixinho.

– Praticamente todo o meu corpo parece estar doendo um pouco.

Ele sentou-se na cama e aproximou-se dela. Podia sentir-se ainda meio bêbado, mas, definitivamente, o efeito do álcool estava passando mais rápido do que deveria, e isto deixava a sua cabeça latejando. Ele ignorou isso também e se concentrou no problema à sua frente.

– Posso ver? – pediu ele, delicadamente.

Hermione tirou as mãos do rosto e encarou-o nos olhos, como se não estivesse certa sobre o que ele queria dizer.

– O que? – perguntou ela, confusa.

– O seu corpo – falou ele, com a calma que não sentia. – Ver onde ele está machucado.

Ela o encarou por um longo momento antes de acenar.

– Meu tronco e o meu pescoço estão doendo bastante – disse ela.

Muito, muito devagar, as mãos dele moveram-se para tocá-la. Ele afastou o cabelo dela e analisou primeiro o seu pescoço. Observou-o com cuidado, em ângulos diferentes; com delicadeza surpreendente, testou a pele. Ao ficar satisfeito com o fato de que não havia nada de errado com aquela região em especial, desviou sua atenção para o que deveria vir em seguida. Com mais lentidão, desabotoou a camisa dela, tomando cuidado para não tocar na pele dela. Ele realmente tentou concentrar a sua atenção em detectar se havia alguma mancha ou arranhão, por menor e mais insignificante que fosse. Ele encostou um dedo na pele dela, percorrendo com esmero, então outro dedo e um terceiro, até que sua mão deslizasse sobre a barriga dela, sentindo-a. Sentiu um impulso tolo de beijar o umbigo dela, graças a Merlin sua razão tinha voltado ao normal, na medida do possível. Com um dedo, pressionou a região logo acima do umbigo. Imediatamente, Hermione moveu-se incomodada, mas nada de dor real. Os dedos dele subiram, para além do que deveriam ir. Não era como se Draco realmente se importasse com decência e dignidade. Ele apertou uma região do seio dela, dizendo para si mesmo que era somente para descobrir se estava machucada ou não. Quando Hermione arfou em dor, ele pressionou outra região próxima, escutando-a soltar um baixo som de choro.

Ele iria pressionar uma região mais próxima do bico do seio, por baixo do sutiã, mas ela desviou-se dele, encolhendo-se na extremidade da cama. Draco a encarou, os olhos dela estavam cheios de lágrima.

– Dói muito? – perguntou ele, aproximando-se sorrateiramente dela.

A resposta dela foi abafada por um soluço choroso, por isso ela acenou rapidamente.

– Qual a última coisa da qual se lembra?

– Eu estava andando por este corredor escuro – sussurrou ela. – Eu estava com raiva dos meus amigos... Eu queria chegar logo no meu quarto e fechar a porta na cara deles... – ela pausou de repente e fitou o teto por um longo tempo antes de se virar para Draco. – É isso... Não me lembro de mais nada depois disso.

– Você se lembra de ter encontrado o seu estúpido namorado e eu em meio a uma briga? – Draco não conseguiu esconder o sarcasmo do tom da voz ou o seu meio-sorriso de lado.

– Eu disse que não lembro! – falou Hermione, exasperada. Ela respirou fundo três vezes. Mais calma, perguntou. – Conte-me o que aconteceu.

– O que você pensa que aconteceu? Obviamente, você foi socorrer o coitado do seu namorado que estava prestes a me transformar num pedaço de gosma grudada no chão! Ah, depois vocês resolveram que precisavam acertar as coisas, então os seus amiguinhos e eu os deixamos sozinhos.

Hermione o olhou de lado.

– Você pode tentar ser menos rude, por favor?

– Eu não estou sendo rude – disse ele, fingindo um tom de ultraje. Da mesma forma, ele fingiu não estar encarando a parte descoberta do peito dela.

Ao notar o olhar dele, Hermione começou a abotoar a sua camisa. Infelizmente, não tão rápido quanto pretendia.

– Por que vocês estavam brigando dessa vez? – perguntou ela.

– Ele pensa que nós transamos.

– E eu tenho certeza que você não se esforçou para fazê-lo pensar o contrário – rebateu Hermione, fuzilando-o com o olhar.

– E perder toda a diversão?! Jamais, Granger!

Ela revirou os olhos e afundou o rosto no travesseiro, não sem deixar escapar uma lamuria de dor. Remexeu-se até encontrar uma posição razoavelmente confortável para seu corpo dolorido. Por alguns minutos, permaneceu completamente quieta, de tal forma que Draco acreditou que ela estava dormindo. Por isso, ele retirou os sapatos dela, assim como as meias, e os depositou debaixo da cama; desligou as luzes com um movimento da varinha e deitou-se na cama, ao lado dela.

Subitamente, Hermione ergueu a cabeça e murmurou com a voz sonolenta.

– Eu estou tão cansada de sentir medo e de pensar que estou louca – falou ela.

– Então não tenha mais medo – disse ele, afagando a bochecha dela.

Hermione inclinou-se na direção dele, seus pés e seus braços tocavam-se, mas não mais que isso. Havia pouco de afeição no ato, eles precisavam daquele toque para saberem que não estavam sozinhos, para se sentirem seguros e acolhidos.

– E como eu faço isso? – perguntou ela.

– Não pergunte a mim. Eu continuo com medo da escuridão, como quando era criança.

– Sério? – Ela estava realmente incrédula. – Há tanta escuridão e ódio ao seu redor, que eu não consigo acreditar que você tenha medo de abraçá-los.

– Esse é problema, de fato. Eu tenho medo que, um dia, eu venha a me tornar somente isso, escuridão e ódio, e que não haja nada mais que eu possa ser além disso.

– Então seja tudo aquilo que você quer ser – falou ela, como se isso fosse a coisa mais simples do mundo. Para ela, de fato, era. Mas para Draco... Não... Antes de tudo o que ansiava ser, ele sempre seria o filho do seu pai, um Malfoy até as extremidades mais profundas e remotas da sua alma. Ele havia tentado fazê-la entendê-lo uma vez, mas ela jamais conseguiria sentir o peso do passado sobre as costas dele, o qual ameaçava esmagá-lo a qualquer momento, se não tivesse força o suficiente para suportá-lo.

– Um dia, talvez... – Não tinha mais forças nem vontade para responder mais do que isso. Não era uma promessa nem uma ilusão, pois a sua voz não continha o tom de esperança que Hermione ansiava escutar. Draco estava conformado com o seu destino. Ele suspirou e esperou que o silêncio da noite não a incomodasse, da mesma forma como fazia a ele. Por fim, ele virou-se para ela, conseguindo ver pouco mais que o brilho dos olhos dela e o contorno de seu nariz e de sua boca, e falou – Nós vamos descobrir o que aconteceu com você, Hermione.

Ela permitiu-se sentir conforto por aquelas palavras. Sua alma já estava condenada, de qualquer forma.

Apesar do sentimento de preocupação e do medo que a inquietava, ela conseguiu cair no sono ao lado dele. Draco demorou mais tempo para dormir, porque queria certificar-se que nenhum monstro surgiria no meio da noite para machucá-la. Todavia, o único monstro naquele quarto era aquele que a estava abraçando, não forte demais como queria, porque sabia que tinha longas garras que poderiam rasgá-la e destroçá-la sem sequer fazer esforço.


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Notas finais do capítulo

Durante esse tempo que passei sem postar, eu estive atolada na bad por causa de um boy. Fiquei muito mal mesmo! Além disso, minha universidade entrou em greve geral. Como a boa pessoa de humanas que sou, estou participando do comando da greve estudantil do meu curso. Está tendo muitas atividades incríveis! Eu estou chegando em casa depois das 22h (Sendo que saio de casa por volta das 8h), porque todo dia tem alguma coisa acontecendo. Aí, quando chego em casa, já tô acabada e só quero dormir. Como se todas essas aventuras não fossem o bastante, comecei a esboçar 4 novas histórias... Pois é... Só posso levar uma adiante, então gostaria da ajuda de vocês para escolher qual será a minha próxima história. Vocês podem ver o plot delas aqui (http://so-tur-nos.tumblr.com/post/128301359826/sobre-as-minhas-poss%C3%ADveis-futuras-hist%C3%B3rias), leiam e me digam qual história vocês acharam mais interessante e acompanhariam com certeza.