—Trouxeram carne a fresca.

Suspirei com pesar. É, eu acho que a situação não pode piorar.

Aqui estou eu, em uma cela de cadeia, presa com mais 3 detentas que acham que eu sou uma mendiga ou parte de algum ritual do mal. As grades são engorduradas, acho que seu eu pegasse uma faca e descascasse isso poderia encher um balde de gordura, ou algo assim. O chão era tinha uma segunda camada de poeira, e as paredes buracos rasos de brigas ou tentativas de fuga. Tinha quatro camas de cada lado da parede, duas beliches de metal adjacentes à hastes nas paredes.

Nessas camas de metal tinha um colcão em cada, e um travesseiro que me faziam espirrar a cada momento que eu respirava.

Se eu tivesse um ataque de asma agora, eu estaria completamente perdida. Porque sim, a azarada aqui tem asma e não está com a bombinha.

Respirei fundo, sentindo meus pulmões se satisfazerem com mais uma lufada profunda de ar.

Contei até quatro, quem sabe eu me acalmava.

1, 2, 3, 4.

1, 2, 3, 4.

—Ei bonitinha- disse uma mulher loira sentada em uma das camas.

Olhei para ela ajeitando meus óculos em meu nariz de espinhas.

—Senta aqui.- ela disse batendo no espaço ao lado dela. Uma lufada de poeira subiu ao ar me fazendo tossir um pouco.

—Não, obrigada, prefiro ficar de pé mesmo.

Cruzei meus braços pelo meu vestido rasgado.

—Deixa ela lá, ela não quer se ajuntar a nois.- disse a que tinha cabelos negros.

A nois? A nois?

Eu preciso sair daqui...

—Você fez parte de algum ritual, ou algo do tipo?- perguntou uma ruiva que estava sentada aem uma das camas com a de cabelos negros.

—Não, não fiz- respondi vagamente enquanto ollhava além das grades. Havia um corredor com pelo menos mais três celas ali. Ao todo quatro, duas de cada lado. Duas de garotas e duas de garotos.

—Sabe- disse a loira- você tem belos brincos, e essa é uma bela pulseira.

Ela se levantou e andou até mim junto com as outras duas. A de cabelos negros ficou à frente, como se fosse a líder de uma gangue.

1, 2, 3, 4.

—Se afastem- falei assim que elas se aproximaram mais- não me toquem!

—Não me toquem!- imitou a de cabelos negros me caçoando.

1, 2, 3, 4.

Elas se aproximaram mais.

Senti uma ardencia em meu rosto quando uma delas avançou.

1, 2, 3, 4 uma ova. Corri até as grades gordurentas gritando socorro enquanto observava os outros detendo baterem com seus copos de metal nas grades.

—Socorro!!!!

Aquilo ia virar uma briga, e eu era o alvo. Tem como melhorar?

*~*

Em algum lugar da Inglaterra...

—20 minutos para o pouso senhor.

O avião particular nunca pareceu ir tão devagar.

—Ainda não acredito que vocês a acharam- disse o homem de cabelos grisalhos para Marcus, o chefe dos cadetes.

—Demorou senhor, mas finalmente, a encontramos.

—Como será que ela está? Será que ela tem uma boa vida? Será que ela é feliz? Já faz tanto tempo, que nem me lembro direito como ela era.

—Mas o senhor a verá, ainda hoje.

Marcus se afastou um pouco mais sabendo do risco da aproximação. Embora ele não fosse como Marcus e seu filho, que não suportavam ser tocados, Sr. Charles não era tão rigoroso quanto essas regras tão banais, ele precisava demonstrar respeito.

Charles olhou para seu cachecol vermelho que como não estava arramarrado fazia suas bordas cairem displicentemente em seu colo.

Seu terno, sobretudo e ainda por cima o cachecol o deixa-vam com um pouco de calor, embora o ar condicionado do avião estivesse na potência máxima. Mas ele não se conseguia tirá-los, não permitia-se se mexer. Era como se ao fazer qualquer movimento, por mais lento que possa ser, aquela realidade fosse se quebrar. Ele a havia achado, finalmente a achado.

—Permissão para me retirar senhor- Marcus falou firmimente.

—Permissão concedida- Charles falou olhando pela janela.

Marcus se levantou, olhando para todos os soldados que estavam no avião particular, que tinham vindo para aumentar a segurança e que estavam desde o começo naquela missão, pronto para dar as devidas instruções ao resto das pessoas.

—Quando chegarmos lá grupo B ficará do lado de fora, aumentando a guarda e protejendo a entrada da delegacia. Ninguém entra, ninguém sai. Já o grupo A ficará comigo, me acompanhando na proteção do senhor Charles, até acharmos a senhorita Amanda.

Em um canto mais afastado dos soldados, Charles olhava para a janela, observando as luzinnhas da cidade mais afastada da Inglaterra brilhando como vaga-lumes embaixo dele.

—10 minutos para a aterrissagem- avisou o piloto pelos auto-falantes.

Então era ali que ela esteve esse tempo todo? Tão perto e ao mesmo tempo tão longe...

Ele nem precisou sair do país para ir ao seu encontro.

Ele olhou para seu cachecol, uma de suas cores favoritas.

E assim, as lembranças foram inevitáveis.

—Alamanda, cadê você?

—Alamanda? Meu nome é Amanda.

—Eu sei- ele disse tocando seu pequeno nariz- mas savia que existe uma flor chamada Alamanda? Ela é linda, e você querida, é tão bonita quanto ela.

Será que ela ainda lembrava de seu apelido? Bem...talvez não, já tanto tempo.

Tempo suficiente para ela não lembrar mais dele.