Eu sou o milagre escrita por Thais Barreto


Capítulo 2
Dois




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Rio de Janeiro, maio de 2014

– Nicolas!

Minha mãe me chamou na hora em que eu estava no banheiro fazendo mais cortes. A dor tornara-se um grande vício. Eu já não sabia mais o que fazer, mas não tinha mais como evitar. Guardei a lâmina no meu bolso rapidamente e avisei que já ia falar com ela. Odeio mentir pros meus pais.

– Mãe?

– Oi, filho, onde você tava?

– Ham, tava no meu quarto, por que?

– Não é nada demais, só pra saber mesmo. Como foi o dia na faculdade hoje?

– A mesma coisa de sempre. Normal.

– Filho, acho que você deveria tentar se relacionar um pouquinho mais com o pessoal da sua faculdade, não sei, fazer amigos novos, arranjar uma namorada...

– Mãe, eu sou estranho. Ninguém gosta de uma pessoa como eu.

– Eu gosto.

– Você é a minha mãe né! Sua obrigação é gostar de mim.

– Quem te disse isso?

– Eu tô dizendo, ué.

– Filho, você não sabe mesmo de nada. Vou pro quarto, qualquer coisa se precisar é só me chamar, ok?

No dia seguinte, mais um dia monótono na faculdade. Depois que eu sai de lá já de tarde, fui atrás de um emprego que achei no jornal, numa revista da cidade, pra fazer uma entrevista. Eu estava mesmo querendo uma grana pra tentar ajudar os meus pais e fazer uma surpresa pra minha tia.

– Oi, boa tarde, posso falar com o chefe da redação?

– Pois não, seu nome é?

– Nicolas Araújo, eu marquei uma entrevista de emprego e o chefe me pediu pra chegar aqui ás 14:00 horas.

– Ah, sim, claro! O chefe me avisou, pra ir até a sala dele é só virar a direita, é a segunda sala ao lado da porta do banheiro. Pode bater na porta e entrar.

– Ah, ok, muito obrigada.

Caminhando em direção até a porta do chefe, uma garota passa na minha frente um pouco apressada segurando uns papéis, estava com roupa social e um salto alto preto e a face dela demonstrava uma expressão de nervosismo. Ela estava indo na mesma direção a minha, quando percebi que também estava entrando na sala do chefe. Bateu na porta dele.

– Com licença, sr. Guilherme, vim trazer os papéis com os temas que o senhor me pediu pra reportagem da capa principal da coluna pro mês que vem.

– Até que enfim! Achei que vocês nunca fossem terminar isso! Deixe os papéis em cima da mesa e em seguida retire-se. Vocês estão cada dia piores.

– Desculpe, ham, dá licença. Com licença, senhor.

E sorriu pra mim com a expressão do rosto ainda nervosa.

– E você, o que quer?

– Dá licença, senhor Guilherme, eu sou o Nicolas, vim fazer a entrevista pro próximo colunista pessoal.

– Ah, sim, perdoe-me pela Helena, ela não sabe fazer nada direito. Não sei nem porque contratei ela. Enfim, sente-se, vamos começar logo isso.

Mostrei alguns textos e algumas crônicas que eu escrevia no meu tempo livre e respondia todas as perguntas que ele fazia. Não foi muito grosso, mas também não parecia ser o tipo de chefe agradável. No fim da entrevista, ele disse que iria pensar com calma e reler os meus textos pra saber se eu seria contratado e dali duas semanas ele ligaria para mim e daria o resultado. ''Então ok'', eu disse. Depois nos cumprimentamos e eu fui embora.

Assim que saí da sala, vi Helena sentada em uma mesa digitando algo no computador, deveria estar fazendo algo relacionado com a revista, até que ela percebeu que eu estava olhando pra ela enquanto passava e sorriu, eu me surpreendi quando ela se levantou pra falar comigo.

– É, oi! Não sei porque vim falar com você depois do que passei na sala do chefe, mil desculpas, eu não queria causar tudo aquilo. Eu realmente estava atrasada.

– A culpa não foi sua, foram dos outros editores que se atrasaram. Até então, quem leva a culpa é você, entende?

– Sim, eu entendo, eu já me acostumei, só não espero ficar desempregada.

– Você não vai. Relaxe.

– Enfim, você estava se entrevistando? Pelo jeito que ele estava acredito que não tenha sido muito amigável.

– Nada, que isso, ele foi normal. Não me tratou nem bem, nem mal. Apenas foi formal.

– Que sorte. Olha, se você for contratado, a gente pode continuar se falando. O que acha?

– Claro. Pode ser!

– Boa sorte, novato.

– Obrigada, até mais.

Eu senti que se eu conseguisse aquele emprego, talvez as coisas pudessem mudar. Sei lá, não muito, mas era uma nova oportunidade. Eu realmente queria que funcionasse.

Uma semana antes do sr. Guilherme ligar pra minha casa, eu estava ansioso, desde aquela entrevista eu não havia me cortado, eu não fazia ideia de como, mas tinha conseguido evitar. Até comecei a pensar que estava ficando maluco, mas eu não estava, era apenas a ansiedade que falava mais alto que tudo. Na faculdade, como sempre, as coisas eram as mesmas e nada mudava, ás vezes eu ia pra festas e nada mudava na minha vida, então quando tinha tempo livre, sempre ficava em casa lendo um livro ou ia pra algum lugar legal: sozinho, e acabava se tornando tedioso. Até o esperado dia. Meu telefone tocou.

– Alô, aqui quem fala é o chefe da revista Você, é o sr. Nicolas?

– Sim, sou eu mesmo. Prazer em falar com o senhor de novo, sr. Guilherme. O resultado já está pronto?

– Ah, claro, sr. Nicolas, mas queria lhe dar pessoalmente. Antes preciso conversar com você.

– Oh, claro. Que horas vou aí?

– Pode passar aqui no mesmo horário que você fez sua entrevista. Estarei lhe esperando.

Mais tarde quando cheguei na redação...

– Oi, boa tarde, o sr. Guilherme pediu para que eu viesse aqui, posso ir até a sala dele?

– Ah, claro, o senhor é o Nicolas, certo? Já sabe como chegar na sala dele, né? Pode entrar!

– Obrigada.

Na sala do chefe...

– Bem, sr. Nicolas, só até esse mês, eu já dispensei mais de 10 colunistas porque eles não deram conta do trabalho que eu queria passar ao público e eu estava procurando por escritores que me surpreendessem, e quando peguei as suas colunas, apesar de não ter me identificado com nenhuma delas, acredito que seja a cara do povo de nossa cidade e decidi dar um voto de confiança em você. Espero que não me decepcione, até porque você é mais novo do que as pessoas que eu geralmente contrato pra trabalhar aqui. Pode começar seu trabalho na semana que vem, eu vi que você faz faculdade de manhã, então vai trabalhar aqui na redação de segunda a quinta, das 14:00 até as 18:00 horas. Pode ser?

– Está ótimo, sr. Guilherme. Muito obrigado por ter me dado esse voto de confiança, prometo não lhe decepcionar enquanto eu trabalhar aqui.

Eu saí da sala do chefe radiante. Foi a primeira vez que algo deu certo em minha vida e eu comecei a criar esperanças, ainda mais quando ouvi a voz de Helena chamar meu nome pela segunda vez.


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