Foi numa dessas noites, quando o inverno se fazia presente e a neve cercava o lado de fora deixando tudo branco, foi no meio da noite quando ela se encontrava entre meus braços que poucas palavras mudaram o sentido de nossas vidas.
Foi numa dessas noites perfeitas que eu soube que não seriamos mais só nós dois.
- Nós conseguimos – ela sussurrou em meu ouvido e meus olhos se estreitaram tentando associar o que ela havia dito. – Estou grávida!
Mas nem tudo podia ser perfeito. Um dia nós teríamos que descobrir isso.

Eu agradecia, noite após noite, por nosso bebê, por vê-la sorrindo tão abertamente, desse jeito que fazia meu coração se alegrar só de vê-la acarinhar o ventre que começava a salientar nos vestidos que ela gostava de usar.
Só que, em uma dessas noites, seu sorriso não estava tão aberto, quer dizer, sequer havia sorriso em seu rosto, e isso apertou meu coração. Eu havia chego mais cedo em casa, ela estava no sofá eu jamais poderia me esquecer disso, e sei que você também não, mas nós tínhamos que superar, você sabe, não é? Seu rosto possuía lágrimas e suas mãos estavam pousadas em seu ventre, ela chorava compulsivamente e se encolhia. Então eu vi o sangue, em seus dedos, e tive de engolir fundo para não desmoronar ao seu lado, porque eu sabia o que isso significava, mesmo assim eu tinha de me manter forte, por nós dois.
Seus olhos avermelhados me encararam, havia desespero estampados nele e isso me fazia sentir tudo doer, ainda mais por saber que eu não poderia fazer nada.
Eu a carreguei para o carro, e depois para dentro do singelo hospital da cidade de Rochester. Nossos dedos permaneceram entrelaçados durante todo o tempo, e ela havia chorado, por horas, e eu sentia vontade de chorar junto dela, mas não enquanto não acabasse, eu me manteria forte.
Era madrugada e fazia uma noite feia lá fora, a lua havia se escondido como se soubesse de nosso sofrimento, e poucas estrelas realmente reluziam. Uma das estrelas parecia brilhar mais, e, com o coração na mão, eu preferi acreditar que era agora nosso bebê que lá estava. Parecia doer mesmo se pensasse assim.
O bebê não havia mesmo tido chance, e isso partira nossos corações. Ainda parecia longe de amanhecer quando Rosalie me pediu que ficasse ao seu lado naquela cama de hospital. Eu fiquei. E, abraçados, ambos choramos pela perda. Ela havia se agarrado em minha camisa de tal jeito que me fazia sentir ainda mais triste, porque não só nosso bebê havia partido, como parecia que uma parte de minha mulher havia ido junto.
Ela se apoiou em mim, e eu tinha de me apoiar nela para que tudo continuasse bem.
Mas não seria fácil. Em momento algum eu pensei que poderia ser.