Rasguei o tampo da caixa e sorri, confesso que meus olhos devem ter brilhado na hora, mas era a coisa mais incrível que eu já havia visto.
Era um capacete de corrida, desses com aba transparente e todo branco por fora, com riscos em azul – porque azul era minha cor preferida.
- Feliz aniversário!
- Uau – eu disse admirando o capacete que tinha em minhas mãos e, logo o pus, e Rosalie sorriu batendo palmas.
- Encare isso como um incentivo! – ela piscou e eu ri. Claramente era um incentivo.
E o silêncio voltava.
- E sobre o que você queria conversar? – eu perguntei.
Porque o silêncio não podia durar muito tempo entre nós.
- Eu tinha que falar com você sobre algo que aconteceu – seu semblante, de repente, tornou-se mais neutro, sem as bochechas coradas e seu característico sorriso, e isso visivelmente deveria me preocupar.
- O quê? – eu perguntei.
- Você sabe – ela deu de ombros. – Papai tem um bom emprego no banco, e... – ela respirou fundo. – E eles estão abrindo uma nova sede em uma cidade no sul do país...
E meu coração se partiu naquele instante, porque não era difícil imaginar o que vinha pela frente.
- Nós vamos nos mudar no fim da semana – ela murmurou cabisbaixa, eu ergui seu rosto e pude ver como seus olhos brilhavam pelas lágrimas, ela estava deixando claro que isso não a agradava, mas o que eu poderia fazer?
Éramos só crianças...
- Não – eu murmurei indo abraçá-la. Eu não queria vê-la chorando, eu não queria vê-la longe, eu a queria aqui, ao meu lado. Estava tudo tão bem, não havia o que mudar.
- Nós talvez voltamos, em um ano ou dois...
Não importava, meu coração já havia se partido.
E depois da manhã seguinte, quando eu a deixei em sua casa e finalmente pude ver tudo dentro de caixas, eu só corri para casa, o mais rápido que pude, não queria que ninguém me visse, não queria parar para conversas, queria apenas me trancar em meu quarto e ficar, por horas, por dias, não importava.
Eu queria que parasse de doer.
E assim eu fiz, corri para casa e, sem que mamãe percebesse, subi direto para meu quarto para me trancar lá, jogado em minha cama meu corpo ficou enrolado como em posição fetal e meus olhos tinham lágrimas que queriam sair a qualquer custo. Em meu peito meu coração parecia disparar cada vez mais e meus lábios estavam secos. Minha cabeça latejava, mas era incomparável ao que eu sentia em meu peito, tudo era incomparável.
Eu só queria que a dor passasse, mas não parecia que ia parar.
E, dois dias depois quando eu fui até sua casa para me despedir, ela também chorava, mas eu havia parado – mesmo que fosse só pelo tempo em que estivesse ao meu lado – porque eu queria me mostrar forte para ela.
- Mas você vai voltar – eu murmurei a abraçando.
Porque ela era minha melhor amiga, e ela tinha que voltar.