As primeiras palavras que aquele oficial, apresentando-se como Oficial Marcus, lhe dirigiu entraram por um ouvido e saíram pelo outro sem fazer sentido algum, eram apenas letras juntas que formavam palavras desconexas, um mover de lábios, um som a sair que tornava-se cada vez mais incompreensível para Rosalie. Eram palavras ao vento, pois ela se encontrava distante. Seus olhos desfocados, seu coração disparado. E com um grito preso na garganta, ela se encolheu no sofá, sentindo-se solitária e desprotegida. Seu filho brincava alheio, sua princesa dormia, e ela? Ela estava enlouquecendo, estava sendo destruída e naquele instante nada parecia lhe fazer sentido.

- Senhora? – A voz do homem a fez ser um pouco consciente, mas ainda não conseguia manter o foco, não queria focar-se e ouvir o que ele tinha a dizer.

Não poderia. Porque ouvi-lo significaria aceitar o que quer que tenha ocorrido, e ela sabia que não eram boas novas, portanto de que modo poderia aceitá-las? Negou com a cabeça, com esperança de que o jovem oficial visse seu gesto e se calasse. Tampou os ouvidos de maneira infantil, porque por Deus, como poderia aceitar o que lhe seria dito?

Seu peito dolorido, os sonhos estranhos que havia tido nas últimas noites... Ela sabia que algo iria acontecer a ele. Droga, ela sentia vontade de gritar e despejar toda a sua dor, mas como faria isso? Ela sabia que algo aconteceria, ela deveria tê-lo mandado voltar para casa no preciso instante que seu peito passou a latejar, deveria ter telefonado e lhe gritado, gritado com o superior dele ou com o próprio presidente, só não poderia ter feito o que fez, que foi deixá-lo permanecer na guerra.

Seus olhos se encheram de lágrimas quando Marcus lhe estendeu o jornal, o jornal que mostrava em letras maiúsculas e destacadas a manchete que a havia destruído. O anúncio de que um batalhão saído do estado de Indiana havia sido abatido.

Como um resquício de esperança seus olhos percorreram toda a notícia, seu coração disparado lhe dizendo que seria inútil, apontando-lhe que só negava o que ela sabia que havia acontecido.

- Senhora? – O oficial voltou a chamá-la, desta vez atraindo um pouco mais da atenção dela.

O jornal caiu ao chão, como se o mero fato de segurá-lo lhe causasse dor. O que, de fato, causava.

Foi brevemente consciente da presença de sua sogra no recinto, parada perto da escada, sua sogra se encontrava tão abalada quanto ela, mas ainda mantinha o decoro de não se intrometer no que o oficial Marcus teria a dizer. E por um instante Rosalie admirou aquela mulher, percebendo que ela era realmente tão forte quanto Emmett diversas vezes havia lhe dito, porque Rose sabia que se fosse Victor nessa situação, ela estaria ainda mais desesperada.

Seu coração se apertou, porque não tinha realmente como saber, era um comparação que ela não poderia fazer, não naquele instante, não em momento algum. Perder Victor seria insuportável, mas perder seu marido se encontrava igualmente doloroso e insuportável. Ela o queria ali, queria agarrá-lo pelo colarinho, como diversas vezes já havia feito, e lhe gritar que era um maldito por ter aceitado o que o pai dele havia proposto. Era um maldito por deixá-la naquela situação.

- Me ama? – a voz dele surgiu novamente em sua cabeça, fazendo-a perder o foco mais uma vez sobre o que o oficial dizia, desta vez querendo se concentrar em Emmett. Poderia ser  a última vez que o ouvia falar. – Me ama querida?

Com um riso nos lábios Rosalie fechou os olhos, lembrando-se daquele momento. Ela o havia realmente culpado uma noite, chamando-o de egoísta, dizendo que ele não poderia ir, que o pai dele fosse ao inferno, mas que ele permaneceria ali ao seu lado, na época havia recém se descoberto grávida, e agora sabia que os hormônios em ebulição em seu corpo haviam sido os maiores responsáveis por tudo que havia dito, de todo modo, ele havia lhe feito aquela pergunta, sorrindo de modo safado com seus belos olhos brilhosos.

Oh Deus. É claro que ela o amava.

- Então me deixe fazer isso – foram as palavras seguintes dele, e Rosalie se deu conta de que não o ouvia, apenas revivia uma lembrança. E isso despedaçou seu coração.

Não havia mais nada a ser feito.

- Isto é seu? – O brilho do relicário que Emmett havia lhe dado no dia do nascimento de Victor surgiu a sua frente, tirando-a de suas lembranças, ganhando sua atenção.

- Sim – sua voz saiu fraca, mas já foi uma conquista. Ela duvidava que poderia falar qualquer simples palavra que fosse.

- Isso foi encontrado no pescoço de uma das vítimas...

- O que houve com ele? – O desespero em sua voz era capaz inclusive de emocionar aquele oficial, que tantas vezes já havia sido responsável por más notícias. O desespero nos olhos daquela jovem mulher era capaz de emocionar até a pessoa mais insensível, pois era verdadeiro, era sincero.

Emmett havia sido criado e enviado para ela, só para ela. E agora ela não o tinha mais.

Antes que o oficial pudesse lhe responder, um copo de água lhe foi estendido, fazendo Rosalie desviar a atenção até sua mãe, que a encarava com olhos brilhosos e emocionados, certamente não sabendo o que dizer nem como agir, só sabia que sua filha precisaria ser forte e se manter calma, pelo menos até que o Marcus lhe dissesse tudo, e então depois... Sua mãe maneou a cabeça ao pensar nisso, então depois que tudo fosse dito a Rosalie, ela estaria destruída de vez. Destruída. Solitária. Enlouquecida. Saudosa. Porque o amor entre eles dois havia sido algo nunca antes presenciado por essa senhora, e pensar que sua filha sofreria tanto por perdê-lo já a fazia se sentir atingida.

- Eles partiam em direção ao oeste, onde os conflitos estavam quase se apaziguando, precisava apenas de mais um grupo para que tudo entrasse nos eixos, eles partiram de noite, na surdina, saíram assim que tudo escureceu para que não fossem vistos... O problema é que, no escuro, todos são iguais...