Depois daquela tarde os melhores dias vieram, durante a aula jogávamos conversa fora, Rosalie me mandava bilhetinhos com poeminhas sendo debochada, de um jeito que poucos podiam perceber, e eu ria, você se lembra?
Algumas vezes nos metíamos em problemas, e Rosalie apenas dava de ombros e ajeitava a franja loira fazendo sua expressão parecer tão angelical que a culpa só podia cair sobre mim.
Mas quando chegávamos em casa, eu sempre acompanhava Rosalie até em casa, sua mãe sorria e me dava um beijo agradecendo por não deixar sua garotinha andando sozinha por ai, mesmo aquele sendo o lugar mais pacato que em vida alguém poderia conhecer.
- E você se comportou hoje? – a senhora Hale sempre perguntava.
As bochechas de Rosalie coravam toda vez que aprontávamos algo, por mais inofensivo que fosse, suas bochechas coravam e, num ato inevitável, ela cruzava as mãos nas costas com um sorriso angelical no rosto. Desse jeito ela sempre entregava quando fazíamos algo.
E como qualquer outra coisa naquela cidade, todos sabiam que havíamos voltado a não prestar atenção, ou fazer piadinhas, ou desmerecer as aulas, qualquer coisa desse gênero, e eu agradecia por meu pai ter ido treinar o pessoal fora da cidade, porque com Rosalie por perto eu não conseguia me manter sempre na linha, e com papai por perto eu tinha de me manter sempre na linha.
E, sem eu perceber como, acabávamos criando uma rotina, algo diferente para aquele pequeno lugar que podia se mostrar tão tedioso.
Rosalie continuava naquela fase de se mostrar autossuficiente o bastante, boa o bastante, e íamos levando, apostando corridas perto do lago, e eu a ensinava a atirar, e ela estava cada vez melhor.
Cada momento ia se tornando melhor que o outro, e os problemas que eu tinha em casa e nunca sumiam pareciam se esvair nas tardes que começavam a se tornarem frias conforme o inverno vinha chegando.
E junto do inverno vinha a neve e as brincadeiras ficavam ainda melhores, nós nos jogamos na neve e eu sorria ao ouvi-la reclamar que seu anjo de neve sempre ficava com a marca das mãos, de um modo inevitável para que pudesse se levantar. Eu não me importava que meu anjo tivesse marcas de mãos, eu só queria vê-la sempre sorrindo.
Apesar de que, inevitavelmente, Rosalie sempre ria do meu jeito descuidado de levantar, que sempre fazia uma parte despencar, ou eu arruinava uma das asas de meu anjo da neve ou estragava a suposta roupa que ele usaria.
Eu adorava ouvir o seu riso.
Então um dia eu levantei, e meu anjo, finalmente só teve as marcas das mãos, porque eu não escorreguei daquela vez – nem nas seguintes – eu havia aprendido, e naquela tarde ela não sorriu.