Para o Meu Amor, Emmett escrita por thysss


Capítulo 118
Capítulo 118




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É engraçado pensar assim, não muitos anos atrás tudo parecia certo para mim, eu teria uma mulher, eu teria filhos, nada de guerra, eu amaria a minha mulher, eu amaria os meus filhos, nós seríamos felizes e estaríamos sempre juntos. Mas agora eu paro e penso, eu tenho uma mulher, eu tenho filhos, eu amo a minha mulher e eu amo os meus filhos, nós somos felizes, mas agora não podemos ficar juntos. Parece injusto reclamar se comparado ao que outros têm hoje, porque eu sei que sou um cara de sorte, eu tenho a minha garota comigo, aquela que sempre foi a dona do meu coração, eu tenho filhos lindos com ela, enquanto quantos outros homens nunca chegaram nem perto de ter o que eu tenho? Pensar assim faz soar egoísta reclamar que não estamos juntos, mas eu não considero egoísmo, não quando eu sei que poderia ter sido diferente.

Olhando essa imensidão destruída, sabendo de outros companheiros de alojamento que já não vão mais voltar para casa, eu penso que não tem nada de injusto em reclamar. Eu não sou o único que sinto saudades, não sou o único que quero voltar para casa, mas aposto que sou o único que teve de escolher entre ter um filho alistado ou correr o risco.

Tenho sorte por estar bem, mas a saudade é um sentimento constante, acompanhado do medo de não saber até quando essa sorte vai durar. Medo. Saudade. Desconfiança. Os sentimentos se misturam depois de alguns dias, e tudo que você deseja é voltar para casa, então alguém acaba morto e você se sente agradecido por não ter sido você, isso é egoísmo? Eu não sei.

Só sei que não há ideia de quando isso vai terminar. Sei que a saudade me corrói e eu não suporto mais só saber da minha família através de cartas, que nem sempre chegam para mim, que nem sempre tem resposta, porque algumas vezes é doloroso demais escrever. Como contar a Rose o que se passa aqui? Como dizer a uma mulher que te ama e está preocupada com você que tudo está desmoronando? Como eu deveria contar tudo? Há gente ferida por todos os lados, ordens são dadas a todo instante e nós já mudamos o lugar do acampamento mais de cinco vezes, nunca sabemos onde podemos acordar no dia seguinte, há sempre a sensação de que se deve dormir com um olho aberto e o outro fechado que é para garantir que tudo está sob controle, quando, na verdade, não há controle algum da situação.

Estados mais a leste já estão completamente destruídos. Nosso comboio saiu de Rochester com quase cinquenta, e hoje mal chegamos a trinta. Cada lugar que passamos, alguém fica para trás, e no meio de tanta destruição não se pode nem garantir que a família vai ter um corpo para enterrar.

Então como relatar a experiência de estar em uma guerra quando tudo que se pode ver ao redor se resume a sangue e destruição? Você dorme ouvindo pessoas gritarem, e acorda com outras chorando.

Você sente seu coração pequeno e apertado conforme a saudade aumenta, você se deita exausto e deseja não abrir os olhos, porque as vezes é muito mais fácil simplesmente não acordar a ter que continuar vivenciando isso.

Por diversas vezes eu decidi que iria desistir, mas há alguma regra infernal na constituição americana que proíbe o ato. E pior do que ser proibido, seria depois descobrir que Victor um dia teria de vir a guerra, porque essa guerra civil pode acabar amanhã ou depois, mas nunca será definitivamente, será apenas até a área do sul ou do norte conseguir se estabelecer novamente, de modo que mais território terá de ser cedido, de modo que a mesma luta começara novamente.

Famílias que estavam divididas em moradias no norte ou no sul, até mesmo na suposta fronteira que os separa, agora não pode mais se comunicar com o outro lado. A situação chega ao cumulo, e conforme mais intensa fica, mais arriscada também.

O dia anterior certamente foi o pior. Houve uma detonação dentro do campo de concentração, muitos tiveram queimaduras e outros tantos ficaram feridos mais gravemente. Nessas horas eu me sinto sortudo, eu agarro o relicário que recebi de Rose, e agradeço por ainda estar bem, talvez um pouco machucado, mas nada que me impeça se chegar em casa e agarrá-la contra meu corpo, nada que me impeça de pegar meus filhos no colo e abraçá-los até não poder mais.

O problema é não saber quando isso poderá acontecer.

Hoje estou bem, mas amanhã não se sabe, e, no fim, é a incerteza que acaba nos enlouquecendo.

Só sei que quero voltar para casa, mas a trégua está distante. Depois de ler mais uma vez a última carta que recebi de Rosalie, só sei que quero fechar os olhos e só voltar a abri-los quando já estiver de volta a minha cama, mas isso não vai acontecer. Eu sei que não.

Querida, você não deveria estar lendo isso, eu sei que não é o que você gostaria de saber, mas não há como mudar os fatos, eu estou na guerra, e o único modo de você saber o que realmente se passa aqui é através dessas palavras. Eu fecho os olhos e tenho pesadelos, e não sei até quando isso vai continuar, mas sei que o medo e a adrenalina de cada dia vivido aqui me faz desejar voltar para casa, e me faz ter certeza de que não há palavras suficientes que possuam ser pronunciadas sobre o que ocorre aqui. É duro dizer. É triste. Mas eu quero voltar para casa, eu quero que tudo fique bem, que nós fiquemos bem, e nós só estaremos realmente bem se você souber o que houve.

E eu sei que o medo e a adrenalina por tudo que estou vivendo aqui não vão me deixar pronunciar, as imagens permaneceram vivas em minha memória, mas não poderão ser pronunciadas.

Eu não sei como vai ser voltar para casa, mas eu sei que para continuar tudo bem você teria de saber, assim como eu sei que lendo tudo isso você vai chorar, e me faz ser um covarde por mandar todos esses papéis enquanto estou longe. Me faz ser um covarde por não ter coragem de encará-la e vê-la sofrer porque, sinceramente, eu sei que não saberia como consolá-la. Eu fiz a minha escolha. Pelo nosso filho eu fiz a minha escolha, mas não significa que seja menos difícil.

Eu quero voltar para casa, eu quero que tudo fique bem. Por isso você tem que saber pelo que eu passei, porque assim como você vai chorar quando eu voltar, eu também vou, e nós vamos precisar de consolo, e você deve saber ao menos o motivo de estar me consolando.

Me perdoe por fazer isso com você, por lançar as palavras cruas e diretas deste modo, mas você é forte, sempre foi, e sei que vai poder lidar com isso. E se a saudade a estiver apertando – assim como me aperta nesse momento – se agarre a Victor e a Elle, afinal você tem três partes de mim ai com você: meus filhos e meu coração.


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Notas finais do capítulo

n/a: eiei cadê os reviews?