Era primeiro de setembro, e esse ano Draco Malfoy não retornaria a Hogwarts. Não, dessa vez ele ficaria em casa, e apesar de nunca ter gostado muito de sua escola, preferia meses e meses lá do que na Mansão Malfoy recebendo desagradáveis visistas de outros Comensais da Morte. A saudade do castelo onde estudava desde os 11 anos seria até menor, não fosse a falta que fazia Luna Lovegood.

Antes de seu sexto ano, Draco jamais havia demonstrado interessse algum em ter contato com Luna, e nem poderia ser diferente, uma vez que ele pertencia a uma respeitável família bruxa e ela era filha do editor d’O Pasquim, a maior vergonha alheia da imprensa bruxa britânica. No entanto, nesse último ano que se passou eles se aproximaram significativamente, ainda mais depois do episódio em que ela o encontrara chorando no banheiro da Murta, ao ponto de Draco não conseguir se ver sem suas conversas diárias com a garota.
Luna tinha um jeito todo especial de ver as coisas, e o tempo que Draco passava com ela era como uma escapatória de sua angustiante realidade. A garota logo se tornou sua confidente, e foi confiado a ela até mesmo o segredo de ser um Comensal da Morte, porém, mais pelo medo do que ela pensaria dele do que por qualquer outra coisa, Draco não teve coragem de contá-la sobre sua missão de matar Dumbledore.

Já era tarde da noite, estava chovendo e Draco olhava o quintal da frente pela janela enquanto se recordava das conversas às escondidas com Luna quando viu vultos escuros caminhando em direção à porta da mansão. “Comensais da Morte”, pensou. Draco estremeceu ao notar que havia um vulto bem menor que os outros, concluindo que provavelmente era mais um prisioneiro a ser torturado em sua sala de estar, e tentou não pensar mais nisso.

Bateram à porta e sua mãe se levantou de ua poltrona próxima para atender. Por mais que quisesse se envolver o mínimo possível nos assuntos dos comensais, Draco achou melhor acompanhar sua mãe até o hall de entrada, pois seria chamado lá de qualquer jeito. Seu pai, Lúcio, foi atrás.

Apesar de estar relativamente acostumado, nada poderia tê-lo preparado para o que veria a seguir: de joelhos no tapete de entrada entre os imponentes sequestradores, encharcada pela chuva e tremendo de frio em suas roupas coloridas estava Luna Lovegood, os cabelos loiros escorrendo sobre os grandes olhos cinza que expressavam surpresa e medo em seu rosto delicado.

Draco nunca soube de onde tirou forças para conter sua exclamação de horror ao ver sua amiga em tal situação. Seu estômago despencou e ele começou a tremer enquanto a garota o encarava. Narcisa, mãe de Draco, olhou o garoto com desconfiança enquanto seu marido se dirigia aos homens que chegaram com a menina:

– É essa a filha de Xenofílio Lovegood, editor d’O Pasquim?

– Sim senhor – respondeu o mais baixo – Luna Lovegood, como o combinado.

– Muito bem... Narcisa, leve-a para o porão, amanhã se decidirá o que será feito dela.

A mulher obedeceu silenciosamente, lançando um último olhar de desconfiança ao filho antes de se retirar com a mais nova prisioneira da Mansão Malfoy.

Depois de ter sido acertado o valor da entrega com os seqüestradores, Draco finalmente pode deixar o ambiente, e então correu direto para o seu quarto. Chegando lá, jogou-se sobre a cama e tentou pensar direito. Tremia da cabeça aos pés. Já havia visto o tipo de coisas que faziam aos prisioneiros na mansão e, pelo que conhecia dos Comensais da Morte, duvidava muito que fossem poupar Luna ou ao menos pegar leve, mesmo ela sendo apenas uma adolescente.

Concluiu então que não conseguiria pensar em solução alguma para evitar que o pior acontecesse àquela que havia o ajudado tanto no último ano, pelo menos não sozinho, então decidiu esperar que fossem todos dormir para ir até o porão e tentar consultar a garota, afinal, ele tinha esta sensação de que ela sempre tinha as respostas certas.