Lágrimas de sangue escrita por Gothica
– Como assim terei que matar minha própria filha?
Eu me levantei da cama assustado com tal afirmação, mas disse sussurrando porque Dhuly poderia estar por perto.
Calore balançou a cabeça em negação como se eu não soubesse alguma coisa.
– Olhei para ela e vi. Senti. - ele fez uma pequena pausa e continuou. - Ela te controla.
Joguei os braços para o alto e comecei a rir como se aquilo fosse a piada mais engraçada que eu já tinha ouvido. E realmente era.
– Impossível! - eu respondi em meio aos risos, mas sempre em sussurros. - Ela é uma criança. Uma adolescente. Somente demônios mais avançados conseguem fazer isso.
– Está enganado. Ela te controla. Controla sua mente. Você não sabe, você não vê. Está sempre inconsciente.
– Ela não me controla, Cal. Eu que tenho tido alucinações recentemente.
Me olhando sério, ele se levantou e continuou com mais firmeza no que dizia para eu acreditar.
– Não são alucinações cara! É ela! É ela mexendo com sua mente. O corpo dela está tomado de maldade. Coisa que nem os piores demônios da nossa espécie chegam a ter. Ela é uma entidade malígna. Mata, controla, tenta seduzir, faz mil coisas e você não vê!
Comecei a pensar nessas coisas. Me lembrei dos acontecimentos mais estranhos. Alguns anos atrás, alguém tinha posto uma bomba no centro da cidade. Um vulto na verdade.
– Era Dhuly! - ele disse lendo o que eu estava pensando.
Olhei para ele assustado, mas ainda sem querer acreditar.
Lembrei de quando achei que ela tinha saído e casa e depois percebi que era um sonho.
– Não foi sonho. Ela criou essa ilusão. - ele respondeu sério.
Lembrei da vez em que a vi nua no banheiro e ela agiu naturalmente, como se aquilo fosse normal.
– Foi proposital. - ele afirmou.
A vez em que estávamos na Sala de Testes com toda aquela tortura, e eu achei que fosse alucinação.
– Ela te controlou.
Depois, quando sentou no meu colo, ficou de calcinha, caiu em cima de mim.
– Nada foi coincidência.
Todos aqueles pensamentos passaram pela minha cabeça e eu tentei pôr o que Calore me dizia naquele momento, dentro desses pensamentos.
Tudo se encaixava. Eu não estava louco. Não tinha alucinações. Não foram sonhos, nem pesadelos.
O quê Dhuly era? O quê ela se tornou? Como isso aconteceu?
– Não posso acreditar. - eu caí de joelhos no chão e pus as mãos na cabeça. Era inacreditável.
– Sinto muito, irmão.
Os pensamentos ainda rodavam em minha mente e eu senti uma dor no peito. Dor de decepção. Eu fui iludido boa parte da minha vida com Dhuly.
Uma lágrima escorreu.
– Não podemos deixar isso assim. - disse Cal.
Pensei em todo o esforço que eu tive para ter um filho demônio para causar o mal no mundo. Esse pensamento evaporou quando vi que minha vida com Dhuly seria bem melhor do que acabar com a vida de milhares de pessoas. Eu só queria viver em paz e feliz, pela primeira vez. Fui iludido pela minha própria filha. Quem sabe ela me matasse dali alguns dias. Ela fingia ser um amor, mas era totalmente o contrário disso.
A raiva tomou conta de todos os pensamentos. Limpei a lágrima e disse, com dificuldade:
– Vamos matá-la.
Balançando a cabeça concordando, Calore respirou fundo várias vezes enquanto pensava.
– O problema não é esse. O problema é... Como matá-la?
– Como matamos qualquer demônio! - eu afirmei.
– Não é tão simples. Ela é muito mais poderosa, malígna, assustadora e infiel que você pensa. Eu pude ver seu interior...
Ele arregalou os olhos e novamente a expressão de pavor tomou conta de sua face. Ele completou:
– Ela literalmente... Não tem coração.
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