Lágrimas de sangue escrita por Gothica


Capítulo 2
O nascimento


Notas iniciais do capítulo

*Capítulo editado.

Espero que gostem.:3
Boa leitura!



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Ao chegar em sua casa, que fica em um dos morros mais perigosos da cidade, Toly entrou e jogou sua mochila no sofá da sala, que praticamente eram somente pedaços de couro e espuma de tão rasgado que estava.

Andando até seu quarto, onde havia apenas uma cama de solteiro, uma mesinha e várias roupas espalhadas pelo chão, alguém foi atrás dela perguntando:

– Como foi seu dia hoje?

Ambos sentaram na cama de Toly e ela sorriu, olhando no fundo dos olhos da outra pessoa. Segundos depois, a pessoa respirou fundo, deu um suspiro alto, fechou os olhos e deu uma gargalhada.

– Não acredito! - Ela ainda gargalhava. - Matou o menino e seu professor?

Toly sorriu mais ainda, balançando a cabeça em afirmação.

– Deixe-me ver se entendi... Você viu aquela criancinha inocente brincando com seu pai de carrinhos. Entrou na mente do menino e perguntou se ele gostava de um de seus carrinhos e ele disse que sim. Certo?

Ela balançou a cabeça novamente.

– Então você o perturbou dizendo que não era verdade e pediu pra ele provar indo até você pra buscar o carrinho que estava em suas mãos? - Ela confirmou e a pessoa gargalhou mais uma vez e bateu palmas. - Fascinante! Dessa vez você se superou!

Toly, alegre por perceber que agradou a pessoa, passou a língua pelos dentes afiadíssimos, como gostava de fazer sempre que recebia um elogio de tal.

Se levantando e botando Toly deitada sobre a cama de forma delicada, a pessoa continuou.

– E quanto ao professor de História... Vamos ver... - Houve uma pequena pausa enquanto a pessoa tirava a jaqueta e a blusa de Toly. - Entrando em sua mente, perguntou se ele estava com calor e a resposta foi sim... - Uma nova pausa para então, tirar o coturno e a calça de Toly. - Para resolver o problema, você ligou o ventilador de forma brutal, fazendo-o cair sem querer sobre a cabeça de seu amado professor. Foi isso?

Ela afirmou com a cabeça de novo, esperando ansiosamente um elogio.

– Bom, não foi tão bom quanto o do menino, mas foi ótimo! Numa sala de aula cheia de crianças que provavelmente ficarão traumatizados. Muito... - A pessoa disse e beijou o pescoço de Toly, que parecia mais feliz que nunca. - Muito bom.

Ao terminar de falar, todas as janelas e portas da casa foram trancadas. As luzes foram apagadas e a pessoa gargalhou de uma forma aterrorizante.

Momentos depois, podia se ouvir os gritos de Toly, da casinha abandonada que ficava no alto do morro.

Duas semanas depois do atropelamento do menininho e do acidente com o professor de história de Toly, tudo mudou.

Logo de manhã cedo, Toly e a tal pessoa estavam sentados em frente à mesa da cozinha. A tal pessoa, que na verdade era um cara, olhou para ela e disse como todas as manhãs:

–Você não vai mais pra escola. Ficará em casa. Comigo.

Ela balançou a cabeça concordando.

– Ótimo. - O cara disse e se espreguiçou. Deu um leve sorriso para Toly e pegou uma faca, um copo descartável e um pano em cima da pia. - Esse bebê tem que nascer saudável. Vamos lá?

O homem pegou a faca e cortou o pulso direito. Pôs o copo de baixo para enchê-lo com seu sangue. O que havia de diferente no sangue daquele homem era a cor. Preta.

Toly acariciava a barriga enquanto o copo enchia. Pensava na fisionomia de seu filho quando nascesse. Sorria sozinha pensando em seu bebê.

– Tome. - Disse o cara estendendo o copo cheio para Toly.

Ela, na maior naturalidade, sorriu e pegou o copo. Bebeu rápido e com vontade como se fosse um refresco. Pôs o copo de volta a mesa e suspirou.

– Muito bem, querida! - O cara disse enrolando o pano em seu pulso cortado. - Você é muito obediente. Adoro isso em você!

Toly sorriu e voltou a olhar e a acariciar sua barriga.

Ambos estavam sozinhos naquela casa. O fato de ter apenas 13 anos e estar grávida não incomodava Toly. Ela gostava de fazer a vontade do cara em troca de elogios. Gostava de deixá-lo sempre orgulhoso. Uma das vontades dele era ter um filho, então Toly aceitou. Vestindo longos vestidos pretos e sem seus piercings, ficava o dia todo de cama porque não aguentava se mexer direito devido a gravidez. O fato de ter ferido gravemente, ou melhor, supostamente ter matado duas pessoas há duas semanas com a mente, também não lhe incomodava. O pai de seu filho ficava feliz com aquilo e a elogiava. Isso que importava. Estava completamente apaixonada por aquele cara, com quem vivia há tempos.

– Querida, escute só... Você não precisa fingir que não sente dor. - O cara fechou os olhos e segurou a mão de Toly. - Sinto as dores que está sentindo nesse momento. Se guardar todo esse sofrimento pra você, não resistirá ao parto do nosso filho.

Realmente Toly sentia dores surreais. Toda manhã, ao tomar o sangue do cara, as dores eram amenizadas por no máximo trinta minutos, o que já a aliviava, mas depois elas voltavam e Toly sofria novamente.

– Esse bebê vai nascer daqui a pouco. Daqui uns dias, quem sabe. - O cara dizia enquanto se preparava para cortar o outro pulso e pegar mais sangue para Toly. - Em duas semanas ele se desenvolveu bastante. E por quê? Porque ele é meu filho! - Com a faca na posição certa, ele fez um corte no pulso esquerdo. - Só pelo fato de você estar aguentando o rápido desenvolvimento dele, já fico orgulhoso.

O sangue preto do cara era despejado no copo e Toly sorria bastante. Um sorriso largo se formou em seu rosto ao ouvir que o cara estava orgulhoso dela.

– Tome. Esse é pra diminuir suas dores. Para que você resista até o nascimento desse bebê.

Toly esticou os braços para pegar o copo, ainda sorrindo, mas de repente gelou. Seus olhos se arregalaram com uma expressão de terror e dor, e suas mãos ficaram fixas a mesa. Desmanchando o sorriso, Toly soltou um berro que com certeza poderia ser ouvido por alguém se a casa não fosse isolada.

Estava pra nascer o bebê tão esperado.

Percebendo que seu filho nasceria naquele exato momento, o cara se levantou imediatamente e com muito cuidado pegou Toly no colo, que berrava de dor.

Levando-a até o quarto, o cara a botou deitada e pediu para ela se acalmar. Sem ter a menor noção do que fazer, ele botou a mão sobre a cabeça e parou para pensar um pouco. Toly gritava cada vez mais, enquanto o cara pensava em um canto do quarto. "Ele vai nascer. Isso é bom... Mas se eu não ajudá-la, morrerão os dois!" ele pensou.

– Desculpe querida, mas não sei o que fazer! Não sei como ajudá-la! Quando tudo acabar, voltarei.

Terminando de dizer isso, o cara saiu do quarto e trancou a porta. Toly chorava e gritava de dor, sem saber o que fazer também. Já do lado de fora da casa, o cara se afastou e pegou uma cadeira de madeira que havia por perto. Se sentou e esperou tranquilamente.

Dentro do quarto de Toly, a cama tremia no chão e as roupas saiam voando junto a única mesinha do quarto. As janelas batiam e somente a porta do quarto permanecia fechada. A cada berro de dor, o quarto escurecia mais, até que as únicas coisas que pudessem ser vistas fossem a escuridão total e o sangue de Toly que estava bem visível.

Do lado de fora, o homem esperava ansiosamente aquilo tudo acabar.

Com o passar do tempo, os gritos foram parando.

Uma hora depois, ele ficou observando o lado externo da casa escurecer também.

– Isso é bom... - Ele disse baixinho.

Rapidamente a casa toda ficou preta com manchas vermelhas em algumas partes, que eram o sangue de Toly. A escuridão do quarto foi para o exterior da casa, o que significava que aquilo tinha acabado.

Respirando fundo, o cara se levantou da cadeira e foi até a porta. Toly não gritava mais, então ele resolver entrar.

– Minha nossa!

Entrando no quarto, tudo estava diferente. Do quarto para fora, a casa continuava a mesma, mas do quarto para dentro, não parecia o mesmo lugar. Havia um berço de neném em um canto do quarto, uma cama de casal bonita e que parecia cara no outro. A parede da cama de casal até um centro do quarto, estavam pintadas de preto com alguns desenhos. E do berço, até o meio do quarto, com desenhos infantis. Havia muitos brinquedos espalhados pelo lado do neném e móveis novos do lado do casal. O quarto estava muito maior também, para que fosse dividido em dois..

Na cama nova, estava Toly deitada. Vestindo uma calça preta bem justa, uma blusa masculina escura e com todos os piercings de volta. Ela estava com um sorriso no rosto, deixando a mostra seus afiadíssimos dentes. Em seus braços, havia um bebê. Seu bebê. Enroladinho em uma manta preta que impedia a visão de seu rosto, se mexendo sem parar em silêncio.

– Oi meu filho! - Disse o cara pegando o bebê no colo.

No momento em que pegou seu neném, ele percebeu que Toly caiu na cama como se tivesse desmaiado. Segurando o bebê com um dos braços, usando o outro ele, cutucou Toly. Ela estava fria.

O cara abraçou o filho, suspirou e disse:

– A partir de agora, seremos eu e você.

E soltou uma de suas gargalhadas aterrorizantes, seguida de uma risadinha gostosa do bebê.


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