– Que bom que acordou! Vamos lá. - disse Dhuly quando me viu de olho aberto.

Rapidamente e ainda sem entender o que tinha acontecido, passei a mão sobre meu pescoço e cabeça, para ver se estava tudo bem. Verificando que sim, novamente mil pensamentos e ideias vieram a minha mente me deixando mais confuso que o normal.

Eu estava tendo alucinações. Não poderiam ser sonhos, as dores eram muito reais. Senti cada corte, cada ardência.

O que me deixava mais apavorado era o porquê dessas alucinações envolverem Dhuly. Pior, envolverem Dhuly nua. Já não era a primeira e talvez não fosse a última. Eu estava delirando.

– Presta atenção pai.

Dhuly cortou meus pensamentos e eu senti até um certo alívio. Resolvi ver o que ela tinha de novo para me mostrar.

Parada a minha frente, ela fechou os olhos e se concentrou. Respirou fundo três vezes. Sorrindo, ela abriu os olhos e disse:

– Pronto! Não é incrível?

Eu fiquei olhando para ela como quem não entendeu nada. Eu não tinha entendido mesmo. Nada tinha acontecido.

– O quê é incrível? - perguntei meio sem graça.

– Olhe pra trás... - ela disse mordendo o lábio inferior, ainda sorrindo, se sentindo orgulhosa.

Me virei e o que vi me trouxe lembranças.

Haviam outras duas Dhulys. Idênticas a ela. Cada uma em uma posição. Elas não eram exatamente seu espelho. Aquilo era realmente incrível.

– Fascinante! - Eu levantei da cadeira eu fui examiná-las.

Na hora me lembrei daquelas três Dhulys nuas da minha alucinação. Como eu pude presenciar algo assim sem nem saber que ela era capaz daquilo? Minha alucinação previa o futuro?

Chegando mais perto de uma das Dhulys, analisei cada detalhe. A pele, o cabelo, o andar. Até mesmo o perfume de Dhuly elas tinham.

– Me beije.

Rapidamente dei passos para trás até que cai no chão. Aquilo fazia parte da minha alucinação. Estaria eu tendo mais uma?

– O que foi pai? Tudo bem?

– Ela falou comigo. - eu disse envergonhado de estar parecendo uma criança.

– Claro que sim. Elas falam também. Elas são eu! Fazem tudo que eu faço. - ela sorriu, pensou um pouco e continuou. - Fique olhando.

A Dhuly verdadeira se juntou as réplicas ficando na frente delas. Tirou a cadeira de onde eu estava sentado e pediu para que eu me afastasse.

Concentrada, em poucos segundos, elas, todas as três, foram se transformando. Ficando em sua forma real de Demônio das Sombras. Aquele monstro de dois menos e assustador.

– O quê acha papai? - As três Dhulys disseram em sincronia com a voz gutural.

– É... Excelente. - eu me levantei do chão e completei. - Agora podemos subir? Eu... Eu preciso fazer umas coisas...

Dhuly voltou a sua forma de menina linda e sumiu com as réplicas.

– Ta bom... Aconteceu alguma coisa? - fomos caminhando até o elevador. - Você tá meio pálido, sei lá.

– Não. Tá tudo bem.

Ela deu de ombros e subimos.

Dhuly foi para alguma sala da casa com Tutu e eu fui para o quarto. Tranquei a porta para me certificar de que ela não entraria, e procurei meu celular.

– Preciso de ajuda. - disse a mim mesmo.

Procurando nos meus contatos, encontrei Calore. Exatamente quem eu precisava. Liguei.

– Não posso acreditar que estou falando com você! - ele já atendeu rindo e brincando. - Faz anos que não nos vemos!

– Pois é, muitos acontecimentos... No momento estou precisando de ajuda. Pode vir a Terra para conversarmos? É urgente.

– Claro amigo. O quê aconteceu?

– Te conto quando chegar aqui. Venha o mais rápido que conseguir. Estou enlouquecendo.

– Tudo bem. Amanhã estou aí.

Desliguei. Eu tinha que saber o que tava acontecendo comigo. Calore com certeza saberia. Eu precisava de ajuda urgente.