Posso Ser Sua Estrela? escrita por Luana Rosette


Capítulo 10
Sorria. Por favor, sorria




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O que fazer?

Quando ando por um corredor e instintivamente dou um passo para o lado para que a pessoa que deveria passar me dizendo “bom dia” nunca passe.

O que fazer?

Quando entro em uma cozinha e só consigo ficar olhando para a geladeira e o fogão como se do nada ele aparecesse lá, correndo de um lado para o outro, fazendo “malabarismos” com os ingredientes apenas para me agradar.

O que fazer?

Quando me pego sentado no sofá assistindo “padrinhos mágicos” quando na verdade odeio esse programa, mas só de ouvir o riso da pessoa ao meu lado perco a coragem de mudar de canal. Mas o dono do riso não está mais lá...

O que fazer?

Quando ao invés de ir ao mercado da esquina eu pego o meu caro para ir no de outro bairro por que ele quer ir comigo, mas por mais que eu olhe para o banco do passageiro ele vai continuar vazio.

O que fazer?

Quando depois de uma única noite uma cama começa a parecer maior do que era antes?

O que fazer?

Quando a minha boca se abre para falar, mas quem deveria me ouvir não está mais lá.

O que fazer?

O que fazer?

O que fazer?

Eu gostaria tanto de saber.

Mas a pessoa que ultimamente me dava esse tipo de resposta... Não está mais aqui.

Oh Harry... o que eu deveria fazer?

PSSE

(POV Tonks)

- Ninfy, este é o meu amigo Severus.

Eu me lembro da primeira vez em que o vi.

Poucas vezes tive a chance de falar com homens como ele, sua aparência era impecável, e emanava uma aura de superioridade tão grande que chegava a ser irritante, mas ainda assim inegável.

Cabelos penteados, presos em um rabo de cavalo baixo. E roupas bem alinhadas.

Esse era o Severus Snape que eu conheci.

PAFT

Minha mão ardia depois do estalado tapa que dei, não apenas pelo impacto, mas por raspar contra a fina barba mal feita daquele rosto.

Não pude me segurar!!

Depois que entrei na casa de Severus com a chave extra que ele normalmente deixa próxima a entrada eu não pude me segurar. Não diante daquilo.

Não diante de uma imagem tão patética.

Sentado de qualquer jeito no sofá... Não, jogado de qualquer jeito no sofá, Severus tinha o olhar perdido quando parei em sua frente. No chão, jogado perto aos seus pés, estavam dois potes vazios de desinfetante e uma flanela gasta.

A casa toda exalava um forte cheiro de produtos de limpeza, tão forte que eu começava a ficar enjoada, mas o que mais me enjoava era a figura a minha frente.

- Levante-se e tome um banho – disse olhando suas roupas amassadas e manchadas de água sanitária – Se vista decentemente. Estarei na sala de jantar te esperando. – terminei de maneira fria.

Ao me virar para ir em direção a cozinha ouço os passos deles se encaminhando para o corredor.

Ele me obedeceu?

Severus Snape me obedeceu de maneira tão autômata?

Minha raiva aumentou.

Para quando ele voltou com uma aparência mais apresentável eu havia preparado um prato de sopa.

E acredite, ele precisava.

Havia percebido que seus movimentos eram fracos, parecia realmente faminto, mas sem nenhuma intenção de voltar a se alimentar.

Pois bem companheiro, eu farei o trabalho da sua “vontade”, então bote logo essa boca para funcionar.

Botei o prato em sua frente, mas ele não fez qualquer movimento para começar a comer, e eu com pouca paciência disse:

- Coma.

Minha voz não admitia replica. E assim ele o fez.

Foi com receio que ele levou a mão a colher e percebi a careta de dor que fez quando a tocou.

Percebi também o motivo.

Mas nada disse, nem me prestei a levar eu mesma a colher a sua boca.

Ele precisava disso.

E só eu poderia dar isso para ele.

A cada movimento com a colher sua cara se distorcia em uma nova careta.

E eu aguardei calmamente enquanto ele terminava de se alimentar.

Quando ele acaba de comer a ultima colherada e descansa o talher na mesa, eu levo minha mão a sua e a coloca na frente do próprio rosto.

Chegou a hora para fazer o que vim.

Ele estremece os olhos ao aparentemente sentir uma fisgada na mão que eu segurava.

- Era isso o que tem feito durante esses últimos cinco dias?

Minha voz era calma, mas demandante. Erguida diante de seus olhos por mim, estava sua mão, resumida a carne viva.

Não conseguia imaginar o que alem de esfregar esse homem pode ter feito para deixá-la assim. Aqueles ferimentos cheirando a água sanitária eram superficiais e avermelhados e eram tantos que deformavam os belos dedos longos de meu amigo.

Severus... O que você fez?

- Era isso o que fazia? – repeti erguendo minha outra mão mostrando a sala reluzente em que estávamos – o que fazia por cinco dias?!

Ele apenas me olhou ainda com a expressão confusa

- Eu...

- Cale-se – o cortei – uma pessoa que faz algo assim consigo mesma – ergo novamente a mão ferida dele o fazendo soltar um baixo grunhido de dor – perdeu todo o direito de argumentar, ao menos até que eu tenha terminado.

Ele abaixou a cabeça, aquele orgulhoso homem não tinha forças nem para discutir.

- Soube que não tem ido a seu emprego durante essa época também.

- Como...

- Um dos telefones de contato em caso de acidente que você deixou na empresa foi o nosso, se lembra? E como você não tem família eles ligaram para saber o motivo de sua ausência. Remus disse alguma coisa sobre... hn... gripe... pneumonia... tuberculose... Bem, só sei que você tosse muito, o quão próximo Remus te pôs da cova acho que só ele lembra – Sorrio ao lembrar da expressão nervosa de Remus tentando inventar alguma coisa de ultima hora, ele nunca foi muito bom em mentir – ele quis vir, mas eu disse que seria melhor se fosse eu. Ele não diria o que eu direi com tanta facilidade.

Largo a mão dele e deixo meu olhar vagar por toda a habitação.

- O que você pretende com tudo isso?

- Voltar ao que era antes. – sussurrou

O olho de rabo de olho ainda tentando manter minha expressão impassível, e ele continua.

- Quero que tudo fique tão frio quanto antes, tão artificial, tão triste... Quero que volte ao que era antes.

- Hn, agora entendi por que suas mãos ficaram assim – olho para o teto – e pelo visto, se você continuar a esfregar assim a sua casa, você vai consegui arrancar a carne de sua mão até o osso e mesmo assim não vai conseguir seu objetivo.

- Por que não? – ele tenta replicar murmurando atraindo meu olhar – Já estive lá uma vez, não estive? Quero ir o mais fundo do poço possível... Quero ser patético, quero que ele saiba o quão triste estou... Quero que ele volte para mim...

Não pude evitar sorrir

Tolo.

- Mas Severus, é como eu disse, você pode esfregar essa casa até que sua mão se reduza a ossos – dei entre ombros – você não vai conseguir o seu objetivo assim.

Me levanto e vou para o lado dele, pego aquela mão lastimada e levo até minha barriga lisa, e tudo que ele pode fazer é me olhar confuso.

- Voltar ao zero? Você não é um homem de dizer tantas bobagens. Eu não tive tanto contato com Harry como você teve Severus, acho que não pude viver com ele nem um décimo do que você viveu, e olhe só o quão ele mudou a minha vida – a mão sob a minha barriga estremece com aquela afirmação – isso aqui não será apagado facilmente. Esse foi o maior e mais bonito efeito que Harry teve em minha vida. E você Severus, que teve todo esse tempo com ele, acha mesmo que um pouco de desinfetante e água sanitária vão apagar as marcas que ele deixou para trás? As marcas que deixou tão vívidas em você mesmo?

Afasto-me dele e toco uma das branquíssimas paredes.

- Por que por mais irritante que esteja esse cheiro de desinfetante e por mais lamentável que você esteja, eu ainda vejo as marcas de Harry aqui.

Suspiro e saio da sala de jantar e vou para a de entrada.

Seus passos vacilantes me seguem

- Você quer dizer... que ele não vai voltar nunca mais?

Sua voz era tão fraca quanto antes, mas passava uma suplica que não pude ignorar.

E quando me viro para encará-lo perco por segundos as palavras.

O rosto a minha frente deixava cair pequenas lagrimas.

Severus Snape... estava chorando?

Suspirei novamente, caminhei até ele, levei minhas mãos ao seu rosto, sequei suas lagrimas e fiz sua cabeça descansar em meu ombro.

Filhinho, diga para o amor de seu futuro padrinho o quão bobo ele está sendo. E dê forças a sua mamãe para não sucumbir junto com ele.

- Sei que se for comparada com os garotos eu não sou sua amiga há tanto tempo, mas não posso deixar de ficar preocupada com você, e também com Harry.

Ele ergue a cabeça com um olhar questionador.

- Ele é uma criança e sumiu do nada. Todos estamos preocupados com ele Severus. Sei que toda aquela historia de estrela era incrível, mas... Antes de pensar nisso devemos considerar apenas que um amigo sumiu. E no seu caso mais que um amigo.

- Como você...

- Era meio obvio – sorriu com sarcasmo – o jeito como um se portava com o outro era como se estivessem sempre pendentes de quem daria o primeiro passo.

Ele pareceu surpreso, talvez não esperasse que Harry também passasse pela mesma angustia de ser ou não correspondido.

- Não posso dizer que aprove esse tipo de relação, se fosse com um desconhecido não pensaria duas vezes antes de dizer que era desprezível, mas... dizer que não aprovo isso agora, seria dizer que não quero que seja feliz.

- Mas eu...

- Sua vida foi tocada de uma maneira maravilhosa, e tentar apagar isso, seria tentar apagar que Harry esteve aqui algum dia. Que esteve aqui com você.

- Mas ele...

- Não sei de onde ele veio. Era divertido dizer que ele realmente era uma estrela do céu, ou preocupante imaginar que era um mendigo que queria um teto, mas no fim não sabíamos de onde ele veio. – olho pela janela, será que aquele menino está bem? – não, não fazíamos à mínima idéia de onde veio, e nem para onde foi, mas sabemos o que deixou – aperto minha mão em minha barriga – felicidade.

Volto a caminhar em direção a porta

- Mas... se não me sinto feliz – murmura as minhas costas – tudo parece tão frio.

- Severus... Você não aprendeu nada com o tempo que Harry esteve aqui? – eu disse me virando no batente da porta – A vida não é bela, nós é que a tornarmos bela. Se você quer Harry de volta, não deveria esperar que ele voltasse, mas ir atrás dele. Fora que...

Ele me encara por alguns segundos e absorve com calma aquilo que disse até agora.

Aproveito para me virar novamente.

Meus olhos ardiam, não queria que me visse fraquejar, não agora.

- Fora que... – repito com minha voz fraquejando – Não foi a sua tristeza que atraiu Harry até você meu amigo, mas o puro desejo daquele garoto em ver a sua felicidade. Sorria. Por favor, sorria – não agüentei mais e me pus a chorar – por que o seu sorriso é o único que pode atrair a nossa pequena estrela de volta.

Não conseguia continuar mais lá, eu realmente sentia raiva de Severus.

Ele havia se fechado em uma concha de auto piedade tão grande que nem ao menos tentou achar Harry novamente, sentia raiva... E um profundo amor.

Amo esse meu tolo amigo.

Amo essa pessoa que finalmente descobriu o que é ser vulnerável.

E o amo tanto, como amo a todos os meus amigos, que não poderia afagar seu rosto naquele momento, pois sei que ele não precisa de “consolos” agora.

Não precisa de palavras de apoio como as daria meu marido.

Ou de ânimo como seriam as de Sirius.

E muito menos as de equilíbrio que viriam de Lucius.

Ele precisa despertar.

Olho minha mão que não ardia mais.

Ele precisa abrir os olhos.

Pois se os mantiver fechados como agora...

Nunca mais verá o Harry.

PSSE

(Pov Severus)

Uma semana após a tempestuosa visita de Tonks minha vida havia voltado aos eixos.

Em meu trabalho não tive grandes problemas quando no dia seguinte voltei. Meu patrão não pareceu ter sido convencido pela péssima encenação de Lupin, mas como faltar vários dias seguido não é um habito meu, decidiram relevar dessa vez.

Talvez também por que depois de cinco dias longe o laboratório quase explode três vezes...

Estou cercado de incompetentes.

Se penso em Harry?

A cada segundo do meu dia.

E percebi o quão tolo fui em pensar que se esfregasse um pouco meus moveis poderia tirar sua presença daquela casa, sua essência era tão vivida que impregnava profundamente qualquer madeira ou metal e principalmente meu coração.

Resolvi simplesmente me entregar a esse sentimento de saudades. Embalo-me em recordações, e sorrio ao me lembrar de seus sorrisos bobos.

Sim, agora posso sorrir ao lembrar dele. Pois decidi que o veria novamente.

Não sei como ainda, mas se manter esse desejo vivo, sito que a chance vai continuar a existir.

Hoje eu estou no apartamento do Remus e Tonks, mais uma vez todos nos reunimos para por o assunto em dia.

Tonks apenas sorria com bondade, aparentemente não disse a ninguém sobre o estado em que havia me encontrado dias atrás.

Obrigado minha amiga.

- E Sirius? – pergunto malicioso olhando para Lucius – será que sua técnica de adestramento esta tendo retrocessos?

- Às vezes quando o cachorro é velho de mais fica mais fácil desaprender truques antigos do que aprender truques novos – dá entre ombros suspirando – não sei onde está exatamente, saiu de casa mais cedo dizendo que tinha uns negócios de ultima hora, mas que chegaria a tempo.

Não demos muita importância, sabíamos que Black longe de Lucius tinha o senso de pontualidade mais degradado de toda a Londres. Nem se conseguíssemos amarrar o “Big Bang” em seu pulso ele conseguiria chegar na hora certa.

A conversa avançava calma e era visível que todos evitavam tocar no assunto “Harry”.

E foi quando estávamos quase resolvendo dar o dia por encerrado que a campainha tocou.

Remus abriu a porta e por ela passou um sério Sirius.

- Sirius, que hora você pensa que...

Black ergue a mão impedindo que Lucius continuasse seu sermão e apenas o semblante grave que carregava calou o namorado.

Caminhou até parar na minha frente e estendeu um fino envelope pardo.

- Finalmente achei algo sobre ele. – minha respiração parou por segundos, pois era obvio quem era o “ele” – e acho que sei onde pode encontrá-lo. Mas Severus, creio que você iria preferir que ele fosse uma estrela.


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