Liberdade num olhar escrita por Cyn
capitulo 7- Correcção
Às 6:30 da manhã Lucas já estava de pé. Dissera a mãe que tinha decidido ir acampar na floresta e apanhar um pouco de ar. Como sempre era mentira.
Ele não sabia explicar mas, apenas que tinha que ver Mirabelle.
Estar com ela parecia a coisa mais normal do mundo. Não tinha que fingir ser o que não era, podia desabafar como nunca o fizera e por mais incrível que pareça, sabia que podia contar com ela.
Desceu as escadas de mansinho rezando para não estivesse ninguém acordado.
Quando chegou ao pé da porta suspirou.
– O que vamos fazer? – Lucas ouviu alguém dizer.
Assustou-se.
Vinha do escritório de seu pai.
Por mais que sua consciência gritasse para fugir dali, a curiosidade era maior.
– Ainda estamos a fazer um plano. – Desta vez era a voz de seu pai.
– Temos que ser rápidos. Se não eles podem dar-se conta que estamos aqui e fugirem – Disse outra voz.
– Marcel tem razão. Eles são criaturas repugnantes, mas não são estúpidos. – Disse a primeira voz.
– Tende calma. Eu sempre sei como resolver estes assuntos.
– Espero bem que sim – Disse Marcel parecendo assustado.
– Bom. Já ligamos para o quartel. Eles mandaram os soldados que quisermos. – Avisou o outro homem.
– Isso é óptimo. Vamos precisar de um bom bocado. – Ouviu seu pai dizer.
– E quanto mais rápido era melhor – Sugeriu Marcel-
– Num prazo de 2 meses, essas criaturas estarão exterminadas. Isso posso garantir-vos – Disse o General.
Lucas sentiu enjoo e decidiu que já tinha ouvido o suficiente.
Quem quer que eles fossem exterminar, Lucas não queria ter nada a ver com aquilo.
Enquanto segui-a para o campo o enjoo-o aumentou assim como a raiva pelo seu pai.
Afinal de contas, esta viagem apenas tinha servido para ele trabalhar. É sempre o mesmo. Ele nunca ia mudar, nunca.
E no final de tudo as suas dúvidas foram esclarecidas. Ele era um mostro. Mas o que criaturas ele queria exterminar?
Ele abanou a cabeça violentamente para afastar os pensamentos. Ele ia ter com Mirabelle e tudo, pelo menos por uma hora, ia ser normal.
Quando chegou, ela já lá estava sentada com Ogień.
O cabelo loiro encaracolado batia-lhe na cara por causa do vento.
Cada dia estava mais bonita.
Ela ainda não o tinha visto. Ele andou devagar por trás dela. Ogień levantou a cabeça, mas Mirabelle continuou a olhar para uma flor amarela. Lucas pediu silencio para Ogień e continuou a andar até estar por trás dela.
– Saudades minhas – Disse de repente Lucas assustando-a
– Proszę. – Disse recuperando o fôlego. – Para que foi isso?
Lucas riu e sentou-se ao seu lado.
– Por nada. Apenas parecias tão distante que te queria trazer de volta ao mundo dos vivos. – Brincou deitando-se na erva fintando-a.
– Zdrajca – Resmungou Mirabelle.
Ele ficou confuso, mas logo a sua expressão de convencido voltou.
– Eu vou fingir que que agradeces-te por te ter trazido de volta – Disse fechando os olhos e sorrindo.
– Não. Chamei-te de traidor. Como te atreves a fazer-me isso? Ias-me matando. – Disse Mirabelle pondo uma mão no coração como se doesse.
Lucas abriu os olhos e levantou-se.
– Hmm, como se diz desculpa em polaco. – O sorriso malandro sempre presente.
– Usprawiedliwiać.
– Uspradil… - Tentou.
Mirabelle descontraiu e riu.
– Uspra…
– Uspra. – Repetiu Lucas.
– … wie…
– Wie.
– …dliwi…
– Dliwi.
– …ać.
– Ać.
– Exacto. Agora tenta.
Lucas suspirou profundamente fechando os olhos.
– Usprawiedliwiać. – Abriu os olhos devagar – Acertei?
– Perfeitamente – Disse Mirabelle rindo.
Deitou-se para trás na relva com dores de tanto rir.
Ela gostava de estar com Lucas.
– Vocês complicam muito uma palavra – Avisou Lucas deitando-se de lado para a olhar. – Se uma simples palavra com desculpa é isso tudo, então e olá?
– Cześć.
– Vês o que eu digo? Nem se quer sei se consigo escrever isso. – Resmungou Lucas.
Mirabelle sorriu.
– Provavelmente não. As letras são muito diferentes do português.
– Como as dos chineses? – Perguntou curioso.
– Não. Definitivamente mais fácil que a dos chineses. – Disse alarmada. Pegou no bloco na sua mochila e um lápis. – Escreve Cześć. – Pediu-lhe entregando-lhe as coisas.
Lucas pegou e escreveu:
Czech
Mirabelle leu e riu.
– Está mal, não está? – Perguntou Lucas desanimado.
Mirabelle parou de rir e olhou-o nos olhos.
– Desculpa-me. Está mal. Mas só as últimas letras.
Voltou a pegar no bloco e no lápis e escreveu:
Cześć
– Assim. – Disse mostrando-lhe.
– Nós só pomos acentos no a, e, i, o, u. – Observou Lucas.
– Exactamente. Nós pomos em quase todas as letras, mas basicamente no S ou N. É o que faz a escrita mais difícil que a prenuncia.
Lucas olhou com as sobrancelhas erguidas.
– Sim, mas nem assim tanto.
Mirabelle riu um pouco. Lucas acompanhou-a.
Ele gostava quando a fazia rir.
Era uma sensação que o preenchia de dentro.
– Linda caligrafia já agora. – Brincou
– A tua também. Como consegues? – Perguntou espantada.
– Como consigo escrever? – Perguntou confuso – É simples. Pegas no lápis assim … - Disse pegando-lhe na mão e pondo-lhe o lápis – Depois pegas num papel e …
– Não – Disse batendo-lhe no ombro. – EU sei como escrever. Se não, não tinha escrito. O que eu quero dizer é: todos os rapazes que conheço, a caligrafia deles são só gatafunhos. A tua não.
– O que posso dizer? Sou bom em tudo. – Disse abrindo um sorriso malandro.
Mirabelle riu baixinho.
Ogień relinchou.
– O que se passa? – Perguntou Lucas – Vêm ai alguém? – Levantou-se tão depressa como se fosse fugir.
Mirabelle percebeu que ele estava assustado e aflito.
– Tem calma. É apenas Cień. – Disse levantando-se. Ela ficou ofendida, mas conseguiu disfarçar.
Lucas descontraiu quando o cavalo preto apareceu a galopar até a uns metros á frente deles.
– Porque ela nunca vem até nós?
– É um cavalo selvagem. Não confia nos humanos. – Esclareceu esfregando a crina de Ogień.
– Mas ela vêm ter contigo e com Ogień. – Disse levantando-se e indo para mais perto dela.
– Eles são namorados. E ela sabe que eu nunca lhe faria mal. Ogień confia em mim, então ela também. Quando há mais alguém é um pouco mais difícil para ela. – Explicou encolhendo os ombros.
Lucas olhou para ela.
Algo estava mal, apercebeu-se.
Já não sorria, o que nunca acontecia. Ela sempre tinha alguma alegria no olhar, mesmo que não estivesse a rir, os seus olhos estavam.
– Isso é o que chamam de amor violento. Não se podem manter afastados – Perguntou tentando a fazer sorrir. Mas não resultou.
Ela apenas assentiu com a cabeça. Ele queria que ela se risse. Precisava saber que estava tudo bem.
Precisava ouvir o som da sua risada.
– Mirabelle, eu...
– Tenho de ir – Disse interrompendo-o apressadamente.
– A onde? – Perguntou aflito.
– Pra casa. Tenho muita coisa para fazer.
Virou-se sem o olhar e apanhou as suas coisas do chão.
– Mas... – Disse abaixando-se até ela e segurando-lhe as mãos – ....vais voltar certo? Amanhã? Como estes dias?
Mirabelle mal o olhou.
– Não sei – Disse afastando-se – Tenho tido muito para fazer. A aldeia está com muita agitação ultimamente. – Explicou subindo em Ogień.
– Mas podias tentar.
Ela assentiu com a cabeça.
– Logo vejo o que posso fazer.
Lucas percebeu que ela não ia tentar.
– Eu estarei á espera – Prometeu.
Mirabelle não disse mais nada e logo desapareceu com Ogień. Lucas olhou para o prado. Apenas restava ele e Cień.
– Sou só eu e tu, Cień.
Cień olhou para ele. Parecia que ela o entendia.
– O que achas de nos conhecermos melhor? Sou o Lucas – Disse aproximando devagar.
Cień virou-se e galopou para longe deixando o sozinho. Ele não se importou, ele queria era falar com Mirabelle. Mas tinha estragado tudo.
Ele sabia que tinha.
E isso custou-lhe.
Se ele não a visse mais o que iria fazer? Como iria suportar estas férias?
– Correcção. Sou só eu. – Murmurou.
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