Diário do Silêncio escrita por Vaalas


Capítulo 12
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

E, finalmente, acaboooooooooooou.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/522751/chapter/12

“Me pergunto o que você vai fazer com essa fruta” Ela abraçou as pernas. “Parece que ela vai puxar seu pé de noite”

Ignorei-a e guardei minha fruta predileta na mochila. A verdade é que ela de fato não era tão comestível assim, e depois de uma rápida visita ao Google, descobri, tarde demais, que ela é azeda se comida crua, mas pode virar doce cítrico, licor, ou ser usada para perfumar ambientes. Usando minha mente genial cheguei à conclusão de que não faria o doce porque daria trabalho, não tomaria o licor porque sou menor de idade e tenho medo de apanhar da minha mãe. No fim botaria algumas em baixo da cama e outras penduradas no teto para dar àquele quarto com cheiro de mofo um ar perfumado pela natureza, vida e mato. Bem prático.

“No fim não tivemos as amoras” escrevi

“Sim, mas pelo menos achamos esse lugar legal.” Ela sorriu.

Não iria dizer pra ela que aquele lugar era um lixo em forma de ambiente. Estávamos sentados em cima de um galho de uma árvore muito torta e larga, por onde várias formigas passavam e desviavam dos nossos corpos — eu as matava, porque era isso que se fazia com formigas que cruzavam o meu caminho. Se quiser um matador profissional, ligue para Elliot 5593-0038 — e a árvore, no fim de tudo, tinha cupins e uma visão para a praia n. Isso é o suficiente para um lugar ser um lixo.

— Verdade — concordei, sorrindo amarelo para minha bem formulada mentira.

“Mas, Elliot, e agora?” Ela olhou para baixo “Você já leu a carta e não deu sua resposta.”

Peguei o caderno.

“Eu te convidei para comer amoras, pensei que estava bem claro.”

Ela devia saber que eu não convido pessoas para comer amoras assim, sem mais nem menos. Isso é algo muito íntimo.

“Bem,” ela começou “não estava claro, então seja direto.”

Bufei. Não gostava de ser direto. Segurei o caderno nas mãos e respirei fundo, tossindo para aquecer a garganta. Minhas cordas vocais eram pouco usadas, mas acho que algumas coisas não têm tanto impacto na escrita quanto na fala.

— Podemos tentar.

E é isso, palmas para Elliot, essa frase não estava na lista de frases da vida.

Cassie sorriu largamente e assentiu, começando a se embalar no galho da árvore como se fosse um balanço de parquinho. Várias folhas começaram a cair loucamente, e até mesmo um lagarto e uma noz caíram em mim, mas preferi gritar mentalmente do que destruir toda a virilidade que eu já não tinha.

“Bom” ela disse. “Tentar é bom.”

Eu parei com a frescura amarga pela natureza e sorri, largando o medo de uma cobra cair em mim e me sentando direito ao seu lado, com você, velho diário, nas mãos.

“Pegue uma folha do seu fichário” sugeri “Já que não temos as amoras e estamos na natureza, vamos destruir o meio ambiente.”

Ela não entendeu, mas pegou o fichário e arrancou duas páginas, me entregando. Foi provavelmente estranha a cena em que eu cheirava a folha — apenas para ter certeza de que ainda eram as folhas de amoras — e rasgava-a no meio, dando metade para Cassie.

Mais uma vez, ela me encarou sem entender e admito me diverti com sua cara quando eu botei toda a metade da folha na minha boca, começando a mastigar.

“Estou começando a achar que é um erro namorar com você” Ela riu, rasgando a pontinha do papel e pondo na boca.

No fim a folha não tinha gosto de amora, o que foi uma decepção e um alívio ao mesmo tempo — pelo menos posso ter certeza que o projeto de comer árvores está bem longe da realidade —, mas tirando a decepção das amoras, a tarde foi bem agradável.

Apenas ficou uma situação ruim quando o galho da árvore quebrou — provavelmente em uma vingança maligna, já que estávamos comendo uma árvore em cima de uma árvore. Ela não deve ter gostado do assassinato de sua parente distante (cadeia alimentar, minha querida), e por isso nos fez cair. —, me rendendo duas costelas fraturadas e três pontos na testa.

E sim, isso foi uma verdade. Não estou mentindo desta vez.

[...]

Hospitais tinham cheiro de hospitais e cheiros de hospitais eram ruins. Eu odiava hospitais e odiava mais ainda ter duas costelas fraturadas e uma agulha mortal costurando um corte na minha testa.

“Veja pelo lado bom, eu estou bem” Cassie sorriu sem graça, sentando na minha cama. Sou humor cheirava a peixe, eu odeio peixe.

Sim, eu amorteci a queda dela, que lindo namorado infeliz eu sou, não?

Minha mãe havia chegado meia hora antes e a boa notícia é que estou de castigo por ter matado aula, mas não vou apanhar, pois de acordo com ela “eu já estava ferrado o suficiente”. Minha mãe é uma fofa. No momento ela está na lanchonete tomando um café preto e provavelmente paquerando o meu médico. Não vejo problema, aliás, ela está na seca há muito tempo. Contanto que ele não toque na minha geladeira e não atrapalhe a escravização da minha mãe quando estou doente, pode ficar à vontade.

“Então...” Cassie puxou assunto. “Vou te dar um beijo agora, então não pire, grite ou tenha um ataque epiléptico. Obrigada.”

E me beijou, assim, de forma simples e fácil. Cara, eu precisava aprender a ser direto como Cassie era. Por que o beijo era uma criatura mutante do mal para mim e para ela era o mesmo que dividir um pacote de jujubas com um amigo do maternal?

O beijo dela não tinha gosto de amora dessa vez, o que para mim era mais do que ótimo. Eu estava com trauma de amora para o resto da minha vida!

[...]

E... foi isso. Não foi a mais surpreendente história que um garoto um dia escreveu no seu diário — se é que algum outro garoto nesse mundo tem um diário —, mas é minha história e só por ser minha essa história é genial. Eu sou genial.

Enrolações à parte, queria informar que vou acabar por aqui mesmo. Vejo que só tem mais vinte e oito linhas limpas para o fim de tudo. Você realmente não saberá o final dessa história. Não saberá como foi a minha experiência sendo rico, reconhecido como um gênio pelo mundo, sendo rico, fazendo uma daquelas coisas caras demais para tirar minha surdez e sendo rico.

Já havia dito que “no fim tudo acabou bem” não existe, porque o fim de verdade não está próximo (a não ser que eu morra nos próximos dez segundos, o que resultaria em um fim que não acabou bem. Se pensar assim, nenhum fim acabará bem. Vamos ver se morro nos próximos dez segundos).

...

Bem, não morri, e acabei gastando uma linha inteira com esses três pontinhos. Tô estragando sua vida cada vez mais, e apenas há dezenove linhas para o fim. Bateu uma saudade, juro.

Diários são muito intrometidos na vida de seus donos, a graça de tudo é que eles nunca sabem o verdadeiro fim da história, haha, aqui não será diferente, sofra com a curiosidade.

Quinze linhas em branco. Agora apenas quatorze. Consegue sentir seu fim próximo? Estou me sentindo triste, mas não acho que é porque você está acabando, e sim porque vou ter que comprar outro e meu dinheiro está escasso. Isso é motivo o suficiente para ficar triste. Outro motivo é o cheiro de natureza que está no meu quarto graças A “mão de Buda”. Foi uma péssima ideia enfeitar o ambiente com essa fruta, estou pensando seriamente em usá-las para envenenar o cachorro do vizinho que vive fazendo cocô no nosso quintal. Aquele safado.

São 00:12, estou de repouso por causa das costelas e isso é um adeus. Descanse em paz na minha prateleira suja de livros até o dia em que alguém jogar você fora. Vai ser triste, mas tudo é triste e é bom conviver com isso.

Você ainda ouvirá falar de mim, acredite.

Elliot Hathaway, assassino particular e odiador profissional de amoras.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E é isso, pessoas.
Não foi o mais espetacular final, nem o mais magnífico enredo que vocês já leram ou lerão. É desde o início uma história bem simples, sobre um garoto bem simples, com uma vida bem simples e problemas bem simples. Nada mais justo que um final bem simples, certo?
Fico feliz por finalmente conseguir concluir essa história. Acreditem, eu dificilmente consigo terminar algo que começo, então se consegui terminar essa história, saibam que foi por causa de todos vocês, meus poucos, mas presentes leitores. Momento drama on, pera, vai escorrer uma lágrima... Não, deixa, to bem.
Espero que essa história tenha proporcionado aquele momento de diversão, depois de uma escola, faculdade, trabalho ou dia estressante. Afinal eu me diverti escrevendo, espero que tenham se divertido lendo também. Queria agradecer a todos, cada ser vivo, alien, ghoul, fantasma (haha) ou ursinho de pelúcia que resolveu dar uma chance a essa narrativa.
E ah, troquei a capa, algo bem inútil pra se fazer no último capítulo. Provavelmente a outra tava melhor, mas essa foi a primeira capa que fiz para a história e achei bom terminar com ela, independente do quão bosta ela possa estar.
Obrigada pela presença e incentivo, espero vê-los na próxima jornada.
Allons-y!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diário do Silêncio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.