Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO!!! Gente, quase que não consigo postar:
1°) Comecei a escrever o capítulo tarde demais, por preguiça.
2°) Comecei a ter bloqueios temporários enquanto escrevia o capítulo. Então parava de escrever e olhava pro teto pensando: " E agora, o que vem depois disso? O que vai acontecer" Então esse capítulo está bem quentinho, acabei de fazer.
3°) Minha mãe não parava de falar um minuto, não consigo escrever se não estiver no silêncio.
Ok, mudando de assunto. Não posso deixar de falar da linda recomendação que a minha linda leitora Filha de Ades Everllark deixou na minha história. Obrigada minha flor. Eu AMEI sua recomendação, adorei meu presente de Dia das Crianças. Bem, vou calar a boca agora, né? Desculpem o pequeno atraso. Boa leitura e bijus.



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Acordo de manhã e me deparo com um par de olhos azuis me observando. Dou um pequeno sorriso e volto a fechar meus olhos.

– Bom dia. – sussurra Peeta, enquanto passa as mãos pelos meus cabelos.

– Bom dia. – respondo de volta.

– Você fica linda dormindo, sabia?

– Eu sei, você já me disse isso. Você disse que eu perco a carranca. – respondo rindo.

– Eu disse? Não me lembro.

– Foi na primeira arena. Eles devem ter apagado essa lembrança de você. – desvio meu olhar de seus olhos e olho para o seu cabelo todo bagunçado. – Nossa, eu baguncei todo o seu cabelo.

– Você diz isso porque não viu o estado que o teu ficou.

Olho para Peeta confusa e saio da cama enrolada nos lençóis. Olho para meu reflexo no espelho. E o que vejo não é o meu cabelo. É um ninho de passarinho que foi atingido por um vendaval.

– Mas que droga, Peeta. Você destruiu meu cabelo. Como vou tirar isso agora? – falo ainda olhando para meus cabelos e tentando tirar os nós com os dedos.- Ai.

Pelo reflexo do espelho vejo Peeta levantando da cama e vestindo uma calça que estava caída no chão.

– Me desculpa. Foi sem querer. – diz ele me abraçando por trás e pegando a escova de cabelos de cima da penteadeira. – Vem, vou desfazer isso aí que eu fiz. - diz ele puxando meu braço até a cama.

Pego a camisa de Peeta que também estava caída no chão e a visto, jogando os lençóis na cama novamente. Ele senta na cama com as pernas abertas e eu sento entre suas pernas. Ele começa a tentar tirar os nós. Mas dói tanto que lágrimas começam a escorrer pelos meus olhos. Agora eu sei como Alice se sentia quando Peeta penteava seus cabelos.

– Ai, você está me machucando. – choramingo.

– Desculpa. – diz ele.

– Esquece, largue essa escova. É bem mais fácil cortar os meus cabelos.

– Não, não corta. Eu gosto deles compridos assim. – pede Peeta.

Eu não esperava que meus cabelos fossem crescer tão rápido, mas cresceram. Estavam quase chegando na minha cintura.

– Mas como vou tirar esse ninho da minha cabeça?

– Espera aqui, deve ter algo no banheiro para tirar nós. -Ele sai e volta com alguns frascos nas mãos. – Achei um monte de coisa, mas não entendo nada disso. Qual você acha melhor?

Eu pego os fracos e leio o que diz neles, não vejo diferença alguma, então pego qualquer um entrego a Peeta.

– Tenta esse spray. – falo.

Ele pega o frasco e passa o spray no meu cabelo. Ele tem um cheiro bom.

– Pelo menos seu cabelo vai ficar cheiroso. – ironiza Peeta.

– Então meu cabelo não era cheiroso antes? – pergunto rindo.

– Não foi isso que eu quis dizer. – responde ele, largado o spray e passando a escova nos meus cabelos de novo. Dessa vez a escova não trancava nos nós. – Uau, isso aqui é poderoso. Olha só! Seu cabelo ficou liso.

– Vou começar a usar isso no cabelo de Alice. – comento. – Que horas são?

– Não sei. Alice quebrou o relógio, lembra?

– Mas eu comprei outro no Distrito 4.

– Comprou?

– Sim, está ali na cômoda.

Peeta para de escovar meu cabelo e pega o relógio-despertador. Eu pego a escova de suas mãos e termino de tirar os nós.

– Olha só! Que bonitinho. Tem até uns peixinhos desenhados aqui.

– É que esse era o único que vinha com despertador, os outros eram só o relógio.

– Ah. Não precisava ter comprado, eu falei que iria comprar.

– Da mesma forma que você falou que iria comprar o presente de aniversário de Alice?

– Mas você não esqueceu isso ainda?

– Não tem como esquecer. – respondo rindo. – Você ainda não me disse as horas.

– São 6h30min, conforme seu relógio aquático me diz.

– O que?! Seis e meia? Eu vou dormir de novo. – falo, largado a escova na cômoda e me deitando novamente.

– Não, não dorme. Levanta sua preguiçosa. Vamos tomar um banho juntos. – pede Peeta.

– Ah, não quero. Me deixa aqui.

– Ahhh, vamos sua dorminhoca. Vem. – diz ele puxando de leve a minha mão. – Vamos logo, olha que dia lindo. Vamos sentar no sol e tomar um café enquanto a Alice não acorda. Vem, amor. Eu passo a esponja nas suas costas.

– Ai, mas como você é chato. Que coisa. Tá. Estou levantando. – digo me levantado de má vontade.

Tomamos um banho juntos, à pedido de Peeta. Descemos e Peeta faz um café para nós. Nos sentamos na varanda de trás da casa. Pegando um sol enquanto conversávamos mais do que bebíamos o café.

– Eu estava pensando em fazer um balanço para Alice naquele árvore lá. – fala Peeta, apontando para uma árvore que havia mais para o fundo do terreno.

– Pode ser. – respondi simplesmente.

Alice sai pela porta da varanda enquanto chama por nós.

– Mamãe. Papai. – fala ela caminhando para a rua.

Ela passou reto por nós, não vendo que estávamos sentados a poucos metros da porta. Ela já ia descer as escadas, mas Peeta a interrompe.

– Ei, estamos aqui. Você não nós viu? – pergunta Peeta rindo.

Ela não responde. Apenas se aproxima se sentando no meu colo e fecha os olhos novamente.

– Está com sono ainda? – pergunto a ela.

– Sim. – responde ela, se aconchegando mais.

– Eu vou preparar um leite morno pra ver se acorda mais ela. – fala Peeta se levantando, pegando a xícara vazia que estava nas minhas mãos e entrando para dentro de casa. Ele volta pouco tempo depois com a caneca contendo o líquido branco dentro. – Aqui.

Eu pego a caneca e faço Alice se sentar direito na cadeira para tomar o leite. Ela senta, pega a caneca e toma o conteúdo.

– Está gostoso. – elogia ela.

– É porque eu coloquei um pouco de mel dentro. – justifica Peeta.

Ficamos mais um tempo na varanda, até que decidimos entrar. Peeta vai trocar a roupa de Alice e pentear seus cabelos. Alice reclama, pois sabe que Peeta machuca quando vai pentear os nós, mas ele a convence dizendo que achou uma fórmula mágica para tirar os nós, que é, obviamente, o spray que ele usou em meu cabelo. Vou para cozinha lavar a louça. Depois de um tempo lavando vejo que a pia entupiu, a água parou de descer pelo ralo.

– Droga. – murmuro enquanto fecho a torneira. Alice entra na cozinha. – Alice, onde está seu pai?

– Ele está vindo.

Ela mal acaba de falar isso vejo Peeta adentar a cozinha.

– Eu estou aqui. O que houve?

– A pia entupiu. – falo.

– Deixa eu ver. – ele se aproxima e enfia a mão dentro da pia. – Caramba, entupiu mesmo.

– Eu vou ligar para um encanador, se tiver um neste Distrito. – falo já saindo, mas Peeta me interrompe.

– Não, não precisa. Eu mesmo faço isso.

– Você é um padeiro, não é encanador.

– Eu dou um jeito nisso. Você vai ver. Fica aqui e me avisa quando a água descer.

– Se a água descer... – sussurro para mim mesma.

– O que você disse?

– Hã? Nada não. Vai lá. Eu te aviso.

Peeta sai enquanto eu fico observando a pia cheia de água. Em algum momento começa a borbulhar, eu me assusto e dou um passo para trás. De repente a água desce ralo a baixo. Mas ao mesmo tempo ouço um grito vindo de Peeta.

– MAS QUE DROGA!!!

Eu corro para a rua dando a volta pela casa, seguida por Alice. Encontro Peeta com um cano na mão e todo sujo de restos de comida e água suja de esgoto. O cheiro me lembrava em como era a casa de Haymitch antes de Effie vir morar aqui. Eu começo a rir da expressão dele. Um misto de susto, raiva, surpresa e nojo. Alice ri mais do que eu.

– O que você fez? – pergunto ainda rindo e secando as lágrimas que escorriam pelos meus olhos.

– Eu estava tirando o cano com cuidado, mas tropecei e acabei puxando o cano com violência, aí saiu tudo para fora e caiu em cima de mim.

– Pelo menos a pia não está mais entupida.

– Um ponto bom nesta confusão. – ele coloca o cano no seu devido lugar – Bem, é melhor eu tomar um banho.

– Mas nem pensar. Você não vai entrar dentro de casa neste estado.

– E vou fazer o que então? Dormir aqui fora?

– Espere aqui. – digo.

Vou até a parte de trás da casa e pego uma mangueira. Ligo colocando na direção de Peeta e tiro toda a sujeira que há no corpo dele. Bem, a sujeira saiu, entretanto, o cheiro...

– Oh, me sinto muito melhor. E me sentiria muito melhor se não estivesse cheirando a gato morto e molhado. Será que agora, que estou menos sujo, posso entrar e tomar um banho? – pergunta Peeta.

– Sim, agora pode.

– Obrigado. Você merece um abraço. – diz Peeta abrindo os braços e vindo em minha direção.

– Nem pense em chegar perto de mim com este cheiro. – aviso dando alguns passos para trás.

Ele ri e vai para dentro de casa para tomar o banho. Eu enrolo a mangueira novamente e a guardo. Entro, e como não há nada para fazer resolvo assistir televisão enquanto Alice brinca com seus brinquedos na sala. Deixo no canal de noticiários. Peeta chega um pouco depois.

– Estou cheiroso agora? – fala ele atrás do sofá.

Eu me levanto e o vejo com os braços abertos, esperando que eu o cheire. Eu me aproximo e cheiro seu pescoço.

– Está bem cheiroso. Agora eu aceito o seu abraço. – respondo.

Ele fecha seus braços ao meu redor, me abraçando. Alice olha, se levanta e fala para nós indignada:

– Ei, eu também quero um abraço do papai. – diz ela fazendo cara feia. Ela não parecia estar brincando.

Peeta ri e me solta.

– Ah, você quer um abraço do papai? – pergunta ele.

– Quero. – diz Alice irritada.

– Então vem cá, sua danada.

Peeta a pega e a abraça, levando ela até o sofá e fazendo cócegas nela. Ela não parecia mais estar irritada. Eu ria junto com eles, só observando. Até que desvio o olhar deles e olho para a televisão. E é então que tomo um susto.

Por que tinha uma foto de Alice na televisão?! Eu abro a boca sem emitir nenhum som.

– AI MEU DEUS!! PEETA! OLHA!!! – eu digo apontando para a televisão.

Peeta para de brincar com Alice e olha para a televisão, tendo a mesma reação que a minha. Alice desce do sofá e não olha para a televisão, apenas volta a brincar com seus brinquedos ainda rindo. Eu pego o controle e aumento mais o volume e ouço o que o repórter está falando.

– ...Parecem que eles esconderam muito bem a garotinha. Quem diria que o casal desafortunado do Distrito 12 tem uma filha, hein? Sinceramente, estou chocado.

– Mas será que ela é mesmo a filha deles? Pode ser qualquer criança, Brendell.

– É claro que é. Olhe para ela. A cara de Katniss.

– E qual será o seu nome?

– Isto ainda é uma incógnita. Mas temos certeza que em breve descobriremos.

– E onde conseguiram esta foto?

– No trem, foi confirmado já, que as duas, Katniss e a filha, viajaram para o Distrito 4 a pouco tempo. É uma foto bem recente, portanto.

“No trem”, pensei. Mas que droga. Como consegui ser tão estúpida? Eu sabia que uma hora iriam descobrir. Não estavámos escondendo Alice, nem nada parecido, mas também não saiamos por aí gritando que tínhamos uma filha. Eu devia ter adivinhado que teria câmeras em algum lugar deste Distrito. É tudo culpa minha. Tudo é sempre culpa minha. A noticia termina depois dos repórteres comentarem mais um pouco sobre como Alice é parecida comigo. Peeta desliga a televisão. Estou com tanto ódio de mim mesma que, deixo uma lágrima rolar e corro escada acima, me trancando no banheiro. Que ótimo, Katniss! Você é muito matura. Agindo igual a uma adolescente emburrada. Me sento no chão, encostada na porta e começo a soluçar. Peeta dá três batidas na porta.

– Katniss, abra esta porta. – eu não respondo, só consigo soluçar mais. Tenho a impressão de que Peeta está irritado comigo. – Vamos, Katniss. Abra isso.

– Vá embora. – eu digo aos soluços.

– Não, eu não vou a lugar algum até você abrir esta porta.

– Papai? – ouço a voz de Alice.

Ouvir sua voz infantil e saber que ela não faz ideia do que está acontecendo ou do que aconteceu, só me faz chorar mais. Ela está pagando por algo que eu cometi. Ela está pagando por algo que nem faz ideia que aconteceu. Eu não queria isso. Eu não quero que aconteça com ela o que aconteceu com Peeta e eu. Não quero que ela seja mais uma peça nos jogos da Capital. Ela não é um objeto de entretenimento. Ela é uma simples criança. Ela é minha filha!!! Mas é claro que para a Capital ela não passa de uma simples criança. Para a Capital ela é filha de Katniss Everdeen, filha da garota que ganhou a 74° Edição dos Jogos Vorazes, filha da garota que desafiou e riu da cara da Capital, filha do tordo, filha da pessoa que liderou toda uma revolução que entrou para a história, filha da garota que matou o Presidente Snow e mudou todo o governo de Panem. Ela é, para a Capital, filha dos amantes desafortunados do Distrito 12. E eu devia ter notado. Eu devia ter adivinhado que sempre seriamos o alvo deles. Que nós nunca seriamos vistas como pessoas normais. Que mesmo tendo acabado a antiga Panem, nós continuaríamos a ser um mero entretenimento para aquele povo mesquinho e egoísta.

– Filha, vá brincar lá na sala. Nós já vamos descer. – fala Peeta para Alice.

– Mas...

– Alice, vá logo!!!. – Peeta manda sem paciência alguma. Ele fica em silêncio por mais algum tempo, talvez esperando que Alice saia do quarto e depois volta a falar. – Vamos, meu amor. Abra a porta. Vamos conversar.

– Eu não quero conversar. Eu não quero fazer nada. Vá embora! – eu respondo. – Eu só quero chorar.

– Então abra a porta e você chora enquanto eu te abraço. Vamos, Katniss. Abra isto. Deixa eu cuidar de você.

– NÃO! É minha culpa. É tudo minha culpa.

– Não diga isso. Você está errada. Não é sua culpa.

– É SIM!!! É SEMPRE MINHA CULPA. TUDO QUE ACONTECE COM NÓS É CULPA MINHA.

– Lembra o que você me disse? Não é SUA culpa. É NOSSA culpa. Não foi VOCÊ que errou. Foi NÓS que erramos. – eu me levanto, abro a porta e me jogo em seus braços, chorando mais ainda. – Está tudo bem, vai ficar tudo bem.

– Vão querer filma-la. – eu digo com os rosto mergulhado em sua camisa.

– Nós vamos dar um jeito. Nós sempre damos um jeito.

Ele consegue me acalmar aos poucos. Me leva até o banheiro e lava meu rosto inchado e vermelho.

– Obrigada. – eu murmuro enquanto seco o rosto na toalha.

Ele apenas sorri e deposita um beijo em minha testa. Descemos e observamos Alice sentada no chão brincando com seu kit de cozinha que eu comprei para ela de aniversário. Se ela ao menos tivesse idade para compreender... Ela se levanta e caminha até nós, oferecendo um biscoito de plástico para Peeta. Ele sorri e pega o biscoito.

– Para mim? – pergunta ele.

– Sim. – responde Alice.

Peeta finge estar comendo o biscoito.

– Que gostoso. Foi você quem fez?

– Foi.

Peeta devolve o brinquedo para Alice enquanto fala:

– Boa menina. – Alice ri e volta para seus brinquedos, Peeta suspira e sussurra mais uma vez. – Boa menina. – Paramos de observar Alice pois o telefone toca, Peeta e eu nos olhamos e apostamos uma pequena corrida até o telefone. Peeta chega primeiro. Ele atende. – Alô.

Ele não fala mais nada, só escuta o que a outra pessoa está dizendo.

– Quem é? – pergunto nervosa.

Ele não reponde, apenas levanta o dedo pedindo silêncio. Ele olha para mim me avaliando. Larga o fone na mesa sem tirar os olhos de mim e aperta o botão do “Viva-voz”.

– Deu, ela está ouvindo. – diz Peeta para a pessoa do outro lado da linha.

– Oi, é a Katniss. Quem está falando? – pergunto imediatamente.

– Olá, Katniss. Como vai? Aqui quem fala é o Plutarch.

– O que você quer? – pergunto sem rodeios, não quero enrolação nenhuma.

– Garanto que você viu a reportagem da televisão. Estou certo?

– Sim.

– Bem, estou vendo que você não quer enrolação. Isso é bom! Pouparemos tempo!

– Pare de me enrolar, Plutarch. Diga logo o que você quer. Tenho certeza que não ligou só para saber como estamos.

– Ok, eu quero uma entrevista. Aqui na Capital. Com a garotinha que dizem ser filha de vocês, aliás, com certeza é filha de vocês. É uma cópia exata da mãe. As pessoas estão malucas aqui na Capital depois que viram a reportagem. Uma foto não é o suficiente para elas. Eles querem vê-la ao vivo, em cores, falando, se mexendo. Fazendo qualquer coisa que uma foto não faz.

– Sem chance! Eu não vou levar a minha filha para a Capital. Vamos ficar aqui. Estamos muito bem. Não nos enfie em seus problemas. Resolva eles sozinhos. Se vire. Cansamos de ser peças nos jogos de todo mundo. Eu topei liderar a revolução, agora me deixem em paz. Paz é o mínimo que vocês me devem depois de me fazerem de trouxa.

– Bem, vocês três serão obrigados a estar em alguma entrevista com Caesar.

– Quer dizer que não temos escolha? – pergunto com ódio.

– Ah, minha querida. Claro que vocês têm escolha. Vocês escolhem: Ou venham até a entrevista, ou... A entrevista irá até vocês.

– O que?! Como assim?! O que você quer dizer com isso?

– Eu quero dizer que se vocês não vierem até a Capital darem uma entrevista, nós iremos até a casa de vocês, aí no Distrito 12, e faremos essa entrevista. Se não, só filmamos, editamos e colocamos no ar. Muito simples. Bem, tenho que desligar. Tenho mais o que fazer. Vou ligar mais tarde para saber o que vocês irão escolher. Tchau.

Ele desliga o telefone. Eu fico ouvindo o barulho estático ainda em choque por saber que de uma forma ou de outra vou ter que dar as caras nas televisões de Panem. Não só eu como Peeta e Alice também. Peeta coloca o telefone no gancho. Eu olho para ele aflita.

– O que vamos fazer? – pergunto apavorada.

– Vamos conversar na cozinha, preciso fazer o almoço. – diz ele, já se retirando do escritório.

Eu o sigo e sento a mesa enquanto ele começa a mexer nas panelas que restaram em casa.

– Peeta, e agora? – pergunto aflita.

– Agora nós escolhemos. Ou vamos, ou eles vem.

– Mas não quero dar entrevista nenhuma.

– E você acha que eu quero? Não temos escolha Katniss. Eles estão nos manipulando mais uma vez. Só podemos decidir o lugar onde será feito a entrevista. Porque a entrevista acontecerá. De um jeito ou de outro, nós vamos aparecer na televisão.

– Não é justo.

– Não é nada justo. Mas eu prefiro mil vezes ir lá, do que ter aquela gente na minha casa.

– Eu também. Se eles descobrirem que deixamos eles virem uma vez, eles virão de novo, e de novo, e de novo...

– Exatamente.

Peeta não estava escondendo o quanto estava irritado com toda essa situação. Ele tirava as panelas do armário e as batia na mesa. Eu não estava irritada. Ou será que estava? Não sei dizer. Eu estava confusa. Estava com medo. Lembrei que se eu não tivesse a magnifica ideia de ir embora, Alice não teria aparecido na televisão. E Plutarch não estaria nos ligando, exigindo uma entrevista. E Peeta não estaria quase quebrando as panelas. Tudo isso me leva a acreditar que Peeta não está irritado com a situação, mas na verdade está irritado comigo.

– Você está irritado comigo. – não foi uma pergunta, foi uma afirmação.

Peeta para de pegar as coisas na geladeira e olha para mim.

– O que?! Não! Não é com você que estou irritado.

– Mas é culpa minha...

– Já disse que não é culpa sua. – ele se aproxima de mim e coloca meu rosto entre suas mãos – Pare de se sentir culpada por tudo que acontece. Não é culpa sua. E eu não estou irritado com você, estou irritado com Plutarch.

– Então o que vamos dizer a ele quando ele ligar de novo vai ser: “Nós iremos aí dar a entrevista”.

Peeta solta meu rosto e volta a pegar coisas na geladeira.

– Infelizmente sim. – diz ele suspirando.

Esperamos a ligação de Plutarch, quando ele liga, lhe contamos nossa decisão. Ele marca a entrevista para dali a uma semana. Tentamos explicar a Alice de uma forma calma, que não a assustasse, dizendo que iriamos para outro lugar, fora do Distrito 12 para respondermos algumas perguntas. Dizemos que haveria bastante gente nos olhando. Até ali eu estava explicando tudo, enquanto Peeta só prestava atenção ao que eu dizia para ter certeza se eu estava usando as palavras certas. Isso, até Alice fazer uma simples pergunta:

– Mas por que temos que fazer isso, mãe? – pergunta ela, olhando diretamente em meus olhos.

Não respondi, porque não sabia o que responder. Encarei ela de volta, pensando em algo para dizer, mas parece que Peeta foi mais ágil.

– Porque existem muitas pessoas por aí que gostam muito de mim e de sua mãe. – Peeta fala.

– Ah, tá. – Alice afirma, satisfeita com a resposta.

Conversamos com Haymitch e Effie. Haymitch estava furioso com a Capital, Plutarch e qualquer outro que tivesse relação com essa entrevista. Então nossa conversa, foi basicamente, ouvir os gritos de Haymitch. Por fim, eles decidiram ir junto com nós para a Capital.

Fizemos de tudo para fazer o tempo passar devagar, mas isso era algo impossível. Alice sempre dava um jeito de nos distrair e fazer o tempo voar. Então a semana passou em um piscar de olhos. Quando dei por mim, estávamos todos em um trem a caminho da Capital. Peeta, Alice e eu em uma cabine. Haymitch, Effie e Joe em outra. Levamos um dia inteiro para chegar até lá. Quando chegamos, já havia Plutarch nos esperando com um carro, para nós levar até o lugar onde ficaríamos. Levei um choque ao descer do trem e ver o quanto a Capital mudou. Continuava sendo enorme, mas estava mudada. Descemos e entramos todos no carro.

Para minha surpresa, transformaram o antigo centro de treinamento em um dos hotéis mais chiques da Capital, conforme Plutarch nos diz. E é lá que iriamos ficar enquanto estivéssemos na Capital. Quando chegamos descobrimos que Plutarch já havia reservado o nosso quarto, menos o de Haymitch, pois ele não sabia que ele viria conosco. Era só dar nossos nomes na recepção que ele nos daria a chave.

Chegamos na recepção e vemos uma moça atrás do balcão lendo uma revista de moda.

– Com licença. – diz Peeta.

– Sim, posso aju... AI MEU DEUS!!! PEETA E KATNISS!!!

– É, somos nós. Disseram que já reservaram nosso quarto. – continua Peeta, ignorando o chilique que a balconista teve.

– Sim, já reservaram sim. – diz ela olhando encantada para Peeta.

– Podemos pegar a chave então? – pergunto.

– Sim, é claro. Aqui está. Deixe-me ver. Ah, vocês vão ficar hospedados no andar 12.

– 12? – pergunto.

– Sim, é o que está escrito aqui. – diz ela apontando para um caderno grosso.

– A cobertura? – pergunto só para ter certeza.

– Sim, a cobertura. – diz ela entregando a chave para Peeta.

– Obrigado. – diz Peeta pegando a chave da mão da balconista. – Vamos, Katniss.

Pego a mão de Alice e subimos pelo elevador até o último andar. Quando a porta finalmente se abre, solto um suspiro de alívio ao notar que modificaram toda a cobertura. Fico aliviada por mim e por Peeta. Entramos e notamos nossas malas empilhadas no sofá da sala. Pegamos elas e levamos até o quarto. Não fazemos questão de esvazia-las agora. Acabamos de chegar de uma viagem. O que eu fazia questão de fazer na verdade, era tomar um banho. Noto que Alice deitou na cama assim que entramos no quarto. Ela deve estar exausta.

– Eu vou tomar um banho. – digo pegando uma roupa limpa de dentro da mala.

– Ok. Vou ver o que tem para comer aqui. Vamos, Alice? – fala Peeta estendendo a mão para ela.

– Não Peeta. Deixa ela deitada aí. Ela deve estar exausta. Tadinha.

– Tudo bem. – diz ele saindo do quarto.

– Só vamos trocar essa roupa, Alice. – digo a fazendo tirar o macacão que estava usando e trocando por um pijama. Já estava de noite.

Ela volta a deitar depois que eu troco sua roupa. Tomo um banho demorado, já que não me lembrava mais como se usava os chuveiros da Capital. Acabei lembrando da primeira entrevista de Peeta. Quando ele disse que a Capital tinha chuveiros estranhos. Me peguei concordando mentalmente enquanto sorria. Finalmente me entendo com o chuveiro e consigo tomar um banho. Quando saio do banheiro, noto que Alice dormiu. A coloco embaixo das cobertas devagar. Vou até a cozinha e vejo Peeta vasculhando os armários.

– Não tem nada para cozinhar. Temos que pedir a comida. – conclui ele, falando de algo que eu já sabia.

Ele liga pedindo o nosso jantar e um copo de leite, para o caso de Alice acordar no meio da noite. Comemos nosso jantar em silêncio. Não há nada para conversar aqui. Então não fazemos questão de abrir a boca para falar, só para comer. Quando terminamos nossa refeição, largamos a louça na pia e decidimos ir para a cama dormir. Tinha um quarto para Alice também, aliás, havia três quartos naquele andar agora. Mas decidimos deixar ela dormir conosco. Deitamos na cama, com Alice em nosso meio. Ficamos de frente um para outro.

– Não consigo dormir. – digo, olhando nos olhos de Peeta.

Estava me sentindo da mesma forma que me senti na noite anterior dos Jogos Vorazes, a noite que não consegui dormir e acabei conversando com Peeta. Quando ele dizia que não queria só ser mais um peça nos jogos deles. E onde estamos nós agora? Estamos aqui, sendo só mais uma peça nos jogos deles outra vez.

– Eu também não consigo. – assume ele.

– Eu quero ir embora.

– Eu também quero.

– Dá pra parar de sentir e querer as mesmas coisas que eu? Que coisa irritante!

– Então cala essa boca e dorme. – diz ele sorrindo.

– Idiota! Não consigo dormir, já disse isso.

– Mas tenta mesmo assim.

– Que droga. – a insônia estava me deixando irritada.

– Chega mais pra cá que eu faço um carinho nos seus cabelos.

Eu me aproximei mais e ele também.

– Cuidado! Não esqueça que a Alice está no nosso meio, assim você vai esmagar ela.

– Que delicia. Panquecas de Alice. – fala Peeta rindo e dando mais espaço para Alice.

– O que?! Não acredito que você falou isso.

– Desculpa. – diz ele começando a fazer um carinho nos meus cabelos.

Eu durmo logo em seguida. Acordo no outro dia com Peeta abrindo a porta e trazendo nosso café, seguido de Alice.

– Como vocês conseguiram não me acordar? – pergunto sentando na cama, enquanto Peeta coloca a bandeja na minha frente.

– Já disse: Você dorme igual uma pedra. – ele responde sentando ao meu lado.

– É, mas quem ouvia os gritos de Alice no meio da noite era eu.

– Ah, mas você é a mãe dela, isso aí é um extinto maternal.

– Já tomou o café-da-manhã, Alice?

– Sim. – responde ela, sentando em nosso meio.

– Plutarch deu uma passada aqui. – diz Peeta.

– Deu? E o que ele disse?

– Nada de mais, só disse que a nossa entrevista será de noite.

– Tudo bem então. – falo enquanto como. – Você não vai comer?

– Eu já comi. Só você que não comeu ainda. – diz ele rindo.

Não saímos do apartamento durante o dia, ficamos lá só esperando chegar a noite para podermos dar esta entrevista logo. Paylor faz uma breve visita:

– Então é essa a garotinha? – diz ela olhando para Alice.

– É sim. – fala Peeta sorrindo. – Ela não é linda?

– Mas é claro que é. É a cara da mãe também. – ela se agacha a altura de Alice e pergunta. – Qual é seu nome, querida?

– Alice. – responde Alice timidamente.

– Sabia que você é muito linda?

Alice dá uma pequena risadinha e se esconde atrás da perna de Peeta.

– Obrigada. – diz ela corada.

– Muito bem, vejo vocês na televisão à noite. Tchau.

– Tchau Presidente Paylor. – se despede Peeta.

Passamos o resto da tarde conversando com Haymitch em seu apartamento. Ele falou sobre as coisas que não deveríamos dizer na entrevista. Coisas do tipo flashbacks, pesadelos, brigas, etc. O dia até que passou bem rápido e já estávamos nas mãos de estilistas que nos preparavam para a entrevista. Nos vestiram com roupas simples. Logo já estávamos atrás do palco ouvindo a voz de Caesar Flickerman enquanto ele esquentava o público.

– Vocês vieram aqui por um único motivo, o motivo que nos foi revelado semana passada. E qual é esse motivo? – pergunta Caesar ao público.

Vários gritam: “A filha do tordo”. O que me deixa mais nervosa ainda. Estávamos de pé atrás de uma porta que iria se abrir quando Caesar mandasse. Alice estava em nosso meio enquanto Peeta segurava uma de suas mãos e eu segurava a outra. Eu pensei em mim nervosa, mas esqueci de Peeta. Só lembro quando ouço a voz de Alice.

– Papai? – pergunta ela.

Só então noto que Peeta estava tremendo. Ele solta a mão de Alice e começa a dar alguns passos para trás. Não. Isso não. Peeta não pode ter um flashback logo agora. Solto a mão de Alice e digo para ela ficar exatamente ali. Ela obedece e eu me aproximo de Peeta, segurando seu rosto e olhando em seus olhos. Os olhos de Peeta estavam estranhos. Um estava normal e o outro estava dilatado. Ele colocou as mãos nos ouvidos como se quisesse bloquear algum som que estava ouvindo. Ele não olha para mim, nem quando estou com as mãos em seu rosto.

– Katniss? – chama ele quase chorando.

– Está tudo bem. Eu estou aqui.

– O que está acontecendo?

– Nós vamos dar uma entrevista para Caesar, porque descobriram da existência da nossa filha.

– Eu quero ir embora, estou com medo. – diz ele segurando minha cintura.

– Não precisa ter medo, eu estou aqui com você. Não vou deixar ninguém te machucar. – ele fecha os olhos e sobe suas mãos devagar pelo meu corpo até chegar em meu pescoço. Ele faz uma leve pressão.

– Você vai me machucar. – diz ele com os olhos fechados.

– Isso não é real. Peeta, eu não faço a mínima ideia do que você está vendo, mas tenho certeza de que não é real.

– Você vai me machucar. – ele repete apertando um pouco mais meu pescoço.

– Não vou não. – não sei mais o que fazer, então me aproximo e o beijo, no inicio ele aperta mais meu pescoço, mas eu não interrompo o beijo, apenas gemo de leve, me sentindo sufocada, mas logo em seguida ele solta meu pescoço e escorrega suas mãos até as minhas costas, me puxando mais para perto dele. Enfim, nos separamos de novo. Estou mais ofegante que ele, afinal quase fui estrangulada.

– Desculpa. – sussurra ele.

– Tudo bem, vamos logo. Daqui a pouco entramos. – respondo.

Voltamos a nossa posição anterior, Alice em nosso meio e nós segurando suas mãos.

– Então vamos chamar agora a nossa eterna Garota em Chamas e o padeiro. Ah, sim não podemos esquecer da Mini Tordo.

Eu teria me irritado com o apelido se não tivesse me lembrado que eles não deveriam saber o nome de Alice ainda, só para deixar um suspense. A porta se abre e meu nervosismo triplica.


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Notas finais do capítulo

Agora preciso pensar no que vou por na entrevista, hehehe. Alguém tem alguma dica? Porque eu tenho só uma vaga ideia. Até sábado que vem. Beijocas da Tia Rafú pra vocês! ;)