Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO!!! Olha quem voltou em pleno feriado. Pois é. Fiquei em casa então adiantei o capítulo. Vamos a ele. Aproveitem. Até as notas finais. Bjs.



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–Para onde nós vamos, mamãe? – pergunta Alice quando eu volto a sentar direito na poltrona do trem.

– Nós vamos visitar a vovó Lena. – respondo. – Você lembra da vovó Lena?

– Lembro. E por que papai não vai com nós?

– Bem... É porque... Porque... Porque ele precisa cuidar da padaria. Quem vai cuidar da padaria se ele sair do Distrito?

– Ah, é verdade. As pessoas precisam de pão, não é mamãe?

Eu ri antes de responder:

– Sim, com certeza precisam.

Fiquei aliviada por ela não me perguntar se Diego não poderia cuidar da padaria para Peeta vir conosco, aí sim eu não saberia o que responder. Para minha sorte Alice dormiu boa parte da viagem o que me deixou livre de perguntas por enquanto. Chegamos ao Distrito 4, quando descemos minha mãe nos esperava. Ela acena alegremente para nós e Alice e eu caminhamos até ela.

– Oh, mas ela está enorme. Oi Alice. Venha cá dar um beijo na vovó. – diz ela para Alice.

– Oi vó Lena. – diz Alice quando minha mãe a pega no colo, Alice dá um beijo na bochecha dela e volta para o chão.

– Ela está mais pesada. –comenta minha mãe.

– Nem me diga. – respondo sorrindo.

– Bem, me dê essa mochila que eu carrego. – diz minha mãe pegando uma das mochilas da minha mão e com a outra mão pega a mão de Alice.

Caminhamos por algumas ruelas, enquanto minha mãe tagarelava sobre hospitais, a praia e seus colegas de trabalho. A única coisa que eu fazia era escutar, pois minha cabeça estava em Peeta. Será que ele está bem nesse exato momento? Naquela casa enorme. Sem ouvir meus gritos. Sem ouvir Alice correndo para lá e para cá. No mais profundo silêncio. Eu espero que sim, pois já estou com vontade de voltar para ele. Mas não posso. Precisamos disso, precisamos deste tempo isolados um do outro. Não vai ser para sempre, eu prometi que voltaria. E eu vou voltar.

Finalmente chegamos na casa de minha mãe. Ela é menor que a minha e tem dois andares. É algo bem simples, mas eu simplesmente amei aquela casa. Por algum motivo lembrava a casa em que eu morava na Costura. Entramos e acompanho minha mãe até o quarto que ela preparou para Alice e eu dormirmos.

– Eu adorei sua casa, mãe. – digo sinceramente.

– Jura? Ela é tão simples.

– É por isso que gostei. Gosto do simples.

– Bem, obrigada. Sorte de vocês que há um quarto de hóspedes nesta casa, se não teriam que dormir no sofá. – diz ela rindo.

Eu rio junto.

– Obrigada por deixar a gente passar esse tempo aqui.

– Ah, meu amor, o prazer é meu. Vou deixar você arrumando as suas coisas, porque eu fiz um bolo muito gostoso para essa princesinha. Vamos lá na cozinha comer um pedaço de bolo, Alice?

– Vamoooooos. – vibra Alice aos pulos.

Elas saem do pequeno quarto. Algo bem simples: uma cama encostada na parede, uma armário, uma cômoda e um espelho pendurado na parede. Abro a minha bolsa e viro de cabeça para baixo, sacudindo para que tudo saia de lá de dentro. Começo a dobrar as roupas uma por uma até que noto que trouxe uma camisa de Peeta por engano. Cheiro a camisa branca. O cheiro dele está lá. Aquele inconfundível e viciante cheiro de canela. Ele guardou a roupa no armário sem lavar. Comecei a sentir a falta dele. Seria difícil dormir esta noite. Mas ao menos eu tenho Alice, tenho os olhos azuis de Alice para lembrar dele. Dobrei a camisa e deixei separada, continuei a dobrar o resto das roupas. Depois passei para as roupas de Alice. Dobrei tudo e comecei a coloca-las no armário vazio. Uma pilha de roupas minhas, uma pilha de roupas de Alice e uma única camisa branca lisa de Peeta ao lado. Nunca deixei um armário tão bem organizado. Peeta teria me elogiado se estivesse aqui, e com certeza, faria algum tipo de piadinha. Não faz nem uma hora que cheguei aqui e já estou sentindo sua falta. Acho que não vou conseguir tirar ele da cabeça.

Desço e como um pedaço de bolo que minha mãe fez. Alice sobe para o quarto para brincar com os brinquedos que ela trouxe. Mais tarde fomos ao supermercado comprar algumas coisas que faltavam na casa de minha mãe. Fomos a praia também. Alice adorou, mas eu tinha que ficar sempre de olho nela, para ela não ir muito fundo no mar e as ondas a levarem. No final ela disse que gostava mais da campina do que da praia. Alice voltou no meu colo dormindo. Coloquei ela na cama e voltei para sala onde minha mãe estava assistindo televisão. Quando sentei no sofá ela desligou o aparelho e ficou me encarando.

– Que foi? – perguntei.

– Me conta o que aconteceu. – exigiu ela.

Suspirei e comecei a contar tudo, aliás, contei até demais, coloquei todos os meus sentimentos a mostra e comecei a chorar no meio da conversa.

– Desculpa. – falei enquanto soluçava.

– Ora, não tem que se desculpar. Venha cá. – disse ela batendo no próprio colo. Eu deito minha cabeça no colo de minha mãe e ela começa a fazer um carinho nos meus cabelos. – Não precisa chorar, isso vai passar logo. Seu pai e eu já passamos por isso. É só uma fase, você vai ver. Não chore por isso.

– Mas não estou chorando por isso. – digo com a voz embargada.

– Então qual é o motivo dessas lágrimas?

– Eu estou com saudades dele. Estou sentindo a falta dele. Me sinto vazia. – sussurro.

– É claro. Você está tão longe dele. Você se acostumou com a presença dele, com o contato dele, de ter uma rotina com ele. E de repente, de uma hora pra outra, você decide ir embora. Muda tudo. Eu não queria te dizer isso, mas se afastar não é a solução, Katniss. Isso nunca foi a solução. Sempre que vocês se afastam um do outro acontece alguma coisa errada.

– E por que você não me disse isso pelo telefone?

– Porque você não me ouviria, você nunca ouve ninguém. É cabeça dura igual seu pai, sua teimosa. Você vai voltar para sua casa só porque eu falei que o que você está fazendo é errado?

– Não. Não vou.

– Viu só? Seria perda de tempo. Mas creio que você verá com seus próprios olhos o resultado desta sua decisão.

– Se é o que você diz...

– É o que eu digo.

– Acho que vou dormir, estou cansada. – digo me levantando.

– Tudo bem, eu também já vou. Boa noite querida.

– Boa noite mãe.

Subo ao quarto e visto meu pijama, me deito na cama e espero o sono vir. É claro que não vem. Peeta não está aqui para me abraçar e acariciar meus cabelos até que eu pegue no sono. Ele me deixou mal acostumada, me deixou viciada, e agora estou em abstinência. Estou sem a minha droga que me faz tão bem.

Alice acorda no meio da noite aos gritos. Já sei o que é. Pesadelos. Sei só pelo fato de ela chamar o pai desesperadamente. E é então que me dou conta: Peeta não está aqui. Como vou fazer agora? Ela só se acalma com ele nestas situações. Sentei na cama e coloquei Alice no meu colo, abracei ela e sacudi para frente e para trás. Mas ela continuava a chamar Peeta. Minha mãe entra no quarto preocupada.

– O que ela tem? – pergunta ela.

– Pesadelos. E Peeta é a única pessoa que consegue acalma-la. – respondo.

Passa-se um tempo e Alice continua a gritar, minha mãe também tenta acalma-la de toda forma, mas ela obtém o mesmo resultado que eu. Então eu lembro da camisa com o cheiro de Peeta dentro do armário. Me levanto deixando Alice aos berros na cama e troco minha camisola pela camisa de Peeta. A camisa bate nas minhas coxas. Volto a deitar na cama de barriga para cima. Coloco Alice de bruços, deitada em cima de mim. Com uma mão acaricio a cabeça dela e com a outra suas costas. Peeta faz exatamente isso nestes casos. Peeta costuma inventar alguma história. Algo que ela goste com príncipes, fadas, reinos encantados, etc. Mas como não sou uma pessoa tão criativa, começo a cantar. Alice para de chorar e chamar pelo pai, só é possível ouvir seus soluços.

– Ela se acalmou. – conclui minha mãe.

– Sim, eu trouxe essa camisa de Peeta por engano. Está com o cheiro dele.

Minha mãe fica no quarto até Alice pegar no sono novamente e depois volta para seu quarto. Me viro fazendo Alice sair de cima de mim, mas ela abraça o meu braço. Algo que ela sempre faz com Peeta. Eu durmo desta forma mesmo.

Acordo no outro dia dolorida pela forma como dormi. Alice continua a dormir abraçada no meu braço. Eu tiro seus braços de volta do meu com cuidado para não acorda-la. Vou ao minúsculo banheiro que tem na frente do quarto e faço minha higiene, volto ao quarto troco de roupa e desço até a cozinha. Minha mãe já está acordada tomando café com torradas. Me sirvo de café e mordo um pedaço da torrada.

– Ela dormiu bem? – pergunta ela, se referindo a Alice.

– Sim, quem dormiu mal fui eu. Como Peeta consegue dormir naquela posição?

– Tem coisas que só o pai consegue aguentar. – responde ela rindo.

– É, deve ser. – respondo rindo também.

Alice desce um tempo depois. Ela senta no meu colo olhando para a mesa.

– Estou com fome, mãe. – diz ela tentando alcançar um pedaço de pão.

– Você sempre está com fome. – respondo. – Quer torrada?

– Não, quero pão. – responde ela.

Eu rio enquanto pego um pedaço de pão não torrado e passo manteiga.

– Aqui. – digo colocando o pão na frente dela.

Ela pega o pão dá uma mordida e o deposita na mesa.

– Eu gosto do pão do papai. Esse não é o pão do papai. – reclama ela.

– Aqui não tem o pão do papai. Só tem esse. – respondo.

– Então pede para ele fazer e trazer para nós. – fala Alice novamente.

Eu rio enquanto respondo:

– Não dá. O papai vai fazer uma viagem longa só para trazer um pão.

– Então eu quero achocolatado.

Tiro ela do meu colo para preparar o achocolatado. Ela se senta no colo da avó. Ela toma o achocolatado todo de uma vez. Ajudo minha mãe a lavar a louça, secar e guardar. Mais tarde fazemos o almoço, passamos o dia conversando, vamos a praia e fazemos isso todos os dias. Mas quando passa uma semana recebo uma ligação. Eu estava na cozinha cortando alguns temperos para o almoço quando o telefone toca, minha mãe larga as panelas e sai da cozinha para atender o aparelho. Ela volta pouco tempo depois.

– É o Haymitch, ele quer falar com você. – me informa ela.

Caminho até a sala e me sento no sofá com o telefone em mãos.

– Oi Haymitch. – falo.

– Oi, você precisa voltar. Você precisa voltar imediatamente. – diz ele apressado.

– Por que? O que houve?

– Peeta está maluco sem você. Ele está fazendo pães a moda “La Loka”. A cozinha está uma desordem que não é possível nem entrar nela. Ele dorme mal. Acorda aos gritos no meio da noite com pesadelos. E só nesta semana ele teve quatro flashbacks.

– QUATRO??? – pergunto assustada.

– Sim, e ele tem crises de choro e fica murmurando alguma coisa que eu não consigo saber o que é. Daqui a pouco ele vai cortar os próprios pulsos. Eu sei que você está tentando arrumar as coisas entre vocês, mas não precisa ser desse jeito. Ele está surtando. Você precisa voltar agora.

– Ok, estou a caminho. Tchau.

– Tchau. Vou te esperar na estação de trem.

Desligo o telefone e vou para a cozinha.

– Mãe, eu preciso voltar, preciso voltar agora. O Peeta está surtando lá em casa. Eu preciso voltar antes que ele faça alguma besteira.

– Eu falei que ir embora não era a solução. Vamos, vou te ajudar a arrumar as coisas. – diz ela desligando o fogão.

Subimos e enfiamos tudo dentro das mochilas e da bolsa. Caminhamos até a estação de trem, compro as passagens e me despeço rapidamente da minha mãe.

– Obrigada mãe, obrigada por tudo. – digo a abraçando.

– De nada, querida. Sinta-se livre para voltarem quando quiserem. Mas desta vez o Peeta vem junto.

Eu rio antes de responder:

– Pode deixar, trago ele nem que seja amarrado. Alice, vem se despedir da vovó.

Alice corre até nós e pula no colo da minha mãe. Elas se despedem e eu entro no trem. Mas como sempre acontece tudo de errado comigo, o trem estragou e levou horas para ser arrumado. Fiquei um tempão naquela estação até finalmente mandarem os passageiros voltarem para dentro do trem. O tempo de manutenção do trem mais o tempo de ir do Distrito 4 ao Distrito 12 fez com que Alice e eu chegássemos de noite em casa. Haymitch parece ter desistido de nos esperar na estação, pois ela está completamente vazia quando descemos do trem. Alice está dormindo no meu colo, isso faz com que eu demore um pouco mais para chegar em casa. Quando chego levo Alice direto para o quarto dela e desço chamando por Peeta. Adentro a cozinha e levo um susto: estava tudo na maior imundície, farinha espalhada pelo chão, panelas amassadas na pia, louça quebrada e muitas cestas de pães espalhadas pelos balcões e pela mesa. Peeta está sentado na mesa, a cabeça apoiada nos braços que estavam, por sua vez, apoiados na mesa. Chego e o sacudo.

– Peeta. – sussurro. – Você tem que sair daqui. Vá para cama.

– Estou indo. – murmura ele em algum estado de semi – inconsciência.

Ele volta a roncar.

– Acorda Peeta, vá para cama. – falo o sacudindo de novo.

Ele levanta ainda com os olhos fechados e caminha para fora da cozinha.

– Você me perturba até em meus sonhos. – murmura ele sorrindo tentando subir as escadas e caindo em vários degraus.

Consigo fazer ele subir e chegar ao quarto, ele se joga na cama e começa a roncar de novo.

Minha mãe estava certa: ir embora nunca foi a solução. Olha o que houve com Peeta. Ele parece um zumbi ambulante. Não consegue nem diferenciar a realidade da não realidade. Nem notou que eu estava realmente em casa, achou que eu fizesse parte de um sonho. Liguei o abajur e esvaziei a bolsa e a mochila com roupas, dobrei todas e guardei em seus lugares, a camisa de Peeta coloquei na cesta de roupa suja. Alice babou nela quando dormiu em cima de mim. Aliás, Peeta também devia ir para a cesta de roupa suja. Qual será a última vez que ele tomou um banho? Tirei os brinquedos da outra mochila e guardei na caixas de brinquedos que há espalhadas pelo quarto de Alice. Vou ter de doar muitos desses brinquedos. Há mais do que necessário. Voltei para o quarto e tampei Peeta com um cobertor. Um de seus braços ficou pendurado para fora da cama e eu o empurrei para dentro. Quando fiz isso, alguma coisa caiu de sua mão para o chão. Ajuntei e notei que era o medalhão, ele estava aberto. Fechei o medalhão e coloquei na cômoda. Coloquei o relógio-despertador que comprei no Distrito 4 na cômoda também, torcendo para que Alice não quebrasse esse.

Desci para arrumar a cozinha. Estava numa completa bagunça. Depois de algumas horas consegui terminar. Voltei para o quarto, tomei um banho e dormi.

Acordei no outro dia e fiquei feliz ao ver Peeta dormindo ao meu lado. Decidi deixar ele dormir. Desci para preparar o café-da-manhã. Bem, pelo menos pão não iria faltar. Ouço o barulho da porta e Haymitch adentra a cozinha distraído enquanto fala:

– Acorda Peeta, mais um dia chegou, e garanto que você não vai querer aparecer neste estado quando... Ah! Katniss, você voltou.

– Oi.

– Por que demorou tanto ontem? Fiquei horas naquela estação e nada de vocês chegarem.

– É que a porcaria do trem estragou.

Haymitch riu.

– Parece que tudo que tiver de errado no mundo acontece com você.

– É, parece que sim. O que você costuma fazer com esses pães? – digo apontando para as cestas cheias de pães que organizei no balcão.

– Eu pego alguns para mim e o resto saio distribuindo por aí ou levo para a padaria.

– E quem está cuidando da padaria?

– Eu entreguei a chave para o Diego. Não é pra ele que vocês entregam a chave quando não podem estar na padaria?

– É sim. Obrigada Haymitch. Obrigada por tudo. – digo me aproximando dele e o abraçando.

– Tudo bem, só não faça mais isso com ele. Eu jurei que ele iria se matar.

– Pode deixar. De agora em diante nada de fugir dos problemas.

– Isso mesmo, até porque isso só cria mais problemas. Bem, já que você está aqui vou para casa. Tchau.

– Tchau Haymitch.

Tomo meu café, lavo a louça e fico na cozinha esperando ou Peeta ou Alice acordarem. Peeta acorda primeiro. Ele adentra a cozinha coçando a cabeça e com os ombros caídos. Parece levar um choque ao me ver encostada na pia. Ele fica um tempo me observando.

– HAYMITCH. – grita ele como se Haymitch estivesse por perto. – ESTOU TENDO ALUCINAÇÕES. ESTOU VENDO A KATNISS NA COZINHA.

Eu começo a rir antes de me aproximar dele e o beijar. Ele corresponde ao beijo.

– Você não está tendo uma alucinação, eu realmente estou aqui, Peeta. – digo quando separamos nossos lábios.

– Você não é coisa da minha cabeça? – pergunta ele desconfiado.

– O beijo pareceu ser imaginário? – perguntei de volta.

– Nem um pouco. – sussurra ele. – Você realmente está aqui. Você voltou. AI MEU DEUS, VOCÊ VOLTOU PARA CASA. – grita ele me abraçando e fazendo eu caminhar para atrás.

– Sim, eu voltei. Eu estou aqui.

Ele me solta, segura o meu rosto entre suas mãos e olha diretamente em meus olhos.

– Escuta aqui, enquanto eu estiver vivo, você não vai sair deste Distrito sozinha. Nunca mais. Pouco me importa se você estiver irritada comigo ou qualquer coisa parecida. Eu vou com você, você querendo ou não, eu vou com você. Nunca mais quero ter que acordar sozinho naquela cama grande. Será que eu fui claro o suficiente?

– Foi, foi claro igual aos seus olhos. – digo sorrindo, mesmo sabendo que ele está meio que me xingando eu sorrio.

Ele me abraça mais uma vez com força.

– Ótimo, porque eu pensei que iria morrer se ficasse mais um dia sem você. Você não faz ideia da falta que eu senti de você. Eu te amo.

– Eu também te amo. Mas tem como você me largar agora?

– O que? – pergunta ele confuso dando um passo para trás.

– Eu sei que nós estamos tendo um lindo momento de reconciliação agora, mas... Poxa vida, Peeta. Quando foi que você tomou banho pela última vez? – pergunto torcendo o nariz.

Peeta solta uma gargalhada alta.

– Acho que o último banho que tomei foi o que você me deu a uma semana atrás.

– Então é melhor subir, tomar um banho e fazer essa barba. A menos que queira que Alice veja o pai dela como um mendigo.

– Tudo bem, mas não pense muito enquanto não estou aqui. Da última vez você teve a brilhante ideia de nós nos separarmos por um tempo.

– Tudo bem, não vou sair daqui. Agora vá logo.

Peeta some da cozinha e eu fico mais uma vez sozinha. Sento-me a mesa pensando no que iria fazer hoje. Não havia pensado em nada quando Alice entra na cozinha.

– Oi mamãe. – diz ela sentando no meu lado.

– Oi. Hoje tem o pão do papai, você quer? – pergunto a ela.

– Quero sim. – diz ela mais animada. Me levanto e corto um dos pães, passo manteiga e um pouco de geleia e entrego para Alice. Ela dá uma mordida no pão antes de afirmar – Hmmm, pão do papai.

– O pão do papai é o melhor, não é?

– O melhor do mundo tooooodinho. – conclui Alice abrindo os braços para mostrar o tamanho do mundo.

Peeta entra na cozinha logo em seguida, penteando os cabelos com as mãos.

– Voltei. – diz ele parecendo bem mais com o Peeta que conheço.

– PAPAI. – grita Alice pulando da cadeira e correndo até Peeta.

Peeta a pega e a atira no alto.

– Ah, minha pequena Sunshine. Que saudades eu senti de você. – diz ele.

– Eu entrei no mar, papai. – comenta Alice.

– É mesmo? E você gostou? – pergunta Peeta sentando em uma cadeira com Alice ainda no colo.

– Gostei muito. Podemos visitar a vovó Lena de novo? Por favor. A vovó Lena é tão legal.

– Claro, um dia vamos nós três visitar a vovó Lena. – respondi.

– Que pena que você não pode ir, papai. Você teve que ficar para cuidar da padaria, não é?

Tranquei minha respiração esperando a resposta de Peeta. Por favor Peeta, diga que sim. Pelo amor de Deus. Peeta olha para mim confuso, mas parece notar e pisca um dos olhos para enquanto sorri.

– Sim. – solto a respiração que estava segurando. – Tive que ficar por causa da padaria. Mas na próxima a padaria não vai me impedir. – completa ele me olhando.

Tenho certeza que ao invés de “padaria” era para estar o meu nome naquela frase. Não dei importância. Acho que mereço esse pequeno castigo.

– Eu senti falta do seu pão. – diz Alice.

Peeta solta uma gargalhada.

– Ah é? Sentiu falta do meu pão?

– Sim, é o melhor pão do mundo tooooodinho. – fala Alice abrindo os braços.

– E você é a melhor filha do mundo tooooodinho. – Peeta a imita abrindo os braços também. – Peeta olha para mim – Vou ter de passar na padaria. Vocês querem ir comigo?

– O que você acha, Alice? – pergunto. – Vamos acompanhar papai até a padaria?

– Vamoooooos. – responde Alice pulando do colo de Peeta.

– Então vá...

–... escovar os dentes. Eu sei. Estou indo. – me interrompe Alice, correndo para afora da cozinha.

Caminho até Peeta parando atrás dele, me curvando e o abraçando, passando as mãos pela sua barriga. Peeta me puxa para seu colo.

– Sua vez de ganhar o colinho do papai. – diz ele me abraçando.

– Eu tenho direito ao colinho do papai? – pergunto rindo.

– Claro, você tem tanto direito quanto Alice. – responde ele sorrindo maliciosamente.

Me aproximo e sussurro em seu ouvido.

– Isso é o que veremos mais tarde, meu garoto com o pão.

– Espero que o tempo voe então. – sussurra ele de volta.

– Não se preocupe, mais tarde o tempo vai voar para nós dois. – falo de volta.

– Eu acho melhor você sair do meu colo antes que eu adiante seus planos de hoje a noite. – diz ele.

Me levanto e volto a abraçar seu pescoço por traz. Ele coloca suas mãos por cima dos meus braços.

– Sem brigas? – pergunto, descansando a cabeça em seu ombro.

– Sem brigas. – responde ele massageando meus braços.

Alice volta correndo.

– Vamos, vamos, vamos. – fala ela pulando e puxando nossas mãos.

– Tudo bem, nós já vamos. Mas primeiro vamos colocar esse pães no carro. – responde Peeta, se levantando e pegando duas cestas de pães.

– Vamos de carro? – pergunta Alice.

– Sim, vamos de carro Maria Gasolina. – responde Peeta passando por ela.

Terminamos de colocar os pães no carro e partimos em rumo a padaria. Assim que estacionamos o carro na frente da propriedade, Alice pula do carro e corre para dentro da padaria. Peeta e eu entramos logo após carregando as cestas de pães.

– Opa, estou vendo que o patrãozinho está de bem com a vida de novo. – comenta Patrick saindo da cozinha.

Alice corre até ele assim que ouve sua voz.

– PAT!!!! – grita Alice.

Patrick a pega no colo e a ergue para cima.

– Ali, sua tinhosa. Por onde você andou nestes dias? Senti sua falta aqui. – fala Patrick.

– Eu fui ver o mar, Pat. – responde Alice.

– Jura? Você viu o mar? – pergunta Patrick entrando na conversa da pequena. – E ele é grande como todo mundo diz?

– Sim, é muito grande. Ele é desse tamanhão assim. – fala Alice abrindo os braços.

– Uau, mas é gigante.

– Me dá um biscoito, Pat? – pergunta Alice.

– Não sei não. Você nem me deu um beijo hoje. – fala Patrick com a voz dengosa e fazendo um biquinho.

Alice lhe dá um beijo na bochecha.

– Deu. Agora quero o meu biscoito. – exige Alice.

– Olha só, mas é mandona igual o pai. Essa aqui vai dar uma boa patroa. – fala Patrick.

– Tá, mas dê logo o biscoito pra ela e me ajuda com esses pães. – reclama Peeta.

Nem notei que só havia ajudado ele a trazer uma cesta de pão, fiquei ali olhando a conversa entre Patrick e Alice.

Patrick coloca Alice sentada no balcão, pega o pote dos biscoitos, desenrosca a tampa e vira o pote na direção de Alice. Alice pega dois biscoitos.

– Ei, você pegou dois biscoitos. – reclama Patrick fechando o pote novamente.

– Um é para a mamãe. – justifica Alice.

Patrick a coloca no chão e vai ajudar Peeta com aqueles pães. Alice corre até mim e me alcança o biscoito. Eu pego.

– Obrigada. – digo mordendo o biscoito.

– De nada. – responde ela mordendo seu biscoito.

Algumas meninas entram na padaria. Quando veem Alice correm até ela.

– Oi Alice. – dizem elas.

– Oi. – fala Alice.

– São suas amigas Alice? – pergunto, pois lembro de ter visto algumas no parquinho.

– Sim. – responde Alice.

– Você não quer brincar com nós lá fora? – pergunta uma delas para Alice.

– Eu posso mamãe? – me pergunta Alice.

– Lá fora aonde? – pergunto para a garotinha.

A menina correu até a janela e apontou para um pequeno grupo de crianças que brincavam.

– Lá. – disse a garotinha.

– E qual é o seu nome? – perguntei.

– Melanie. – respondeu a pequena.

– Você tem um lindo nome, Melanie.

– Obrigada. – respondeu a menina meio encabulada.

– Tudo bem, Alice. Pode ir. –falo olhando para Alice.

Alice e as garotas saem correndo porta a fora. Eu fico na janela observando ela correr com as outras crianças. Peeta volta da cozinha e para na minha frente.

– Nossa, acho que a padaria vai poder ficar sem assar pães por várias semanas. Onde está Alice? – pergunta ele.

– Eu deixei ela brincar com aquelas crianças ali na rua. – respondo apontando para as crianças.

– Ahh. – ele diz, Brend ia passar por ele neste instante e Peeta o puxa. – Vá lá na rua, onde estão aquelas crianças e fique de olho em Alice pra mim.

Brend não pergunta nada, apenas obedece.

– Pra que isso? – pergunto confusa.

– Pro caso de algum engraçadinho querer se passar com a minha filha. – responde Peeta olhando para as crianças.

– Como assim? Peeta, são apenas crianças. – digo surpresa.

– Sim, são apenas crianças. Eu também era uma criança. Eu também era um menino. E sabia muitas diferenças entre meninos e meninas.

– Pelo amor de Deus. – digo saindo de perto da janela e indo atrás do balcão para comer outro biscoito.

– Todo cuidado é pouco. – diz ele me seguindo. – Ainda mais quando se tem uma filha mulher.

– Uma filha mulher? Você disse mulher? Alice só tem 2 anos.

– Por enquanto. – retruca.

Eu não estava irritada. Só estava achando irônico Peeta se preocupar com isso tão cedo. Eu sei que um dia ela vai vir pra mim e dizer: “Mãe, estou apaixonada por um garoto.” Ou talvez ela nem me diga, esconda seus sentimentos da mesma forma que eu fazia com minha mãe. Mas não me preocupo com isso agora.

Estava tudo bem, tirando a ridícula preocupação de Peeta, até que Brend entra na padaria com Alice no colo e chorando.

– O que houve? – pergunto caminhando até eles.

– Ela tropeçou e caiu. – responde Brend.

– Ora, não foi nada. – digo pegando ela no colo e a abraçando.

Eu a coloco sentada no balcão e noto que ela ralou o joelho.

– Está doendo. – choraminga ela.

– Vai ficar tudo bem. Vamos fazer isso parar de doer. – me viro para Peeta. – Me consegue gelo enrolado em algum pano?

– Claro. Já volto.

Ele volta logo em seguida com o que eu pedi. Coloco o gelo no joelho de Alice e ela parece ficar mais tranquila.

– Eu vou morrer? – pergunta Alice.

– Não. – responde Peeta rindo. – Você só arranhou o joelho, já aconteceu isso comigo um milhão de vezes e eu ainda estou vivo.

– É por isso que você só tem uma perna de verdade, papai?

Peeta e eu nos entreolhamos sem saber o que responder.

– Não, não é por isso Alice. – responde Peeta.

– Então é por que?

– Quando você crescer te contamos, ok? – respondo antes de Peeta.

– Ok.

Ficamos mais algum tempo na padaria e fomos embora de noite. Alice dormiu no carro. Quando chegamos Peeta a levou para o quarto e eu fui para a cozinha beber um copo de água. Não notei quando Peeta entrou na cozinha. Só senti seus braços ao redor de mim, me abraçando por trás. Larguei o copo dentro da pia.

– Acho que você tem que cumprir algo que me prometeu mais cedo. – sussurra ele no meu ouvido.

Eu me viro de frente para ele antes de responder.

– Eu tenho? Não me lembro de ter prometido nada a você. – respondo fazendo-me de boba.

– Então deixa comigo. Vou fazer você lembrar. – diz ele me puxando e me beijando.

Ele não interrompeu o beijo, apenas começou a me puxar para fora da cozinha. Seus lábios saíram dos meus e começaram a percorrer meu pescoço. Ele tropeça no primeiro degrau da escada e quase cai. Eu rio.

– Cuidado. – digo a ele.

Fomos subindo enquanto Peeta continuava a espalhar seus beijos pelo meu pescoço. Ele me abraça com força o tempo todo.

– Estou tão feliz de você estar aqui de novo. – diz ele entre os beijos.

– É, estou sentindo a sua “felicidade”. – respondo rindo.

Troco de lugar com Peeta, para poder ficar do tamanho dele. Subo um degrau a mais que ele. Desta vez eu começo a lhe distribuir beijos. Mas somos interrompidos por uma vozinha bastante conhecida na beirada da escada.

– Papai. – chama Alice.

Peeta leva um susto e se vira de costas.

– Droga. – balbucia ele. – O que foi, filha?

– Não consigo dormir. Pode contar uma história para eu dormir?

– Claro, posso sim. – responde Peeta sem se virar para ela.

Eu seguro o riso.

– Então vamos, papai. – diz Alice começando a descer devagar os degraus.

– NÃO!!! – grita Peeta. Alice se assusta e para no terceiro degrau. – É que primeiro eu preciso... Preciso... Preciso...

– Papai precisa ir ao banheiro. – eu falo soltando a risada que eu estava prendendo. Pego Alice no colo e caminho para seu quarto. – Vamos esperar ele na cama.

– VOCÊ RI PORQUE NÃO É HOMEM. – grita Peeta para mim quando entro no quarto.

Coloco Alice na cama e esperamos Peeta. Me sento na borda da cama. Peeta chega algum tempo depois.

– Deu papai? – pergunta Alice.

Peeta suspira antes de responder.

– Deu. – ele deita na cama com Alice. – Que história você quer ouvir hoje?

– Hmm, eu quero aquele da princesa com os anões.

– Branca de Neve?

– Essa!

Peeta contou a história resumidamente. Alice dormiu novamente. Peeta saiu lentamente da cama para não acorda-la. Saímos e fechamos a porta nos dirigindo até nosso quarto. Fechamos a porta do nosso quarto.

– Foi por pouco. – diz Peeta.

– Ninguém mandou você ser apressadinho. – respondo a ele.

– Você ainda está a fim?

– Ai, não sei. Estou meio cansada. – digo me virando, mas Peeta puxa meu braço e me beija.

– Sua boba. – diz ele quando separamos nosso lábios.

– Idiota.

– Estúpida.

– Burro.

– Linda.

– Babaca.

– Eu te amo.

– Eu também.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês me odeiem um pouco menos agora. Ainda mais com esse finalzinho fofinho. Como postei hoje, não haverá capítulo neste sábado. Então, até o próximo. Não esqueçam de comentar. Beijocas da Tia Rafú para vocês!!! ;)



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