Cafés, Canela e Primeiras impressões escrita por Dbrh


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521966/chapter/1

–Presta atenção, Merda!- Grita uma de minhas amigas na mesa do café da livraria . As risadas entre os romances comprados a pouco me fazem recordar a semana anterior.

Na semana anterior parada em frente a uma vitrine encontro-me encarando o reflexo, quase desconhecido, que se projeta no vidro. Atrás de mim, o tilintar dos sapatos das moças no chão plano do shopping invade meus ouvidos, . -Deus, que barulho irritante.

Penso irritada no barulho dos sapatos, mas dentro da loja de livros ainda com o perfume de novos, uma cena me desconcentra de um quase monólogo existencial. Uma moça de cabelos revoltos, rompe o silêncio com sua voz grave e aos berros com um rapazinho franzino, ela grita; -Pensas que sairá com os livros sem pagar? O rapaz envergonhado, não movimenta um músculo se quer.

Do outro lado da livraria com uma xícara de café e alguns livros, movimenta-se um senhor que se aproxima na tentativa de capturar melhor o motivo de tamanho alvoroço entre o rapaz e a funcionaria. Então se aproximando ele pergunta: -Senhorita, o que se passa aqui? - Senhor, não se preocupe. É somente esse rapazinho que tenta me levar esses livros sem pagar. Meu chefe me matará se eu deixá-lo levar!

O senhor vai até o rapaz e tira de suas mãos um livro de Poe, do seu rosto brota um sorriso melancólico que me faz simpatizar com o rapaz ou será com o senhor, não sei ao certo. Então com uma voz quase roca dirige-se a funcionária: - Quanto custa este livro? O rapaz apressado atravessou a livraria atrás do senhor até a caixa registradora, onde muito tímido agradeceu pelo seu gesto que irá lembrar a cada página virada de seu novo livro. Então,o senhor fitou triste o garoto e por fim falou: -Invejo a juventude que não posso mais ter e nem apreciar.

Descobri dias depois que aquele era o livro favorito de sua esposa. Em sua juventude passava horas a reler os poemas para ela, que já sabia de cor cada estrofe. Mas que nos últimos meses de sua velhice, a sua senhora e amada já não era capaz de sequer lembrar o rosto, já coberto pelas rugas, do rapaz que lhe enchia suas tardes de melodiosas poesias.


Ela grita novamente, minha amiga, na tentativa de prender minha atenção, não consegue. Meus pensamentos estão atados a imagem da semana anterior.

Já se passaram meses desde a última vez que fui ao café- É impressionante como os cheiros dos grãos moídos conseguem tirar minha atenção das páginas de meu diário ou dos capítulos de microbiologia.

–Foco Eliza, Foco!

Antes mesmo de perceber já estou com uma xícara de café e um pedaço generoso de bolo de banana com canela, as vantagens de freqüentar sempre os mesmos lugares; é fazer amizade com os funcionários. Dona Carla, a confeiteira, têm mãos de fada e a muito já me conhece e sempre se esforça em colocar o pedaço mais generoso de bolo em meu prato.

Lembro do dia em que fiz amizade com Dona Carla; Era dia de provas finais e todos estavam agitados e irritados na sala de aula, menos Júlia. Após o teste Júlia decidiu que iríamos a um maldito café que abrira em uma livraria no shopping da cidade. Ela gostaria de se encontrar com uns rapazes com quem ela havia feito amizade em uma dessas festas ou seria mais uma de suas escapulidas amorosas. Bom, nunca consegui acompanhar o ritmo da vida dela nesses assuntos.

Nunca fiz algo tão contrariada. Ir a um café encontrar pessoas que eu nem conheço depois de horas de prova, definitivamente, não estava entre as coisas que me animavam naquele momento. Eu, simplesmente, odeio quando ela me arrasta para essas situações.

Um dia conversando com um grupo de colegas ela falou despreocupada–É simples; Eliza parece que tem autismo, nunca fala, não sai do maldito laboratório e quando sai quer ficar entre aqueles livros mofados, parece que tem medo de pessoas. Pergunto-me qual o motivo de sermos amigas. - Ela rindo concluiu.

Voltando ao dia que conheci Dona Carla; Depois de 40 minutos e uma torta de suborno, aceitei acompanhá-la em mais uma empreitada que sabia que acabaria comigo voltando de ônibus para casa sem a carona de Júlia que sempre achava companhia melhor que a minha para voltar. Lá havia um grupo de pessoas falando entre xícaras e sacolas de lojas de roupa que eu nem sabia que existiam. Júlia depois de alguns minutos já tinha esquecido que eu estava ali, ela conversava com “ a galera” como chama-os. Eu cansei de só observá-los e fui em busca de meu Bolo de banana e canela, ele pode ser um objeto de desejo infantil, mas é delicioso. Quando cheguei para fazer o pedido um homem com cara amarrada estava a gritar com uma senhora que mal conseguia olhar para as próprias mãos. Senti meu rosto ficando cada vez mais quente e quando dei por mim estava na briga, xingava o homem descontando toda minha raiva e frustrações nele que de tão surpreso com a figura diminuta e de cachos desarrumados saiu as pressas. Desde então frequento o café com os mimos e privilégios de Dona Carla.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, é a primeira vez que eu escrevo e gostaria de saber o que acham?