Licantropia: A Reserva escrita por Paulo Carvalho


Capítulo 22
Capitulo 21: O milagre da curiosidade.


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal tudo bom?
Finalmente consegui colocar capítulos a cada uma semana como prometido, haha.
Espero que gostem e boa leitura!



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O calor fazia com que o suor escorresse pelas têmporas de Sam de forma lenta e incômoda. Suspirando pesadamente, ela empurrou a massa de cabelos loiros para o lado e desejou, talvez pela quinta vez naquele dia, que não tivesse esquecido a presilha que ganhara a algumas semanas. A lembrança da presilha lhe fez sorrir enquanto ela atiçava as chamas da fornalha improvisada com mais madeira e agitava as folhas largas que formavam o teto do defumador para dispersar a fumaça no interior da cabana.

Quando decidiu que havia combustível o suficiente para que a fogueira pudesse se manter sozinha, Sam atravessou o quadrado fechado com palha seca e folhas entrelaçadas que formava a porta do defumador. Do lado de fora, quatro licantropos cortavam mais pedaços de carne de um puma. Sam ainda não havia superado toda a sensação estranha que invadia suas veias ao ver o felino aberto e dilacerado. Mantendo a expressão impassível, Samantha sentou-se no banco ao lado de Elliot e Payne.

Elliot devia ter 15 ou 16 anos. Era baixo para idade, mas ainda assim tinha mais músculos do que qualquer adolescente de sua faixa etária poderia desejar. Nascera licantropo, Sam descobrira, e seus pais haviam sido mortos quando pequeno. A Patrulha tentara levá-lo para a Reserva mais próxima, mas Raniah o salvara. Os cabelos loiros contrastavam com os olhos negros como carvão, astutos e atentos. Sam tinha quase certeza que Caly gostava dele.

Payne era uma mulher de meia-idade que parecia capaz de reclamar sobre praticamente qualquer coisa: do tempo até da forma como Sam andava. Mesmo sendo, provavelmente, a mulher mais velha da alcateia, ela ainda parecia em forma e capaz de se defender de uma frota de patrulheiros. Isso também é efeito do vírus? Os cabelos castanhos eram de um tom fosco, mas ainda assim, bonito. Os olhos verdes eram cheios de uma inteligência que deixavam Sam alerta e tensa.

–--Como Raniah pode colocar alguém da minha idade para trabalhar aqui? Esse lugar parece a boca de um dragão! Dizer que não me quer mais aqui é uma forma mais simples de me expulsar! --- Payne reclamou como habitualmente.

Sam apenas sorriu e puxou os cabelos para o alto agradecendo a brisa fria que fazia com que o suor evaporasse rapidamente de sua pele. Ela respirou profundamente e ergueu a cabeça na direção do Lua parcialmente escondida pela copa das árvores. Payne continuava a reclamar de fatos aleatórios em sucessão, mas Sam não se importava. Até gostava, na verdade.

Fazia quase três semanas desde que as reformas na mansão haviam terminado e haviam-na remanejado para o Defumador. Fora o próprio Raniah que oferecera a opção junto com várias outras. Sam escolhera a pior delas. A que necessitasse de mais esforço e que, consequentemente, tivesse o menor número de voluntários. Raniah erguera uma sobrancelha para sua escolha, mas Samantha apenas sorrira e se recusara a revelar o porquê.

Serena descobrira o motivo quase imediatamente depois e concordara com ela. Desde o dia em que declarara que gostava dela, a licantropa visitava Samantha frequentemente apenas para conversar, como se fossem grandes amigas. Depois de um tempo, as visitas começaram a fazer parte do cotidiano da patrulheira e Sam passou a apreciar a presença de espírito da mulher. Serena era inteligente, espirituosa e sarcástica de uma forma divertida como Soren.

–--Ran me contou que você escolher o Defumador.

–--Achei que iria ser melhor aproveitada lá.

–--É claro. ---Serena piscou. ---Conquistar o inimigo aos poucos. Isso é inteligente, Sam. Esse rosto de garota inocente não condiz com a realidade. Tome. ---ela estendeu uma presilha de metal pintada de azul.

–--O que é isso? ---Sam perguntou.

–--Você vai precisar para onde está indo. ---ela respondeu simplesmente.

E era verdade. No Defumador, o calor era uma presença constante e aterradora. As chamas lambiam o rosto de Sam sempre que ela se aproximava demais dos buracos cavados na terra que queimavam a maior parte da noite e a fumaça densa, pesada e ocre grudava em sua pele em cabelos. Samantha só conseguia retirar o odor desagradável depois de quase quarenta minutos tomando banho.

Muitas coisas haviam mudado desde sua mudança de trabalho. Sam ainda dormia na mansão, mas esta agora não ficava em silêncio na maior parte do tempo. Cerca de 25 licantropos ocupavam os quartos da mansão antes vazios. Contando com os que já ocupavam o espaço, eram ao todo 34 licantropos ocupando o andar de Samantha. Nenhum deles havia tentado lhe matar no meio da noite ou sequer lançaram-lhe olhares ameaçadores. Alguns mantinham uma distância saudável, mas a patrulheira não se importava. Para sua surpresa, a maioria lhe tratava bem ou, ao menos, educadamente. Alguns como Payne e Elliot haviam até se tornado seus amigos. Secretamente, ela matinha uma lista de pessoas que, aparentemente, gostavam dela.

Ela também tinha livre passagem pela alcateia, embora quase nunca fosse sozinha. Serena a acompanhava sempre que podia e a presença de Caly era tão costumeira quanto sua sombra. Sebastian fazia todas as refeições na mesma mesa que Sam e depois de um tempo, outros se juntaram a eles.

Sam descobrira que podia até mesmo sair da alcateia se estivesse acompanhada. Ninguém era louco de deixá-la ir livremente, mas se Serena ou até mesmo Caly estivesse do seu lado, os seguranças da fronteira deixavam-na passar com apenas um olhar intrigado. Era com uma delas que Sam ia todos os dias até a cachoeira que Soren havia lhe levado para tomar banho. Com o passar do tempo, Sam começava a sentir-se parte da alcateia. Exatamente como Serena havia previsto. Era uma sensação nova e estranha, mas não completamente ruim.

Samantha não tinha relógio. Era uma coisa rara em um acampamento como aquele, mas Elliot havia lhe ensinado como prever as horas através da observação. As cigarras já haviam cantado e a Lua estava quase em seu ponto máximo, um crescente sorridente e prateado cercado por nuvens fantasmagóricas. Devem ser oito ou nove horas, decidiu por fim.

Faltava pouco para o fim de seu trabalho. Ela descobrira alguns dias depois de iniciar no novo ofício por que ninguém queria mexer com o Defumador. Não era pela força muscular necessária para erguer as peças de carne e prendê-las nos ganchos de metal improvisado. Nem as horas de movimentos repetitivos agitando folhas enormes para alimentar as fogueiras construídas no chão. A pior parte eram as chamas. Elas se erguiam bons 30 ou 40 centímetros acima da madeira usada e o calor inundava o espaço apertado de uma forma intensa e sufocante.

Nos primeiros dias, Samantha quase desmaiara sob o calor das chamas e tivera que fazer meia dúzia de pausas durante as poucas horas de trabalho. Isso gerou reclamações por parte de seus colegas de trabalho, inclusive Payne, a mais entusiástica dos incomodados. Porém, com o passar do tempo e com as dicas de Serena, Sam passou a se acostumar com o calor. Ela ainda sentia que estava sendo queimada viva dentro da cabana, mas prendia o cabelo o mais alto que podia e usava um pano molhado sobre a nuca (que evaporava em menos de uma hora, mas ainda assim ajudava bastante), a camisa era sempre puxada por cima do nariz, impedindo que a fumaça densa e ocre queimasse e irritasse suas narinas. Ela até tivera dor de garganta nos primeiros dias. A única parte que não havia como melhorar eram os olhos. Eles queimavam, pinicavam e ardiam por todo o tempo que Samantha passava dentro do Defumador, mas a cada dia, era mais fácil suportar.

O mais impressionante, entretanto, e era também a razão para que ela continuasse naquele inferno cheio de fumaça, era a amizade que ela havia atraído. Talvez não amizade, propriamente dita, mas algo semelhante a uma relação diplomática com a maior parte da alcateia. No início, ela trabalhava exclusivamente com Elliot, Payne, Audra e Marshal.

Audra era uma jovem com a mesma idade de Sam, aproximadamente. Calada e simpática, ela se limitava a sorrir quando necessário e ajudá-la com as partes mais complexas do Defumador; quando, por exemplo, ela tinha de abrir a parte superior da cabana para dispersar a fumaça e ao mesmo tempo alimentar o fogo para que este não se extinguisse. Era uma menina bonita de olhos castanhos escuros e pele queimada de sol. Era magra como Sam, mas ainda assim, mantinha aquele mesmo aspecto de corredora olímpica que todos os licantropos pareciam exibir. Marshal devia ter 30 ou 40 anos, com uma careca brilhante e uma expressão que parecia eternamente emburrada. Ele se recusava a falar com Sam e lhe lançava olhares cheios de irritação sempre que ela cometia algum erro. Samantha tinha certeza de que se pudesse, ele próprio a expulsaria do acampamento. Essa certeza se manteve até que ela começou a contar suas histórias.

Começou em um dia qualquer, um pouco mais fresco que a maioria. Elliot cujo único contato com a Reserva fora quando os patrulheiros haviam tentado lhe levar até uma delas, parecia mais curioso do que temeroso em relação a Sam. No ínicio, ele tinha medo de falar qualquer coisa e evitava olhares, mas com o passar do tempo, o licantropo começou a fazer perguntar inocentes mais cheias de curiosidade, como: Quantas pessoas tem na Reserva? Todas elas são Patrulheiros? Eles conseguem caçar para tanta gente assim? O que são aquelas coisas no céu?

Sam respondia pacientemente todas elas e algumas vezes contava algo que não lhe era perguntado. A primeira vez que contou verdadeiramente uma história, foi durante uma das pausas do lado de fora da cabana, esperando até que a carne de puma terminasse de secar. Era um processo que demorava algumas horas e então Samantha começou a contar a falar de sua primeira luta de simulação na Reserva para um entediado Elliot que rapidamente se levantou do chão e passou a escutar com atenção. Não era exatamente uma grande história. Era divertida de certa forma, pois foi a primeira e última vez que Sam provocara algum Puro da Reserva. O episódio lhe valera uma fratura nas costelas. Ele mereceu de qualquer forma. Perto do clímax do confronto, Sam notou que não apenas Elliot, mas Payne, Audra e inclusive Marshal, embora este tentasse disfarçar, ouviam a história com diferentes olhares: Elliot fascinado, Payne complascente, Audra entusiasmada e Marshal mal-humorado. Quando Sam finalizou, Marshal se pronunciou:

–--Uma patrulheira mentirosa, é isso que você é. Ainda vai acabar nos matando...---resmungou e entrou na cabana para verificar algo que certamente ainda não estava pronto.

–--Não ligue para ele. ---Audra falou pela primeira vez em dias. ---Ele só é muito desconfiado, por natureza. Todos somos, mas...

–--Eu entendo. ---Sam sorriu. ---E não o culpo.

A partir daquele dia, quase todas as noites em que Sam tinha alguma pausa, ela se sentava em algum tronco derrubado para servir de banco e contava histórias cotidianas de sua vida que ela considerava monótona e deprimente para um grupo cada vez maior de ouvintes. Eles vieram devagar. No inicio algumas crianças tímidas, depois seus irmãos ou parentes mais jovens. Em algum momento, havia cerca de 10 ou 15 licantropos sentados ao seu redor escutando suas histórias comuns com os olhos cheios de curiosidade.

A maioria inventava alguma desculpa para estar ali, como Arlene, uma mulher na faixa dos 30 anos que cuidava de uma das crianças que escutava seus contos, disse uma vez: ´´Nora gosta de suas histórias. Não sei a razão, mas não vou deixá-la sozinha com o inimigo``. E com essa declaração mal-humorada, a mulher sentou-se ao lado da garota e passou a vir todos os dias desde então mesmo quando Nora não se encontrava. Algumas noites mais tarde, ela havia dito ´´Podem ser mentira ou podem ser verdade, mas uma coisa é certa: você tem o dom de chamar atenção, menina. Não pense que gosto você, mas pode ser que Soren esteja certo em relação a você.``

E foi assim, lentamente e sem querer, que Sam conseguiu fazer algumas poucas amizades ou desfazer algumas inimizades. De qualquer forma, a cada dia, ela se sentia mais segura e se precisava trabalhar no Defumador para isso, era um preço pequeno a pagar.

–--Qual vai ser hoje, Sam? ---Elliot perguntou, tirando-a de seus devaneios.

–--Não sei. Estou sem ideias para ser sincera. ---ela respondeu.

Aos poucos, a pequena clareira ao redor do Defumador começou a encher com rostos que há algumas semanas eram desconhecidos ou ameaças para Sam. Ela sabia seus nomes de cor, agora: Nora, Arlene, Sasha, Tirek,Sebastian, Hadron,Dragan, Barbara e Trish, Samantha pronunciou cada um dos nomes como se para adicioná-los a uma lista dos que não queriam matá-la. Junto aos nomes de Raniah, Serena, Caly e Soren. Ela sorriu sem saber o motivo.

Caly surgiu alguns minutos depois com os cabelos soltos e um sorriso selvagem no rosto. À cada dia, ela parecia mais com o irmão. Serena estava ao seu lado com uma expressão taciturna, mas que se modificou rapidamente. Atrás delas, havia alguns poucos rostos desconhecidos que sorriam e conversavam enquanto se aproximavam. Mais ouvintes da Rádio Samantha. Da Reserva diretamente para a alcateia. Rapidamente, uma lembrança voltou a sua mente. Ela era muito pequena e morava no orfanato da cidade protegida ainda. Havia uma rádio usada pelos oficiais para se comunicar com a cidade. Qual era mesmo o nome? Por mais que tentasse, o nome não vinha em sua cabeça.

Em menos de quinze minutos, ela começou a história. No início um pouco hesitante, mas com o passar do tempo, os detalhes surgiram em sua mente em uma sucessão de quadros. As ruas desorganizadas na área onde ficava o orfanato, as casas do outro lado cheias de luzes e sem toque de recolher, o apito da rádio indicando algum aviso de emergência...

–--Eu nunca conheci meus pais. ---Sam começou quando todos ficaram em silêncio. ---Minha casa na cidade protegida era num orfanato improvisado em um prédio de dois andares. Eu morava com mais sete ou oito crianças, não me recordo agora. Passávamos a maior parte do tempo em tarefas domésticas como limpar os quartos ou ajudando na cozinha com o que quer que nos fosse permitido. Algumas vezes quando não havia nada de interessante, ficávamos nas janelas ou no telhado do primeiro andar vendo pessoas caminharem para um lado e para outro na rua. A Cidade Protegida fica no subterrâneo da Reserva. Vocês todos já viram uma Reserva de perto? ---ela perguntou sabendo que a resposta seria não. Era parte da história. Interagir com eles conquistava certa...confiança.

´´Bem, a maioria consiste em um grande círculo formando uma muralha que tem entre 15 e 20 metros de altura. Sabem o prédio semi-demolido na Travessa Vernsay? Então... um pouco maior que aquilo. Esse círculo é apenas a parte mais exterior das Reservas, a primeira proteção que eles têm. Tem uns cinco ou seis quilômetros de diâmetro e é feito de metal na maior parte e aço nos portões. É no topo dessa muralha que fica a maior parte do contingente da Patrulha.``

Era perceptível que todos estavam interessados na geografia da Reserva, muitos só haviam ouvido falar dela e a descrição de Sam, ela sabia, era bastante impressionante. Ela quase conseguia ver as engrenagens nos cérebros dos licantropos, construindo suas próprias versões do lugar.

´´Existe um segundo anel de defesa, ele fica há apenas alguns metros de distância da muralha exterior e é conectado a ela por centenas de corredores revestidos de metal. Esse segundo anel é protegido pelo resto da Patrulha. Nessa segunda muralha, existem cerca de 30 andares onde ficam os setores da inteligência, de mapeamento e esse tipo de coisa. Mais interior a esse segundo anel, ligado por quatro corredores apenas, protegido com a mais alta segurança, ficam os laboratórios dos geneticistas e tudo que é mais importante para as Reservas. É nessa área que ficam os Conselheiros.``

–--Quem são os Conselheiros? ---alguém perguntou.

–--São uma espécie de Coordenador Geral. Algo semelhante ao que Raniah faz aqui? Eles são a fonte principal que conectam as Reservas à Resistência.

–--Resistência? ---Caly perguntou.

–--Sim. As Reservas são pontos onde antes ficavam as grandes cidades. ---Sam explicou e percebeu que estava se distanciando da história que pretendia contar. Agora é tarde demais. ---É complicado de explicar... Quando a Guerra começou há cinquenta ou sessenta anos atrás, os governos começaram a pensar em uma maneira de deter a infecção. ---Sam pensou que a palavra poderia ofendê-los. ---Me desculpem. Eles queriam impedir que mais pessoas se tornassem Filhos da Noite. Eles não tinham muitos recursos e a ideia mais eficiente em que conseguiram pensar foi em isolar os civis comuns e deixar que os soldados treinador tentassem... ---Não tem modo de suavizar isso. Sam podia se lembrar do brilho de orgulho que seu instrutor de história havia exibido na aula. ---exterminar vocês. Foi assim que as Reservas surgiram. Eles começaram nos centros maiores e conforme a guerra foi perdendo força, eles expandiram o alcance e puseram Reservas em locais mais afastados, mas que ainda continham um contingente populacional, digamos... relevante. A Reserva em que eu estava era a Reserva principal do que antes, eles chamavam de Arizona. É maior do que qualquer outra que vocês poderão ver por aqui.

´´Mas, as Reservas não eram governos isolados que surgiram espontaneamente durante a Guerra. Elas foram organizadas por um grupo poderoso, inteligente e que continha as armas necessárias para travar essa batalha contra vocês. Perto do fim da Guerra, esse grupo passou a se chamar Resistência e são eles que estão por trás das coisas que passam voando por nossas cabeças de vez em quando, são eles que financiaram e mantiveram a formação da Doença da Prata.`` Sam notou que todos pareceram ficar um pouco mais tristes quando ela mencionou a praga. ´´A Resistência é a cabeça, a Reserva é o corpo, entendem? Havia um ditado na minha Reserva. A Reserva destrói aquilo que a Resistência aponta.``

–--Então se destruirmos a Resistência. Tudo isso acaba? ---Hadron perguntou. Os olhos verdes causaram pena em Sam.

–--Sim, mas não é tão fácil assim. ---Sam respondeu. ---A Resistência é um lugar... secreto. ---ela fez aspas hipotéticas com os dedos. ---É provável que em toda Reserva, apenas os Conselheiros saibam sobre essa sede. Além disso. Se invadir a Reserva do Arizona é uma tarefa suicida, invadir a Resistência é ainda pior. Os Rasantes, os Hounds e a Doença da Prata são apenas parte do poderio que eles guardam no porão para o caso dos Filhos da Noite retornarem. Pelo menos era o que o meu instrutor dizia. Além disso. Acabar com a Resistência poderia ou não funcionar. Existem centenas, talvez milhares de Reservas. Sempre existiria a possibilidade de alguma delas se erguer acima das outras e terminar o trabalho não finalizado. A Resistência tem muitos dedos para serem cortados, Hadron. E mesmo que arranquemos um a um, sempre existe uma outra forma de apontar.

Sam passou o resto da noite falando sobre a Resistência até que a última pergunta fosse respondida. Ao fim, todos pareciam tristes ou desanimados e Samantha colocou sobre si a função de alegrá-los novamente. Mais algumas horas se passaram enquanto ela contava sobre o incidente do aviso de emergência. Toda a cidade protegida entrou em desesperou ao ouvir a notícia de que os Filhos da Noite estavam invadindo, mas foram apenas algumas crianças que haviam conseguido chegar até a sala de rádio para emitir o comando. No fim, as pessoas estavam gargalhando ou, ao menos, sorrindo.

Era quase meia noite, quando Sam finalmente terminou o trabalho de Defumador. Todos já haviam ido embora há algum tempo e apenas Elliot esperava do lado de fora, enquanto ela depositava os últimos pedaços de carne seca e defumada sobre uma folha e os enrolava.

A Lua estava alto no céu e nenhuma árvore a cobria mais. Um sorriso prateado brilhando em um fundo roxo escuro cheio de pequenas estrelas brancas. Os passos de Sam estalaram sobre a grama seca e molhada pelo orvalho. Um grilo estridulava nos arbustos mais próximos da cabana e o vento corria frio e refrescante, levando o cheiro de fumaça para longe.

–--Pronto, Elliot, obrigada por... ---ela saiu da cabana sorrindo e atingiu o peito de alguém muito alto e muito forte para ser Ellitot.

Ela ergueu os olhos para cima e encarou o homem à sua frente. Os cabelos pretos estavam cortados bem rentes à cabeça quase como alguns dos Patrulheiros faziam quando se alistavam. Sam os preferia grandes, mas ainda assim, ele continuava lindo. Os olhos dourados brilhavam como se vagalumes estivem detrás de suas íris. Soren sorriu para ela e os dentes brancos pareceram estranhamente afiados para ela. Por alguma razão, Sam não os temeu daquela vez.

–--Olá! ---ele se afastou meio centímetro, permanecendo bem próximo à ela. ---Dispensei Elliot. Ele parecia bem cansado, esperando você terminar. Eu sabia que alguém tão pequena e magra quanto você devia trabalhar com algo menos pesado. Contadora de histórias, talvez? Me disseram que é muito boa nisso. ---ele riu.

–--Há-há. Muito engraçado. ---ela se afastou com as sobrancelhas franzidas. Seu coração batia acelerado e algo em seu estômago parecia estar acordando. ---O que você quer Soren? Mas antes... o que você fez com o seu cabelo?

–--Não gostou. Achei que um novo visual talvez fizesse você gostar mais de mim. ---ele piscou. ---Não?

–--Isso é impossível, Soren. ---ela respondeu com um meio sorriso.

–--Por que você já gosta muito de mim, não é? Eu sabia! ---ele exibiu um sorriso convencido. Tão bonito. Chega ser injusto.

–--Não foi isso que eu quis dizer! ---Sam retrucou.

–--Eu sei que foi, pequena, mas deixo passar. Agora, me diga... aquela história que você contou era verdade? Sobre a cidade protegida? Você realmente ficou no telhado chorando quando soube sobre os licantropos?

–--Vo...você estava aqui? ---Sam ergueu uma sobrancelha. ---Não o vi.

–--Estava sim. Sentado junto com as crianças...

–--Faz sentido. ---Sam sorriu provocativamente. ---Sim. É verdade, eu fiquei chorando. Mesmo depois que todos descobriram que é uma peça.

Soren deu uma risada e sentou-se no tronco usado como banco. Ele usava roupas ´´novas``, o que na verdade significava roupas menos rasgadas. A camisa branca tinha alguns poucos furos na lateral, a calça jeans havia sido rasgada e transformada em um short que deixava à mostra as pernas longas e cheias de músculos. Um casaco cinza estava amarrado em um sua cintura e Sam notou o quanto era estreita em comparação aos ombros.

–--Muito bem, muito bem. Fiquei aí rindo de mim. Estou com muito sono para lhe fazer companhia. ---ela se virou e começou a andar sem saber porque tinha feito aquilo.

–--Ei, pequena. ---ele chamou uma última vez e algo em seu tom de voz lhe pareceu incrivelmente dominador. ---Sabia que sem os hematomas até que você é bem bonita? ---Ele piscou antes de se levantar e sumir pelos arbustos do outro lado da clareira.

É...e até que você é bem lindo em qualquer momento, ela pensou consigo mesma e agradeceu a Deus por Filhos da Noite não poderem ler pensamentos.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Espero que tenham gostado! Até semana que vem.



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