“O General é Gale “

Não consigo acreditar no que vejo, não consigo associar a imagem do meu companheiro de caça e até de guerra com este homem forte de olhar sombrio que começa a se sentar na minha frente. O que ouve com ele ? Phillip e Gusttave disseram que eu teria preferido continuar o interrogatório com eles ao invés do General isso significa que Gale agora é um homem violento alguém que não sei se posso confiar, mas que com certeza não enganarei por muito tempo. Gale se senta em minha frente e coloca os braços em cima da mesa observo seus braços três vezes maiores do que costumavam ser, suas mãos fechadas em punhos com algumas cicatrizes e queimaduras em cima delas, estou perdida em pensamentos quando ouço sua voz pela primeira vez :

– Podemos começar o interrogatório ou você prefere continuar olhando para minhas mãos ? – ele diz ainda de cabeça baixa lendo , ou fingindo que lê, alguma coisa em uma pasta, claro que ele nunca iria deixar de perceber qualquer ato meu, Gale é um caçador e eu sua presa, instantaneamente abaixo os olhos e fico olhando para minhas coxas, evitando o contanto visual que provavelmente irá me entregar.

– Bom pelo que li em sua fixa você é bem desafiador Thomas, mas quero que saiba que não terei paciência para você, não é atoa que Phillip e Gusttave me chamaram.

Meu Deus, o que Gale se tornou ? Começo a tremer inteira, mas não ouso levantar meus olhos para ele.

– Já percebi que você é dos difíceis, vamos começar por uma pergunta bem simples- vejo ele se sentar na mesa e inclinar-se para mim intimidando-me- Quem você ? E o que quer com Peeta Mellark ? – pergunta a centímetros do meu rosto tanto é que posso sentir o gosto de seu hálito, até isso está diferente, tudo nele faz meu corpo enviar arrepios espinha abaixo.

Não respondo, e quando sinto o punho forte de Gale, em minha face fazendo com que eu caia no chão e vendo pontos escuros dançarem em minha visão, consigo entender o que Phillip disse, no entanto a dor em meu coração é maior do que em meu rosto, mesmo não sabendo quem realmente sou, não consigo reconhecer neste homem , meu melhor amigo, e isso dói tanto, é como perde-lo pela segunda vez.

– ME RESPONDA QUANDO EU LHE PERGUNTAR SEU IDIOTA !!!!– Gale começa a gritar, ele me pega bruscamente do chão e literalmente me joga contra a parede, fazendo meus pulmões doerem.

– Vou perguntar mais uma vez, só mais uma vez- ele agora sussurra tão baixo que por causa da dor mau consigo ouvir- Quem é você ?

Meus olhos ardem e não consigo conter as lágrimas, olho em sua direção e engulo em seco para minha voz poder soar mais nítida possível :

– Eu é que pergunto Gale, quem é você ?

Vejo sua expressão mudar rapidamente de confusa para horrorizada, ele me reconheceu. Gale começa se afastar de mim como se eu fosse algum tipo de doença contagiosa. O General coloca as mãos na boca para impedir um grito, Gale anda começa a andar de um lado pro dentro da sala , puxando vários fios e botões que eu nem tinha notado, até que ele começa a caminhar de volta para mim, encolho-me cada vez mais no canto da parede, não sei agora o que ele é capaz de fazer.

– Katniss é você ? E você mesmo ?- ele diz cada vez mais perto e cada vez mais baixo.

Apenas assinto com a cabeça e Gale que antes estava caminhando lentamente praticamente corre em minha direção ainda com uma expressão de choque presa no rosto.

– Meu Deus Katniss me desculpe, como isso foi acontecer ? Era para você estar no 12– ele dizia enquanto libertava minhas mãos das algemas. Este Gale agora estava parecendo com o meu velho amigo, como se ele tivesse retirado uma mascara, mais ainda sim deixo a mágoa falar mais alto:

– Você saberia onde eu estava se não tivesse me deixado. – solto sem pensar, sei que agora não é a hora nem o lugar para falar da minha mágoa com ele mas infelizmente nunca fui boa em conter ações impensadas.

Ele suspira e põe as mãos na cintura e olha para os pés exatamente como eu lembrava dele quando estava nervoso ou sem graça.

– Não diga isso, você sabe que não teria adiantado, se eu ficasse você não iria me querer por perto, não depois de tudo

– Tem razão, mas isso não lhe tira a responsabilidade que você era o meu melhor amigo e me abandonou ! – minha voz sobe uma oitava e reduzo rapidamente meu tom de voz com medo de alguém escutar o meu desabafo de horário inapropriado.

Gale bufa e assim como eu sua voz também começa subir sem que ele note :– O problema não é só esse Katniss, eu não conseguiria ficar do seu lado, seria angustiante olhar pra você sabendo que eu causei seu sofrimento, eu não sabia como Coin ia usar aquela bomba, mas no fundo eu sei, que se eu não tivesse projetado a bomba junto com Beetee talvez a sua Prim ainda estivesse aqui- ele dizia atropelando as palavras, totalmente desesperado, como se não aguentasse mais guardar aquilo dentro de si- Você tem ideia de como é viver com essa culpa?!!!!! – ele gritou comigo com seus olhos vermelhos , não sei se de raiva ou por segurar as lágrimas.

– Eu sei sim, não ouse falar isso, porque de todos os sentimentos o que eu mais entendo é a culpa !!!!! – gritei de volta com o dedo na cara dele.

Gale não respondeu, e ficamos nos encarando em silencio, com muitas palavras engasgadas na garganta, mas nenhum dos dois teve a coragem de pronunciá-las primeiro.

O silencio continuou pelo que pareceu horas. Então era isso, nada mais ia ser dito, apesar de tudo não queria que nosso primeiro reencontro fosse desse jeito sei que ele também não, mas no fundo nós dois sabíamos que iria ser exatamente assim : cheio de raiva e nenhum perdão.

Ele suspirou e passou a mão pelo rosto como se estivesse lembrando que agora ele era uma autoridade e que tinha que agir como tal.

– Tenho que tirar você daqui– a versão General de Gale fala- Posso pedir a alguém de confiança que leve você de volta para casa.

– Não posso voltar sem Peeta, quero vê-lo.

– Seria arriscado demais, aparentemente a função seria justamente te manter longe dele.

Agarrei o seu braço: - Não vou a lugar algum sem Peeta– disse o encarando firmemente.

Gale franze o cenho, e me olha dos pés a cabeça, me analisando como se pela primeira vez tivesse atento ao meu cabelo , as minhas roupas e a minha voz.

– Isso tudo foi por ele ? – Pergunta suavemente.

Solto seu braço e digo de olhos baixos : – Sim.

Gale ri ironicamente :

– Sabia que nunca iria superá-lo.

Agora sou eu quem franze o cenho, mas não pergunto nada.

– Certo, vou tentar ajudar vocês dois, você se lembra onde ele ficou?

– Ele não FICOU em lugar nenhum, Peeta foi trancafiado em uma das primeiras portas depois do elevador pelo seu soldado de olhos vermelhos.

– Gusttave, ele não é muito gentil.

– Eu pude notar.

– O hangar fica no andar de baixo, posso dizer que levarei você pessoalmente para a prisão de segurança máxima que construíram no Distrito 2 , passaremos pelo mesmo corredor pegamos Peeta, e entramos em um aerodeslizador que vai nos levar de volta para o 12.

– Você ainda sabe fazer armadilhas – digo com um pequeno sorriso.

– Uma vez caçador sempre caçador– ele devolve o sorriso sutil e liga um comunicador aparentemente invisível em sua orelha.

– Cabo Haitter , aqui é o General está me ouvindo ? Ótimo, preciso de um aero de médio porte pronto para viagem para daqui 15 minutos, Não, não quero seguranças, só preciso de você como piloto, sei que não é sua função mas também sei que sabe pilotar então pilote, é uma ordem direta. – Gale desliga o comunicador e olha para mim.

– Só mais uma coisa, seu rosto está suficientemente inchado, mas com certeza era para você estar mais machucada- ele diz envergonhado do método que adota para conseguir informação.– então quando sair manque e coloque a mão na barriga e finja muita dor, senão algum soldado poderá desconfiar.

Fico meio chocada mas digo :– Tudo bem .

Ele chega perto da porta e pergunta : - Pronta ?

– Sim.

Gale assume sua máscara fria e praticamente irreconhecível do General do Exercito de Panem, pega meu braço bruscamente, abre a porta e eu mancando com a mão na barriga e minha melhor cara de dor seguimos pelos corredores sob os olhares satisfeitos e submissos dos soldados.

Chegamos na sala aonde Peeta foi trancafiado e Phillip estava lá vigiando a porta, quando ele me viu disse sorrindo :

– Eu avisei que era melhor ter ficado conosco.

– Não fale com o prisioneiro sem minha permissão soldado- Gale corta as piadinhas- Onde está seu companheiro de ronda ?

– Gusttave ,foi ao banheiro mas até agora não voltou acho que deve ter comido alguma coisa estragada – Phillip começa a rir mas devido a cara de poucos amigos de Gale para rapidamente.

– Saia da frente quero que o Sr. Mellark nos acompanhe até o hangar, explicarei pessoalmente a ele o traste que o enfermeiro dele é de verdade.

– Sim Senhor– Phillip diz e abre passagem para seu General.

Gale abre a porta, e para instantaneamente, eu que estou atrás dele quando vejo o que ele vê não me importo mais em fingir que estou machucada, nem me interessa o que Phillip irá pensar, passo correndo por eles e adentro a sala. Olho para todos os lados na esperança de que eu pudesse estar deixando passar algo, ou Peeta tivesse encolhido de tamanho, mas não adianta: A sala está vazia.

Exceto por um pedaço de papel amassado com letras esgarranchadas que diz algo que faz minha mente girar : “ St. Everdeen, os Jogos recomeçaram. Que a sorte esteja sempre a seu favor “