Collapse escrita por Chrissie
Notas iniciais do capítulo
Capítulo narrado por Josh
Por mais que todo mundo estivesse contente com as coisas que ela disse, para mim, não passava de uma falsa moralista como todos os outros. Ela tinha traços daquele explorador e provavelmente não era muito diferente dele. A única coisa que me deixava feliz era poder encarar pela primeira vez um político e dizer tudo o que eu realmente gostaria.
– Josh, cuidado. Essa gente é perigosa. - Maggie segurou meu braço e me beijou. - Eu não vou conseguir viver se eles fizerem alguma coisa com você.
Eu ri e ela continuou séria.
– Não vai acontecer nada comigo, ta bom? Eu sei me virar, e se ela for tão boa como realmente diz que é, eu vou voltar inteiro.
– Mesmo assim. Se cuida.
– Pode deixar.
Dei um beijo nela e saí. Ela realmente tinha razão e eu teria cuidado com aqueles marginais. Fui até um dos guardas e ele me levou para ver a tal garota.
Aquela casa era um contraste com a realidade das pessoas. Era encantador os lustres de cristais e fontes de águas cristalinas, mas ao mesmo tempo era repugnante
– Rápido, entre antes que meu tio o veja. - ouvi uma voz feminina e o civil me empurrou para a sala.
– Qual o problema de vocês? - eu disse arrumando minha roupa.
Me virei para ela e pela primeira vez a vi assim, tão perto e prestei atenção no que ela realmente era. Agora o vestido comprido parecia muito mais sedoso e o cabelo solto e ondulado até próximo a cintura parecia me encantar mais. Não que ela fosse mais bonita que a Maggie, mas as coisas eram diferentes para as duas. A Maggie tinha uma vida sofrida, não tinha produtos ou cuidados com a beleza, algo que era normal para a tal garota.
– Desculpe, é que meu tio pediu que eu não te trouxesse aqui. Mas sente-se. - Ela disse apontando para algo que parecia ser uma poltrona luxuosa.
– Tudo bem, mas espero que não demore. - eu disse me sentando.
Ela pegou o interfone e discou algum número.
– Allan? Pode vir aqui um minuto? Obrigada. – ela desligou o interfone e virou seu olhar para mim – Vou ser breve.
Ela acendeu um cigarro e me ofereceu. Nunca tinha fumado, até porque cigarros eram mais caros que a própria comida então nunca me dei o luxo de experimentar, por isso resolvi aceitar um.
– Você me parece muito corajoso. Aposto que não trabalha nas fábricas.
– Claro que trabalho. Porque acha que não?
Acendi o cigarro e puxei o ar com toda minha força. Acabei engolindo a fumaça o que me fez tossir na hora. A tal menina riu e tomou o cigarro da minha mão.
– Achei que você já tivesse fumado antes.
– Eu pareço ter dinheiro para comprar esse tipo de coisa?
Rimos juntos e as batidas na porta nos interrompeu.
– Pode entrar, Allan.
Um homem alto vestindo um terno preto entrou e se curvou para ela. Me senti bem por não ter que fazer essas frescuras, mas ela também parecia não gostar dessas coisas.
– O que deseja, Srta Alice?
– Eu quero um chá de camomila. E você, o que quer? - ela disse olhando para mim.
– Isso é sério?
– Claro, pode escolher o que quer comer.
Eu não queria parecer faminto, mas era o que eu realmente era. Comia todos os dias, mas ainda sim não era o suficiente para mim.
– Uma torta. Pode ser?
O homem assentiu e saiu. Ela se virou para mim e deu mais uma tragada no cigarro. Ela parecia sensual fumando e me encarando com aqueles olhos profundos e cheios de personalidade. Ela me trazia conforto e agora eu não achava mais que ela era uma corrupta como os outros.
– Bom, eu te chamei aqui porque preciso de ajuda. Preciso de alguém disposto a enfrentar as coisas e trazer uma vida mais digna para os outros estados assim como a nossa.
– Como você pode falar sobre igualdade enquanto vive num lugar como esse? Olhe a sua volta e perceba como suas palavras contradizem sua realidade.
– Eu não tenho escolha. Eu governo um estado inteiro mas ainda sim sou uma adolescente e não tenho muitas opções. Me consideram adulta o suficiente para comandar dois grandes estados, mas criança de mais para cuidar de mim mesma.
– Tudo bem, do que precisa?
Ela pegou um caderno e uma caneta e me entregou. Fingi que aquilo era normal, mas eu estava completamente louco para testar aquelas coisas.
– Se vender, eu mando matar você. – ela sorriu. – Isso é para que anote as coisas que acontecem aqui. Quero que escreva cada coisa errada e eu vou procurar uma solução. Mas não deixe que os civis vejam, eles são o braço direito do meu tio. Semana que vem eu volto e pego suas anotações. - ela tirou um saco de moedas da gaveta e me entregou. - Sei que não vai ter muito tempo para fazer outras coisas enquanto estiver me ajudando, por isso acho que você precisa de dinheiro.
– Ta certo. Eu faço.
As batidas na porta nos distraíram de novo e meu coração palpitou ao sentir o cheiro de comida. O homem entrou com um carrinho e me segurei para permanecer no meu lugar.
– Aqui está o seu chá e aqui a sua comida. - Ele disse colocando uma torta inteira sobre a mesa.
– Pode ir, Allan. Mas fique por perto porque já vou dispensar o garoto e preciso que você leve ele embora sem que meu tio o veja.
Ele assentiu e saiu.
Ela sorriu pra mim e fez um gesto para que eu comesse. Realmente era a minha vontade mas eu não podia deixar Maggie e a família dela sem comida. Peguei tudo e coloquei em um saco que eu sempre trazia comigo. A menina fez cara de nojo mas eu não me importei.
– Qual o seu nome mesmo? - perguntei e ela riu.
– Como não me conhece? Sou Alice e você?
– Sou Josh.
Ela sorriu e eu fiquei a observando. Ela parecia não ter muitos sentimentos mas eu percebia a solidariedade em cada proposta dela. Sabia que tinha amor por nós e sabia que ela era diferente. Só esperava que ela pudesse nos ajudar.
– Eu não sei como agradecer por tudo o que está fazendo por nós.
– Não precisa agradecer. Se precisar de alguma coisa vou estar aqui até amanhã a noite. Meu quarto é no terceiro andar, pode chamar em qualquer janela. Mas agora você precisa ir.
Assenti e peguei minhas coisas. Não me despedir dela porque aquilo era um pouco desconfortável, mas eu sabia que eu ia esperar a semana toda por ver ela de novo.
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