Collapse escrita por Chrissie


Capítulo 7
Anotações


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado por Josh



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Por mais que todo mundo estivesse contente com as coisas que ela disse, para mim, não passava de uma falsa moralista como todos os outros. Ela tinha traços daquele explorador e provavelmente não era muito diferente dele. A única coisa que me deixava feliz era poder encarar pela primeira vez um político e dizer tudo o que eu realmente gostaria.

– Josh, cuidado. Essa gente é perigosa. - Maggie segurou meu braço e me beijou. - Eu não vou conseguir viver se eles fizerem alguma coisa com você.

Eu ri e ela continuou séria.

– Não vai acontecer nada comigo, ta bom? Eu sei me virar, e se ela for tão boa como realmente diz que é, eu vou voltar inteiro.

– Mesmo assim. Se cuida.

– Pode deixar.

Dei um beijo nela e saí. Ela realmente tinha razão e eu teria cuidado com aqueles marginais. Fui até um dos guardas e ele me levou para ver a tal garota.

Aquela casa era um contraste com a realidade das pessoas. Era encantador os lustres de cristais e fontes de águas cristalinas, mas ao mesmo tempo era repugnante

– Rápido, entre antes que meu tio o veja. - ouvi uma voz feminina e o civil me empurrou para a sala.

– Qual o problema de vocês? - eu disse arrumando minha roupa.

Me virei para ela e pela primeira vez a vi assim, tão perto e prestei atenção no que ela realmente era. Agora o vestido comprido parecia muito mais sedoso e o cabelo solto e ondulado até próximo a cintura parecia me encantar mais. Não que ela fosse mais bonita que a Maggie, mas as coisas eram diferentes para as duas. A Maggie tinha uma vida sofrida, não tinha produtos ou cuidados com a beleza, algo que era normal para a tal garota.

– Desculpe, é que meu tio pediu que eu não te trouxesse aqui. Mas sente-se. - Ela disse apontando para algo que parecia ser uma poltrona luxuosa.

– Tudo bem, mas espero que não demore. - eu disse me sentando.

Ela pegou o interfone e discou algum número.

– Allan? Pode vir aqui um minuto? Obrigada. – ela desligou o interfone e virou seu olhar para mim – Vou ser breve.

Ela acendeu um cigarro e me ofereceu. Nunca tinha fumado, até porque cigarros eram mais caros que a própria comida então nunca me dei o luxo de experimentar, por isso resolvi aceitar um.

– Você me parece muito corajoso. Aposto que não trabalha nas fábricas.

– Claro que trabalho. Porque acha que não?

Acendi o cigarro e puxei o ar com toda minha força. Acabei engolindo a fumaça o que me fez tossir na hora. A tal menina riu e tomou o cigarro da minha mão.

– Achei que você já tivesse fumado antes.

– Eu pareço ter dinheiro para comprar esse tipo de coisa?

Rimos juntos e as batidas na porta nos interrompeu.

– Pode entrar, Allan.

Um homem alto vestindo um terno preto entrou e se curvou para ela. Me senti bem por não ter que fazer essas frescuras, mas ela também parecia não gostar dessas coisas.

– O que deseja, Srta Alice?

– Eu quero um chá de camomila. E você, o que quer? - ela disse olhando para mim.

– Isso é sério?

– Claro, pode escolher o que quer comer.

Eu não queria parecer faminto, mas era o que eu realmente era. Comia todos os dias, mas ainda sim não era o suficiente para mim.

– Uma torta. Pode ser?

O homem assentiu e saiu. Ela se virou para mim e deu mais uma tragada no cigarro. Ela parecia sensual fumando e me encarando com aqueles olhos profundos e cheios de personalidade. Ela me trazia conforto e agora eu não achava mais que ela era uma corrupta como os outros.

– Bom, eu te chamei aqui porque preciso de ajuda. Preciso de alguém disposto a enfrentar as coisas e trazer uma vida mais digna para os outros estados assim como a nossa.

– Como você pode falar sobre igualdade enquanto vive num lugar como esse? Olhe a sua volta e perceba como suas palavras contradizem sua realidade.

– Eu não tenho escolha. Eu governo um estado inteiro mas ainda sim sou uma adolescente e não tenho muitas opções. Me consideram adulta o suficiente para comandar dois grandes estados, mas criança de mais para cuidar de mim mesma.

– Tudo bem, do que precisa?

Ela pegou um caderno e uma caneta e me entregou. Fingi que aquilo era normal, mas eu estava completamente louco para testar aquelas coisas.

– Se vender, eu mando matar você. – ela sorriu. – Isso é para que anote as coisas que acontecem aqui. Quero que escreva cada coisa errada e eu vou procurar uma solução. Mas não deixe que os civis vejam, eles são o braço direito do meu tio. Semana que vem eu volto e pego suas anotações. - ela tirou um saco de moedas da gaveta e me entregou. - Sei que não vai ter muito tempo para fazer outras coisas enquanto estiver me ajudando, por isso acho que você precisa de dinheiro.

– Ta certo. Eu faço.

As batidas na porta nos distraíram de novo e meu coração palpitou ao sentir o cheiro de comida. O homem entrou com um carrinho e me segurei para permanecer no meu lugar.

– Aqui está o seu chá e aqui a sua comida. - Ele disse colocando uma torta inteira sobre a mesa.

– Pode ir, Allan. Mas fique por perto porque já vou dispensar o garoto e preciso que você leve ele embora sem que meu tio o veja.

Ele assentiu e saiu.

Ela sorriu pra mim e fez um gesto para que eu comesse. Realmente era a minha vontade mas eu não podia deixar Maggie e a família dela sem comida. Peguei tudo e coloquei em um saco que eu sempre trazia comigo. A menina fez cara de nojo mas eu não me importei.

– Qual o seu nome mesmo? - perguntei e ela riu.

– Como não me conhece? Sou Alice e você?

– Sou Josh.

Ela sorriu e eu fiquei a observando. Ela parecia não ter muitos sentimentos mas eu percebia a solidariedade em cada proposta dela. Sabia que tinha amor por nós e sabia que ela era diferente. Só esperava que ela pudesse nos ajudar.

– Eu não sei como agradecer por tudo o que está fazendo por nós.

– Não precisa agradecer. Se precisar de alguma coisa vou estar aqui até amanhã a noite. Meu quarto é no terceiro andar, pode chamar em qualquer janela. Mas agora você precisa ir.

Assenti e peguei minhas coisas. Não me despedir dela porque aquilo era um pouco desconfortável, mas eu sabia que eu ia esperar a semana toda por ver ela de novo.


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