Collapse escrita por Chrissie


Capítulo 6
O povo precisa de um líder


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado por Alice



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Era meu fim. O que eu mais temia aconteceu e agora eu estava perdida, desorientada. Eu não estava triste, estava somente fria. Se antes eu não tinha vontade de nada, agora então... Eu só ficava olhando o túmulo do meu pai, que agora já estava enterrado, mas nada se passava pela minha cabeça. Não sabia o que faria. A minha sorte é que meu tio estava comigo e ele me diria o que fazer.

Depois do enterro do meu pai, fizeram uma reunião para decidir se eu deveria ou não assumir o poder no lugar do meu pai mas tomaram a decisão sem me consultar. Eu não estava pronta mas eles eram que decidiam, não eu.

No outro dia, fui para o colégio buscar minhas coisas, já que eu não poderia governar estado nenhum dentro de uma escola. Era incrível como aquelas pessoas falsas, inclusive os professores, se lamentavam para mim.

– Oh, minha querida Alice! Não fique triste, eu estarei aqui para o que precisar.

– Me poupe da sua falsidade, Edward. - eu disse. - Eu era obrigada a te suportar por causa do meu pai, mas agora ele está morto. Então por favor, se mantenha bem longe de mim.

Ele ficou surpreso e ao mesmo tempo nervoso. Ninguém falara com ele assim antes, muito menos eu. Todos temiam por ele ser filho do grande empresário, mas eu não tinha.

– Quem você pensa que é pra falar comigo assim?

– Eu? Quer saber mesmo quem eu sou Edward? Eu sou a nova governante do primeiro e segundo estado. Eu faço as leis, eu escolho as empresas que entram ou não nos meus estados, e quer saber Edward? É melhor você sair da minha frente antes que eu mande incinerar todas as fábricas do seu pai e te fazer tão pobre e miserável quanto as pessoas que vocês escravizam.

Peguei minhas malas e o deixei sozinho pra pensar em tudo o que eu disse. Acho que ele nem se quer pensou em uma resposta a altura.

**

Eu odiava ficar rodeada por gente falsa e onde quer que eu fosse, era assim que eu me sentia. Estava sentada na poltrona enquanto as pessoas cuidavam da minha pele, do meu cabelo e das minhas unhas. Eu não sei pra que tudo aquilo quando na verdade eu iria me pronunciar num lugar em que as pessoas mau tinham comida.

– Srta Alice já terminamos, agora só falta a roupa.

Levantei e me olhei no espelho gigantesco na sala. Passei a mão pelo meu rosto observando a maquiagem que fizeram em mim. Eu estava linda, mas não era a ocasião. Uma moça veio com um vestido longo e azul de alças e um casaco peludo branco.

– Pra que isso? Só o vestido está bom. Não quero chamar atenção.

– Mas...

– Não quero desculpas. Já estou parecendo uma palhaça com essa maquiagem.

Todos ficaram sérios e me fitaram preocupados. Peguei minha roupa e fui me trocar no meu quarto. Eu estava muito preocupada, eu não fazia ideia do que ia falar ou como as pessoas reagiriam. Me troquei rápido e fui atrás do meu tio, que estava tomando um café com um dos membros da reunião.

– Desculpe interromper, mas acho que está na hora de irmos.

– Alice, você está deslumbrante. – disse um senhor barbudo e gordo. – A última vez que a vi, você ainda era uma garotinha de cabelos curtos.

– Muito obrigada.

Meu tio tomou um último gole do café e se levantou.

– Com licença senhores. - ele se virou pra mim e estendeu o braço. – Vamos?

Eu o segurei.

– Vamos.

Meu tio me levou até a porta e subimos no enorme palanque de concreto que ficava a alguns metros da casa. Meu coração quase saiu pela boca quando olhei aquelas pessoas. Estavam todas sujas, mau vestidas e com cabelos despenteados. Aquilo era uma realidade que eu não conhecia. Eu sabia que a vida nos outros Estados era diferente, mas nunca imaginei que fosse tão sofrida. Crianças me olhavam e eu via o sofrimento nos olhos de cada um deles.

Fui até o microfone e pensei em algo para dizer. Tossi e falei oi para testar o som. Ninguém respondeu.

– Bom... Bom dia. - gaguejei. - Desculpem o meu jeito, eu estou num momento muito difícil. Como vocês sabem, meu pai acabou de morrer e... Eu tive que assumir o governo de dois grandes estados. Todos os filhos de políticos e empresários estudam em internatos até os dezoito anos, e aprendemos sobre todos os catorze estados que todos nós temos que administrar. É algo realmente assustador. Vê-los nas fotos dos livros é totalmente diferente de vê-los pessoalmente. Certa vez o sr. Jones nos disse: "Eles buscaram isso. Eles merecem sofrer. Eles tiveram a oportunidade de ser como nós, mas o que eles fizeram foi tão horrível que apagamos todos os registros e jogamos eles para viverem da sua própria maldade."

– Ah, cala a boca! - um garoto no meio da multidão gritou e os civis se levantaram.

– Deixem ele. - disse para os civis e voltei meu olhar para a multidão. – Bom, como eu ia dizendo, eu nunca acreditei nos livros ou nos professores. Eu sempre acreditei que o mundo era injusto e cruel. É doentio, é triste, e eu peço desculpas pelas atitudes do meu pai no passado, eu não sou como eles. Eu quero mudar isso, eu quero acreditar que vocês merecem outra chance, ou talvez essa seja a primeira chance que vocês tenham desde o fim da terceira guerra, isso não importa, o importante é que eu não aceito a condição social de vocês. Eu espero poder ajudá-los.

Me distanciei um pouco do microfone e todos aplaudiram e gritaram. Eu estava contente. Olhei para o meu tio e ele não demonstrou felicidade alguma. Estava com as sobrancelhas arqueadas e sua expressão era de preocupação.

Voltei ao microfone e disse minhas últimas palavras:

– Obrigada, podem se retirar. Mas o garoto vem comigo.

Me virei e meu tio entrou logo atrás de mim. Quando chegamos na sala ele se sentou e me fitou. Seu pé esquerdo balançava para trás e para frente, inquieto.

– Qual o problema, tio?

– Qual o seu problema, garota? – Ele se levantou irritado.

– O que eu fiz de mais?

– O que você fez de mais? – ele pegou um quadro em cima da mesa e arremessou contra a parede com força – Você acha que as coisas funcionam assim? Preste atenção no mundo em que você vive, Alice, olhe!

Eu fiquei quieta. Eu sabia exatamente do que ele estava falando. Eles me matariam. Demoraram anos pra dominarem o mundo e eu estava acabando com isso.

– Tio, eu entendo mas...

– Não! Você não entende! – ele gritou – Se você entendesse não teria feito isso. Trinta anos depois da guerra você quer mostrar pra essa gente que elas podem fazer as coisas, mas elas não podem. Elas não são como nós, Alice.

– Eles não são porque nós não deixamos. E se fosse com você? E se você tivesse nascido do outro lado? Já pensou nisso? Você tem tudo, mas e se não tivesse nada? Como se sentiria?

– Mas eu não nasci. Eu sou melhor que eles, nós somos. Nós nascemos para comandar o mundo. Será que sua mãe não te serviu de lição?

Fiquei ofegante e ao mesmo tempo sem reação. Falar da minha mãe era meu ponto fraco. Diziam que éramos muito parecidas, talvez foi isso que ele quisesse dizer.

– O que ela tem haver com isso? Você não sabe nada dela.

– Quem não sabe é você! Você era criança quando ela morreu, mal sabia o que era isso. Seu pai escondeu a verdade de você a vida toda pra não te assustar, ele não esperava morrer tão cedo. Sua mãe foi envenenada dois dias antes da primeira assembleia geral que ela estava organizando. Ninguém conseguiu descobrir nada sobre o caso, muito menos o assassino. Mas sabe porque mataram ela? Porque a assembléia foi criada com o intuito de impor a democracia em todos os estados. Você acha que foi por acaso ela ter morrido dois dias antes? Pense nisso Alice.


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