"Admiro a terra, quero-a, sempre gostei dela. Sempre me senti feliz por estar vivo: apesar da guerra, das más notícias, não sou capaz de matar em mim a simples alegria de viver" Julien Green

Qual o problema do mundo? É difícil entender as razões pelas quais Deus faz essas coisas. Pra falar a verdade, eu sabia que aquilo era um castigo para as pessoas ruins, mas eu não me conformava como as pessoas ruins estavam no comando do mundo. Eu vivia no segundo estado, acho que um dos piores. Eu não sabia como era a vida nos outros estados mas eu sabia que o primeiro estadoera o mais desejado. Os ricos viviam lá, com toda a sua mordomia e futilidades. No primeiro estadoeles tinham tudo o que precisavam para viver bem: água, comida, remédios, vacinas, médicos e dinheiro. Eles tiravam de nós para dar pra eles: políticos e empresários. Enquanto isso, empresas se instalavam aqui e pagavam centavospara os que se submetiam ao trabalho escravo. Aos que decidiam viver da natureza, eram mortos por "roubarem" do governo. A água era privatizada e o preço era alto, então a única escolha que tínhamos a fazer era se queríamos morrer de fome ou de sede.

A única coisa que me fazia ter vontade de viver era proteger a minha mãe e irmã. Eu já estava acostumada com o mundo daquele jeito cruel, mas minha irmã não. Perdi meu pai aos dois quando o primeiro estadoestava em crise e eles tiraram tudo o que conseguimos com nosso trabalho.

A única pessoa que eu podia confiar naquele mundo era o Josh. Meu amigo de infância, e o cara que eu amava. Ele não sabia, mas era assim que eu passava os dias: como uma prostituta. Transar com civis em troca de dinheiro não era o meu tipo preferido de trabalho, mas foi o que deu mais certo nos últimos anos. Eu sei que isso é julgável mas eu não aguentava mais passar fome ou ver a minha irmã implorando por água quando não tinha.

Nas ruas, os corpos ficavam espalhados, e alguns se submetiam a comer a carne dos mortos. Eu não queria que comessem a minha.