Erchomai escrita por EmillyFaith, Uzumaki Neris


Capítulo 6
Capítulo 6 - The Trip


Notas iniciais do capítulo

Primeiro a chuva, depois o arco-íris. Se acostume, a ordem é essa. Eles disseram, mas eu sou o tipo de pessoa que prefere a beleza da chuva que toca sua pele, do que a visão do arco-íris.



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O William realmente foi um cara muito gentil nos três dias que ficamos na casa dele, não era um policial xereta, pelo menos eu acho. Deixou que ficássemos o quanto quisesse, mas como sempre a Emilly não se sentia segura com ninguém e queria sair logo dali. Sua preocupação era notável, sempre olhava desconfiada para o homem, averiguava a casa e tentava ouvir suas ligações e o mais importante, nunca me deixou sozinha com ele.

—Nós precisamos achar uma Casa. -Ela sussurrou enquanto olhávamos a varanda. - Disseram que havia uma por essa região.

Veja bem, nosso conceito de casa era diferente, não estavamos procurando uma casa qualquer e sim um lugar de refúgio para pessoas como nós. Entretanto nos últimos tempos, eu e Emilly não paramos em nenhuma, pois por algum motivo eles sempre nos encontravam e a casa acabava sendo destruída e poucos Jumpers conseguiam escapar da emboscada.

—Por quanto tempo vamos ficar em 2010? - Jogava um amendoim pro alto e tentava pegar com a boca. - E quem te disse isso?

—Eu ouvi no rádio de um dos chainsers, existe uma casa em algum ano próximo a esse que estamos. Eles sabem que a casa existe, mas nunca conseguiram localizar corretamente.

—E o que faz pensar que nós vamos achar? - A olhei um pouco receosa.

—Por que nós precisamos, Margo. - Emilly segurou meu rosto e me deu um beijo, era algo comum então retribui. - Vai dar tudo certo.

—Desculpe. -Era Will no corredor. - Acho melhor vocês se apressarem, apareceram na delegacia atrás de vocês, sem fotos, mas a descrição é a mesma.

Balancei a cabeça concordando e Emilly pegou uma mochila com o necessário, agradecemos a ele rapidamente e fugimos pelos fundos, não claro, sem Emilly me beijar novamente. Era o beijo de boa sorte, não tínhamos nenhum relacionamento afetivo, mas Emilly com o tempo passou a me tratar assim nunca me incomodei, era a forma de mostrar que nos importávamos sem precisar dizer nada.

Tentamos pegar a rua mais movimentada para se misturar a multidão, agora eu estava parecendo muito mais como uma pessoa local. Eu tinha essa habilidade em analisar e me enturmar, Emilly acabou aprendendo com o tempo esses truques. Seguimos a caminho da rodoviaria, iriamos pegar o ônibus para a próxima cidade.

Enquanto ela comprava as passagens, eu fiquei sentada no banco olhando pro céu, era o que eu gostava de fazer. Achava que se olhasse muito para as nuvens eu acabaria me tornando uma, seria livre e iria para onde o vento resolvesse me levar. Particularmente eu gostava dos dias chuvosos e com neblina, para minha sorte o céu estava cinza e então sorri.

Minha parceira voltou com um hambúrguer e ficamos sentadas esperando o horário do nosso transporte, não era muito comum conversarmos durante essas horas. Queríamos respeitar o momento de paz uma da outra. Acho que acabei me distraindo demais e não notei que estava sendo muito observada, confesso que senti aquele arrepio na nuca, mas sempre optei por ignorar. Qual era o problema de querer um pouco de paz?

Assim que ouvimos a chamado do nosso ônibus, pegamos nossas mochilas e adentramos, escolhemos o canto do fundo. Emilly sentou na janela e como sempre, encostou no banco e dormiu, era algo engraçado, não conseguia ficar acordada em ônibus, não importa o que fosse.

Aproveitei o silêncio e peguei um livro que Will havia me dado para passar o tempo, vi um homem de capa preta e boné de baseball dos Yankees passar por mim, usava um cachecol também escuro e parecia mascar um chiclete. Percebi que ele olhou bem para Emilly e depois a mim então o olhei de volta.

—Algum problema senhor? - Perguntei mais agressiva do que queria transparecer. - Espero que não seja o caso.

O homem apenas sorriu de canto, tirou sua mochila das costas e colocou na parte de cima do bagajeiro, tirou seu sobretudo e sentou no banco ao nosso lado e voltou a jogar a roupa preta por cima do corpo. Pude reparar que usava uma jaqueta preta de couro, uma blusa de caveira, tirou do bolso um canivete suíço e ficou ali brincando sozinho.

Foi então que voltei atenção para as palavras mágicas e saudosistas do livro, o dia realmente havia melhorado. Eu tinha meu tipo de clima preferido, a chuva começava a bater na janela fazendo aquele som entrar nos seus ouvidos e funcionar como um relaxante nacional. Emilly dormia do meu lado, eu tinha um livro, faltava apenas chocolate quente com marshmallow.

Os estalos do canivete possuía um padrão, um pouco irritante, hora duas batidas e um pouco de silêncio e logo começava a bater depois. Pensei em reclamar, mas seria apenas perda de tempo, o motor do carro ligou e estávamos prestes a partir. O som do canivete parou e eu olhei o rapaz, seu olhos agora com um óculos de grau, mas que parecia escurecer com a luz, estava focando no início do corredor.

—É estranho ver dois caras de terno andando de ônibus. - Ele comentou como se falasse do clima, sem pretensão alguma. - É como se eles não… Pertencessem a esse mundo.

A voz dele me fez arrepiar com as últimas palavras, mas mesmo assim resolvi ignorar os homens de terno e voltei a atenção ao livro. Agora o barulho do canivete era algo quase inaudível, apenas eu e ele ouvíamos. Pegamos a rodovia e estávamos cercados por árvores, meu parceiro indesejado de viagem se levantou e tirou a mochila da parte de cima colocando ao seu lado.

Essa foi toda a atividade que teve, depois o silêncio reinou no veículo. Todos ou a maioria havia caído no sono, horas de viagem. O rapaz parecia dormir ainda coberto pelo seu sobretudo e a chuva ainda caía lá fora. Eu já estava numa viagem longa dentro da minha cabeça, não pertencia mais a esse mundo, era só a minha fantasia. Até que a voz do cara me fez sobressaltar.

—O seu livro. - Foi então que consegui olhar os olhos negros dele e com meu livro em suas mãos. - Você parece que está sonhando acordada.

—Obrigada. - Sorri um pouco envergonhada. - Apenas acabei me distraindo.

Novamente ele olhou na direção do corredor e abaixou a cabeça cobrindo os olhos com o boné e voltando a se encolher em seu próprio banco. O homem de terno passou diretamente e entrou na cabine duas fileiras atrás de nós, iria usar o banheiro. Assim que fechou a porta o passageiro dos olhos negros jogou a mochila dele em cima do colo da Emilly, o que a fez acordar num pulo.

—Ei! - Ela disse ainda sonolenta. - Que porra é essa?

—Cale a boca Emilly.

Foi nesse momento que meu coração virou pedra e o sangue se tornou gelo, tenho certeza que para Emilly foi a mesma sensação. Ele sabia nosso nome e estávamos morta, vi ele sacar aquele canivete irritante, com extrema agilidade, girou a lâmina entre os dedos. Ouvi a porta do banheiro sendo aberta, iria pedir socorro, mas então a faca desceu, o surpreendente é que foi bem no coração do homem de terno.

Tudo isso em silêncio, nenhum outro passageiro sequer notou, além do outro homem de terno. Rapidamente o rapaz se sentou e deixou o outro se aproximar, quando estava perto o suficiente, tentou golpea-lo, mas teve contra golpe. O rapaz o jogou para um dos bancos de trás e quebrou seu pescoço.

—Vocês duas venham comigo. -Ele voltou a pegar a bolsa e pegou minha mão puxando, o que fez Emilly vir logo atrás. - Façam o que eu digo.

Podia perceber que Emilly não estava nada confortável com a situação, mas por um momento eu me senti segura, talvez fosse a facilidade do cara em executar dois caras e depois sair andando como se tivesse acabado de acordar. Assim que o motorista parou na estrada, nós três descemos.

—O que porra foi aquilo? - Emilly empurrou o rapaz, mas ele a segurou pelos pulsos. - O que você quer?

—Que você cale a boca Srta. Scooper e aquilo fui eu salvando a bunda de vocês duas. Agora andando.

—Nem pensar. - Disse cruzando os braços. - Até onde eu sei, você é o assassino aqui.

—Margo Scoot. - Ele se virou para mim. - Você é péssima para sobreviver as caçadas, devia ser a última a questionar algo aqui.

—Grosso!

—Você vai ver… -Emilly enfiou a mão na cintura e foi então que vi a coronha do revolver. - Mor…

Antes que a Emilly pudesse reagir com a arma o cara tirou uma outra maior mais rápido da cintura e apontou para minha cabeça. O olhar dele era frio para Emilly, definitivamente era péssimo com as pessoas, por um momento eu ouvi uma voz no ouvido dele de forma abafada, não consegui captar tudo, mas o essencial.

“Eles chegaram.”

Sem nenhum aviso prévio o garoto empurrou nós duas em meio às árvores, não tivemos outra opção além de correr. Eu sinceramente não entendia porque corríamos se eu não tinha ouvido nada, mas logo ouvi um disparo acertando o galho bem ao lado da minha cabeça. Minha reação foi ficar estática por um momento, mas Emilly não permitiu, agarrou minha mão e continuamos a correr com o cara na nossa retaguarda.

—Quanto tempo? - Eu o ouvia. - Merda, não vai dar tempo. Que se foda… -Mais uma pausa. - Cala a boca, eu me viro.

—Ótimo. - Ouvi ela ofegar. - Estamos fugindo com um cara maluco.

—Vamos pular Emilly.

—Se fizerem isso vocês morrem. - Antes que eu fosse atingida o garoto se jogou nos nossa direção e pulou com a gente. - Fiquem quietas, eles virão até mim. Estamos numa caverna.

—Você é um jumper… -Sussurrei surpresa. - Como você…?

—Prestem atenção. - Ele mostrou o relógio. - Quando ele apitar eu quero que vocês pulem, ninguém irá rastrear vocês. Não se preocupem, tem um cara que vai mandar vocês pro lugar certo.

Eu estava prestes a contestar qualquer ideia maluca daquele estranho, mas Emilly apertou minha mão e ele saiu da caverna. Não demorou muito para que o caçador chegasse e nós podíamos ouvir a luta, não queria nem imaginar se ele saíria salvo ou não. Olhei para minha parceira e ela não parecia com medo e sim muito surpresa por algum motivo, continuou encarando o relógio que o garoto deu e depois de alguns minutos ele apitou.

Emilly me agarrou e abriu uma fenda, não sei para onde ela nos imaginou, não sei se ela sabia para onde iriamos. Nós apenas abrimos os olhos e vimos que estávamos na mesma caverna, mas o tempo estava diferente e não havia sinal de luta. Nós duas saímos daquele buraco e ficamos na floresta, ofegante. Assim que a contagem regressiva de 5 segundos do relógio zerou, ele voltou a marcar 10 horas no marcador.

—Emilly, o que aconteceu? Quem era aquele garoto?

—Eu não sei o que aconteceu. - Ela apertou o relógio e olhou em volta. - Onde estamos?

—No lugar seguro.

Olhamos para o lado e vimos um moreno de cabelos ralos, barba mal feita e com uma pequena garrafa que soltava fumaça, provavelmente café. Andava com um rifle nas costas e um revólver no coldre, tinha um cinto com dois aparelhos pendurados. Parecia até uma visão de aposentado do Batman, pelo menos gosto de imaginar assim.

—E quem é você exatamente?

—Tate Sacker, Jumper Classe S.

—Então aquele cara é seu amigo? - Perguntei. - Onde ele está?

—Com sorte morto ou então bem encrencado. Ah, ele não é meu amigo que fique claro. -Bebeu um gole e sorriu de uma forma um pouco assustadora. - Agora, vamos para onde interessa.

Andamos por alguns minutos até chegar numa casa no meio das árvores, parecia ser bem pequena por dentro, mas não era bem o caso quando o Tate apresentou o subsolo. Eu confesso que estava bem impressionada, nunca tinha visto um abrigo como aquele, eu parecia uma criança num parque de diversões naquele momento.

—Então nós vamos esperar seu am… - Parei a frase. - O que ele é seu afinal?

—Irmãos. - Emilly encarou o outro homem. - Aquele que salvou a gente… É o Mason não é?

Por um momento eu fiquei parada, Mason? Não poderia ser aquele Mason, seria praticamente impossível. Entretanto o Tate ergueu os ombros como se concordasse, então lembrei quando olhei nos olhos dele, então soube que era verdade. O cara que deixamos para trás era sim aquele Mason.  


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