Erchomai escrita por EmillyFaith, Uzumaki Neris


Capítulo 1
Capítulo 1 - Charleston


Notas iniciais do capítulo

Coragem e medo não são opostos, pois o único modo de sentir coragem é quando se está com medo.



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Eu podia ouvir minha própria respiração, estava ofegante e alta, como um animal assustado. Eu era um animal assustado, senti meu coração acelerar e meu sangue ferver, fechei os olhos e me imaginei em qualquer lugar.

Eu pulei no que chamamos de fenda e tudo ficou escuro.

Foi nesse instante que resolvi abrir os olhos, meu coração ainda acelerava, pisquei para acostumar com aquela escuridão, ouvi o vento e o barulho de corujas e folhas, estava numa floresta. Não pensei em mais nada e só corri, corri como se dependesse disso e era a mais pura verdade, meus sentidos se aguçaram, minha nuca se arrepiou.

Merda, eles já chegaram aqui. Eu tinha que correr mais, muito mais.

A minha vontade era de gritar a plenos pulmões por socorro “Acendam as luzes, eu estou aqui”. Mas apenas seria um chamariz para o monstro que me caçava, mesmo parecendo não estar em lugar nenhum, depois de pular em tantas fendas eu comecei a diferenciar o século que estava olhando para o céu, os anos se passavam, mas os humanos continuavam a se guiar pelas estrelas.

E no momento a ausencia das estrelas com aquele brilho de sempre me indicou que eu estava em alguma era moderna, não muito distante da minha época de nascimento. Continuei correndo sentindo meus pulmões queimarem até que cheguei numa estrada.

Pular numa fenda para me salvar não era uma das opções do momento, isso com certeza entregaria minha localização e estaria morta antes de dizer “Até mais”, pensei em parar e pedir alguma carona caso passasse um carro. Entretanto estava num lugar desconhecido e não fazia ideia qual idioma era falado aqui, ou seja, seria mais inutil.

Não sei se podia chamar de azar ou sorte, vi o último carro passar pela estrada, vendo suas luzes vermelhas se afastarem. Para alguns isso podia ser o sinal de desespero, mas eu sempre fui uma garota otimista e sabia que onde havia carro, havia alguma cidade.

Me mantive à beira da estrada seguindo na direção oposta dos carros, sempre olhava por cima do ombro para certificar que havia despistado nem que por algumas horas os meus caçadores, mas por outro lado essa mesma tranquilidade era meu pânico. Se não estavam atrás de mim isso quer dizer que estavam atrás dela.

As horas de caminhada foram recompensadoras, consegui chegar numa cidade interiorana, apesar de já ser tarde como olhei no relógio. Eram uma hora da manhã, mas estava tudo agitado, ouvia as músicas, as conversas, a cidade pulsando como um organismo vivo e isso era sinal de segurança para mim.

Procurei o lugar mais movimentado daquela cidade, várias pessoas caminhando absortas da minha presença, eu não fazia a mínima ideia de como estava até encarar meu reflexo em uma das vitrines. Meus cabelos estavam descomportados e cheio de galhos e folhas, rapidamente comecei a tratar disso, fiquei um pouco menos assustadora.

Aproximei meu rosto e vi os arranhos que os galhos haviam feito com o sangue mais frio e percebendo os machucados, para o meu azar eles começaram a arder, comecei a bater a terra da minha roupa e tentar me misturar ao máximo possível com a aparência das pessoas dali.

Seria algo dificil na verdade, não pela roupa, mas todos ali estavam com seus olhos grudados em pequenas telas, ninguém havia reparado em mim por mais bagunçada que eu estivesse. Era o maior defeito da sociedade, essa tecnologia, sei disso porque de onde eu vim nada disso melhora. Sinceramente essa era a doença a ser tratada e não a minha.

Fiquei cinco minutos olhando os costumes e comportamentos dos moradores locais, era a melhor forma de parecer normal. Foquei num adolescente da minha idade e comecei a imitar seu jeito e segui meu caminho como se ali fosse meu lugar.

Parei numa banca de jornal e olhei algumas notícias, o mais importante era o cabeçalho com a data e o ano. A data era 25 de Maio de 2010, eu estava em Charleston da Carolina do Sul, Estados Unidos, a notícia principal era algo sobre vazamento de dados do Governo.

Meu corpo estava muito mais calmo do que antes, minha frequencia cardiaca e respiratoria havia diminuido, juntamente da adrenalina e com sorte o meu erchomai. Agora temos o lado ruim, toda essa condição corporal me fez ignorar minhas dores que agora me atingiram com força, juntamente com o frio que sentia.    

Minhas pernas passaram de peso pluma, para peso pesado, senti algo quente na minha calça e tateei vendo meus dedos ganharam um tom vermelho indicando que estava sangrando. O frio bateu mais forte e fiquei um pouco tonta, tentei pedir ajuda, mas acho que minha aparência não estava digna e então cambaleei até o fundo de alguma loja e caí sentada.

Tentei juntar o máximo de forças e decidi que iria ao hospital por mim mesma, sabendo o risco de que eles poderiam me rastrear, mas me recusava a morrer ali de forma tão patética depois do tanto que andei e fugi. Só que a força não foi o suficiente e desmaiei assim que minha cabeça foi de encontro ao chão.

Não sei por quanto tempo apaguei, mas foi o necessário para meu cerebro focar nas coisas mais importantes, me averiguei novamente e percebi que o sangramento da minha perna estava estancado, mas continuava dolorido. No lugar da batida da cabeça um galo nasceu, mas nada muito grave até o momento.

Fechei os olhos e ofeguei com a dor, de repente senti uma mão nos meus ombros e minha espinha gelou. Eles haviam me encontrado, eu estava perdida, no reflexo dei uma cambalhota, peguei um caco de vidro no chão e apontei para o meu provável agressor.

—Calma, desculpa. Não queria assustar, apenas te vi e percebi que não era uma moradora de rua. Assalto?

—Quem é você? - Larguei o vidro e voltei a me sentar. - Doeu mais do que imaginei.

—Um bom samaritano? - Ele sorriu com meu humor. - Sou um policial  paisana.

Por alguns momentos raciocinei minha situação, policiais eram perigosos. Qualquer autoridade era, não porque nos caçavam, mas o posto deles dava acesso mais fácil para nos encontrar. Sinceramente, eu não me importava, ele era um cara legal e bonito na verdade então resolvi aceitar a ajuda.

—Eu não sou daqui, na verdade me perdi de uma amiga e preciso esperar ela chegar.

—Você pode vir até minha casa, cuidaremos dos seus ferimentos e você pode tentar achar sua amiga de lá.

—Não vou negar.

Ele se aproximou e me ergueu, contornou o pescoço com um dos meus braços e fomos andando até a casa dele que não era longe dali. Pela altura era uns 20cm mais alto que eu, o que faria ter perto de 1.80, tinha um corpo atletico, parecia novo, perto dos trinta anos.

Assim que chegamos na casa dele, o rapaz que se diz chamar William me deixou no banheiro para que me limpasse e também com uma caixa de primeiros socorros, já que insisti em me cuidar sozinha. O banho quente foi relaxante, as partes desconfortáveis foram passar sabão nos cortes o que tive que aguentar com firmeza e tirar os pequenos galhos dos cabelos.

Como prometido, William havia deixado uma roupa limpa da irmã dele na porta, vesti e estava um pouco larga, mas nada muito exagerado. Cuidei dos meus ferimentos e me senti muito melhor a única coisa agora era a fome e o cansaço. O corpo e suas prioridades sempre.

Ele me serviu uma comida bem reforçada e foi muito educado não perguntando muitos detalhes, mesmo sendo policial. Deixou que eu relaxasse e assim que estava toda satisfeita, me ofereceu um suco e dois reméios para conversarmos.

—Um relaxante muscular e um analgésico. Vai ajudar.

—Obrigada. - Tomei rapidamente. - Ah, meu nome é Margo.

—Como veio parar em Charleston?

—Não sei exatamente, vim caminhando, estava perdida na floresta. -Brinquei com o copo em minha mão. -Adoraria se não envolvessem a polícia nessa história.

—Não é necessário, nenhum crime aconteceu de qualquer forma e acidentes acontecem - Ele disse enquanto ligava a TV. - Você deve estar cansada, pode usar o quarto da minha irmã, no final do corredor.

—Desculpe, mas ela não vai se incomodar?

—Não, ela está na Universidade, só me visita nas férias, as vezes.

Sem mais questionamentos e agradecendo a hospitalidade, segui as instruções do homem e fui ao quarto da irmã dele. Não tive tempo de olhar decoração e nem teria importância, apenas visualizei a cama e deitei nela me cobrindo. Na mesma hora meu corpo apagou e então adormeci.


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Notas finais do capítulo

Essa historia voltou pra ficar.



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